27 fevereiro, 2012

O Aviador (The Aviator, EUA, 2004).

"Você me ensinou a voar, Howard. Eu assumirei o comando." (Katherine Hepburn falando com Howard Hughes).   
Raramente Martin Scorsese (Taxi Driver) erra a mão, e felizmente este seu O Aviador não se inclui neste caso. Cinebiografia do excêntrico magnata da aviação (também produtor de filmes), Howard Hughes -  interpretado com absoluta entrega por Leonardo DiCaprio (Ilha do Medo) -, esta superprodução é extremamente competente em apresentar as novas audiências as conquistas e tiques de um dos maiores empreendedores do século XX. Figura lendária, Hughes foi pioneiro no que se refere a quase tudo em que punha as mãos, além de comprar briga com gente graúda da política norte-americana. Infelizmente, seus problemas de ordem mental (principalmente esquizofrenia) e traumas de infância tornaram-se tão conhecidos quanto suas realizações. Indicado a melhor Filme tanto no Globo de Ouro quanto no Oscar de 2005, acabou sendo derrotado por Menina de Ouro, de Clint Eastwood

Contando com um elenco espetacular - em termos de renome e atuação -, dentre o qual cabe o destaque ao sempre talentoso Leonardo DiCaprio (que por sinal ganhou o Globo de Ouro por sua atuação, além de ter sido indicado ao Oscar), a camaleônica e vencedora do Oscar por sua versão da atriz Katherine Hepburn, Cate Blanchett (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal) e a presença poderosa de Alan Alda (Jogada de Gênio), outro indicado ao prêmio da academia (categoria Ator Coadjuvante). Além destes reconhecidos pela crítica, nomes como os de John C. Reilly (Deus da Carnificina), Kate Beckinsale (Pearl Harbor), Alec Baldwin (Simplesmente Complicado), Ian Holm (O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel) e Jude Law (eXistenZ) marcam presença e também são primorosos em tela.

Apesar de não tão bem recebido na época de lançamento e seu gênero não pertencer a "zona de conforto" do veterano Scorsese, O Aviador é um filme bem acabado, que soa interessante do começo ao fim (tanto pela edição quanto pelo roteiro, a cargo de John Logan), esplondorosamente bem cuidado quanto aos quesitos técnicos, enfim, como todos os filmes assinados pelo mestre Martin Scorsese. Tudo isso em conjunto ao já destacado trabalho do elenco, é possível dizer que o espectador de O Aviador será transportado, quer queira ou não, para a mente do magnata Howard Hughes, um dos mais visionários, mas também mais esquistos empresários do século passado e permancer magnetizado durante suas quase 3 horas de duração.

AVALIAÇÃO:
Trailer:

Mais informações:

O Aviador
Bilheteria: Box Office Mojo

Filmes de MARTIN SCORSESE já comentados:

IMDb - Internet Movie Database:

26 fevereiro, 2012

Menina de Ouro (Million Dollar Baby, EUA, 2004).

"Ás vezes, o melhor modo de dar um soco é se afastar (...). Mas se você se afastar demais será derrotado" (Scrap citando uma fala de Frankie Dunn).   
 Drama memorável e arrebatador, dirigido por Clint Eastwood (J. Edgar), Menina de Ouro conquistou quatro estatuetas do Oscar: Melhor Filme, Diretor, Atriz (Hilary Swank) e Ator coadjuvante (Morgan Freeman). Entretanto, mais do que prêmios, este que pode ser considerado um dos filmes mais sensíveis de Eastwood, conquistou o coração do público e um lugar no hall de grandes filmes já feitos. Menos filme de boxe, mais drama de superação, Menina de Ouro é um filme que retoma o clichê como fonte de estudo e oferece a essência deste de maneira orgânica, sincera, visto que, do que mais são feitas as situações de nossas vidas senão de clichês.

Hilary Swank (Meninos não Choram) dosa de maneira equilibrada emoção e força na concepção de sua personagem, honrando com mérito seu prêmio de melhor Atriz. Morgan Freeman (Um Sonho de Liberdade) é responsável mais uma vez para servir de escada para o desenvolvimento da história, sendo a figura que acompanha a trajetória e nos mostra através de seus olhos. Como sempre, Freeman cumpre seu papel com competência. Já Eastwood, que levou a estatueta de Melhor Direção, na minha opinião, deveria ter ganhado (também) a de Melhor Ator, visto que chega a ser espantoso - no bom sentido - acompanhar este que já foi tido como símbolo icônico da masculinidade no cinema, abrindo o coração e se encolhendo na angustiante e audaciosa conclusão do filme.

