27 fevereiro, 2014

RoboCop (EUA, 2014).


Uma coisa é certa, houve muita má vontade por parte do público e da crítica (especialmente norte-americana) na recepção desta refilmagem do cult RoboCop - O Policial do Futuro, de 1987. É claro que este projeto nunca seria unânime, até por ter como base um filme muito querido, especialmente pela gerações oitentista. Todavia, protegido ou não, o certo é que toda nova produção, seja ela refilmagem ou não, deve ser vista e analisada de acordo com seus próprios fundamentos, com a proposta vendida, com o discurso que pretende apresentar, sendo a comparação direta com a obra original apenas acessória, especialmente no caso deste RoboCop, cujo objetivo sempre foi o de se apropriar do conceito apresentado pelo filme de Paul Verhoeven e "reconstruí-lo" de forma substancialmente distinta, mesmo que alguns ecos do longa anterior possam ou sejam mantidos.

Dirigido pelo brasileiro José Padilha (Tropa de Elite) e estrelado pelo promissor Joel Kinnaman (série The Killing), RoboCop é um filme distinto da obra de 1987 não por ir de encontro a este, mas sim pelo viés abraçado. Enquanto o longa oitentista abusava da violência ao mesmo tempo em que exercitava uma forte crítica ao corporativista fascista pungente na era Reagan, além de apresentar uma visão de futuro para lá de negativa pelo ponto de vista de Verhoeven, esta refilmagem adota uma visão mais política, onde questiona a crescente automatização dos aparatos bélicos e militares (entra na equação os drones não tripulados) e o cada vez mais graúdo mercado de pronto atendimento de armas e tecnologia de segurança e, como não, militar. 

Outro diferencial que pontua esta nova versão se dá no âmbito filosófico. Há uma inversão na análise do binômio máquina x homem. Enquanto o filme original apresentava um homem-robotizado que pouco a pouco ia ganhando consciência, recobrando sua humanidade e se desprendendo, metafórica e materialmente, da programação a qual foi condicionado, a obra de Padilha apresenta o produto RoboCop com total consciência do que é e do que aconteceu consigo, porém isto se mostra um obstáculo para concretizar a efetividade do "produto" policial como uma máquina policial, vindo então a ciência (sob a coordenação do corporativismo) para desumanizá-lo aos poucos, tornando-o assim uma máquina por inteiro (ou quase, como o filme desenvolverá a posteriori).

As discussões de cunho filosófico ganham bastante espaço neste RoboCop, especialmente aquelas que tratam de consciência e da questão do livre-arbítrio. É interessante a relação construída entre os personagens de Kinnaman (Murphy/RoboCop) e de Gary Oldman (doutor Dennet Norton, responsável pela engenharia que cria o RoboCop), cujos debates (e ações) perpassam por diversos conceitos abraçados pela filosofia - de acordo com Padilha, sua busca se deu pela dita filosofia da mente/consciência -, além de levantar questões éticas para lá de óbvias. Certamente um dos pontos mais interessantes inseridos nesta nova versão do filme. Uma pena que, dentre tantos temas (além de sequências de ação e desenvolvimento de personagens), este acabe sendo apresentado de forma muito rápida.

A crítica a estrutura midiática hodierna é uma das pautas do filme de José Padilha, que em parte recicla a ideia apresentada em seu segundo Tropa de Elite, ao apresentar um jornalista (Samuel L. Jackson, impagável) manipulador, dotado de agenda própria e que utiliza seu poder como formador de opinião para ir de encontro a preceitos básicos relacionados aos direitos humanos, exercendo o papel de falso crítico da realidade, além de possuidor da solução para qualquer problema - no caso do filme, para a plena extinção da violência urbana nos Estados Unidos -. Inspirado em personalidades de canais altamente conservadores como Fox News e em algumas celebridades tupiniquins, o personagem, apesar de aparecer pouco, é posto como o fio condutor tanto da trama do filme quanto da crítica política estabelecida pelo mesmo, que ganha no aparato midiático seu maior aliado e inimigo. A contradição do pensamento político norte-americano é também um tema levantado pelo filme, que ganha destaque através do porta-voz direitista interpretado por Jackson.

No final das contas o elenco do filme é um dos grandes trunfos da obra, que apresenta algumas promessas (Joel Kinnaman, Abbie Cornish, Michael T. Williams) ao lado de veteranos em grande forma (Gary Oldman, Michael Keaton, Samuel L. Jackson) para ajudar a concretizar esta nova visão de RoboCop. Kinnaman convence tanto como Alex Murphy (detetive de polícia que sofre um atentado violento por conta de uma investigação que pode desbaratar um esquema de corrupção no Departamento de Polícia de Detroit e acaba quase morrendo), quanto como RoboCop, mostrando que tem um bom timming tanto para cenas de cunho dramático, quanto àquelas mais leves. Em nenhum momento o ator tenta emular os trejeitos de Peter Weller - o RoboCop original -, especialmente quando Alex Murphy, o que é uma ótima decisão criativa, pois assim fica mais do que claro que, apesar dos nomes, ambos são personagens distintos. Cornish (esposa de Murphy) e Williams (parceiro de Murphy) têm pouco tempo em cena para desenvolver seus respectivos personagens, além de parecerem desconfortáveis em alguns momentos (especialmente Cornish), o que não chega a atrapalhar, mas tira um pouco do brilho de suas interpretações. Já o bloco de veteranos certamente é o destaque do filme, tendo cada um dos três atores papéis importantes à trama, relativamente bem desenvolvidos e compostos por ótimas performances. À exceção de Jackson que apresenta um personagem mais caricato (o que é um acerto), tanto Oldman quanto Keaton constroem personagens simpáticos e particulares, todavia bastante dúbios, o que reforça o caráter "provocador" do filme.

