15 dezembro, 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies, NZE/EUA, 2014).


A trilogia O Hobbit não sagrou-se satisfatória. Por conseguinte, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, apesar dos méritos e do esforço "geográfico", conseguiu a proeza de "afundar" ainda mais o já combalido barco cuja finalidade era nos reapresentar a outrora mágica Terra Média. Mais curto dentre os filmes da trilogia - o oposto de O Senhor dos Anéis, por sinal -, este capítulo derradeiro da inchada aventura de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman, da série Sherlock) consegue atropelar ainda mais o "meio de campo" da obra, contando com uma abertura anticlimática, equivocada e pouco impactante, além de um desfecho cujo tom de emoção é praticamente  nulo, apesar de esforçado. Entre o começo e o fim do longa há uma série de sequências de ação espetaculosas, mas estas encontram-se longe de encher os olhos. Há também uma série de diálogos e situações risíveis, com direito a personagens se desentendendo sem motivo algum e fazendo as pazes em seguida, instantaneamente. Onde está a densidade dramática? Se o drama é quase nulo, não se pode dizer o mesmo do humor pastelão, que encontra suporte no capacho do prefeito da Cidade do Lago (o genérico do Língua de Cobra d'O Senhor dos Anéis). Personagem este que consegue permanecer por todo o filme (sem exagero) e cuja maior realização (no mau sentido) é estragar um personagem que já não vinha sendo tão interessante: Bard (Imortais), o matador de dragão menos celebrado da história (pelo menos é o que fica claro com a visão reducionista de Peter Jackson, Fran Walsh, Phillipa Boyens e, em menor grau, Guillermo del Toro (este não acompanhou o dia a dia - e as possíveis modificações do roteiro - de filmagens).

É triste constatar que, apesar de mais conciso, o desfecho d'O Hobbit conseguiu ser ainda pior que a primeira parte - esticada ao extremo, como a manteiga no pão de Bilbo - e a do meio - recheada de subtramas inúteis e responsável por apresentar um vilão (Smaug!) ameaçadoramente estúpido (!). Mais conciso, porém igualmente irregular, o capítulo final da super-esticada trilogia O Hobbit pode ter efeitos especiais de alto nível, figurinos caprichados, maquiagens idem e locações (e fotografia) esplendorosas -  apesar de Jackson e Andrew Lesnie (diretor de fotografia) pisarem no acelerador ao selecionador muitas imagens virtuais (retoques em CGI), em detrimento da natureza real da Nova Zelândia -, mas fica devendo muito no que toca ao roteiro - diálogos, construção (existe?) de personagens e trama - e a direção de atores (é perceptível o quão jogado está Martin Freeman e seu Bilbo em meio ao carnaval de personagens e situações que tentam costurar a ambição pincelada nos filmes anteriores, mas que não conseguem ser resolvidas neste a contento; já Richard Armitage mostra-se um desastre, todavia fica difícil de saber se por falta de talento do ator ou pela péssima construção de personagem a cargo dos roteiristas). Nem mesmo a trilha sonora de Howard Shore (Se7en - Os Sete Crimes Capitais) tem poder de fogo para elevar o padrão do filme.

Certamente O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos arrecadará bastante nas bilheterias e ajudará esta nova empreitada "tolkeniana" a ultrapassar a trilogia do anel em faturamento (apesar dos filmes terem custado pelo menos três vezes mais que O Senhor dos Anéis), mas cinematograficamente sua relevância restará distante, sendo possível afirmar que, se a trilogia O Senhor dos Anéis está para os episódios IV, V e VI de Star Wars, estes O Hobbit enquadrar-se-ão no padrão raso da mais recente trilogia Star Wars, composta pelos episódios I, II e III. Todavia, se a memória não me falha, A Vingança dos Sith é um filme mais equilibrado que o desfecho de O Hobbit, apesar de também problemático. No mais, é triste constatar no que se tornou um projeto tão esperado como a adaptação d'O Hobbit para o cinema; projeto em que a mão de produtor(es) pesou mais do que o costumeiro, em que a ambição venceu de lavada a "arte" por goleada a um (a lá Brasil e Alemanha)... a chamada contida no poster do filme afirma "o capítulo definitivo". Há de se pensar, há de se pensar...

No mais, ainda me encontro à espera da versão "resumida" d'O Hobbit, com um só filme de no máximo duas horas e vinte de duração, que descarte boa parte das subtramas que pouco acrescentaram a trilogia e que apresente um ritmo menos agonizante. Se o que querem mesmo é ganhar um pouco (muito?) mais de grana, com esta versão "definitiva" já seriam contabilizadas três versões, a de cinema (três filmes), a estendida (três filmes) e a "concisa"/"compactada"/"objetiva", montada como um só filme. Assista uma história, compre sete (!) filmes...


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