31 outubro, 2012

O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods, EUA, 2012).


Há tempos não via um filme de terror com pegada adolescente tão interessante quanto a deste O Segredo da Cabana (talvez o último tenha sido Pânico, de 1996). Criativo e curioso, a obra foi escrita pelo agora badalado diretor Joss Whedon (Os Vingadores), que conseguiu reunir num só produto homenagens ao cinema de terror teen das décadas de 1970, 1980 e 1990 junto algumas pirações típicas do universo nerd do qual Whedon faz parte, estabelecendo links com obras literárias, ambientação apocalíptica e citações à cultura pop, tudo isso costurado numa trama envolvente, dinâmica e que se desdobra entre momentos de tensão e sanguinolência com outros de puro humor e sarcasmo.

Para a cadeira de direção Whedon acabou selecionando o amigo e parceiro da época das séries Buffy e Angel, Drew Goddard, que aqui tem sua estreia na função, visto que sua ocupação principal vinha sendo como roteirista, tendo o filme Cloverfield, de Matt Reeves, como seu maior destaque até então. E não é que Goddard se sai bem nesta sua estreia? Apesar de novato, o cineasta se comporta como um veterano, escolhendo os melhores planos e ângulos para a melhor condução da história, além de ter se saído como um diretor de elenco excelente, arrancando boas performances tanto do elenco jovem (dentre eles Chris Hemsworth, o Thor de Os Vingadores) quanto do elenco veterano, que possui como destaques Richard Jenkins (Querido John) e Bradley Whitford (Um Crime Americano). Portanto, pode ficar certo de que o cara terá uma carreira promissora se continuar se exercitando desta forma.

Outro fator que enriquece o longa está na crítica que faz a nossa sociedade de consumo e a sede do homem por prestigiar tragédias, especialmente se estas encontram-se no porto seguro chamada de televisão. O sangue frio e desapego à vida apresentado por alguns personagens do filme tocam nesta ferida, até por que mesmo que os mesmos tenham fortes motivações que possam justificar seus atos, nada justifica o sentimento de prazer pelo sofrimento alheio. Mas, esperto como é, Whedon nos passa isso de maneira no mínimo descontraído, quebrando um paradigma do cinema de horror ao realizar diversas quebras de ritmo ao longo do filme com o intuito de inserir sequências recheadas  de humor negro, sarcasmo e até mesmo um pouco de pastelão. Um ato de coragem e que, no meu ponto de vista, funciona muito bem (essa sacada me fez lembrar um pouco o filme Seita Mortal, de Kevin Smith, que também funde humor negro ao terror).

Bastante empolgante, O Segredo da Cabana não se trata de um "simples" filme de horror teen, já que é formatado como uma espécie de coleção de gêneros e estilos cinematográficos, regados a muito sangue e bom humor. Tendo sua premissa inciada como mais um filme de terror de acampamento (adolescentes decidem passar um final de semana numa cabana no meio do nado, são caçados até a morte e blá  blá  blá, seu desenvolvimento perpassa temas nunca imaginados pelo espectador num mesmo produto, tamanha  a criatividade (somada a capacidade reciclagem e referência do roteiro proposto por Joss Whedon) do mesmo.

Recheado de ironia e bom humor, mas sem nunca esquecer os sustos e os grafismos concernentes a todas as produções do gênero terror, este filme beira a perfeição e soa como um irmão bastardo de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, tanto por seu frescor quanto pela sua criatividade ao não tentar ser totalmente original. Pelas opções narrativas não convencionais, acredito que O Segredo da Cabana acabará por não agradar tantas pessoas, principalmente por que há o perigo destas não entenderem a proposta do filme, todavia acredito que o mesmo deva ser assistido sem referencial algum, pois as surpresas contidas no filme só funcionarão caso o espectador entre de mente fresca ao conferir a obra, como ocorreu comigo. Realmente esta obra confirma o nome de Joss Whedon como um grande talento e nos apresenta um diretor promissor, na figura de Drew Goddard.

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30 outubro, 2012

Rock of Ages (EUA, 2012).


"Nada, exceto diversão" (Título da música da banda de hard rock oitentista Poison, utilizado como chamada do poster oficial do filme).*
Queria muito ter achado Rock of Ages um grande filme, principalmente por este supostamente prestar uma homenagem ao som de uma época que aprecio bastante, a colorida década de 1980. E, mesmo que esteja elencado no filme uma ótima seleção de músicas daquele período e possuir uma ambientação para lá de bacana - parabéns a equipe de arte do filme -, como entretenimento o filme deixa a desejar, visto que possui uma dupla de protagonistas (Julianne Hough e Diego Boneta) sem carisma e com atitude rock nula e um roteiro no mínimo bobo, entrecortado por passagens supérfluas que acabaram por ajudar a metragem inflacionada do filme (cerca de 136 minutos), mas prejudicaram bastante a dinâmica e a qualidade do mesmo.

Um dos maiores fracassos de bilheteria deste ano, não conseguindo sequer se pagar quando em cartaz nos cinemas, Rock of Ages sofre do mal da homenagem boazinha, que tenta elencar os pontos positivos do objeto a ser homenageado, mas se esquece que a possível sujeira do mesmo também é aspecto fundamental para que o registro seja plausível. Como retratar uma época regrada a festas, álcool, purpurina, sexo, drogas e rock 'n' roll sem o mínimo de sujeira e permissividade que tais tópicos pedem. No mínimo é um contrassenso. Logicamente que o filme não é de todo mal, principalmente pelas músicas escolhidas para conduzirem a história e pela sua utilização inteligente, que se à perfeição ao fiapo de roteiro da obra.

Talvez o maior problema do filme resida em sua pegada apática, obviamente por ter sido produzido como um subproduto do "hypado" seriado Glee, que se por um lado  renovou o interesse por canções há muito esquecidas pelo grande público, acabou também por pasteurizar-las em demasia, conferindo um ar contrário ao característico de uma canção de rock (em suma, falta energia e pegada a estas cute versions. E é exatamente isto que ocorre em Rock of Ages, apesar da ambientação bacana e da ótima escolha das músicas, Adam Shankman (Hairspray), por sinal um "expert" em musicais, acaba por artificializar demais as canções abraçadas pelo longa, além de utilizar o errôneo recurso de cortes rápidos durante a maioria das cenas coreografadas, fazendo com que seja praticamente impossível acompanhar o que acontece em tela.

Enfim, apesar de bonito - mesmo com uma caracterização rasteira do visual oitentista, especialmente no que se refere aos penteados (onde estão os mullets e cabelos à lá poodle?) -, a direção de Shankman é trôpega  e, aliada a um roteiro sem brilho (sério que três pessoas - Justin Theroux, Allan Loeb e Chris D'Arizenzo, este último criador do musical da Broadway no qual o filme é baseado - conseguiram conceber um argumento tão fraco?)  e a presença de dupla de protagonistas sem qualquer tostão carisma e muito menos algum apelo rock 'n' roll (não dá para engoli-los interpretando as canções, simplesmente não dá), acaba por contribuir de forma veemente para o afundamento do filme.

