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03 julho, 2012

Missão: Marte (Mission to Mars, EUA, 2000).

Na época de seu lançamento, Missão: Marte foi massacrado tanto pela crítica quanto pelo público, que pouco interesse teve em conferi-lo, tornando este um fracasso de bilheterias, praticamente empatando seu orçamento, sendo assim não gerando lucros expressivos ao estúdio. Entretanto, vendo o filme hoje, é notória a constatação de que o mesmo, apesar de não ser excepcional, está longe de ser considerado medíocre, pois apesar de um ou outro atropelamento em sua construção, em especial a primeira hora, que soa um tanto quanto arrastada, guarda um final no mínimo surpreendente, no sentido de imprevisibilidade em relação com o que fora apresentado no filme até então, que por sinal guarda conceitos de similaridade com o recentemente lançado e bastante debatido Prometheus, de Ridley Scott (Blade Runner, o Caçador de Androides).

Surpreendentemente Missão: Marte foi dirigido por Brian De Palma (Carrie, a EstranhaVestida para Matar) - diretor este que do qual sou fã de carteirinha -, cineasta este mais acostumado a trabalhar com thrillers e dramas contemporâneos, mas apesar do universo distante visitado este consegue imprimir - de maneira positiva - toda a sua técnica como realizador e estética própria, que são mais do que evidenciadas logo na sequência de abertura do filme, onde acompanhamos a apresentação de cada um dos personagens principais (que viríamos a descobrir depois) num churrasco de despedida de um deles, tudo isso numa única tomada sequencial. Outra sequência brilhantemente elaborada e conduzida se passa dentro da nave espacial, quando acompanhamos também num plano sequencial (sem cortes) a rotina de todos os astronautas participantes da missão título, ao som de Dance the Night Away, do Van Halen. Uma sequência plasticamente linda e que agrega muito à narrativa do filme e, principalmente ao nosso envolvimento com os personagens focados nela. Enfim, apesar do território estranho - me refiro ao gênero do filme -, De Palma acabou por inserir seu estilo de maneira a complementar a proposta do filme, acrescentando assim pontos positivos a ele.

Escrito à seis mãos - Jim e John Thomas (ambos co-roteiristas de Predador), Lowell Cannon e Graham Yost (criador da série Justified) -, passado num futuro próximo (2020) e tendo como foco uma exploração espacial tripulada à Marte, que no final vai acaba debruçando muito mais do esta temática de exploração, mas sim revelações acerca da própria origem da vida terrena (reside aí os ecos com o filme Prometheus) encontradas neste planeta até então tido como desabitado, o filme acaba sofrendo um pouco pela inconstância de seu ritmo e da indecisão quanto ao direcionamento seguido (problema este que também é encontrado no já citado Prometheus). Entretanto, apesar de alguns possíveis furos e de algumas explicações superficiais, nada justifica o "espancamento" da crítica e a falta de público para este filme, visto que o mesmo é um entretenimento interessante e que foca muito mais na exposição de ideias e teorias do que em explosões e sustos (apesar de guardar um bom punhado destes citados). Sinceramente, comparado ao resultado final do filme de Ridley Scott, confiro bem mais credibilidade e competência a este filme.

Como teve seu lançamento no agora longínquo ano de 2000, algumas cenas de efeitos visuais acabam soando envelhecidas, mas não chegam a agredir os olhos, apenas não convencem tanto em alguns momentos, principalmente quando em cenas que exigem interação entre elenco e efeitos. Falando em elenco, apesar de ter bons nomes escalados, sinto que estes não se sentiram a vontade com um filme tão dependente de efeitos especiais e visuais, o que acabou resultando em atuações um tanto quanto apagadas, o que obviamente acaba por prejudicar o desenvolvimento como um todo do filme. Não há nenhuma atuação completamente ruim, mas parece que não houve um profundo envolvimento pessoal de caras como Gary Sinise (Forest Gump, o Contador de Histórias), Don Cheadle (O Guarda), Tim Robbins (Um Sonho de Liberdade), Connie Nielsen (Gladiador) e Jerry O'Connell (Conta Comigo), este último surpreendentemente o que se apresenta mais "a vontade" de todo o elenco. Outro que faz uma participação relativamente pequena mas que aparece completamente deslocado é o veterano ator alemão Armin Mueller-Stahl (Senhores do Crime, Anjos e Demônios), o que é uma pena, pois este é um artista excepcional.

Contudo, apesar de algumas incongruências e indecisões por parte dos roteiristas, das atuações forçadas e sem muita paixão em alguns momentos, do ritmo lento em sua primeira hora de projeção  e dos efeitos visuais já um tanto quanto envelhecidos, Missão: Marte guarda mais pontos positivos do que negativos, muito devido ao apuro técnico e talento como contador de histórias de Brian De Palma e também das boas sacadas dos roteiristas, em especial após as revelações obtidas em Marte e, mesmo com um desfecho um tanto quanto apressado (para não dizer incômodo pela pressa em apresentar os créditos), sagra-se como uma boa ficção-cientifica que, passada mais de uma década, merece ser redescoberta e, quem sabe, reavaliada tanto por quem não gostou quando o conferiu anos atrás, tanto como aqueles que, como eu, ainda não conheciam a obra. Por fim, não há como deixar de destacar a trilha sonora assinada pelo veterano e sempre sublime Ennio Morricone (Três Homens em Conflito), que sabe como poucos acrescentar dramaticidade a um filme e que aqui adiciona e muito tons de qualidade a esta obra não tão querida de Brian De Palma.

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Obs.: Pois é, caro leitor, considero Missão: Marte um filme mais interessante e completo do que Prometheus, filme este que fui conferir com uma expectativa altíssima e o mesmo, apesar de não ser um produto ruim, acabou me decepcionando mais do que me agradando, justamente por alguns furos e concessões, mas principalmente por enveredar por um caminho que considero prejudicial para sua proposta inicial, que foi esquecer dos conceitos e do aprofundamento das questões levantadas a partir de seu interessante início e partir para os sustos fáceis (se bem que bastante eficientes). Sendo assim, como surtiu efeito contrário em mim (de maneira positiva), Missão: Marte acaba  por ser um filme melhor - já que ao meu ver guarda pontos em comum, em termos de proposta - do que foi Prometheus. Mas, como não quero confusão, mas sim discussão, convido você leitor, caso não tenha visto ainda, a conferir Missão: Marte e/ou Prometheus e tirar suas próprias conclusões.

AVALIAÇÃO: 
Trailer:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo