27 maio, 2012

Transformers (EUA, 2007).


Se você tiver plena consciência de que Transformers é um filme concebido para crianças - apesar do apelo sexual -, facilmente conseguirá apreciá-lo. Dono de um visual muito bacana e de efeitos visuais bastante revolucionários para a época - estes apresentam-se um tanto quanto irregulares quando vistos em alta-definição - e de uma enredo que, apesar de bobo, diverte pelo equilíbrio apresentado entre sequências pirotécnicas de ação, bobagens ("nerdices" e garotas) do universo adolescente e, principalmente, pelo carisma dos alienígenas robóticos.

Entretenimento assumido, Transformers é um filme legal, mas que não sai do lugar comum. Totalmente apoiado nos efeitos visuais e nas frases de efeito - muitas destas horríveis -, sagrou-se como mais um supersucesso de bilheteria para o diretor Michael Bay (Armageddon), mas também ratifica sua fama de cineasta descerebrado. Apesar disso, o maior mal do filme não é a direção vertiginosa de Bay, mas sim o roteiro repleto de momentos dispensáveis e frases bobas elaborados pela dupla Roberto Orci e Alex Kurtzman, que após o sucesso filme viriam a trabalhar no reboot de Star Trek, trabalho este infinitamente melhor do que o apresentado aqui.

Transformers não é um filme excepcional, muito menos a salvação de um gênero tão oscilante como o de blockbuster de verão (a terminologia já virou gênero), mas consegue soar divertido, mesmo com seu recheio repleto de bobagens, visto que tanto os personagens humanos (reais, mas vazios) quanto os autobots (irreais, mas mais complexos que os humanos) possuem grande carisma, conquistando assim o público infantil e os demais que queira entrar nesse universo por livre e espontânea vontade. Enfim, este  primeiro Transformers de Michael Bay é aquela bobagem assumida que rende bons momentos. Já suas (até então) duas sequências, sem comentários.

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Obs.: Bem legal o tema do filme composto por Steve Jablonsky (A Ilha), talvez o maior destaque do filme - os efeitos visuais já é destaque por osmose.

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25 maio, 2012

Donnie Darko (EUA, 2001).


Pouco visto, mas cultuado por muitos, Donnie Darko é um filme estranho. Entretanto isso não ressoa do forma negativa. O universo de referências e gêneros cinematográficos que perpassam este primeiro filme escrito e dirigido por Richard Kelly (A Caixa) é gigantesco, indo da ficção-científica ao terror, do suspense ao drama, da comédia à aventura, tudo isso de uma maneira bastante particular, onde viagem no tempo e paranoia juventil (ou mais do que isso) dão as cartas.

Contando com um superelenco em mãos, Kelly constrói uma história bem interessante, mas que infelizmente sofre um pouco quanto a claridade das ideias empregadas pelo diretor na obra. Talvez por inexperiência (Kelly tinha apenas 25 anos quando o filmou) ou propositalmente formatado para o macro entendimento do cineasta, e não necessariamente do público, Donnie Darko acaba soando complexo demais em alguns momentos, simplesmente por que fica difícil compreender o que realmente Kelly estaria querendo passar com tais cenas ou mensagens. No entanto, apesar de um ou outro atropelo, o filme mostra-se sempre interessante e pode ser tido como um dos mais criativos dos anos 2000.

Contando com uma bela atuação do ainda não-astro Jake Gyllenhaal (Amor e Outras Drogas), que interpreta o personagem título, além das presenças de Jena Malone (Sucker Punch - Mundo Surreal) - atriz esta que tem um semblante de Kristen Stewart genérica -, Drew Barrymore (As Panteras), Patrick Swayze (Dirty Dancing), Noah Wyle (Piratas do Vale do Silício) e a eterna musa do Butch Cassidy de Paul Newman e Robert Redford, além da filha da Mrs. Robinson em A Primeira Noite de um Homem, Katharine Ross, Donnie Darko é um filme criativo e interessante, cheio de mensagens subliminares e um cabedal de referências ao universo nerd/geek e a geração criada nos anos 1980. Um filme pouco visto pelo seu público-alvo, mas que merece tanto culto e discussão por este quanto obras mais difundidas como Matrix, Cidade das Sombras ou A Origem.

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23 maio, 2012

El Cid (ITA/EUA, 1961).


O diretor Anthony Mann (A Queda do Império Romano) foi demitido do cargo durante as filmagens do filme Spartacus, sendo prontamente substituído por Stanley Kubrick (Laranja Mecânica), no entanto, independentemente do motivo que fez com que Kirk Douglas (então ator e produtor daquele filme) o colocasse para fora da produção, é inegável que Mann saberia conduzir àquela produção, como bem mostra no longa que comandou em seguida, o aqui comentado El Cid.