Além disso, voltando ao fator duração do filme, são diversos os personagens que poderiam ser limados do mesmo sem prejuízo algum a obra, dentre eles a frígida personagem de Catherine Zeta-Jones (Traffic), juntamente a seu esposo (Bryan Cranston, de O Vingador do Futuro) e a gerente de bar de stripper vivida pela verdadeiramente cantora  Mary J. Blige, que parece ter a missão de surgir do nada sempre que uma nota mais alta de determinada música é acionada.Contudo, apesar dos desperdícios, o filme conta com alguns bons personagens - mesmo que desenvolvidos de maneira rasteira -, especialmente pelas boas performances dos atores envolvidos, como Paul Giamatti (A Dama na Água), Russel Brand (Ressaca de Amor) e principalmente Alec Baldwin (O Aviador) e Tom Cruise (Um Sonho Distante). Este, por sinal, talvez seja o grande destaque no que se refere a construção de personagem, visto que o ator está completamente imergido nas idiossincrasias do personagem do começo ao fim da projeção (inclusive no desfecho bunda lelê), porém não acho uma performance arrasadora do mesmo - como muitos comentaram -, até por que em teoria a densidade dramática do filme não comportaria algo além.

Parece que a maioria do público percebeu alguns desses problemas também, visto que Rock of Ages se consumou-se mal avaliado tanto pela da crítica tanto por aqueles (poucos) que o conferiram nos cinemas. Como dito no topo do texto, queria muito gostar desta obra, mas apenas a presença de várias músicas que me calham no meu gosto não foi suficiente para que eu  vislumbrasse uma boa avaliação do mesmo, já que são muitos os problemas que carrega, começando pela mais do que na cara deformação de valores e mística de uma década no mínimo curiosa que foi da de 1980. Sendo assim, creio que para que a má impressão geral nascida durante a conferida deste filme seja pelo menos pontualmente dissipada terei que ver uma vez mais Rock Star, de 2001,  filme este que abraça a mesma temática (apesar de não ser propriamente um musical) e, pelo menos até alguns anos atrás, considerava bem divertido e interessante. Portanto, muito em breve discorrei sobre o referido, enquanto isso permaneço "lastimando a lástima" que foi Rock of Ages em seu contexto geral.

* Infelizmente a utilização do título da canção do Poison sagrou-se como um triste engodo.

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29 outubro, 2012

O Abrigo (Take Shelter, EUA, 2011).


Opiniões de alguns membros da imprensa norte-americana destacada no cartaz oficial do filme: 
"Michael Shannon em um alto desempenho" (Pete Hammond, Deadline).
"Impressionante! Já está sendo considerado uma obra de arte norte-americana" (John Lopez, Vanity Fair).
"Jessica Chastain está surpreendente e impressionante" (Ty Burr, Boston Globe). 
O Abrigo comprova que uma boa trama e um bom desenvolvimento da mesma é o principal elemento de um bom filme e não o tamanho do seu orçamento ou a qualidade de seus efeitos especiais. Dirigido e escrito pelo promissor Jeff Nichols (Shotgun Stories), sendo este apenas seu segundo filme, O Abrigo apresenta um enredo aparentemente simples, apresentando os dilemas vividos pelo personagem de Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho), cidadão que começa a sonhar com uma misteriosa tempestade e eventos que sugerem ao mesmo o possível fim do mundo, contudo apenas ele "recebe" através de sonhos essas curiosas informações, alimentando assim a dúvida quanta a veracidade disto ou se ele estaria na verdade apresentando sintomas esquizofrênicos, que por sinal é uma patologia congênita à sua família (sua mãe sofre de esquizofrenia). 

Por viver numa casa isolada no meio do campo com sua esposa (Jessica Chastain, de A Árvore da Vida) e sua filha pequena (Tova Stewart), que sofre de deficiente auditiva, a angústia e devaneios do personagem de Shannon começam a crescer a levantar questionamentos mais óbvios quanto a sua condição psicológica, principalmente na cabeça do espectador, que acompanha a angústia pelos dois lados, sendo praticamente impossível ter predileção pelo certo ou errado da paranoia sofrida por ele. Através de uma trama que mistura elementos de mistério típico de filmes de suspense com uma forte carga dramática, numa espécie de mistura de Sinais com Uma Mente Brilhante, Jeff Nichols nos conduz por uma obra que beira a perfeição e mesmo possuindo uma premissa simples nos a apresenta de forma brilhantemente criativa, criando laços imediatos para com o espectador não pela dúvida levantada e pelo possível e misterioso evento que estaria prestes a acontecer, mas sim pela complexidade dos dilemas vividos pelas personagens, que facilmente nos remetem a nossas próprias vidas, mesmo que não tenhamos nenhum tipo de conexão objetiva com elas.

Todavia, uma obra desse cacife não estaria completa se não possuísse um elenco de grande qualidade e felizmente o filme carrega um. Michael Shannon, que interpreta o enigmático protagonista Curtis LaForche, faz um trabalho excepcional ao compor o angustiado pai de família em dúvida quanto a sua sanidade. Mesmo que este personagem não seja algo inusitado a carreira do ator, já que geralmente são os tipos "loucos" (ou possivelmente loucos) que são oferecidos a ele (a lista é longa, mas destaco sua "estreia" com Possuídos, de William Friedkin, o soldado traumatizado em As Torres Gêmeas, de Oliver Stone e seu agente no mínimo problemático da série Boardwalk Empire, criação de Terrence Winter, além do citado Foi Apenas um Sonho, de Sam Mendes, onde o ator também interpreta um tipo estranho), o mesmo se supera aqui, trabalhando detalhe por detalhe a personalidade introspectiva e dúbia de Curtis, ajudando a sedimentar a profundidade e a discussão acerca de relacionamento, confiança, percepção e distanciamento da realidade promovida por Nichols.

Jessica Chastain também brilha como Samantha LaForche. Coincidentemente, no mesmo ano de 2011 a atriz acabou por interpretar uma personagem que guarda alguns ecos para com esta. Me refiro a esposa do personagem de Brad Pitt no filme A Árvore da Vida, de Terrence Mallick, que assim como Samantha, passava por problemas de afirmação e confiança para com seu cônjuge. Entretanto, as situações e circunstâncias de ambas são muito diferentes. Chastain aplica em Samantha uma carga de fragilidade e sofrimento que nos contagia de imediato, acabando por fechar o elo que nos faz, espectadores que somos, ficarmos em cima do muro quanto ao partido a ser tomado quando incorrem conflitos entre o casal, visto que há "motivos" válidos para a resposta de ambos as situações, principalmente por carregarem um viés de humanidade (e imprevisibilidade, como é de fato o ser humano) que nos desperta "empatia" de imediato. 

O Abrigo desperta significados e significantes diversos em suas cerca de duas horas de projeção. O título discorre tanto sobre o objeto imóvel quanto sobre o fator subjetivo das personagens (especialmente de Curtis, visto que acompanhamos o enredo sob seu ponto de vista), a música aparece mais como sugestão de clima de que como aparato de produção de clima, o que favorece a tensão e imersão como um todo, visto que são apenas pequenos ruídos e incursões de instrumentos brandos que compõem as cenas e quase sempre num volume abaixo do que normalmente estamos acostumados (por sinal, a trilha de David Wingo me lembrou um pouco a do filme Ensaio Sobre a Cegueira, adaptação da obra homônima de José Saramago, dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles). A composição visual do filme também é primorosa, seja devido a fotografia  de Adam Stone que intercala panorâmicas - especialmente ao apresentar o lar afastado e entrecortado por campo dos LaForche e o céu - com ângulos mais fechados (closes e planos médios), seja pelos sons diegéticos ou simplesmente pela brilhante condução de Nichols, que como poucos cineastas autores atuais aparenta ter total controle sobre o que e como quer dizer.