O aspecto estético do filme é interessante, mas não chama muita atenção. Seu desenho de produção (a cargo de Martin Whist, de O Segredo da Cabana) tenta alinhar a Detroit 2028 o mais próximo possível ao nosso olhar de hoje, mas isso acaba deixando o visual um tanto sem graça. Acostumada a trabalhar em produções de ficção-científica, April Ferry (Elysium) também opta pelo desenvolvimento mais "pé no chão" dos figurinos do filme, optando por uniformizar o vestuário, o que dá verossimilhança a obra, mas também acaba por não estabelecer uma identidade mais forte, especialmente no figurino de peças-chave, como o próprio RoboCop. Em compensação a fotografia do brasileiro Lula Carvalho (Paraísos Artificiais) - que mistura bem o estilo "documental" dos Tropas de Elite com uma estética mais próxima aos dos video-games - e os efeitos visuais encontram-se excelentes. Já Pedro Bromfman, apesar de construir uma trilha bacana, sofre duplamente pela inevitável comparação à excepcional trilha do filme original, composta por Basil Poledouris, e pela falta de um tema marcante, já que apesar de ajudar na construção do tom do filme, sua trilha não é marcante.

Escrito por Joshua Zetumer, RoboCop possui três atos bem definidos, mas não equiparados no que se refere à qualidade narrativa. Sua primeira hora introduz bem os elementos definidores da trama, além de sedimentar a base filosófica pincelada durante o restante do filme. Em seguida, temos uma resolução um tanto apressada, especialmente no momento que registra a retomada da humanidade por Alex Murphy, cujo resultado é a "desculpa" perfeita para que o mesmo resolva o caso do atentado a sua vida. O desenvolvimento daí em diante tropeça um pouco, que culmina no desfecho um tanto irregular do filme, que ganha em tensão, mas perde um tanto em coerência temática com relação ao que vinha sendo apresentado até então (especialmente quanto ao comportamento do personagem de Michael Keaton, que passa de dúbio a "assassino"). É mais do que sabido que Padilha passou por alguns "perrengues" durante a produção do filme, o que pode ter contribuído para este desnivelamento conceitual. Todavia, com ou sem problemas, é importante frisar que há muito do estilo do diretor - em conteúdo e em estética -, que consegue imprimir sua marca de forma impactante, apesar das possíveis concessões.

Possuidor de algumas sequências de alto impacto - o prólogo ambientado em Teerã, a cena que apresenta um deficiente físico voltando a tocar violão através da ajuda de próteses robóticas e aquela que registra a primeira vez que Murphy vê o que restou do seu corpo - e uma trama interessante conjugada a discussões de caráter urgente, RoboCop versão 2014 certamente não é um marco cinematográfico como o filme de 1987, mas também não busca sê-lo, mas é sim uma nova e eficiente roupagem para um personagem e conceitos que se sobressaem da forma ou ideia defendida no filme original, sendo este trabalho assinado por José Padilha não um substituto ou uma cópia, mas sim um complemento, que tem sim alguns problemas, mas cujo resultado final é bem mais positivo que negativo. Pobre sociedade norte-americana que não consegue conceber a possibilidade de ser também alvo de críticas.

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26 fevereiro, 2014

Nebraska (EUA, 2013).


Um dos indicados a melhor filme do Oscar 2014, Nebraska, de Alexander Payne (Os Descendentes) não é um filme fantástico, imperdível ou irretocável, mas sua sensibilidade e calmaria, aliado a uma direção de atores inspirada faz deste um filme gostoso de se assistir, apesar de sua verve indie possivelmente tornar o filme um tantinho repetitivo em alguns momentos. O início do filme pode causar certo estranhamento naqueles espectadores não acostumados a filmes de cunho mais "contemplativo", mas a química existente entre os atores Bruce Dern (Django Livre) e Will Forte (Corram Que o Agente Voltou), o carisma, energia e poder de fogo de June Squibb (Encontro Marcado), a fotografia em branco e preto de Phedon Papamichael (Sideways - Entre Umas e Outras) e a direção discreta de Payne acabam por superar a trama "simples" proposta por Bob Nelson e o desfecho óbvio, mas tocante.