Dotado de todos os ingredientes que formavam os grandes épicos lançados entre o final dos anos 1950 e o início dos anos 1960, El Cid é um filme de grande proporções, cheio de conflitos e batalhas, de um herói inabalável e a costumeira inclinação religiosa, apesar de pregar uma espécie de união perante as religiões cristã (representada pelos espanhóis) e muçulmana (representada pelos mouros). Estrelado pelo rei dos épicos Charlton Heston (este também estrelou títulos como Os Dez Mandamentos, de Cecil B. DeMille e o até hoje referência Ben-Hur, de William Wyler), como o heroico e corajoso Rodrigo Diáz de Vivar - vulgo El Cid - e pela diva italiana Sophia Loren (Duas Mulheres), este filme é um grande evento e possui um diferencial: a exemplo de Spartacus, foi produzido e realizado totalmente fora dos grandes estúdios hollywoodianos, sendo apenas posteriormente distribuído pela indústria, aspecto este que comprova que, apesar de difícil, sempre existiram opções de realizar bons filmes fora do espectro das corporações majors.

Entretanto, apesar de seguir a contento a cartilha dos grandes (tanto no requinte da produção, quanto na metragem do filme) épicos e ser dono de grandes cenas orquestradas por Mann, El Cid não apresenta lapsos de originalidade ou pontos que o distinguam daqueles, como há em Ben-Hur através do seu tom sublimemente  heroico e no próprio Spartacus, que apresenta um grau de realidade até então inexistente nas demais produções, faltando assim a El Cid uma marca que o distingua e o estabeleça como distinto das demais produções. Todavia, apesar de não apostar na inovação, apresenta-se como um filme bem construído, de objetivos e tons definidos, narrando a história desse personagem importantíssimo da história da Espanha de forma romanceada e emocionante. Um grande trabalho de Mann, Heston, Loren e cia.

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Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, ING/EUA, 2011).


Muita correria, elaboradíssimas cenas de ação, bom-humor (entre o galhofa e o inglês clássico), trama hiperbólica sem grande sentido lógico. Tais características resumem Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras, sequência do também bom filme de 2009. Contando com o acréscimo do (bom) vilão Moriarty, aqui interpretado por Jared Harris (John Carpenter's The Ward) - com um timbre e entonação de voz idêntico ao do seu pai, o saudoso Richard Harris -, tido como o grande arqui-inimigo de Holmes na literatura de Arthur Conan Doyle, o filme é um entretenimento bem acabado e eficiente, visualmente deslumbrante - é difícil identificar o que é locação, cenografia ou efeito visual na concepção da Londres do século XIX - e divertido do início ao fim, contudo talvez peque justamente pelo exagero, ultrapassando o nível do equilíbrio e soando forçado demais em alguns momentos.

O diretor Guy Ritchie (RocknRolla) consegue mais uma vez imprimir sua marca estilística, recriando o momento de antecipação de Sherlock Holmes de maneira brilhante, através do efeito de super câmera lenta. Entretanto, apesar do esmero e do significado desta técnica fílmica como forma de representar a visão ímpar de Holmes, Ritchie acaba por utilizar tal estratégia de maneira descartável e despropositada - narrativamente falando - na sequência de perseguição na floresta, por exemplo, resultando numa cena espetacular, de deixar o espectador de olho vidrado perante tão belo mosaico de elementos em câmera lenta, no entanto tal esforço acana soando como uma alegoria vazia, sem propósito além de despertar sentimentos de euforia no espectador.

O elenco continua brilhante como no primeiro filme. Robert Downey Jr. (Os Vingadores) deposita todo seu carisma em seu Sherlock Holmes, tratando apenas de caprichar no sotaque, pois sua atuação vem automaticamente - no caso deste filme, um aspecto positivo -, numa composição bastante parecida com seus últimos papéis no cinema, uma espécie de mistura de seu Homem de Ferro e o personagem de Um Parto de Viagem. Jude Law (A Invenção de Hugo Cabret) apresenta um Watson com mais serenidade e experiência, dando mais força a um dos sidekicks mais famosos da ficção. O elenco principal é fechado com as participações de Noomi Rapace (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, versão sueca) e Stephen Fry (V de Vingança), que interpretam seus personagens, respectivamente a cigana Simza e o irmão de Sherlock, Mycroft Holmes, de maneira correta.