Um filme baratíssimo (custou apenas cinco milhões de dólares), mas até então pouco visto, O Abrigo conquistou a crítica especializada no mundo todo, além de muitos prêmios, dentre eles melhor filme (SACD)  e direção (Critics Week Grand Prize e FIPRESCI Prize) no Festival de Cannes e melhor ator (Shannon) e atriz (Chastain) pela Associação dos Críticos de Toronto, entre outros. Extraindo complexidade de uma premissa a princípio simples, Jeff Nichols, Michael Shannon e Jessica Chastain entregam aqui uma obra exemplar, dona de um ritmo e clima próprios, mas com muita identidade e, principalmente, carregando uma história acachapante, que indubitavelmente despertará reflexões inúmeras daqueles que tiverem o prazer de conferi-la. Preterida por premiações mais "polpudas" como o Oscar, O Abrigo tem força por si só para vencer as barreiras do tempo graças a relevância do seu conteúdo, mas para isso necessita ser mais visto, portanto sugiro que o confiram o mais rápido possível pois o filme é simplesmente incrível. 

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28 outubro, 2012

O Corvo (The Crow, EUA, 1994).

"As pessoas acreditavam que, quando alguém morria, um corvo carregava sua alma para a terra dos mortos. Mas, às vezes, algo tão ruim acontecia que uma tristeza terrível era carregada e sua alma não podia descansar. Então, às vezes, só às vezes, o corvo podia trazer a alma de volta para acertar as coisas erradas". (Narração em off de Sarah, personagem de Rochelle Davis).
"Se as pessoas que amamos são roubadas de nós, a maneira de mantê-las vivas é nunca parando de amá-las. Prédios queimam, pessoas morrem, mas o amor verdadeiro é para sempre".  (Narração em off de Sarah, personagem de Rochelle Davis).
Alex Proyas (Presságio) é um dos meus cineastas contemporâneos favoritos, pelo menos no que se refere a temáticas "pop" (ficção-científica, fantasia etc.) da minha geração, mas nunca tinha conferido (até hoje) seu primeiro grande trabalho em Hollywood, a adaptação cinematográfico de um personagem de histórias em quadrinhos, O Corvo. Mais lembrado pelo fato de ser o último filme de Brandon Lee  - o filho do astro Bruce Lee acabou falecendo durante as gravações deste filme, devido a um disparo acidental de uma arma de fogo -, esta estilosamente gótica produção é um ótimo filme, visualmente arrebatador e empolgante como um boa peça de entretenimento deve ser.

Contando com uma direção super-técnica de Proyas, cujo estilo particular pode ser percebido desde a sequência de abertura do longa, com sua estética soturna, utilização de ângulos plongée (o olhar da câmera vem de cima para baixo) e de panorâmicas que apresentam a versão estilizada da cidade de Detroit dada pelo diretor. O roteiro do filme, assinado por David J. Schow (A Hora do Pesadelo 5: O Maior Horror de Freddy) e John Shirley, é instigante e desperta interesse de imediato, especialmente complementado ao visual particular do filme, fazendo que um ou outro momento ligeiramente datado passem quase despercebidos.

Já que o aspecto visual é indubitavelmente um dos grandes destaques da fita, não há como não ressaltar o magnífico trabalho fotográfico do polonês Dariusz Wolski (Prometheus), que, juntamente a Alex McDowell (O Preço do Amanhã), designer de produção, dão o tom da produção. Seja devido a apresentação de imagens levemente azuladas, a ambientação com óbvias influências góticas ou a sujeira e loucura a lá Detroit do filme RoboCop, é certo que o trabalho destes e de suas equipes, aliados aos responsáveis pelos efeitos visuais (infelizmente, o tempo foi mais severo para com estes), foram se suma importância para o grande saldo positivo deste filme.

Nunca li as histórias em quadrinhos do personagem criado por James O'Barr, porém a trama do filme (bem resumida pelas citações acima) é bem amarrada e compacta, não necessitando de informações externas para o entendimento total da obra. A bem verdade, apesar de não especificar temporalmente os eventos mostrados - pode-se imaginar somo sendo presente ou futuro -, a trama do filme é bem compacta e, por conseguinte, facilmente absorvida, mesmo que não haja explicações em tela acerca da volta dos mortos do de Eric Draven (Brandon Lee) e de sua ligação com o corvo "místico", embora isto não prejudique de maneira alguma a obra, pois como dito a mesma é autoexplicativa (mesmo que não revele tudo). No entanto, mesmo que a trama do filme seja aparentemente fechada em si mesmo, possivelmente podem haver referências a obra original, contudo não pude captá-las devido a minha "ignorância" quanto a este universo.

Seja em sua ambientação, na apresentação da motivação de Draven, na composição das cenas de ação, na abordagem visual do filme ou mesmo no âmbito sonoro - tanto as músicas que intercalam momentos do filme (The Cure, Stone Temple Pilots, Nine Inch Nails, dentre outros) quanto a trilha incidental composta por Graeme Revell (Freddy vs. Jason) são excelentes -, O Corvo mostra-se bem postado e marcante, mesmo tendo sido lançado há quase 20 anos, comprovando que, exceptuando um ou outro detalhe, mantém-se relevante ainda hoje. Brandon Lee, por sinal, literalmente entra de corpo e alma em seu personagem, passando credibilidade tanto nos momentos mais dramáticos quanto quando alucinado por sua busca de vingança. Completado o elenco temos o eterno caça-fantasmas Ernie Hudson (A Mão Que Balança o Berço) e o eterno vilão de filmes como Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões, 1492: A Conquista do Paraíso e Os Três Mosqueteiros (versão Disney de 1993), Michael Wincott. O Corvo pode não encontrar-se como meu trabalho preferido de Alex Proyas, mas é não menos que bom e contribui ainda mais para a manutenção do meu apreço pelo seu trabalho como cineasta.

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26 outubro, 2012

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012).


Creio que Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros vem ratificar pelo menos duas tristes realidades: primeiramente, que o escritor e agora roteirista de cinema Seth Grahame-Smith não leva jeito para este serviço e que Tim Burton vive uma má fase, seja como diretor, seja como produtor - por coincidência, Smith e Burton trabalharam juntos em Sombras da Noite, último trabalho deste como diretor, que mostrou-se uma obra bastante irregular. Talvez esta parceria não seja a ideal. Porém, no caso deste Caçador de Vampiros a direção (e co-produção) coube ao cazaquistanês Timur Bekmambetov, responsável pelos blockbusters russos Guardiões da Noite e Guardiões do Dia e pela adaptação de histórias em quadrinhos Procurado, sucesso "surpresa" de 2008. 