O texto de Nelson trata de muitos assuntos, mas o cerne deste encontra-se no relacionamento inter-familiar, especialmente entre pai (Dern) e filho (Forte), que acabam por se descobrir (ou pelo menos descobrir o quanto há para ser descoberto entre ambos) através de uma viagem de Montana ao Nebraska, com a finalidade do primeiro resgatar um falso prêmio de um milhão de dólares. A composição desleixada e beirando a demência de Bruce Dern (indicado ao Oscar pela atuação) soa ao mesmo tempo cômica e comovente, fazendo com que o espectador manifeste reações parecidas com as de Will Forte ao se deparar com as situações sofridas e provocadas por seu pai. Outra indicada ao Oscar por sua composição de personagem, June Squibb chama a atenção especialmente por interpretar uma personagem quase que oposta ao de Dern, já que, apesar da idade avançada, surge energética, faladora e sem papas na língua. Os diálogos trocados entre este trio encontra-se entre as melhores coisas do filme e Alexander Payne, sabendo muito bem disso, acaba explorando bastante.

Tanto Papamicheal (diretor de fotografia) quanto Nelson (roteirista) acabaram indicados ao Oscar de fotografia e roteiro original, respectivamente, e, apesar de não achá-los favoritos aos prêmios, é notório o mérito da dupla, especialmente do primeiro, que compõe imagens belíssimas, seja das paisagens que decoram a viagem realidade pela dupla Dern/Forte, ou até mesmo da composição dos atores que desfilam em tela, que acabam ganhando mais dramaticidade através da paleta de cores em branco e preto. Não enxergo nada de "embasbacador" no trabalho fotográfico do filme, mas é inegável que sua estética é muito bonita.

Exercício imagético interessante e narrativamente atraente, Nebraska pode ser visto como um roadie-movie ao mesmo tempo requintado e comum, dirigido com segurança pelo competente Alexander Payne e dono de algumas ótimas performances. O filme pode demorar um pouco para engrenar, mas a força de seu elenco, aliado a estética não usual abraçada por Payne e Papamichael e as metáforas sobre autoconhecimento, dentre outras de cunho familiar, fazem com que ele desperte a simpatia do espectador, que passa a comprar melhor a premissa "absurda" e a compreender, de certa forma, as particularidades dos tipos curiosos que desfilam pelo filme durante a jornada dos personagens de Dern e Forte rumo ao milhão de dólares do primeiro. Não acho que Nebraska sairá de cerimônia do Oscar com alguma estatueta, mas as indicações já serviram para confirmar seu valor como cinema-arte.

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24 fevereiro, 2014

O Grande Mestre (Yi Dai Zong Shi / The Grandmaster, CHI, 2013).


O aparato estético colecionado por Wong Kar-wai neste O Grande Mestre é de encher os olhos, seja pela pintura em movimento que o cineasta chinês desenvolve ou pelas coreografias muito bem delineadas, que apresentam o kung fu mais próximo a uma dança, uma espécie de balé marcial, indo no limite do surreal e de volta ao crível. Uma pena que este apuro técnico acabe não sendo tão bem aproveitado pelo roteiro do filme, que demora a engrenar e cuja narrativa parece fragilizada, recortada de forma pouco usual, mas ainda assim pouco interessante.

Apesar de  se tratar de uma biografia do grande mestre das artes marciais, Yip Man (interpretado com propriedade por Tony Leung, de Desejo e Perigo), O Grande Mestre inclui em sua linha narrativa principal eventos outros que, apesar de possuírem relação com a trajetória do biografado, acabam sendo desenvolvidas de maneira pouco aprofundada, o que inclusive atrapalha o maior desenvolvimento do próprio personagem principal, visto que são gastos preciosos minutos de projeção cujo foco reside em outros núcleos de personagens (por exemplo, o núcleo do tal Navalha). Fica impressão de que, apesar de possuir uma metragem teoricamente suficiente para contar a história (o filme tem pouco mais de duas horas), pouco nos é apresentado sobre Yip Man.

Se o roteiro parece perdido o mesmo não pode ser dito da estética do filme. Kar-wai busca transmutar imagem em poesia, construindo juntamente ao seu diretor de fotografia (Phillipe Le Sourd, de Um Bom Ano) belíssimas imagens, que une de forma plástica posicionamento de câmera, slow-motion e efeitos visuais, de forma a criar uma visão particular da China dos anos 1940 e 1950. O desenho de produção e os figurinos do filme também saltam aos olhos, não à toa o filme abocanhou as indicações ao Oscar de figurino (Wayne Chang, de Um Beijo Roubado) e fotografia (Le Sourd). Dentre tantas sequências magistrais talvez as que mais se destaquem sejam aquelas que mostram combates sob a chuva, pois a imersão visual dá-se de maneira assombrosamente bela.

Conhecido por obras como Cinzas do Passado e Amor à Flor da Pele, Wong Kar-wai traz aqui seu filme mais ambicioso (esta foi uma das maiores produções já rodadas e produzidas na China) e, apesar de seu resultado final não ser tão magnífico quanto esta ambição, é inegável que a obra se mostra tecnicamente impressionante e contagia, mesmo com seu ritmo lento e alguns problemas de roteiro. O Grande Mestre pode não ser uma obra-prima, mas possui atrativos suficientes para proporcionar uma ótima viagem - estética e, por que não, espiritual - por cerca de duas horas.

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23 fevereiro, 2014

Um Conto Chinês (Un Cuento Chino, ARG, 2011).