Amparado por uma trilha sonora adequada ao vai e vem da trama, que tanto em estilo quanto em conteúdo parece com um cruzamento entre os filmes da franquia 007 com os da série Piratas do Caribe, em especial pela correria frenética e constante, pelo humor escrachado (já citado acima) e pelo barulho contínuo das cenas de ação, Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras é um filme divertido e ambicioso, que não consegue suprir tudo a que se propõe, mas colhe mais louros do que derrotas. Para aqueles que curtiram o primeiro longa, um prato cheio. Para os que não, provavelmente este terá um gosto ainda pior. Já para aqueles como eu, que consideram o filme de 2009 como uma boa peça de entretenimento, mas sem muito a acrescentar, certamente acharão este segundo episódio tão interessante quanto, mesmo com sofrendo com os pecados de quase todas as sequências de filmes de aventura após o sucesso do anterior (ex.: Piratas do Caribe, Transformers, Homem de Ferro etc.), a tendência ao exagero. Algumas vezes dá certo, noutras não. Cabe a você decidir se com Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras esta estratégia funcionou.

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Obs.: Particularmente prefiro a versão de Sherlock Holmes da série de televisão Sherlock, produzida pela BBC e estrelada por Benedict Cumberbatch (O Espião Que Sabia Demais) e Martin Freeman (Simplesmente Amor).

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22 maio, 2012

Francis Ford Coppola: O Apocalipse de um Cineasta (Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse, EUA, 1991).


Excelente documentário que registra todos os problemas passados durante a produção do clássico Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Formado quase que totalmente de filmagens captadas durante a gravação do filme por Eleanor Coppola (esposa de Francis) e entrevistas realizadas anos depois da filmagem com parte do elenco, membros da equipe de produção e parceiros ligados ao projeto, em especial os atores Robert Duvall, Martin Sheen, Dennis Hopper, Laurence Fishburne, Sam Bottoms, Albert Hall e Frederic Forrest, o co-roteirista John Milius, o amigo e antigamente encarregado da direção do filme George Lucas, os produtores Tom Sternberg e Fred Roos, o diretor de fotografia Vittorio Storaro, dentre outros.

Sem papas na língua, recheado de gravações em áudio onde notamos os momentos de insegurança e fragilidade passados por Francis Ford Coppola durante a gravação do filme, que entre os contratempos passou pela troca de protagonistas - Harvey Keitel foi substituído por Martin Sheen -, um enfarto sofrido  por Sheen durante as filmagens, a chegada de Marlon Brando as locações fora de forma e sem conhecer o texto, os contratempos devido às mudanças climáticas das Filipinas (que faziam cover do Vietnã), além do fato da produção, iniciada em 1976, só ter ficado pronta no final de 1979. 

Estes e outros momentos são magistralmente registrados e narrados neste documentário completo, lançado mais de 10 anos após a estreia do filme (curiosamente também no Festival de Cannes, onde Apocalypse Now sagraria-se vencedor no ano de 1979), mas que serve tanto como um registro da louca odisseia que foram as filmagens de um dos maiores clássicos do cinema, quanto como complemento informativo para um melhor entendimento acerca da importância daquele e sua complexa narrativa visual. Um belo filme dirigido por Fax Bahr e George Hickenlooper, através da percepção fílmica e poética da também narradora Eleanor Coppola

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21 maio, 2012

Apocalypse Now (EUA, 1979).

"Adoro o cheiro de napalm pela manhã!" (Coronel Kilgore, interpretado por Robert Duvall).
Polêmico e complexo, Apocalypse Now é considerado um dos maiores e melhores filmes a tratar da guerra e talvez o melhor exemplar acerca da Guerra do Vietnã, apesar da existência de outros grandes filmes como Platoon, de Oliver Stone e Nascido para Matar, de Stanley Kubrick contribuírem para com a análise do conflito, mas que não se aproximam tanto da insanidade transmitida pelo filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes. Altamente psicológico e tenso, este ambicioso trabalho de Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão) adapta o livro de Joseph Conrad, Coração das Trevas, de 1902, para o conflito bélico no Vietnã, construindo um painel lisérgico e profundo sobre talvez a guerra com motivação mais estúpida do século passado. Dono de uma estrutura narrativa estilo odisseia, percebe-se desde o início, quando somos apresentados ao capitão Willard (Martin Sheen, de Os Infiltrados), que o mesmo já encontra-se transloucado pelo cenário de estupidez da guerra, assim como todos aqueles que combatem no país asiático e também com aquele cujo Willard receberia a missão de assassinar, o Coronel Walter Kurtz  de Marlon Brando (Uma Rua Chamada Pecado), caracterizado pelo exército norte-americano com um desertor louco de posse de um exército de mercenários vietnamitas. Num lugar onde apenas sangue e atos de insanidade são pintados, como não crer que todos aqueles que respiram este ar não foram contaminados pelo "vírus da loucura".