Um grande filme, Menina de Ouro traz através do seu equilíbrio narrativo mensagens de luta e esperança, enfim, de perseverança, sem soar banal ou forçado. Mostra o ideal, discute o ideal e, principalmente, diz o ideal, além de cortar o coração até mesmo dos mais secos. Não é o melhor filme dirigido por Eastwood, mas talvez este tenha a melhor atuação desse veterano.

AVALIAÇÃO: 9 de 10.

Trailer:
 
Mais informações:

Menina de Ouro
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

Miami Vice (EUA, 2006).


"Você quer trepar com meu parceiro ou quer fazer negócio com a gente?" (Ricardo Tubbs).  

Dos filmes dirigidos por Michael Mann (Fogo Contra Fogo) que conferi, Miami Vice pode ser considerado o mais fraco. Possuidor de uma introdução confusa e de uma trama geral que não gera tanto interesse, o filme estrelado por Colin Farrell (Alexandre) e Jamie Foxx (Ray) não encontra-se no nível de títulos como Fogo Contra Fogo, O Informante e até mesmo o intimista mas ineressentíssimo Colateral, todos assinados por Mann. Apesar da falta de novidade em termos de concepção, Miami Vice é bem sucedido no que se diz respeito a sua estética, principalmente nas cenas capturadas com câmera de mão, além de ser dono de uma ótima sequência de ação no clímax da história, realizada de maneira a destacar a brutalidade da ação, nua e crua como deve ser uma operação de apreensão por parte da polícia.

Enfim, apesar de não ser surpreendente, mostrar-se um pouco confuso em seu início e não sair do conforto do filme policial de ação, Miami Vice tem a seu favor pelo menos duas belezas: a fotografia capturada por Mann e por Dion Beebe (diretor de fotografia), granulada e escura, que ajuda a transportar o espectador para o universo destacado pelo filme e a sensualidade e charme de Gong Li (Adeus Minha Concubina), que contrasta perfeitamente com a "dureza" dos protagonistas interpretados por Farrell e Fox.  

Miami Vice não é um espetáculo, mas no geral é filme de ação no mínimo competente, tornando-se assim um bom divertimento, e só.


AVALIAÇÃO: 6 de 10.

Trailer:
 

Mais informações:

Miami Vice
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

25 fevereiro, 2012

A Separação (Jodái-e Náder az Simin, IRÃ, 2011).



Mesmo tendo seu contexto e ambientação baseado na atual conjuntura socio-política do Irã, além do fator religioso, A Separação traz uma universalidade nata que faz com que o filme gere empatia em qualquer público, destacando então o ocidental, no qual me incluo. Feito um soco no estômago, o filme dirigido por Asghar Farhadi (À Procura de Elly) derruba o espectador e o faz caminhar por um mundo naturalmente comum a todos, onde questões morais e religiosas permeiam as relações familiares, norteando-as e modificando suas vidas, gerando um painel de questões que envolvem dúvida, incerteza, insegurança, fragilidade etc. Extremamente complexo e dono de um enredo brilhante - apesar de comum em sua essência -, A Separação encaixa-se no tipo de cinema de ideias, de questionamentos, de estudo de época, de análise humana, enfim, é um filme que tem como peso definidor as inquietações de seus personagens, que chama a atenção pelos acontecimentos desfilados pelo enredo e não pelas soluções técnicas do diretor e demais profissionais do cinema.

Ganhador de de diversos prêmios ao redor do mundo, dentre eles o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, além de uma indicação para esta última categoria na próxima edição do Oscar - e que, para mim, deveria concorrer à categoria principal, devido a sua qualidade ser tão ou até mesmo superior a de muitos dos títulos indicados nessa -, A Separação lembra um pouco a pegada dos filmes do mexicano Alejandro González Iñarítu (Amores Brutos, 21 Gramas, Babel), talvez pela exploração da fragilidade humana através de tipos comuns, sujeitos como eu e você, só que passando por situações limite. O filme toma como ponto de partida a tentativa de divórcio de um casal - a esposa deseja sair do país, talvez pela situação delicada, no que tange a liberdade de expressão, pela qual passa o Irã; enquanto o seu marido deseja permanecer no país, visto que deve cuidar de seu pai idoso e dependente, que sofre do mal de Alzheimer - e a decisão sobre quem deverá obter a guarda da filha menor, desenvolvendo-se de maneira orgânica e brilhantemente real através de eventos angustiantes e tensos, que transmutam o filme de simples análise de conflitos familiares numa análise sociológica da incapacidade humana para enxergar a profundidade dos seus próprios atos, a atribuição de responsabilidade a outrem (religião, política, sociedade) e sua pequenez perante todo esse processo. Um filme tenso, pesado e fascinante, que tem tudo para sagrar-se vencedor no Oscar, mas que merecia concorrer também a categoria principal, a de melhor filme do ano.