"Um argentino e um chinês unidos por uma vaca que caiu do céu" (Livre tradução da frase disposta no cartaz promocional do filme).
Peça de humor com contornos dramáticos, Um Conto Chinês, produção argentina dirigida por Sebastián Borensztein (La Suerte Está Echada) e estrelada por Ricardo Darín (Teses Sobre um Homicídio), abraça uma premissa para lá de absurda - apesar de baseada em eventos reais - para construir uma trama bastante humana, que fala não apenas sobre amizade, mas principalmente sobre comportamento humano e a intersecção desde com os hábitos mundanos, com as características interpessoais de cada um e como eventos aleatórios podem interferir não apenas não forma como alguém pode enxergar o mundo, como também a si mesmo. Há toda uma carga filosófica arraigada ao filme de Borensztein, mas este equilibra bem estes momentos de cunho reflexivo (que não são poucos, apesar de surgirem diluídos à trama) a narrativa principal do filme, cujo objetivo primeiro de entreter.

Darín continua um monstro, entregando aqui mais um personagem distinto, único e complexo, um tipo rabugento e de poucas palavras, mas cujo coração não parece se encaixar a esta casca carrancuda. Mais conhecido por seus papéis dramáticos, o ator argentino consegue encaixar um personagem mais "sério" em um filme com contornos bem definidos de humor, fazendo com que, mesmo quando o personagem não possua a intenção de mostrar-se engraçado, a situação na qual o mesmo se encontra acaba arrancando sorrisos. Um Conto Chinês não é uma comédia rasgada, daquelas que procuram cansar o espectador com piadas soltas e situações inacreditáveis, pois, apesar da premissa inicial do filme aparentar ser improvável (apesar do destaque dado a este ser baseada em fatos reais), a coerência narrativa, os diálogos bem postos e o bom elenco acabam por contagiar o espectador de imediato, ficando este preso ao porvir da inusitada história que une um solitário argentino e um jovem e desesperado chinês, incomunicáveis quanto a língua, mas cujos dramas pessoas parecem mais próximos um do outro do que os mesmos podem conceber.

Basicamente apoiado nas atuações de Darín, Ignacio Huang (o chinês) e Muriel Santa Ana (bastante carismática) e escrito e dirigido com propriedade por Sebastián Borensztein - o diretor argentino é bastante feliz em sua composição visual, mostrando-se bastante criativo, como pode ser percebido logo no início do filme, quando estabelece a transição entre China e Argentina através do giro da câmera em 180 graus -, Um Conto Chinês, seja uma comédia com contornos dramáticos ou um drama entrecortado por momentos de humor, é um filme interessante tanto como peça cinematográfica de entretenimento como obra que busca propor um tema a ser refletido. É certo que o cinema argentino, ao contrário da política local, vem evoluindo muitíssimo bem, especialmente no quesito cinema de gênero e este Um Conto Chinês só vem a somar a esta frequente e excelentíssima safra contemporânea das películas realizados por nossos hermanos.

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21 fevereiro, 2014

Gravidade (Gravity, GRB/EUA, 2013).


"Não deixe ir" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).

Realmente Gravidade transcende o "lugar comum" de uma peça cinematográfica, pois se confirma como uma experiência cinematográfica ímpar, na qual a imersão - objetiva e sentimental - mostra-se muito mais importante que a trama em si, já que, convenhamos, não há como "compreender" a coleção de metáforas que preenchem a obra se não viver os eventos apresentados no filme. Cabe ao espectador comprar os eventos e sentimentos apresentados, vivenciar juntamente a personagem Ryan Stone (melhor interpretação da carreira de Sandra Bullock até então) a angústia da incerteza, da pequeneza perante o cosmos, do tolhimento à vida (a constante perseguição da "quimera espacial" reflete isto perfeitamente), culminando na perspectiva metafísico-filosófica do binômio nascimento-renascimento, eventos estes tão próximos a nós, mas ao mesmo tempo tão desconhecidos, para que a experiência se concretize. Sem esta afinidade/conexão para com a proposta estético-narrativa do filme certamente não há como vislumbrar Gravidade como além de um bom filme.

Dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban) e escrito por este e seu filho, Jonás Cuarón, Gravidade conquistou plateias ao redor do globo mais pelo deslumbre de sua técnica e pela simplicidade da trama (mesmo que esta carrega muita profundidade em forma de subtexto), além da atuação inspirada (e inspiradora) de Bullock, do que por grandes arroubos em seu roteiro, já que a mensagem passou a ser mais importante que a possível complexidade do roteiro. Todo o desenvolvimento da história é muito bem pensado, de forma a envolver o espectador nos dramas dos personagens de Bullock e George Clooney (Um Homem Misterioso) - cuja interação é muito boa - e criando a falsa impressão de realidade amparada totalmente em ciência, quando, apesar de alguns detalhes - como o fato de no espaço não haver propagação de som -, há muito de "fantasia" e licença poética em sua construção, o que comprova o poder de narrativa dos Cuarón, que enganam perfeitamente ao dar ao espectador a sensação de realidade. Genial!