Amplamente filosófico, sensível, visceral e tenso do início ao fim, Apocalypse Now é mais do que um filme, é uma experiência. É um produto altamente violento, tanto no sentido gráfico quanto (principalmente) no aspecto psicológico, conduzido dessa forma justamente com o intuito de destacar seu discurso anti-guerra, de crítica não só ao incabível conflito no Vietnã, mas a insustentabilidade ética de qualquer conflito bélico. Possuidor de sutilezas e transições de imagens de forma poética, personagens humanos e profundos, enredo denso e provocador, além de uma coleção de imagens e cenas que com certeza permearão a fundo nas mentes daqueles que conferirem esta obra ímpar.

Apesar de ser difícil destacar momentos num filme tão completo quanto este, a participação de personagem Kilgore, interpretado por Robert Duvall (Os Donos da Noite) e sua paixão por surf, que chega ao ápice no ataque da "cavalaria aérea" ao som de Wagner é inesquecível, tanto quanto a primeira aparição do Coronel Lutz de Marlon Brando, curiosamente sempre iluminado em contra luz, evidenciando talvez seu momento de confusão, luz e sombra representando seu conflito psicológico.

Escrito em conjunto por Coppola e John Millius (Conan, o Bárbaro), que ganharam o Globo de Ouro pelo roteiro, dono de personagens marcantes e fantásticas performances de Brando, Sheen, Duvall (vencedor do Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante) e Dennis Hopper (Sem Destino), fotografia (vencedora do Oscar), som (vencedor do Oscar) e direção de arte primorosas, trilha sonora intensa e cenas inesquecíveis, Apocalypse Now possivelmente foi o último grande filme de Francis Ford Coppola, no sentido de ambição épica, talvez sendo apenas superado pela versão Redux do próprio filme lançada somente em 2001, dona de quase uma hora a mais de duração.

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O Último dos Moicanos (The Last of the Mohicans, EUA, 1992).


Espetáculo visual comandado por Michael Mann (Miami Vice), O Último dos Moicanos é um raro épico que não privilegia cenas e sequências épicas, mas sim a ambientação de época e o conflito vigente, com a finalidade não apenas de impactar o espectador, mas principalmente de transportar o mesmo para um período distinto de sua vivência. Ambientado no século XVIII, durante a guerra entre França e Inglaterra por territórios nos Estados Unidos, o longa-metragem dirigido e co-roteirizado por Mann (em parceria com Christopher Crowe) é possuidor de um poder imagético fabuloso, seja pelo destaque à natureza, seja pela direção de arte e pelos bem acabados figurinos, não importa qual seja o foco da avaliação, a parte visual do filme é deslumbrante e com um toque realista.

Estrelado pelo brilhante ator irlandês Daniel Day-Lewis (Meu Pé Esquerdo), no talvez único papel de sua carreira em que sua interpretação tenha sido mais sobre o aspecto físico do que pela fala, entonação e gestos e pela bela Madeleine Stowe (Os 12 Macacos), O Último dos Moicanos é dono de uma trama até certo ponto simples e objetiva, tratando não só do conflito entre França e Inglaterra e sua óbvia repercussão perante as tribos indígeno-americanas, mas também das motivações pessoas do branco criado como índio (Day-Lewis), da mulher branca a frente de seu tempo (Stowe) e de um nativo em busca de vingança (Wes Studi, de Dança com Lobos). Sendo assim, apesar do viés macro, o grande achado do filme é abordar aspectos humanos, de honra à vingança, numa escala de cinza, onde enxergamos heróis e vilões, porém ambos apresentam motivações suficientes para justificarem seus atos e status quo.

Além disso, apesar de não ser o foco principal, O Último dos Moicanos apresenta um dos mais belos momentos de romance do cinema na década de 1990, não tanto pela origem do sentimento entre os personagens de Day-Lewis e Stowe - que se dá de forma rápida, porém crível -, mas sim pelas cenas elaboradas que exploram a relação de ambos, quase sempre apoiadas por um belo trabalho do diretor de fotografia Dante Spinotti (Inimigos Públicos) e do belíssimo tema composto pela dupla Trevor Jones (Em Nome do Pai) e Randy Edelman (O Máscara).

Feito para o público adulto e principalmente para aqueles que preferem filmes mais pé no chão, sem floreios ou concessões cômicas, O Último dos Moicanos foi o primeiro grande filme de Michael Mann, mais um excelente trabalho de Day-Lewis como criador de personagens multifacetados, com personalidades próprias e compostos através de sutilezas e o abridor de portas para a feitura de épicos com tonalidade mais crível, sem medo de ser belo, violento, contundente ou romântico, abraçando o estilo e aplicando personalidade ao mesmo. Enfim, um marco fabuloso do cinema, com certeza um "jovem" clássico.

