"Um olhar de cortar o coração sobre o que significa ser humano". (Matt Glasby, da revista britânica TOTAL FILM).
"Sem amor, não há nada". (Chamada do cartaz promocional do filme).
Filme que trabalha o caos como forma de união e, por que não, engrandecimento, Sentidos do Amor (eis aqui mais uma adaptação esdrúxula dos tradutores nacionais, tanto para com o título original do filme, Perfect Sense - algo como Sentido Perfeito -, quanto para com o cerne da obra em si, que é substancialmente reduzida com o emprego desta titulação nacional) mistura filosofia e poesia de maneira ímpar, numa trama fictícia que envolve a perda paulatina dos sentidos humanos (olfato, paladar etc.) e a tentativa de sobrevivência/organização/adaptação do ser humano perante a esta realidade até então desconhecida.
Longe de ser uma história de amor - apesar deste sentimento ter grande destaque durante todo o filme -, Perfect Sense funciona como uma espécie de alegoria discursiva acerca de um dos grandes temores do homem, a falta de controle e ordenamento, o medo do desconhecido e a procura por um sentido maior e sua pequenez perante os mistérios do universo, seja este de cunho metafísico, religioso, filosófico ou natural, o temor do vazio, do tempo perdido, da morte, da perda, da incapacidade da completude e, principalmente, da abrupta mudança de sua controlada, óbvia e comum realidade é jogada de forma explícita pelo filme escrito pelo dinamarquês Kim Fupz Aakeson (Além do Desejo) e dirigido pelo escocês David Mackenzie (Olhar do Desejo). Apesar de guardar ecos de filmes como Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, Contágio, de Steven Soderbergh e um desfecho que traz uma emoção parecida com a do cult teen dos anos 2000 Efeito Borboleta, Perfect Sense sagra-se como um longa bastante criativo e complexo (no sentido temática, não tanto em sua linguagem), visto que torna discussões tão caras a humanidade, desde que essa se "entende por gente", de forma poética, contemplativa e não taxativa, apostando na sensibilidade do espectador e não nas crenças (ou descrenças) particulares deste. Como dito acima, o caos é trabalhado não só como um agente destrutivo, mas também como ponto de conversão de uma realidade necessária à outra.
Contando com uma entrega total da dupla de atores principal, composta pelo sempre competente Ewan McGregor (O Escritor Fantasma) e pela bela (dona de olhos cheios de profundidade e emoção) e aqui particularmente fascinante Eva Green (Cruzada), francesa que emula um sotaque britânico irrepreensível e serve de guia ao espectador nesta crônica de busca pelo sincero "olhar" humano à vida. Completam o elenco principal nomes como Stephen Dillane (o Stannis Baratheon da série Game of Thrones), Connie Nielsen (Missão: Marte) e Ewen Bremner (Trainspotting), todos em pequenos, mas importantes papeis.
Reverenciado pelo público no festival de Sundance de 2011, mas pouco apreciado pela crítica, Perfect Sense é um filme profundo e um tanto quanto monótono, especialmente nos seus primeiros minutos, mas é possuidor de um conceito e discussão tão próximos a nós e com uma grande capacidade de gerar interesse, que acaba por conquistar o espectador quase de imediato, conduzindo-o por uma jornada de altos e baixos, com muita dor e angústia, mas nunca se abstendo de levar junto calmaria e esperança, através de uma história relativamente simples, mas que com toda certeza torna-se-à maior dentro de cada um de nós, como uma espécie de semente plantada num pequeno vaso com terra, que poderá vir ou não a ser uma pequena plantinha um dia.
AVALIAÇÃO:
TRAILER:
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo