14 maio, 2012

Carrie, a Estranha (Carrie, EUA, 1976).


Ao contrário de venderem o filme como uma obra de terror, Carrie, a Estranha encaixa-se melhor como uma tragédia. Metáfora sobre a puberdade feminina e as "peculiaridades" da vida escolar dos adolescentes da década de 1970, esta adaptação de um romance de Stephen King (À Espera de um Milagre) dirigida pelo mestre da composição cinematográfica Brian De Palma (Irmãs Diabólicas) é esteticamente esplendorosa e, conceitualmente interessante, mais pelo crescente clima de tensão e estranhamento moldado por De Palma ao longo da projeção do que pelo enredo em si.

Sem pudor (o filme já tem início com uma brilhantemente orquestrada sequência de nudez onde vemos as garotas de um colégio tomando banho juntas após as atividades de educação física) ou medo de escancarar cenas de nudez e sangue, Carrie, a Estranha acompanha a trágica história de uma adolescente (Sissy Spacek, de Terra de Ninguém) totalmente dissociada do universo escolar, tímida e sofredora de bullying, vinda de um lar excessivamente religioso e dominador, representado pela figura de sua mãe (Piper Laurie, de Desafio à Corrupção), que é tão ou mais estranha do que a garota, que descobre ter um dom especial, o poder de telecinese (mover e controlar coisas com a força do pensamento) . Como frisado acima, a trama em si não é o que chama tanto a atenção, mas sim as soluções dramático-visuais adotadas por De Palma, que transformam uma trama até certo ponto banal num festival de grandes cenas, mesmo que muitas dessas não tenham um grande sentido lógico, fora o estético.

Contando com um bom elenco de apoio formado por nomes ascendentes no período, como Nancy Allen (RoboCop - O Policial do Futuro), Amy Irving (A Fúria) e John Travolta (Pulp Fiction - Tempos de Violência), Carrie, a Estranha pode ser considerado hoje um filme conceitualmente datado, em especial pela forma com que foi elaborado (tanto que provavelmente terá um remake), entretanto, nos quesitos direção e atuação, continua brilhante, comprovando assim que história e ambientação à parte, os grandes filmes, apesar de ficarem presos ao seu tempo, continuam sendo válidos como registro documental-estético de sua época. Destaco também a trilha sonora composta por Pino Donaggio (que voltaria a trabalhar com De Palma em filmes como Dublê de Corpo e Vestida para Matar), com um quê de Bernard Herrmann  (grande parceiro de Alfred Hitchcock) "modernizado". E como poderia deixar de ser, já que De Palma é uma espécie de herdeiro estético do mestre do suspense.

Apesar de sua sequência final ter um quê de filme de horror, Carrie, a Estranha não se encaixa a contento nesta categoria, tendo os problemas vividos pela personagem título e a caracterização psicologicamente desconexa de sua mãe muito mais destaque e valia na trama, deixando assim os sustos e suspense em segundo plano. Sendo assim, o grande chamariz do filme é sua pegada de tragédia com tom teatral, registrado da cena de abertura (com a primeira menstruação de Carrie) ao clímax no baile de formatura, metaforizando as mudanças - boas e más - passadas pelas adolescentes no período da puberdade. Tudo isso sem delicadeza alguma, tais metáforas são desfiladas na tela da forma mais exagerada possível, como pode ser notado no mar de sangue que é o início e o desfecho do filme.

Tenso quando pretende ser e cômico quando cabível, Carrie, a Estranha colocou Brian De Palma no altar dos grandes diretores, revelou alguns bons nomes, ganhou duas indicações ao Oscar (Sissy Spacek, como atriz e Piper Laurie, como atriz coadjuvante) e, apesar de não tão reverenciado ou até mesmo assustador como O Exorcista, de William Friedkin, também marcou época e ditou alguns modismos ao gênero terror, apesar de, na minha opinião, guardar mais relações com dramas trágicos do que com filmes de horror convencionais. Se for para comparar, digo que o que filme de Friedkin assusta, o de De Palma diverte (o humor negro da última cena do filme é fenomenal e copiado por quase todos os filmes de terror pós-Carrie).

AVALIAÇÃO: 


Trailer:


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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