Obs.: Este filme é uma adaptação tanto do romance homônimo escrito por James Fenimore Cooper, quanto do filme de 1936, de George B. Seitz, utilizando elementos de ambas as obras.

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20 maio, 2012

O Passado (El Pasado, ARG/BRA, 2007).


"Uma separação também pode ser parte de uma história de amor". (Chamado do cartaz oficial do filme)
Primeiro filme do cineasta argentino radicado no Brasil Hector Babenco após Carandiru, O Passado é de certa forma sua volta as origens, visto que este filme é filmado na Argentina natal e falado em espanhol. Adaptado de uma obra literária (escrita por Alan Pauls), o filme narra a dramática história do casal recém-separado Rimini (Gael García Bernal, de Diários de Motocicleta) e Sofia (Analía Couceyro) e as consequência futuras desta cisão, em especial na vida de Rimini, que de certa forma desce ladeira abaixo após o rompimento.

Cheio de elementos teatrais e um quê de romantismo épico, onde os extremos do amor aparecem com força, entremeado por elementos de loucura, insensatez, vício, dependência e traição - acentuados pelos temas ao piano compostos pelo argentino Iván Wyszogrod (Crónica de una Fuga), Babenco constrói aqui um filme interessante, em especial pela comumente boa atuação do mexicano Bernal, que traz sinceridade e carisma a um personagem facilmente odiável, principalmente pelo público feminino. Couceyro não fica muito atrás, dando profundidade a sua perturbada personagem, que simplesmente não consegue se ver livre de seu passado junto a Rimini.

Diretor de pelo menos um clássico do cinema nacional como Pixote, uma badaladíssima produção internacional (O Beijo da Mulher Aranha) e um interessante, porém que dividiu (e ainda divide) opiniões Carandiru, Babenco constrói aqui talvez seu filme mais pessoal - apesar do argumento emprestado da obra de Alan Pauls -, melancólico, intimista e reflexivo, que passa longe da unidade, sucesso e relevância de outros títulos de sua filmografia, mas sagra-se como importante principalmente pela abordagem "na cara", sem concessões, julgamento de valor ou rompantes de hipocrisia. O Passado é, acima de tudo, um filme de amor sem uma clara tonalidade de romantismo.

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19 maio, 2012

Possessão (Possession, EUA/ING, 2002).


"O passado irá ligá-los. A paixão se apossará deles". (Chamada do cartaz oficial do filme)
Romance com pegada de thriller, Possessão é um filme interessante. Fala de literatura vitoriana ao mostrar a pesquisa investigativa de dois estudiosos (interpretados por Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart, respectivamente) de dois poetas distintos (Randolph Henry Ash e Christabel LaMotte), que aparentemente parecem ter tido um caso. Com o desenvolvimento da investigação, onde o romance antes desconehcido acaba por tornar-se evidente, os pesquisadores acabam se envolvendo um com outro também. Ou seja, literalmente o filme aborda a vida imitando a arte, mas de maneira bem azeitada e sem soar piegas, tornando o filme sempre interessante de acompanhar do início ao fim.

Dirigido e co-adaptado pelo dramaturgo Neil LaBute (O Sacrifício), esta obra baseada num romance de A. S. Byatt é envolvente e divertida, mesmo que em alguns momentos soe cansativa, entretanto o carisma do casal protagonista (Paltrow e Eckhart) e dos poetas investigados (papéis de Jeremy Nortan e Jennifer Ehle) acrescentam bastante ao filme como um todo. 

Espécie de thriller no estilo Dan Brown com escopo romântico, Possessão não é um grande filme ou apresenta um enredo deslumbrante, mas soa competente e sagra-se como um entretenimento eficiente, que desperta interesse e entrega uma bela mensagem acerca de paixão e amor. Um raro filme que tem tudo para agradar tanto homens quanto mulheres - generalizando bastante, obviamente.

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18 maio, 2012

Para Sempre (The Vow, EUA, 2012).


Apesar do sucesso financeiro astronômico nos Estados Unidos (custou cerca de 30 milhões de dólares e faturou por lá aproximadamente 125 milhões), Para Sempre é um filme bem mediano, onde apesar de ser baseado em eventos reais, não deixa de abordar questões fáceis para quase todas os romances água com açúcar made in US.  Não classifico este filme como ruim, até por que o mesmo guarda bons momentos, pois é dono de uma trama que causa interesse ao espectador - talvez mais ao público feminino -, o casal protagonista transpira carisma e competência - absolutamente nada a reclamar de Rachel McAdams (Diário de uma Paixão) ou Channing Tatum (Querido John) - e o desenvolvimento da situação do casal - a personagem vivida por McAdams perde parte de sua memória após sofrer um acidente de carro, esquecendo de todos os momentos vividos conjuntamente ao então esposo, interpretado por Tatum -, que desperta curiosidade pelos dilemas dispostos, visto que se por um lado a moça (McAdams) parece conectada com um período de vida (existência) anterior, seu esposo (Tatum) tenta de todas as maneiras ajudá-la a retomar a memória.