AVALIAÇÃO: 10 de 10.

Trailer:

Mais informações:

A Separação
IMDb - Internet Movie Database:

Rocky - Um Lutador (Rocky, EUA, 1976).

"Se puder aguentar até o fim, o gongo tocar e eu ainda estiver de pé, saberei, pela primeira vez na minha vida que não sou mais um boxeardozinho do bairro" (Rocky Balboa, na véspera do confronto contra Apollo Creed). 
"Adrian! Adrian!" (Rocky Balboa).
Rocky é muito mais um produto referência de uma época do que uma obra cinematográfica seminal. Clássico por fatores históricos e não tanto por mérito em termos de qualidade como cinema, o filme é o que se pode chamar de referência do otimismo e superação do povo norte-americano. Escrito e estrelado pelo até então desconhecido Sylvester Stallone (Rambo - Programado para Matar), Rocky causou furor na época de seu lançamento e fez escola, influenciando toda a indústria cinematográfico, para o bem ou para o mal. Apesar de ser narrativamente irregular - muitas vezes soa bobo e sem profundidade -, o filme compensa por seu clima envolvente, pela marcante trilha sonora de Bill Conti (quem não conhece Gonna Fly Now?) e pelo carisma do seu protagonista (Stallone), que apesar de não ser um intérprete de mão cheia, cria aqui o personagem mais "profundo" de sua carreira e confere a ele certo grau de complexidade que o tornou ícone do cinema mundial.

Adotado como queridinho pelo público americano - nada mais justo, por sinal, visto as frágeis condições sociais e econômicas passadas pela população do país -, Rocky alcançou um status maior do que suas qualidades como produto, chegando até mesmo a conquistar dois dos mais cobiçados prêmios Oscar, o de Melhor Filme e Direção, derrotando obras do porte de Taxi Driver, de Martin Scorsese e Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula, ambos superiores a Rocky, na minha opinião. John G. Avildsen, por exemplo, mostrou-se um diretor ligeiramente descartável, visto que, após a consagração com esse filme comandou apenas mais um filme digno de nota, Karatê Kid, que coincidentemente também carrega consigo o estigma de ser mais válido como registro de uma época do que como obra-prima da sétima arte.

Indubitavelmente Rocky é um clássico do cinema, um exemplar de pura emoção - como o personagem título, realizado entre suor e lágrimas -, entretanto seu lugar não é assim tão expressivo no cenário geral, visto que possui um valor simbólico muito maior do que um conteúdo apurado ou alguma contribuição de ordem técnica para a dramaturgia cinematográfica. Como disse acima, um filme certo para a época certa, mas certamente não o melhor do ano de 1976, apesar de ter sido ganhador da premiação máxima do cinema. 

AVALIAÇÃO:
Trailer:

Mais informações:

Texto sobre Rocky II - A Revanche (1979)
Texto sobre Rocky III - O Desafio Supremo (1982)
Texto sobre Rocky IV (1985)
Texto sobre Rocky V (1990)
Texto sobre Rocky Balboa (2006)

Rocky - Um Lutador
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:
Outros filmes de JOHN G. AVILDSEN comentados:

24 fevereiro, 2012

O Poderoso Chefão Parte II (The Godfather Part II, EUA, 1974).