Porém, se nestes filmes citados parecia haver um rastro de inventividade ao estilo de direção Bekmambetov (quiçá como autor), eis que este filme põe toda essa impressão abaixo. O que ocorre é que a preferência do diretor por sequências recheadas de slow motion e absurdos visuais tomando conta da ação não funcionam a contento neste filme, visto que soam confusas demais e aparentemente com o intuito único de causar frisson. Enfim, visual jogado - nos cinemas, em 3D - na cara do espectador e pouca (ou nenhum substância). Após conferir este filme me ficou a impressão de que Timur Bekmambetov não é mais um grande nome do cinema atual de ação, dono de sacadas visuais criativas e inusitadas, mas sim uma versão genérica de Zack Snyder (300, Watchmen, o Filme) - o que para muitos não faz diferença alguma.

Já que no âmbito visual o filme não se mostra tão interessante, o que dizer do seu roteiro? A premissa de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros em si é absurda, mas como tudo é válido no escopo da ficção,  fica aqui o registro de que esta confirma o poder "criativo" de seu criador, Seth Grahame-Smith. No entanto, nem sempre o caminho entre uma boa ideia e um bom filme se cruzam e é justamente neste último ponto que Grahame-Smith falha. À exemplo de seu outro trabalho no cinema, o já citado Sombras da Noite, muita coisa é jogada no roteiro, que acaba por parecer mais com uma colcha de retalhos ou uma colagem de momentos para o público gritar "yeah" do que uma trama fantástica, amparada em "eventos reais", com início, meio e fim. As personagens do filme também são muito mal desenvolvidas, visto que não é dada profundidade dramática a nenhuma delas, tornando o filme bem vazio neste sentido. Nunca li uma obra de Grahame-Smith, mas espero que estas tenham mais nexo narrativo do que seus trabalhos cinematográficos.

Com um roteiro falho e foco ininterrupto em sequências de combate mais do que artificiais - o que acabou por me tirar um pouco do clima do filme -, não é de se espantar que as atuações do elenco não sejam lá essas coisas. O desconhecido Benjamin Walker - espécie de clone jovem de Liam Nesson - parece se esforçar, mas não convence nem como jovem Lincoln, nem com quilos de maquiagem e uma barba postiça quando Presidente dos Estados Unidos. Dominic Cooper (Capitão América: O Primeiro Vingador) - SPOLIER A SEGUIR - não esconde em momento algum que é um vampiro e Mary Elizabeth Winstead (Duro de Matar 4.0) resume-se a sorrir, enquanto Antony Mackie (Os Agentes do Destino) praticamente não aparece (ou traz relevância) no filme. O que falar dos vampiros vilões interpretados pela dupla Rufus Sewell (O Ilusionista) e Marton Csokas (Cruzada)? Vergonha alheia resume bem. Obviamente que o mérito da culpa não cabe exclusivamente aos atores, mas também ao já citado mal desenvolvimento das personagens que estes interpretam.

Outro aspecto que incomoda está na construção do universo vampirístico do filme. Se no âmbito visual e quanto ao seu conceito a coisa parece promissora, especialmente por mostrá-los - em sua maioria - como estrangeiros que dominam o lado sul (e escravagista) dos Estados Unidos e terem um visual que lembra bastante o das criaturas da série em quadrinhos Vampiro Americano, de Scott Snyder e Rafael Albuquerque, as motivações (quais?) e a forma de organização (qual?) aparecem jogadas e sem substância, se é que são mostradas.

Lendo até aqui a impressão dada é a de que o filme é horroroso, não? No entanto, este traz alguns elementos interessantes e, na maior parte do tempo, apesar dos furos e obviedade, cumpre razoavelmente seu papel como entretenimento. Contudo, dado o quilate dos nomes envolvidos e a curiosidade/interesse que o título Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros desperta, não deixa de ser um tanto quanto decepcionante o contexto geral do filme. Sendo assim, apesar de não ser o pior blockbuster do ano e possuir o mérito de não se tratar de uma sequência ou remake - no máximo, se encaixaria como uma reinterpretação -, infelizmente o filme ficou marcado em mim por ter revelado a "fraude" Timur Bekmambetov (pois é, o tinha em alta estima) e por comprovar mais uma vez a péssima fase vivida por Tim Burton como realizador (desde A Noiva Cadáver *, de 2005, que não vejo algo mágico do cineasta), que sinceramente espero que acabe com o lançamento do vindouro Frankenweenie, remake de um curta metragem do início de sua carreira e que, por coincidência, trata-se de uma animação em stop-motion. Quem sabe não falta a Burton um retorno quase que total a universo dos efeitos práticos e menos grandiloquência a Bekmambetov? Mas quem sou eu para sugerir alguma coisa. Creio que tenho que realizar meus próprios filmes e esperar pelas críticas.

(*Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet é um filme legal, mas ao meu ver não encontra-se no nível de obras outras de Burton, como Batman, Edward Mãos de Tesoura, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas e o citado A Noiva Cadáver).

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23 outubro, 2012

Hellboy II: O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, EUA, 2008).


"Acredite ou não, ele é o mocinho". (Frase do poster promocional do filme).
Hellboy II: O Exército Dourado, sequência do filme de 2004, é esplendoroso. Entretenimento de primeira qualidade que pulsa criatividade a cada quadro, esta nova incursão do cineasta mexicano Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno) no universo do demônio das HQs difere em tom e estilo do filme original, mas é justamente disso que surge sua força e o torna uma obra tão boa quanto aquela. Novamente estrelado por Ron Perlman (O Nome da Rosa), Selma Blair e Doug Jones (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado), este filme deixa um pouco de lado o clima soturno e visual steampunk para abraçar um tom mais próximo a fantasia e a mitologia (celta, talvez), apresentando um conflito milenar entre elfos e homens, a feitura de um poderoso exército mágico e o plano de vingança de Nuada (Luke Goss, de Blade II), o príncipe dos elfos, que credita a humanidade (com razão, por sinal) a culpa pela lastimável situação do planeta nos dias de hoje. Obviamente que o estratagema de vingança do príncipe não é tão honrável, mas em essência sua causa é compreensível. Entretanto, apesar de possuir um viés mais filosófico do que o filme anterior, Hellboy II também incrementa no que se refere a ação e a inclusão de humor, um elemento fortíssimo nessa sequência.

Não há o que reclamar quanto ao visual do filme. Se o anterior já se destacava neste quesito (uma das particularidades dos trabalhos de Del Toro), Hellboy II sagra-se ainda melhor, tanto no que se refere aos efeitos produzidos por computação gráfica, quanto nos de origem protética (maquiagens e afins). O design de produção do filme também é fascinante, com diversas novas criaturas e lugares ganhando vida, graças a imaginação de Del Toro e a competência de seus parceiros. A ambientação do filme é primorosa, sendo talvez até mais concisa do que o roteiro, mesmo este soando interessante e bem amarrado. A bem verdade a produção do filme é tão chamativa que o mesmo aparenta ter custado bem mais do que gastou (seu orçamento beira os 85 milhões de dólares), o que é mérito de toda a equipe do filme.