Com um final bonitinho - mas previsível - e alguns (bons) momentos de romantismo sincero, Para Sempre acaba não saindo do lugar comum e chegando a cansar em determinadas partes, tanto pelo excesso de clichês - até os pais "desprezíveis" (Sam Neill e Jessica Lange) quanto pela falta de profundidade apresentada pelos roteiristas e pelo clima novelesco quase constante. Quanto a estes clichês, só não fazem um rombo maior ao filme competência do elenco, em especial a do casal protagonista, que consegue fazer o espectador acreditar que realmente existe uma conexão verdadeira entre eles. Entretanto, apesar do esforço de ambos, Para Sempre nunca deixa de causar um certo incômodo, como se fosse a história "bonitinha" que apresenta uma lição batida (quantos filmes não tocam no mesmo ponto) e vazia, visto que o dilema de McAdams e Tatum é muito maior do que retomar ou não a memória. Em resumo, o filme apresenta-se insípido, como se tivesse muita alma e pouca carne, incompleto.

Por fim, um filme que formulado para agradar os românticos menos exigentes ou os apaixonados de plantão, com um forte apelo para o público feminino e para quem curte uma novela - o filme é novelesco mesmo, não há como fugir, além de ser uma "excelente" pedida para o casal de namorados no dia dos namorados, entretanto particularmente prefiro romances com tons épicos como o apresentado em Diário de uma Paixão, Encontro Marcado e Lendas da Paixão, mais humanos e orgânicos como em As Pontes de Madison ou aqueles mais críveis e dramáticos, como Namorados para Sempre. Já Para Sempre, que pode ser classificado como um trabalho que bebe na fonte Nicholas Sparks (escritor dos livros que deram origem aos filmes Diário de uma Paixão e Querido John, dentre outros), mas sem o apelo religioso, é um filme bonitinho, e só.

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Obs.: Atente para a tradução brasileiras dos filmes. Acho que é senso comum que a mesma é incômoda em quase todos os filmes lançados por aqui. Entretanto, talvez os filmes que mais sejam prejudicados pelo método de tradução arbitrário brasileiro sejam os de terror e de romance, aspecto comprovado por pelo menos dois títulos citados acima, quando o original não tem nada a ver com a versão brasileira, que ainda por cima cisma em aplicar os complementos hoje clássicos nos títulos: ... Sempre, ... de ou da Paixão etc. Coitados de Namorados para Sempre (originalmente Blue Valentine), Diário de uma Paixão (The Notebook, no original), Encontro Marcado (Meet Joe Black), além do próprio Para Sempre (The Vow, que seria Compromisso, Promessa, Votos), que além de ter sido traduzido sem nenhuma relação com o título original, ainda é um clichê total etc.

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17 maio, 2012

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, ING/EUA, 1962).

Não há como negar que Lawrence da Arábia é um épico de mão cheia. Da larga duração (cerca de 3 horas e 38 minutos) aos imensos detalhes de sua produção, além do elenco magistral, ratificam este como um dos maiores épicos já feitos, sob o comando talvez maior diretor do gênero de todos os tempos, o inglês David Lean, que entregou além desta obras célebres como A Ponte do Rio Kwai e Doutor Jivago.

Desde sua abertura, onde de imediato vemos a morte do personagem título, em seguida  nos é mostrado seu funeral, onde Lean opta  por não posicionar o filme como uma cinebiografia totalmente fiel à jornada de T. S. Lawrence em território árabe, sendo sim posicionada como um misto de impressões distintas acerca do visionário soldado inglês - excelente sacada, por sinal - até seu encerramento carregado e cheio de momentos de tensão, onde Lawrence percebe e revê alguns pontos de vista e filosofia próprios, o filme éfoi e continua um grande espetáculo. Peter O' Toole (Venus) transpira paixão, perspicácia e carisma com seu Lawrence. Sir Alec Guinness (Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança), Anthony Quinn  -  com um nariz falso que o deixa quase irreconhecível - (Zorba, o Grego) e Omar Sharif (O 13º Guerreiro) desaparecem - no bom sentido - por trás das maquiagens e vestimentas de seus personagens, visto que todos estes interpretam árabes. Quanto a suas interpretações, estas não são menos do que geniais.