"Sei que foi voê, Fredo! Você partiu meu coração! Partiu meu coração!" (Michael Corleone).
"Se há algo certo nessa vida, se a história nos ensinou alguma coisa, é que se pode matar qualquer um!" (Michael Corleone). 
No universo cinematográfico não é difícil existir uma sequência de um filme, entretanto, esta ser tão boa quanto à obra "original" é algo praticamente raro, quiçá melhor. Logo, um dos filmes a cruzar essa barreira é O Poderoso Chefão Parte II, filme este que é tão bom quanto o original, mas que possui identidade própria e dá prosseguimento a saga da família Corleone de forma interessante e distinta, visto que agora acompanhamos a jornada de Michael Corleone (Al Pacino, de Perfume de Mulher) sete anos após o fim da primeira parte e já estabelecido como novo "padrinho". Além disso, o filme inova ao apresentar simultâneamente à saga de Michael o passado da família Corleone, através das origens de seu pai, Vito Corleone, de sua infância na Itália até seu crescimento e ascenção nos Estados Unidos. Quase que dois filmes em um, O Poderoso Chefão Parte II é diferente e ao mesmo tempo semelhante a primeira parte, dando continuidade a história das personagens do filme anterior e investindo numa trama mais complexa, que envolve de política aos já abordados dilemas familiares, só que desta vez sob o olhar de Michael, que apesar de tentar emular o pai, transforma-se num capo bastante diferente desse, vivendo dilemas advindos tanto de sua personalidade como líder, quanto da situação político-econômico dos Estados Unidos no período abordado pelo filme. Em síntese, dilemas não faltam a este filme.

Destacar alguém em O Poderoso Chefão Parte II é algo difícil, entretanto não poderia deixar de citar a bela performance de Robert De Niro (Taxi Driver) como o jovem Vito Corleone, que consegue transmitir através da sutileza de olhares e movimentos - além da dicção - toda a essência da premiado interpretação de Marlon Brando (Sindicato de Ladrões) no filme anterior. Robert Duvall (Apocalypse Now) continua a entregar uma interpretação discreta e eficiente, mas para mim o grande destaque - e injustiça por não não ter angariado o prêmio de melhor atuação no Oscar - vai para Al Pacino, que como seu personagem cresce de forma grandiloquente durante a projeção, transmitindo ao espectador força e ódio de maneira fenomenal, conquistando o que só os grandes atores alcançaram, fazer com que o espectador torça, apesar de todas as falhas e crimes cometidos, para um "assumido" chefão da máfia. Sendo assim, O Poderoso Chefão Parte II é um filme tão bom, bem realizado e dotado de excelência quanto O Poderoso Chefão original e, para sintetizar em poucas palavras, é simplesmente sublime esse outro clássico assinado pelo grande Francis Ford Coppola (Apocalypse Now).

AVALIAÇÃO: 10 de 10.

Trailer:
 
 
Mais informações:

O Poderoso Chefão Parte II
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

23 fevereiro, 2012

Laranja Mecânica (Stanley Kubrick's Clockwork Orange, ING, 1971).

"Ó deleite! Deleite e paraíso! Era a formosura e a formosidade feitas carne. Era como um pássaro de metal raro e celestial ou como vinho prateado flutuando numa espaçonave, a gravidade deixada pra trás, enquanto eu esluchava via imagens tão adoráveis." (Alex DeLarge, sobre a 9ª Sinfonia de Beethoven).
Distopia non-sense, violenta e colorida, Laranja Mecânica é, para mim, o melhor dentre os filmes de Stanley Kubrick. Mais sensitivo do que linear, esta adaptação cinematográfica do romance de Anthony Burgess é mais do que uma crítica a sociedade moderna e sua tendência à violenta crescente, além das infindáveis descobertas e novas técnicas de reeducação, controle, dominação e progresso, é uma viagem lisérgica a uma possibilidade de futuro próximo que, apesar de concebido no início da década de 1970, em essência é completamente cabível ainda hoje. Kubrick criou uma linguagem própria para montar esse universo particular, desde a concepção musical através de sinfonias de Beethoven e da canção tema do filme Cantando na Chuva, Singing in the Rain, até mesmo ao colorido aplicado durante todo o filme, que contrapõe perfeitamente ao mundo sujo e abandonado que nos é apresentado. Outro aspecto interessante está na utilização da música clássica como forma de diminuir à violência exibida, funcionando também como contraponto perfeito e referência ao universo do protagonista da história, Alex (talvez o único grande papel do ator Malcom McDowell), que enxerga ordem em meio ao caos que provoca.

Além da marcante presença da 9ª sinfonia de Beethoven, a trilha sonora assinada por Wendy Carlos é bastante particular, sendo feita praticamente de sons sintetizados em sua maioria derivados da própria sinfonia. Apesar de não ser tão conhecida e provavelmente não funcionar sem as imagens de Kubrick, essa trilha casa perfeitamente ao universo distópico e irônico do filme Laranja Mecânica, que através de neologismos diversos nas falas de Alez e seus drugues, ambientação com iluminação estilizada e utilização de cores fortes, visual non-sense, violência com um senso estético apurado, além do estilo mais do que particular de Kubrick (com sua câmera em close ou a destacar o ambiente apresentado no momento), fazem deste um dos filmes mais complexos do cineasta, rivalizando - com as devidas proporções - com o icônico 2001: Uma Odisséia no Espaço

Em resumo, Laranja Mecânica é um exercício de estudo do comportamento humano destituído de limites de ordem moral, executado de forma irônica e, por que não, debochada, mesmo que com toques de violencia imagética e psicológica.