Premissa a parte, é fato que Gravidade é uma obra esteticamente impecável. Dentre tantos destaques seria impossível não destacar a fotografia capitaneada por Emmanuel Lubezki (Amor Pleno), parceiro de Cuarón desde o filme A Princesinha, de 1995, que por este trabalho acabou recebendo sua sexta indicação ao Oscar (as demais foram pelos filmes A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, O Novo Mundo, Filhos da Esperança, A Árvore da Vida e o citado A Princesinha) e, a observar seu trabalho neste filme, é forte candidato a levar a estatueta consigo. Quem também merece destaque é o compositor Steven Price (Heróis de Ressaca), que injeta adrenalina e tensão à construção imagética liderada por Alfonso Cuarón, obtendo grande destaque devido a não presença de som diegético em muitas das sequências do filme. Por fim, destacaria a montagem realizada pelo diretor em conjunto com Mark Sanger, não à toa também indicado ao Oscar.

As equipes de efeitos visuais e de arte do filme - desenho de produção, figurino e direção de arte - também estão de parabéns, pois materializam com perfeição as ideias oferecidas por Cuarón, concretizando com louvor a impressão de realidade pedida pelo filme. De longe, no quesito estético, Gravidade é a produção mais interesse de 2013, além de sagrar-se como uma das mais contagiantes, pois consegue trabalhar com relativo equilíbrio questões de cunho altamente subjetivo com outras mais pueris, mais próximas ao cotidiano, além de apresentar pelo menos duas sequências absurdamente angustiantes e claustrofóbicas de ação (!).

Merecidamente indicada a dez prêmios Oscar - o filme já arrebatou um Globo de Ouro (melhor diretor), cinco BAFTA (dentre eles melhor filme inglês, melhor fotografia e melhor som), além do DGA Awards e o PGA Awards de melhor diretor e filme, respectivamente -, Gravidade pode ser posto, ao lado do também excepcional Filhos da Esperança, como o melhor e mais maduro dos trabalhos comandados por Alfonso Cuarón, que pode se ver triplamente coroado no próximo Oscar, visto que este concorre (e tem tudo para ganhar) em três categorias distintas (filme, direção e montagem). Existencial e mundano, Gravidade consegue ser ao mesmo tempo complexo e simples, tendo na metáfora da luta pela vida - belamente orquestrada por todos os envolvidos na produção - seu discurso mais aflorado, mesmo que este não esteja sozinho. Como dito no início, Gravidade ultrapassa a barreira de uma simples peça de entretenimento e chega ao nível de experiência cinematográfica, dependendo apenas da imersão de cada espectador para que sua mensagem, visual ou filosófica, perpasse as fronteiras da grande tela. Ademais, há como, após toda a jornada ao lado da doutora Ryan Stone, não se emocionar com seus primeiros passos em vida? Maravilhoso.

...

Obs.: Pena que Sandra Bullock acabou vencendo o Oscar de melhor atriz por seu papel de dondoca "humanitária" no açucarado e rasteiro Um Sonho Possível, de 2009. Seu grande papel encontra-se em Gravidade e a premiação anterior pode acabar por tirar a chance da atriz obter um reconhecimento mais justo.


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16 fevereiro, 2014

Ender's Game - O Jogo do Exterminador (Ender's Game, EUA, 2013).

"O best-seller aclamado pela crítica se transforma num filme-evento  internacional" (Livre tradução do texto disposto no cartaz promocional do filme).

Mais uma adaptação de uma obra literária bastante cultuada no meio infantojuvenil, Ender's Game - O Jogo do Exterminador, apesar de alguns tropeços na construção de seu roteiro, mostra-se como uma ficção-científica bastante interessante, cuja mensagem anti-belicista e a crítica contra a "soldadificação" infantil salta aos olhos, além de possuir um bom ritmo e efeitos especiais de encher os olhos. Escrito e dirigido pelo irregular Gavin Hood (diretor de bons filmes como Redenção, mas também de títulos esquecíveis como X-Men Origens: Wolverine) e estrelado por Asa Butterfield (A Invenção de Hugo Cabret), Harrison Ford (Revelação), Ben Kingsley (A Morte e a Donzela) e Viola Davis (Os Suspeitos), esta adaptação da obra máxima de Orson Scott Card pode até ter alguns problemas narrativos, mas possui mais atrativos que deméritos.

Dentre os maiores destaques do filme apontaria a escalação do elenco, cujo comprometimento e seriedade apresentados em cada atuação ajudam a transformar uma premissa e proposta aparentemente distante do "mundo real atual" em algo factível, especialmente no campo metafórico. Logo, mérito do diretor de elenco John Papsidera (Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge) e de Gavin Hood. Há tempos não via Harrison Ford tão confortável e convincente em um papel "carrancudo" (sua especialidade nas últimas duas décadas) e o jovem Asa Butterfield comprova mais uma vez que tem tudo para ser um grande nome do cinema futuramente, assim como suas companheiras de elenco Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine) e Hailee Steinfeld (Bravura Indômita). Viola Davis traz a humanidade necessária para que haja equilíbrio entre tantas ideias pragmáticas, políticas e carregadas de testosterona destiladas pelo texto do filme, enquanto Ben Kingsley compõe seu personagem com um toque de caricatura, mas sem exageros.