O humor e o romance tem grande destaque aqui, tendo Hellboy e Abe Sapien (Doug Jones) ganhado mais inserções cômicas - incluindo uma cena em que os dois cantam e se embriagam com cerveja -, mostrando que o objetivo de Guillermo Del Toro era o de se afastar ao máximo do primeiro filme não pela sua insatisfação com aquele, mas com o intuito de apresentar um produto distinto e que acompanhasse a evolução tanto dos personagens quanto do universo apresentado pelo filme. É tão verdade que são várias as pistas jogadas ao longo da obra que sugerem um terceiro capítulo onde Hellboy provavelmente se verá no dilema de cumprir a profecia de tornar-se o arauto da destruição do planeta ou não. Além disso, o próprio Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal chama mais a atenção da sociedade - tendo Hellboy como principal "culpado" pela exposição do órgão até então "secreto" -, comprovando a preocupação de Del Toro em evoluir o cenário.

As cenas de ação do filme também funcionam muito bem, principalmente por que os desafios encarados pelo anti-herói título são dos mais distintos, desde fadas-do-dente endiabradas, passando por uma criatura que lembra um troll de O Senhor dos Anéis e um elemental planta gigante, que gera uma das melhores - e mais bem feitas - sequências de ação do filme. Some-se a isso a ótima condução do cineasta - é inegável que Del Toro saber como filmar, visto que estabelece muito clima do filme através dos ângulos e planos de câmera escolhidos -, aliada a sempre competente fotografia de seu parceiro habitual Guillermo Navarro, além da bem posta trilha sonora composta por Danny Elfman (Sombras da Noite) - que curiosamente soa menos grandiloquente do que o comum, o que faz bem neste caso - completam a organicidade dos elementos audiovisuais do longa, que se mostra bem orquestrado do início ao fim.

Em síntese, prefiro a ambientação dark e ocultista do primeiro, mas é inegável que visualmente e, por que não, organicamente, Hellboy II: O Exército Dourado é superior aquele. Vindo do sucesso de crítica e público obtido com O Labirinto do Fauno e, consequentemente, com carta branca para ousar mais nesta sequência do filme de 2004, Del Toro apresenta aqui as mais interessantes criaturas e ambientes da franquia, criando personagens inusitados e criativos, mas dotados de sentido além do estético, já que estes elementos  estilizados trazem sentido a narrativa e preenchem o filme com propriedade, confirmando a aptidão do cineasta como criador de universos distintos e certamente estranhos, mas que não causam repulsa, mas sim encantamento.

Até então o último filme do cineasta mexicano, Hellboy II é considerado por muitos um produto mais "DelToresco" do que "Mignolesco" (de Mike Mignola, o criador do personagem), pelo fato de sua abordagem não ter tanto a ver com o universo mais ligado ao ocultismo e ao sobrenatural das histórias em quadrinhos, mas sim guardar relações com o próprio imaginário do diretor, assumidamente amante de contos de fadas e romances góticos. É certo que o humor tirou um pouco do impacto dramático do filme - que, convenhamos, possui um subtexto de cunho mais profundo que o do filme anterior -, mas em contrapartida o fez ganhar em diversão, tornando este um filme ao mesmo tempo diferente e igual ao antecessor, pois a maioria dos personagens apresentados em Hellboy encontram-se neste, mas agora dispostos em situações distintas das vividas anteriormente. Como dito, Hellboy II: O Exército Dourado é um filme distinto cuja ordem primeira é evolução e, independentemente de preferências, sagra-se como um filme tão interessante e bem realizado quanto o primeiro.

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22 outubro, 2012

Frenesi (ING, 1972).


Até mesmo os filmes menos conhecidos de Alfred Hitchcock possivelmente mostrar-se-ão excelentes, vide este que foi o penúltimo trabalho do mestre do suspense, intitulado Frenesi. Ambientado na Inglaterra, o filme marca a volta do cineasta a seu país e o mesmo constrói aqui uma obra de suspense (e certo humor negro) de primeira categoria, que tem como ponto de partida os ataques do intitulado assassino da gravata, que violenta suas vítimas antes de matá-las. Porém, apesar do mistério do assassino (que, por sinal, tem sua identidade revelada ao público rapidamente, uma das marcas de Hitchcock), o que acaba por chamar mais a atenção no que se refere a trama é todo o processo de incriminação de um inocente (mas dono de antecedentes no mínimo duvidosos) e a paranoia advinda deste. É certo que, para o filme funcionar à perfeição, são dispostos no roteiro vários elementos de improvável coincidência, mas que nas mãos de Hitchcock funcionam à perfeição.

Podendo ser definido como excitação ou arrebatamento, o substantivo Frenesi resume bem a que se propôs o filme, especialmente no sentido da paranoia sofrida pelo personagem de Jon Finch, o homem falsamente incriminado. Finch, com um visual que lembra bastante Johnny Depp no filme Donnie Brasko, de Mike Newell, carrega bem o filme, construindo um personagem enigmático e de índole confusa, o que ajuda a comprar a ideia do personagem estar sendo acusado falsamente. Barry Foster, que veste a "máscara" do assassino, transborda carisma e "cafajestice" em seu personagem, dando um ar bastante teatral a este, o que funciona perfeitamente ao filme, que mesmo tendo no suspense seu carro chefe, apresenta um emaranhado de referências, especialmente em tons de ironia.

Desde a cena de abertura apresentada através de um travelling que perpassa o rio Tâmisa, indo de encontro a um discurso político na orla, passando pelos mais variados enquadramentos caprichados de Hitchcock - juntamente ao diretor de fotografia do filme, Gilbert Taylor (Star Wars: Uma Nova Esperança) - e pela eficiente trilha sonora composta por Ron Goodwin (O Desafio das Águias), Frenesi é primoroso, trazendo o cineasta britânico ainda em grande forma e, se não é tido como um dos seus trabalhos mais importantes, com certeza não figura muito abaixo destes, provando que Hitchcock é um dos raros realizadores que possuem uma filmografia praticamente irrepreensível (ainda não tive o desgosto de conferir a um filme ruim seu).

Tendo sua primeira exibição pública no Festival de Cannes - fora de competição -, esta livre adaptação (como quase todas de Hitchcock) do romance Goodbye Piccadilly, Farewell Leicester Square, de Arthur La Bern (que não curtiu muita as alterações realizados para o filme), foi indicado à quatro prêmios do Globo de Ouro (Melhor Diretor, Melhor Filme Dramático, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Roteiro) e, mesmo saindo de mãos vazias, com certeza não foi por falta de qualidade. Marcando o retorno de Alfred Hitchcock aos filmes de suspense após algumas tentativas não tão bem sucedidas por outros gêneros, Frenesi é um filmaço e, ao meu ver, caminho lado a lado (mesmo que um pouco abaixo dos seus filmes mais inspirados) aos grandes trabalhos deste que é um dos melhores contadores de histórias de todos os tempos.
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Poder Paranormal (Red Lights, ESP/EUA, 2012).