Vencedor de 7 prêmios Oscar, dentre eles os de direção e filme, o grande nome por trás do filme é, sem sombra de dúvidas, David Lean, que arma aqui um filme quase que completo em suas mais de 3 horas de duração, cheio de aventura, ação, bom humor e uma certa "fidelidade" (para os anos 1960, óbvio) para com a apresentação da cultura árabe. Como ponto negativo, talvez o fato de todos os personagens do filme, árabes ou não, dominarem com perfeição a língua inglesa, várias décadas antes do fenômeno intitulado como globalização. Para mim uma grande falha, mas que ao mesmo tempo caracteriza o filme com um produto de seu tempo: mais inocente e menos pessimista do que minha geração está acostumada.

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16 maio, 2012

Veronika Decide Morrer (Veronika Decides to Die, EUA, 2009).


Confesso que sempre tive um sentimento dúbio quanto a literatura de Paulo Coelho. Hora batia o interesse em conhecer sua prosa, hora me via com prévia repulsa por seu trabalho. Infelizmente, após conferir esta adaptação cinematográfica de um de seus best-sellers, Veronika Decide Morrer, acabei pendendo para o lado do desprezo, não que este filme seja uma obra horrível, bem longe disso, mas infelizmente a temática e, em maior grau, a falta de profundidade da trama fizeram com que eu não me conectasse a contento ao universo Paulo Coelhiano.

Arrastado e sem chegar a lugar algum, esta versão norte-americana da obra do brasileiro peca principalmente por buscar respostas das quais não mostra as perguntas, aparentando mais ser um recorte de pensamentos desconexos e pinturas sem grande correlação narrativa, do que um história com início, meio e fim. Dentre estes três períodos, o que mais complica a absorção pelo longa é o seu meio, visto que é a partir da metade do filme que dá para perceber que este não sabe para onde vai, contentando-se em mostrar parte do funcionamento de uma clínica psiquiátrica e de alguns estereótipos de "doentes mentais". Há desde o homem que acredita que há uma grande conspiração em andamento e que existem seres em Marte, ao homem traumatizado (Jonathan Tucker, de Refém) após a perda da mulher num acidente de carro que, sabe-se lá por que, deixou de falar. Este, por sinal, é um personagem-chave para a trama, mas que infelizmente não tem uma razão de ser, desenvolvimento ou causa interesse. Este é simplesmente vazio.

Eis então o ponto chave para o fracasso do filme, a personagem central da trama, Veronika (Sarah Michelle Gellar, de Segundas Intenções) também é vazia, assim como o filme de maneira geral. Não conhecemos o motivo da tentativa de suicídio desta, muito menos o que a perturba tanto na instituição psiquiátrica e o que diabos a faz ser curada - o tratamento de Veronika é limitado a alguns medicamentos e conversas com o médico responsável pela instituição (David Thewlis, de Cavalo de Guerra) onde esta simplesmente não diz nada de si. Como se pode discutir solidão, suicídio, distúrbios mentais e individualidade - tópicos que o filme sugere, mas nunca aprofunda - sem coerência, sem apresentar as causas e efeitos no indivíduo afetado, neste caso a personagem de Gellar? 

Infelizmente, apesar da premissa "interessante", Veronika Decide Morrer é como um produto com uma excelente embalagem, cheio de boas intenções (faço isso, sou feito daquilo), mas que na verdade é oco, vazio, causa uma boa primeira impressão mas ao ser provado perde todo o encanto. Em resumo, tanto a diretora inglesa Emily Young (Kiss of Life) e o roteirista Larry Gross (Ruas de Fogo) erraram na realização do longa, que tem como destaque as boas atuações de Gellar, Thewlis (este incorpora um psiquiatra) e Melissa Leo (O Vencedor), em pequena participação. Não culpo Paulo Coelho pela má realização deste filme, até por que não li a obra original, mas a contar a falta de profundidade apresentada neste - ora bolas, é praticamente obrigatório apresentar profundidade numa obra que discuta um tema tão delicado quanto o suicídio -, mais uma vez meu interesse por acompanhar suas obras literárias se esvai. Em resumo, Veronika Decide Morrer não é um filme ruim, pois cumpre com certa competência sua função como entretenimento, entretanto no quesito profundidade e relevância, deixa muito a desejar.

AVALIAÇÃO:  


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15 maio, 2012

Ligadas pelo Desejo (Bound, EUA, 1996).