O departamento de arte - direção e desenho de produção - desenvolveu um trabalho interessante ao lado da equipe de efeitos visuais liderada pela Digital Domain, que somado ao excelente trabalho fotográfico de Donald McAlpine (As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa), deu vazão a que aspecto visual do filme chama-se bastante a atenção. A montagem realizada pela dupla Lee Smith (A Origem) e Zach Staenberg (Matrix) mostra-se equilibrada, conciliando bem os (poucos) momentos de ação àqueles focados no desenvolvimento da trama. Em contrapartida, apesar de não mostrar-se como um desastre completo, a trilha sonora composta por Steve Jablonsky (Sem Dor, Sem Ganho) mostra pouca identidade, inclusive lembrando muito os temas tensos desenvolvido por Hans Zimmer na recente trilogia de filmes do Batman, que parecem ter feito escola.

A exemplo de outra recente adaptação literária - O Tempo e o Vento - um dos maiores problemas do filme parece se encontrar no processo de transição da mídia literatura para a mídia cinema, já que é possível notar certo desequilíbrio na exploração das características pertinentes ao conflito bélico entre humanidade e a raça alienígena nomeada de "Formics", como também no aprofundamento de alguns personagens - especialmente os de Ford e Davis -, o que acaba atestando a força do elenco no preenchimento deste tipo de lacuna. Muito foi dito acerca da dificuldade em se adaptar a obra de Card para o cinema - não li seu livro, mas pela sinopse parece existir alguns elementos bastante difíceis de serem traduzidos para o audiovisual - e, mesmo acreditando que Hood pudesse ter feito um trabalho ainda melhor no âmbito de roteiro (como, por exemplo, ter divido a responsabilidade com um roteirista mais experiente), o resultado final do filme ainda assim mostra-se interessante.

Apresentando uma trama interessante cuja mensagem tem a potencialidade de despertar debates, a versão de Gavin Hood para O Jogo do Exterminador de Orson Scott Card pode pecar pela inconstância de seu roteiro, especialmente por mostrar-se confuso quando deveria ser claro e sagrar-se didático quando poderia tratar de alguma questão de forma mais aprofundada, mas ainda assim funciona como peça de entretenimento cujo foco repousa além do simplesmente divertir, tendo sua mensagem de cunho questionador como principal trunfo. Certamente não é um grande filme, mas desperta curiosidade para uma possível continuação - qua não deve ocorrer, devido ao fracasso de bilheteria obtido pelo filme - e, por conseguinte, para a leitura da(s) obra(s) escrita(s).

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14 fevereiro, 2014

Metallica: Through the Never (EUA, 2013).


Projeto dos sonhos de James Hetfield e Lars Ulrich, respectivamente vocalista/guitarrista e baterista do Metallica, o musical Metallica: Through the Never, apesar do fracasso de público, pode ser considerado como um ótimo experimento audiovisual, que fortalece a já forte produção musical da banda, além de apresentar uma das apresentações mais contagiantes de uma banda de rock já registrada até então. É claro que o objetivo do filme não é o de registrar com fidelidade como é um show da banda (a superprodução apresentada aqui foi unicamente bolada para o filme), mas sim transpor a energia emanada por ela de forma amplificada pelo brilho exposto pelo arranjo de produção. Com isso temos aqui um palco pra lá de estilizado contando com telas led no piso (!) (além de encontrar-se disposto no centro da arena), muitos aparatos cênicos, iluminação "assombrosa", um som poderoso, dentre outras "regalias" que só a maior banda de rock pesado (thrash metal, para os iniciados) de todos os tempos poderia conseguir. Logo, deu para perceber que se há um problema com esta empreitada ambiciosa dos coroas de São Francisco este não está relacionado ao concerto da banda, mas sim a parte "ficção" que entrecorta a cacetada de músicas.

Coube ao promissor diretor húngaro Nimród Antal (Kontroll, Predadores) a direção e a lapidação do roteiro sugerido por Hetfield, Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo (estes últimos guitarrista e baixista do Metallica), que narra a trajetória de um jovem "office-boy" (Dane DeHaan, de Poder Sem Limites) que trabalha para a produção do Metallica na busca por uma misteriosa bolsa supostamente muito importante para a banda. Nisso somos apresentados a uma guerra civil esteticamente atrativa mas cujo cerne não simplesmente não existe. Logo, apesar de bem conduzida e dotada de um senso visual apurado, a falta de coerência narrativa da pseudotrama do garoto acaba por acrescentar um valor quase nulo ao projeto. Pra ser sincero, enquanto música após músico o interesse pelo show em si ia aumentando, as partes relativas a trama ficcional só reforçaram meu interesse em ver mais Metallica, o que acho não deve ter sido o objetivo dos envolvidos ao gastarem uma nota para criarem a revolução whataver apresentada no filme.

Esquecida a parte ficcional, é correto afirmar que Metallica: Through the Never é um filme-concerto extremamente empolgante, tanto pelo seu caprichado aparato visual - Antal consegue captar a banda, o público e o entorno com identidade e conta com ótimo desempenho da diretora de fotografia Gyula Pados (A Duquesa) - quanto pela seleção de músicas (que de tão bem escolhidas têm tudo para agradar até mesmo quem não conhece a produção musical da banda), que o deixam extremamente dinâmico (mérito também da edição de Joe Hutshing (A Chave Mestra, Selvagens), além da "atuação" do quarteto principal encontrar-se afiadíssima, com direito a cenas de ação e dublês (!) em cena. Não fosse a frágil colagem do evento show com a trama meia boca protagonizada por DeHaan (que apesar de tudo está bem em seu "papel") certamente Metallica: Through the Never seria uma obra ímpar, como este tropeço se mostrou presente (até demais), temos então um espetáculo musical de primeira qualidade que vez ou outra perde o fôlego por conta do arremedo de roteiro capitaneada pelos membros do Metallica. Mas uma coisa é certa, ao subirem os créditos finais bateu um baita desejo de rever o filme nos formatos no qual este foi originalmente lançado: IMAX e 3D.