O cineasta Rodrigo Cortés ganhou notoriedade após o lançamento do thriller psicológico Enterrado Vivo, estrelado por Ryan Reynolds (Lanterna Verde), que saiu aplaudido do Festival de Sundance. Com o prestígio adquirido, o espanhol resolveu se dedicar a um projeto mais ambicioso, convocando um elenco de ponta - Cillian Murphy (Voo Noturno), Sigourney Weaver (Alien, o Oitavo Passageiro) e Robert De Niro (Touro Indomável) - e apostando numa trama mais pop e ao mesmo mais complexa (ou pelo menos que se torna complexa devido ao puslo forte do do diretor). Intitulado por aqui como Poder Paranormal (o título original, Red Lights, possui uma relação mais sutil com a trama da obra) e tendo como premissa a investigação a respeito da veracidade ou não de eventos paranormais, tendo como foco seus agentes (vidente, gurus e afins) e cientistas céticos, apesar de repetida, sempre desperta interesse, principalmente por tratar de algo curiosamente ainda não destrinchado com eficácia pela ciência. No entanto, apesar de soar interessante e ter em no elenco seu maior destaque, o roteiro e a montagem vez ou outra escorrega e justamente devido a isto a obra perde um pouco do brilho inicial e acaba desandando na complicação mais do que deveria.

A cena de abertura de Poder Paranormal resume bem o filme, apresentando os personagens de Murphy e Weaver como uma dupla de pesquisadores de uma universidade, sendo que esta veste a carapuça de mentora, enquanto aquele se apresenta como o aprendiz promissor e, por conseguinte, os nossos olhos à trama do filme. Logo em seguida nos é mostrado o "enigmático" Simon Silver (nome no mínimo estranho), personagem de De Niro, um psíquico renomado que resolve voltar a ativa após trinta anos afastado. A trama se desenvolve a partir da busca direta e indireta do personagem de Murphy por desmascarar Silver como um farsante. Como dito, filmes que tem como foco estudiosos do paranormal não são incomuns, porém este realmente chama a atenção pela condução mais cuidadosa, com um pé fincado na realidade (pelo menos na ilusão de realidade). 

Contudo, com o passar dos minutos a trama do filme vai ganhando uma aura de paranoia cada vez maior, o que ajuda a construir ainda mais tensão e suspense ao mesmo, porém, pela falta de tato de Rodrigo Cortés na montagem - a impressão que dá é que o cineasta quis aproveitar ao máximo todo o material filmado - e, principalmente, pelo excesso de informação e texto distribuídos na resolução do filme, o que acaba tirando um pouco do seu brilho, além do seu perfeito entendimento tornar-se difícil, não por que a conclusão surge complexa e mereça uma reflexão apurada, mas sim devido a forma pela qual ela é mostrada, bastante confusa e excessivamente retórica.

À exceção do desencanto quanto a sua conclusão (não quanto ao conteúdo, que é aceitável, mas a forma), Poder Paranormal guarda mais bons momentos do que ruins, já que é dono de uma ambientação e clima interessantes, onde a sonorização é o maior destaque e conta com bons trabalhos do trio principal de atores, mesmo que nenhum deles se sobressaia (De Niro, apesar de não decepcionar como na maiores de seus últimos trabalhos, não tem nenhum momento de brilho ou algum lampejo de sua outrora bastante perceptível genialidade), além de ter em Cortés um bom diretor, que usa os recursos dispostos - sejam técnicos ou orçamentários - da melhor maneira possível, até por que, apesar dos nomes de destaque escalados para o filme, esta é uma produção de baixo orçamento, pecando apenas quanto a qualidade do roteiro e da montagem do filme, que oscilam bastante durante o filme. 

Mesmo não sendo um filme tão bom, criativo e bem amarrado quanto Enterrado Vivo, Poder Paranormal é um bom filme e, apesar de ter sido destroçado por grande parte da crítica especializada (mais informações podem ser vistas ao acessar os links abaixo do trailer) e de não ter (ainda) conseguido conquistar um bom público, merece ser visto e pode surpreender, especialmente àqueles que curtem um produto do gênero mais pela variedade de elementos da trama do que pelos sustos e revelações grandiosas (se bem que, no caso desta, o filme deixa um pouco a desejar na execução, que mostra-se atropelada e apressada).

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20 outubro, 2012

Contrabando (Contraband, EUA, 2012).

"O que você esconderia para proteger a sua família?" (Frase do poster promocional).
Apesar de não trazer inovação ao gênero e ter um discurso moral no mínimo enviesado, Contrabando mostra-se como um filme de ação eficiente. Confesso que curto o trabalho de Mark Wahlberg (Os Infiltrados) como ator, portanto tento conferir a maioria dos filmes em que o mesmo se encontra. Obviamente que o retrospecto do ator não é impecável, mas não é com esse Contrabando que o meu interesse pelo astro será esmorecido. Voltando ao filme, este trata-se de um remake de uma obra finlandesa  intitulada Reykjavík-Rotterdam, que fora estrelada pelo então diretor da versão norte-americana, o também filandês Baltasar Kormákur. Não posso julgar a obra original, mas confesso que, apesar de correta, não consegui enxergar o motivo de se traduzir uma obra tão sem novidades para o universo yankee.

Temos em Contrabando o "hoje" comum anti-herói em busca de uma nova vida (trata-se do contrabandista que o título do filme referencia), mas que, por ação do destino - disfarçado de amigos e ex-aliados - acabam "forçando-no" a voltar à ativa e realizar um último serviço. Até então o filme - apesar de como dito não apresentar novidades - vai caminhando bem, provocando momentos de tensão durante a execução do plano do personagem de Wahlberg para trazer dinheiro falso do Panamá aos Estados Unidos e estabelecendo bem as personagens que o circundam, apesar de cada uma delas não saírem do estereótipo comum a tramas do gênero (inclusive o de Wahlberg). Porém, mesmo com a falta de criatividade, o filme ia caminhando bem, cumprindo o mínimo de sua função, a de entreter. Entretanto, do meio para o final as reviravoltas e acontecimentos de cunho moral duvidoso, além da série de "coincidências" narrativas dispostas pelo roteiro de Aaron Guzikowski (baseado no argumento original de Arnaldur Indriõason e Óskar Jónasson) que acabam por melar grande parte dos pontos positivos do longa, visto que as viradas clichês são mal aplicadas.

Tendo seu elenco completado por Ben Foster (Os Indomáveis), Kate Beckinsale (O Vingador do Futuro), Giovanni Ribisi (Avatar) - irritantemente exagerado -, Caleb Landry Jones (X-Men: Primeira Classe) e J.K. Simmons (trilogia Homem-Aranha), além de contar com uma ponta dispensável do mexicano Diego Luna (E Sua Mãe Também), Contrabando ainda assim cumpre relativamente seu papel e entretém, apresentando alguns bons momentos como a cena de abertura (cujo visual automaticamente me remeteu ao filme Miami Vice, de Michael Mann) e a condição (leia-se ação) do contrabandista vivido por Mark Wahlberg, que mesmo não crível, desperta interesse (estamos falando de cinema, não da "vida real"), porém suas reviravoltas estapafúrdias e moral distorcida (principalmente no que se refere a julgamento de valor, afinal de contas quem é moralmente "correto" neste filme?) acabam tirando bastante da obra no sentido de afeição e credibilidade. Diversão passageira, Contrabando em suma é um bom filme, mas filmes bons temos aos montes, não é mesmo?

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19 outubro, 2012

Se7en, os Sete Crimes Capitais (Se7en, EUA, 1995).