AVALIAÇÃO:
TRAILER



Mais informações:

Laranja Mecânica
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

J. Edgar (EUA, 2011).

"Quando a moral declina e os homens de bem não fazem nada, o mal floresce (...) Uma sociedade indiferente e sem vontade de aprendender com o passado está condenada." (John Edgar Hoover).
O último trabalho realmente interessante de Clint Eastwood (Os Imperdoáveis) foi Gran Torino, de 2008. Desde então lançou títulos como Invictus e Além da Vida, que apesar do esmero, não são grandes exemplares na vasta filmografia do cineasta veterano. Sendo assim, J. Edgar, cinebiografia do tido como criador do FBI, John Edgar Hoover, infelizmente encaixa-se nesse segundo grupo. Não que o filme seja ruim, longe disso, entretanto parece faltar algo no íntimo do longa escrito pelo vencedor do Oscar Dustin Lance Black (Milk) que capture o espectador para a trajetória dessa excêntrica figurada história recente norte-americana. Leonardo DiCaprio (A Origem) está  bem como Hoover, tanto como um jovem de vinte e poucos anos, quanto idoso. Judi Dench (Notas Sobre um Escândalo) impressiona mais uma vez com sua força ao interpretar a mãe do protagonista. No entanto, ao contrário de DiCaprio, Armie Hammer (A Rede Social) aperece afetado demais na maior parte do tempo, prejudicando de certa forma a existência da "dúvida" com relação a sua homoafetividade, no que diz respeito à imprensa e a opinião pública da época. 

Além da falta de empatia com a história contada, outro aspecto frágil de J. Edgar está na maquiagem do personagem de Hammer, que apresenta-se exagerada, parecendo mais um amontoado de borracha do que realmente pele enrrugada pela idade. Apesar destes detalhes, a concepção visual do filme é muito bem feita, assim como o cuidado do elenco (à excessão é Hammer) em suas interpretações e a direção intimista de Eastwood, sempre competente. Enfim, apesar de oscilante, J. Edgar é um filme válido para introduzir pelo menos um pouco a figura deste querido e ao mesmo tempo temido personagem da história americana.

AVALIAÇÃO: 7 de 10.

Trailer:


Mais informações:

J. Edgar
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

O Poderoso Chefão (Mario Puzo's The Godfather, EUA, 1972).

"O homem que não se dedica a sua família nunca será um homem de verdade." (Don Vito Corleone).
Talvez o maior filme norte-americano ao lado de Cidadão Kane e de sua própria sequência, O Poderoso Chefão é fantástico do início ao fim, uma aula de como fazer cinema. Produção ambiciosa e muito criticada por supostamente enaltecer o crime, o filme de Francis Ford Coppola (Apocalypse Now) é na verdade a prova de que, não importa a condição do homem, o seio familiar é o local onde ele é concebido e verdadeiramente se encaixa, independentemente de atribuições de certo e errado. Grande sucesso de bilheteria e festejado pela crítica, O Poderoso Chefão ultrapassou com louvor a barreira do tempo e permanece como referência para outros filmes que abordam o universo da máfia até hoje, inclusive serviu como óbvia referência às suas sequências, lançadas em 1974 e 1990, respectivamente. Para mim, este e sua segunda parte são, juntamente à Era uma Vez na América, de Sergio Leone, os melhores filmes que já vi em toda a minha vida. 
 
Dentre suas marcas, O Poderoso Chefão tem como possíveis destaques a incontestável performance de Marlon Brando (Uma Rua Chamada Pecado) como o patriarca don Vito Corleone - física e mentalmente perfeito -, a revelação dos até então desconhecidos Al Pacino (Scarface), que viria a dominar a indústria cinematográfica poucos anos depois, James Caan (Louca Obsessão), Diane Keaton (que viria a se tornar uma das musas de Woody Allen) e Robert Duvall (Apocalypse Now), além da marcante e posteriormente imitada trilha sonora assinada pelo maestro Nino Rota. Será que alguém nunca ouviu pelo menos um trecho de suas invejáveis notas? Duvido muito.
 