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Machete Kills (EUA, 2013).

"Treinado para matar. Deixado para morrer. De volta para mais" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Mesmo assumindo-se como obra propositalmente trash, Machete Kills, sequência do também descartável Machete, de 2010, é mais uma das experiências estético-sensoriais capitaneada pelo cineasta faz-tudo Robert Rodriguez (A Balada do Pistoleiro, Sin City), cujo exercício da função parece mais próximo ao da auto-satisfação e regozijo do que o prazer do público. Se o primeiro filme carrega consigo o gostinho da novidade, esta sequência segue o caminho mais comum do filme segundo: exagerar o que supostamente deu certo no primeiro. Resultado? Sequências non-sense ainda maiores, roteiro recheado de referências (especialmente a Star Wars) mas cujo sentido lógico passou longe e uma enxurrada de defeitos especiais que, proposital ou não, acabam por tirar um tantinho do suposto "brilhantismo" B abraçado por Rodriguez como realizador. 

Mesmo que tenha competência para construir bons filmes ruins, dessa vez o cineasta acabou atropelando um pouco a boa vontade, construindo uma obra que diverte pela alocação inusitada de seu elenco (pelo menos parte dele), mas cujos excessos acabam por ofuscar parte da diversão pretendida pelo filme. Talvez a fórmula tenha sido esgotada já no falso trailer disposto no filme Planeta Terror (integrante do projeto Grindhouse), de 2007, ainda que o longa de 2010 tenha seus méritos. Dito isto declaro aqui que Machete Kills, apesar de pretender, não é um filme horrível, mas poderia render bem mais, especialmente como peça de entretenimento descartável a que se propõe.

Certo de que não se pode levar a sério nada apresentado pelo filme - até as brincadeiras de cunho político-ideológico contidas no roteiro desenvolvido por Rodriguez ao lado de seu irmão, Marcel Rodriguez (As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl) e condensadas por Kyle Ward não funcionam -, Machete Kills se esforça bastante para encaixar-se na "categoria" de filme "desliga cérebro" (da qual discordo veementemente), quando na verdade é uma bobagem conduzida por um cineasta mais preocupado em brincar de cinema do que em fazer cinema. Roteirista, diretor, diretor de fotografia, montador, produtor e supervisor de (d)efeitos visuais, Robert Rodriguez consegue provar que pode sim ser multifuncional, mas isto não o faz se transformar em um cineasta mais interessante.

Com um elenco de primeira, formado por nomes como Mel Gibson (Coração Valente), Antonio Banderas (O Príncipe do Deserto), Cuba Gooding Jr. (Homens de Honra), Carlos Estezes, dentre outros, além do mequetrefe Danny Trejo, Machete Kills é um filme de comédia e ação nonsense e enterrado no ridículo, produzido por um falastrão faz-tudo e apoiado por executivos ensandecidos, mas tem sua parcela de graça e pode até divertir os menos intolerantes, mas assim como o primeiro filme sua não existência não faria a mínima falta. Um título para ver uma vez e nunca mais.

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06 fevereiro, 2014

Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, EUA, 2012).

"Eles não agem mais da forma que costumavam agir" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Vivemos a era das comédias estreladas por grandes nomes do cinema de outrora, hoje senhorzinhos de grande prestígio, mas de idade avançada. A premissa destes filmes, como não poderia deixar de ser, envolve as particularidades físicas e mentais da maturidade (leia-se pós 60 anos de idade), o que pode gerar uma boa experiência cinematográfica (apesar da óbvia previsibilidade) ou não. Infelizmente para os fãs de Al Pacino (Scarface), Christopher Walken (Anjos Rebeldes) e Alan Arkin (Argo), Amigos Inseparáveis encontra-se mais próximo da linha limítrofe do não que do sim. Verdade seja dita: a única coisa que interessa no filme é a dinâmica - às vezes bem forçada - entre o trio veterano, o resto é enchimento de linguiça que pouco faz rir.

Escrito pelo jovem (e até então nada promissor) Noah Haidle e dirigido por Fisher Stevens (mais conhecido pelo seu trabalho como ator), Amigos Inseparáveis tem um sério problema de ritmo (a montagem do filme coube a Mark Livolsi, de Um Sonho Possível) e uma trama que se estica além do aceitável - não há eventos que preencham bem o objetivo principal do filme, que é apresentar o último dia de vida de um "bandido" recém liberto da penitenciária (Pacino) ao lado de seus dois ex-parceiros de "bandidagem" (Walken e Arkin) - o que mesmo a direção competente de Fisher e alguns diálogos "espertos" de Haidle não conseguem tira. Logo, apesar de alguns acertos, no geral o filme não funciona bem nem como comédia (proposta primeira) nem como drama ou filme de assalto (o qualquer outro subgênero que se queira extrair do mesmo).