"Deixe aquele sem pecado tentar sobreviver".
"Gula. Avareza. Preguiça. Inveja. Ira. Orgulho. Luxúria." (Citações dispostas no cartaz oficial do filme).
Irretocável dos créditos iniciais aos finais, Se7en (ou Seven), os Sete Crimes Capitais pode ser considerado um marco do cinema moderno, tanto por ter criado tendências e estabelecido novos paradigmas ao gênero policial - mais especificamente ao subgênero serial-killer -, quanto pela dimensão a qual o filme versa, sagrando-se muito mais do que uma simples obra de investigação criminal policial que registra o cotidiano de uma dupla de detetives da divisão de homicídios, pois o filme apresenta um retrato naturalista, incisivo e dilacerantemente negativo não só da realidade do homem contemporâneo, mas também das próprias contradições e idiossincrasias do ser-humano como espécie.

Uma conjunção de novos talentos e nomes consagrados foi formada na realização de Se7en. Do roteirista Andrew Kevin Walker (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça), que galgou destaque após a concepção deste trabalho, passando pelo compositor Howard Shore (O Silêncio dos Inocentes), maestro mais do que acostumado a trabalhar em filmes com uma abordagem soturna e pesada e pelos então já estabilizados Brad Pitt (Babel) e Morgan Freeman (Menina de Ouro), tudo conspirou para que o filme se estabelecesse de forma tão marcante e preciosa. Porém, indubitavelmente o que coroou todos esses grandes elementos foi a presença do prodigioso David Fincher (Zodíaco) na cadeira de diretor, tendo aqui sua primeira grande chance - após o fiasco de Alien³ - de mostrar seu talento e acuro narrativo-visual. E o mesmo conseguiu.

Revolucionário tanto por utilizar uma história de crime para discursar veemente acerca do turbulência de conflitos e desapego aos valores do homem pelo homem - mesmo que de forma inversa -, Se7en é concebido do início ao fim de forma a apresentar paralelos. Temos paralelos nas figuras dos "mocinhos" protagonistas. Enquanto o detetive Somerset (Freeman) é apresentado como um homem solitário e desesperançoso quanto a condição humana, mas extremamente organizado, detalhista e compenetrado, seu novo parceiro, o detetive Mills (Pitt) é o oposto, visto que este é casado e extrovertido, porém desorganizado, jovem (característica importante) e bastante intempestivo. Tais elementos acabam por significar uma interessante metáfora de cara e coroa, ying e yang aos personagens e a própria trama, especialmente quando o elemento que os une - a busca pela identidade do assassino serial que seleciona vítimas que caibam em cada um dos sete pecados capitais bíblicos - também traz um significado de caos e ordem num único indivíduo.

É óbvio que para um filme dessa magnitude funcionar seu contexto policial e de mistério teriam que ser bem desenvolvidos, o que ocorre impecavelmente, mas tolo aquele que acha que o cerne do filme reside na busca pelo criminoso e no porquê da ação deste. Andrew Kevin Walker e David Fincher na verdade traçam um panorama crítico, realista e contundente acerca do quanto nós nos encontramos perdidos no meio de tanta desesperança, egoísmo, orgulho, destemperança etc. Além da tensão e do clima de mistério perpetrado pelo filme, a ideia central reside na tentativa de reflexão acerca da forma pela qual o homem está a construir o seu mundo, onde a sujeira prevalece em nome de ganhos e conquistas menores, individuais, efêmeras, quando todo o resto passa a ser desimportante, sendo assim um lugar onde poucos ascendem - os sete pecados capitais encaixam-se com perfeição a estes - e muitos são dispostos em valas e guetos, relegados ao léu e as baratas (e, mesmo não possuindo a consciência de que são marginais num mundo de poucos, também acabam por viverem sob e pelos crimes capitais).

Tecnicamente arrebatador, não há como não destacar a fotografia de Darius Khondji (Meia Noite em Paris), que somada a direção de arte e o desenho de produção de Gary Wissner (Wyatt Earp) e Arthur Max (Prometheus), constrói um visual impactante, tanto por traduzir com perfeição as ideias do roteiro através dos ambientes escuros, da sujeira e da fumaça, quanto por inferir o clima de tensão e urgência ao espectador. Somado a isso, é impossível não destacar também a equipe de maquiagem, que simplesmente são responsáveis pelas mais asquerosas e ao mesmo tempo mais realistas ilusões de corpos deformados e em estado de putrefação que já vi até hoje. Por fim, é válido aplaudir também a trilha dissonante composta por Howard Shore, que por ser parceiro habitual do cineasta canadense David Cronenberg, entende como poucos de climas gore e violência física e psicológica.

Por fim, mas não mesmo importante, não há como não comentar as atuações de Brad Pitt e de Morgan Freeman. Estabelecendo uma química orgânica e deveras inusitada, ambos se aprofundam na personalidade de seus respectivos personagens, contribuindo para que toda a proposta do roteiro de Walker e o apuro narrativo de Fincher ganhem uma dimensão ainda maior, até por que são estes personagens que nos transportam a esta realidade caótica e sem esperança (some ainda outra performance ímpar, a de Kevin Spacey, especialmente no clímax derradeiro do filme, onde juntamente a Freeman e Pitt dá um show de interpretação, que culmina numa cena de abalar as estruturas de qualquer um que ainda possa sentir).

É certo que Se7en, os Sete Crimes Capitais é carregado de negativismo, apresenta ideias de intolerância, crenças extremas e apresenta um mundo cinzento bem mais próximo do preto que do branco, no entanto o faz de maneira lógica, bem amarrada e coerente com todos os elementos que constroem um bom filme (som, estética, música, narrativa etc.), sugerindo um estudo social crível, realístico e relevante que gera reflexões várias, seja de contexto geral (humanidade) ou íntimo (indivíduo). Talvez o trabalho mais conhecido de David Fincher, Se7en não é um filme para todos os públicos, mas é um baita filme policial que ultrapassa as barreiras do próprio gênero.

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Filmes de DAVID FINCHER  comentados.
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18 outubro, 2012

A Ponta de um Crime (Brick, EUA, 2006).


Como a frase do poster promocional do filme adianta, A Ponta de um Crime (prefiro me referir ao filme como Brick, seu título original) é uma história de detetive. Porém, apesar de passear pelas regras do gênero, este é um filme que pode ser considerado único, pois apresenta como trunfo e diferencial o fato de mostrar-se uma obra ambientada no universo colegial que insere investigação criminal num clima noir, recheado de reviravoltas e mistérios, tudo isso formatado sob a égide de uma narrativa ágil e que não deixa de despertar interesse, visto que a obra é daquelas que vão ganhando mais e mais elementos a cada frame, culminando num desfecho esplendoroso e inusitado. Dotado de linguagem única e de clima arrebatador, Brick pode ser considerado como um dos melhores filmes de detetive e mistério da última década.

Primeiro trabalho do hoje bastante cultuado roteirista e diretor norte-americano Rian Johnson (Looper - Assassinos do Futuro) e estrelado por um até então pouco conhecido Joseph Gordon-Levitt (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge), Brick foi o grande vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Cinema de Sundance, em 2005, honraria esta mais do que merecida, pois se uma coisa não pode ser negada é a criatividade e competência de execução na obra como um todo. Johnson apresenta nesta sua estreia diversos elementos que marcam um bom cineasta, especialmente criatividade, execução definida e controle sobre o que quer contar e, principalmente, como. 