Enfim, poucas linhas não bastam para comentar e discutir a importância histórica, a atemporalidade e as qualidades técnicas desta ousada obra cinematográfica, vencedora do Oscar de Melhor Filme, Ator (Brando) e Roteiro Adaptado (Coppola e Mario Puzzo). 
 
AVALIAÇÃO: 10 de 10.

Trailer:
 
 
 
Mais informações:

O Poderoso Chefão
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

22 fevereiro, 2012

O Show de Truman (The Truman Show, EUA, 1998).


"Deus ajuda a pedra que rola!" (Truman).
"Aceitamos a realidade do mundo que nos é apresentada." (Christof).
O Show de Truman já pode ser considerado como um novo clássico do cinema. Próximo a completar 14 anos de existência, este filme dirigido por Peter Weir (Sociedade dos Poetas Mortos, Mestre dos Mares) foi pioneiro em sua investigação acerca do fenômeno emergente do reality show, dramatizando o tema de forma exagerada - na trama do filme é concebida uma cidade fictícia apenas para a gravação do programa de TV -, mas nunca descrível e apontando questionamentos e discussões acerca de liberdade, poder, alienação e manipulação midiática sem nunca soar técnico ou didático demais, pelo contrário, O Show de Truman é desenvolvido de maneira tocante e leve, muitos beirando a comédia, contudo sem nunca deixar de apresentar seus questionamentos entre sua estrutura de entretenimento.

Primeiro trabalho dramático - e competente - do até então astro da comédia Jim Carrey (este viria a surpreender o público no futuro com títulos como O Mundo de Andy, Cine Majestic e, mais fortemente, com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e O Golpista do Ano), O Show de Truman conta com grandes performances de Ed Harris (Apolo 13) e Laura Linney (Simplesmente Amor), mas o grande motor do filme está mesmo na caracterização de Carrey (equilibrando "normalidade" com seu talento cômico), na concepção de Andrew Niccol (roteirista e diretor de Gattaca e O Senhor das Armas) - começando pela brilhante referência no título do filme/nome do protagonista (Truman = True Man, ou seja, Homem Verdadeiro) - e na direção tocante de Weir, que apostou nesta até então inusitada trama e a entregou a um inusitado protagonista (Carrey) criando um dos filmes mais bonitos (e críticos) da década de 1990.

AVALIAÇÃO: 9 de 10.

Trailer:
 

Mais informações:

O Show de Truman
Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database:

Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo / The Bad, The Good and The Ugly, ITA, 1966).

 "Existem dois tipos de homens neste mundo meu amigo: Aqueles com armas carregadas e aqueles que cavam, você cava." (Blondie - vulgo Lourinho, o Bom).
"Se vai atirar, atira, não fala". (Tuco, o Feio).

Filme que pôs de vêz os nomes de Sergio Leone (diretor), Clint Eastwood (ator) e Ennio Morricone (compositor) no hall dos grandes do cinema,  Três Homens em Conflito é tido como o encerramento da trilogia dos "dólares", composta ainda por Por um Punhado de Dólares (1964) e Por um Punhado de Dólares a Mais (1965), todos considerados marcos do intitulado faroeste spaguetti (filmes produzidos pelos Estados Unidos mas filmados e em grande parte atuados por atores italianos). Ainda mais ambicioso que os anteriores, Três Homens em Conflito sedimenta de vez a marca de Leone como realizador, onde o mesmo passa a optar cada vez mais pelas imagens em detrimento aos diálogos (a primeira palavra pronunciada no longa só é ouvida cerca de 10 minutos após o início do mesmo), como forma de contar uma história, personagens desenvolvidos de forma simples e objetiva (em geral homens brutos e anti-heróis com passado desconhecido) numa trama geral mais complexa, como o pano de fundo do conflito de secessão dos Estados Unidos etc.

Três Homens em Conflito é um clássico do cinema, ousado e atemporal. Estabeleceu novos mitos e tendências para o gênero western e inspirou cineastas de diversas nacionalidades. Com sua pegada de épico - além do pano de fundo bélico, o filme tem um corte de quase 3 horas de duração - Três Homens em Conflito nunca soa monótono, pelo contrário, o envolvimento para com os três personagens principais, em especial os interpretados por Clint Eastwood e Eli Wallach é imediato. Enfim, um clássico absoluto do cinema.

AVALIAÇÃO: 10 de 10.

Trailer:


Mais informações:

Três Homens em Conflito
Sergio Leone
Clint Eastwood
Lee Van Cleef
Eli Wallach
Ennio Morricone