Utilizando dos cacoetes de cada um dos atores - Pacino é verborrágico, Walken introspectivo e Arkin abraça a senilidade - para construir as personagens, Haidle acerta na interação entre os mesmos mas falha no tom do filme, entregando poucas piadas que funcionam e muitas sequências dispensáveis no âmbito narrativo já que não auxiliam no andamento da história. A seleção musical de Lyle Workman (Ressaca de Amor) é bacana - inclusive as duas faixas inéditas compostas por Jon Bon Jovi exclusivamente para o filme são até interessantes - e a fotografia de Michael Grady (Possuídos) compõe bem o filme, pois encontra-se alinhavada à direção de Fisher.

Válido pelo fato de contar com Al Pacino, Christopher Walken e Alan Arkin interagindo entre si - apesar do último ser bem desperdiçado -, Amigos Inseparáveis traz uma ou duas lições de moral quanto a amizade e mais duas ou três boas situações cômicas (que não farão ninguém chorar de tanto rir, mas podem arrancar alguma gargalhada), além de mostrar-se interessante visualmente (para uma comédia sem graça de baixo orçamento), mas não passa disso, resultando assim em um filme curioso pelos nomes envolvidos do que necessariamente uma obra imperdível. Se você gostar do trabalho de algum dos nomes envolvidos no elenco a visita ao filme pode valer a pena.

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02 fevereiro, 2014

Rota de Fuga (Escape Plan, EUA, 2013).

"Ninguém escapa sozinho" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Tanto Sylvester Stallone (Alvo Duplo) quanto Arnold Schwarzenegger (O Último Desafio) tentaram emplacar filmes solo ano passado, no entanto, apesar de alguns méritos, nenhum deles conseguiu emplacar nas bilheterias ao redor do mundo. Com este Roda de Fuga, filme de ação que reúne os dois maiores astros do gênero nos anos 1980, a coisa funciona um pouco melhor - pelo menos do ponto de vista comercial, já que o filme arrecadou até então cerca de 136 milhões de dólares, contra um orçamento de aproximadamente 50 milhões - e a química entre ambos mostra-se em dia, entretanto, como quase todos os filmes do gênero, o roteiro escorrega aqui e acolá, mas sem que a experiência seja estragada. É certo que este não se trata de um grande filme de ação, mas tem seus méritos e diverte tanto quanto qualquer dos títulos menores de "ambos" os atores.

Coube ao eficiente Mikael Hafström (1408) a direção deste Rota de Fuga, filme que narra a história de um especialista em avaliar o nível de segurança das penitenciárias norte-americanas (Stallone) e a tentativa de fuga do mesmo quando pego em uma armadilha (o personagem acaba trancafiado em uma prisão na qual perde total contato com o mundo externo). A partir daí ele conhece o personagem de Schwarzenegger, que o ajuda a materializar a saída de ambos dessa penitenciária misteriosa. É certo que, mesmo exagerada, a premissa criada por Miles Chapman e roteirizada por ele em conjunto com Jason Keller (Redenção) mostra-se empolgante pois trabalha bem o ambiente prisional e a personalidade dos dois protagonistas (ou o carisma da dupla é que chama a atenção?), mesmo que a trama em si seja para lá de óbvia. Hafstrom segura bem o filme e mostra-se competente na condução das cenas de ação, mas não traz grandes novidades em termos de estilo, optando por levar o filme de forma básica.

É engraçado perceber que enquanto Stallone opta por construir seu personagem de maneira mais "séria", Schwarzenegger - como quase sempre - abraça a caricatura, o que deixa seu Emil Rottmayer ainda mais interessante. Pouco importa se o gigante austríaco sabe ou não atuar, o fato é que as melhores cenas do longa são justamente aquelas que contam com a sua presença. Stallone leva o filme a sério demais, enquanto Schwarzenegger parece comprar melhor a vibe "desleixada" do filme. O certo é que o filme ganha bastante quando ambos encontram-se em cena - por pelo menos quarenta minutos o filme é apenas de Sly - e, apesar deste contar com nomes interessantes no papel de coadjuvantes - Jim Caviezel, Vincent D'Onofrio, Curtis "50 Cent" Jackson, Amy Ryan e Sam Neill -, nenhum deles mostra-se interessante o suficiente, servindo mais como chamariz de marketing do que como complemento artístico à trama.

Em plena década de 2010 é um tanto quanto difícil engolir um filme cujo desenvolvimento mostra-se tão jogado quanto o deste Rota de Fuga - além de um vilão (Caviezel) mais caricato e artificial que os da franquia 007 nos anos 1980  -, mas a direção segura de Hafström, algumas boas cenas de ação, a química entre a dupla de protagonistas e as frases de efeito (sempre!) entoadas por Schwarzenegger acabam por tornarem essa diversão passageira em um filme mais interessante, mesmo que mesmo assim não signifique que seja grande coisa. Rota de Fuga diverte mais e ofende pouco, o que é um grande atrativo em comparação as muitas obras horrorosas do gênero que invadem os cinemas atualmente.

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