Gordon-Levitt compra a ideia de Rian Jonhson e constrói aqui um protagonista sólido, que tanto causa empatia pela angústia transmitida quanto curiosidade e certo afastamento, visto que seus planos possivelmente nunca são inteiramente compreendidos pelo espectador, mas passam a fazer lógica conforme outros elementos são apresentados à trama. Somado ao personagem de Levitt, temos diversos outros tipos que desfilam na tela que podem ser considerados no mínimo estranhos, mas que casam perfeitamente com a proposta do filme, uma espécie de neo-noir com uma pegada atual e centrada no "mundo real" - no caso do filme, em algum lugar da Califórnia -, apesar de também ser dotado de alguns elementos que remontam certo surrealismo, muito disso advindo de alguns momentos específicos, como a utilização de drogas (tema de grande importância a obra) e períodos de inconsciência do protagonista (Gordon-Levitt), momentos estes amparados por enquadramentos inusitados e criativos a cargo de Johnson e Steve Yedlin, seu diretor de fotografia.

Grande parte da graça de Brick está nos pormenores de sua trama, portanto não me dedicarei à resumir a trama do filme, pois acredito que basta dizer que se trata de uma história de detetive/investigação nos arredores de uma escola que envolve amor, drogas e mortes, sob o ponto de vista de um adolescente. É óbvio que a marca visual empregada pelo diretor e a forma como o mesmo desenvolve a trama são o grande diferencial do filme, portanto melhor que tentar dizer do que ele se trata é pedir com veemência que o assistam. 

Não sei identificar qual seria o motivo, mas Brick me fez lembrar de outra obra de estreia de um cineasta até então independente, que assim como este filme alçou o status de cult. Me refiro ao filme Donnie Darko, de Richard Kelly. As tramas destas obras não tem nada a ver, mas a abordagem e, principalmente, as condições materiais de cada uma delas (tratam-se de filmes totalmente - concepção, roteiro e direção - idealizados pelos respectivos cineastas, marcaram a estreia dos mesmos e custaram pouco) me despertaram este pensamento. 

No entanto, enquanto Richard Kelly partiu ladeira abaixo após sua estreia, visto que com seus filmes posteriores não conseguiu sequer chegar perto do status conquistado pelo seu primeiro trabalho - muito pelo contrário, público e crítica não compraram nenhuma das suas últimas obras -, Rian Johnson partiu num crescendo interessante, podendo não ter repetido com a mesma força em suas outras obras o frescor e qualidade inabalável apresentadas em Brick, mas conseguiu conquistar fatias outras com títulos como Os Vigaristas, de 2009 e este ano com Looper - Assassinos do Futuro, que marca o retorno da parceria do diretor com Joseph Gordon-Levitt. Sendo assim, mesmo que esta comparação não tenha uma relação direta para com o filme aqui comentado, acho válida sua exposição, visto que antes de tudo trata-se de cinema, não é mesmo? 

Resumindo, apesar de não conhecido perante o grande público - mas é certo que possui status cult -, Brick é uma grande obra de estreia do hoje bem alojado Rian Johnson, que pulsa criatividade e inteligência, realizando com louvor a cada vez mais complicada tarefa de apresentar um filme de temática e gênero reconhecíveis mas de forma inovadora, não necessariamente através de um processo de desconstrução, mas  sim da mescla de referências - qualidades estas da geração que segue Johnson, formada por gente do naipe de Darren Aronofsky, Christopher Nolan, Quentin Tarantino, Guy Ritchie e, mesmo com os tropeços, o próprio Richard Kelly citado logo acima - que constituem um processo simples mas eficiente, que aposta assim na construção através da colcha de retalhos que formam suas influências, tanto que o próprio Johnson admitiu influências dos faroestes de Sergio Leone e de Chinatown, de Roman Polanski, na confecção de Brick, mostrando que o despertar criativo também vive no resgate de bons elementos de outras épocas, só que inseridas e executadas de maneira distinta, visto que passa a ser a visão do cineasta do estilo narrativo/visual do outro. Em suma, eis aí a mágica do cinema se renovando, sem deixar de prestar reverência a si mesmo.

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17 outubro, 2012

Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock (Star Trek III: The Search for Spock, EUA, 1984).

"Um planeta moribundo. Luta pela vida. À procura de Spock" (Chamada do poster oficial do filme).
O título do filme já entrega o mote, mas mesmo assim este terceiro filme da franquia cinematográfica de Jornada nas Estrelas é bacana, menos profundo que os dois filmes anteriores, mas possivelmente mais divertido. Dirigido pelo intérprete de Spock, Leonard Nimoy, Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock, por seguir diretamente do desfecho do último filme, A Ira de Khan, acaba sendo muito dependente daquele, visto que afora a presença dos klingons, são poucas as novidades trazidas pelo filme. Obviamente que é sempre bacana revisitar personagens canônicos como James Kirk (William Shatner), Dr. McCoy (DeForest Kelley), Scott (James Doohan), Chekov (Walter Koenig), Uhura (Nichelle Nichols) e Sulu (George Takei), mas é inegável que este é o mais fraco da série até então.

Alguns elementos que funcionaram nos dois filmes anteriores são mantidos neste longa, como a trilha sonora, que novamente ficou a cargo de James Horner, autor da trilha de A Ira de Khan, os efeitos sonoros (típicos das produções sci-fi da época) e o elenco, que além de contar com as performances sempre marcantes dos já citados acima, ganhou o reforço de um até então desconhecido Christopher Lloyd (mais conhecido como o Dr. Brown, de De Volta para o Futuro e como o Tio Chico dos filmes d'A Família Adams), que interpreta o klingon Kruge, o vilão do longa. Apesar do ator apresentar uma boa performance, seu personagem não é bem aproveitado pelo roteiro de Harve Bennett, que mostra-se bem mais preocupado em amarrar o a busca por Spock do que com o desenvolvimento do antagonista de Kirk. É válido destacar que a intérprete da personagem Saavik foi trocada (Robin Curtis substituiu Kirstie Alley no papel).

Entretanto, os efeitos visuais do filme parecem ser os piores da franquia até então, visto que mostram-se pouco criativos e tecnicamente duvidosos. É impossível não compará-los aos da trilogia Star Wars original e notar que mesmo os filmes tendo sido produzidos na mesma época, este supera largamente os filmes da franquia Jornada nas Estrelas e em especial esta primeira parte. Uma pena, por que esta oscilação na qualidade visual do filme acaba dispersando o olhar do espectador, mesmo que pontualmente.

Em suma, diria que Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock traz um certo retrocesso à franquia, visto que não é tão bom quanto o dinâmico segundo filme, mas faz jus ao filme original. Contando com alguns bons momentos (especialmente aqueles que dão continuidade a explanação acerca do planeta vida Genesis) e pecando pela falta de novidade à trama, o filme consegue divertir e ganha certo fôlego no terceiro ato, mas é certo que nem mesmo seu final comovente consegue superar a emoção proporcionado por A Ira de Khan.

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Mais Informações:

Texto sobre Jornada nas Estrelas: O Filme (1979)
Texto sobre Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan (1982)
Texto sobre Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa (1986)
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