"O que ela fez com você?" (pergunta Caeser, personagem de Joe Pantoliano)
"Tudo que você não pode!" (responde Violet, personagem de Jennifer Tilly)
Este primeiro filme dirigido e escrito pelos criadores de Matrix, Andy e Larry Wachowski é genial. Sensual, violento, intrigante e tenso, Ligadas pelo Desejo começa com uma espécie de Instinto Selvagem lésbico, mas depois se desenvolve numa espécie de thriller muito bem acabado, num enredo que mistura elementos de máfia e de filme noir - alguns o classificam como neo-noir -, lembrando uma mistura de Alfred Hitchcock com Quentin Tarantino, Guy Ritchie e Os Suspeitos, de Bryan Singer. Na verdade, toda a tensão e interessa proporcionada pelo filme vem pela expectativa, dessa forma não seria correto descrever a trama aqui, apenas o estilo de abordagem pretendida pelos irmãos Wachowski.

Antes desse Ligados pelo Desejo o único trabalho com cinema dos Wachowski tinha sido a autoria do roteiro do filme Assassinos, de Richard Donner. Sendo assim, com certeza foi uma grande surpresa esta  fulminante estreia da dupla como autores e diretores, talvez superada apenas pelo trabalho posterior dos irmãos, o cultuado Matrix, apesar de considerar ambas as obras incríveis e inventivas da mesma forma, apenas conectadas a estilos e gêneros distintos. O que tanto Andy quanto Larry (hoje Lana, visto que o mesmo mudou de sexo!) trazem aqui um dos maiores filmes de suspense que já assisti, não apenas do ponto de vista de roteiro - que é criativo e fechadinho, mas não espetacular -, mas principalmente na técnica de filmagem adotada por estes, desde ângulos inusitados a closes em determinados objetos e pessoas, que ajudam bastante na coerência narrativa do enredo. 

A direção de atores também beira a perfeição, com as duas protagonistas - Gina Gershon, de Distúrbio Mortal e Jennifer Tilly, de O Mentiroso) sensuais e competentes em seus papéis, realmente convincentes como duas lésbicas duronas (mais a primeira que a segunda). As cenas de sexo entre as duas talvez seja a mais excitante e sensual que já conferi até hoje. Entretanto, o grande nome do filme é Joe Pantoliano (Amnésia), que dá vida a um antagonista ao mesmo tempo ameaçador, boa-praça e patético, dando uma tridimensionalidade e interesse ao personagem de forma exemplar.

Enfim, Ligadas pelo Desejo não foi um grande sucesso quando lançado no já longínquo ano de 1996, mas fez um relativo sucesso no mercado de home-video e, mais importante, apresentou ao mundo o talento de Andy e Larry (ou Lana) Wachowski como contadores de histórias e, principalmente, entertainers. Não é tão lembrado como Matrix, mas é tão essencial quanto. Mais um filmaço descoberto de forma um tanto quanto tardia por mim.

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Obs.: Apenas a título de curiosidade, grande parte da equipe que trabalhou com os Wachowski em Ligadas pelo Desejo retomou a parceria em Matrix, como o diretor de fotografia Bill Pope, o compositor Don Davis, além do ator Joe Pantoliano, que faz um personagem emblemática no jovem clássico da ficção-científica.

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Bilheteria: Box Office Mojo

O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (Wes Craven's New Nightmare, EUA, 1994).



Mesmo não sendo o mais querido da franquia, para mim este segundo filme de Wes Craven (A Hora do Pesadelo) no comando criativo da série de filmes do ser Freddy Krueger é o único que continua assustador e tenso do começo ao fim. Contando com um roteiro feito totalmente sob o viés da metalinguagem - na verdade, o mote desse Novo Pesadelo é o fato de o filme original da franquia A Hora do Pesadelo ter sido realmente um filme. Ou seja, antecipando a discussão que faria bastante sucesso dois anos depois com o primeiro Pânico - por sinal, também uma realização de Craven -, este filme brinca com os clichês do gênero ao transportar o mal fictício para a "realidade", justificando a presença do mesmo de forma simples, porém absolutamente crível: o ser Freddy Krueger (Robert Englund) não é simplesmente um assassino dos sonhos, mas sim a representação do mal absoluto. Quer algo mais assustador do que isso?

É óbvio que não existe perfeição nessa nova roupagem do já mitológico personagem, até por que este trabalho-homenagem realizado lançado exatamente dez anos após o original é altamente dependente dos eventos ocorridos no primeiro longa - apesar de citar os demais filmes da franquia, este filme não referencia nenhum outro a não ser o filme original -, sendo necessário conferi-lo anteriormente para um perfeito entendimento da trama e das várias referências deste Novo Pesadelo.

Em comparação ao filme original, considero o roteiro deste bem mais redondo, até por que o filme de 1984 ganha força pelo seu argumento, pelo estabelecimento da mitologia e pela criação do mito Freddy Krueger, visto que o roteiro do mesmo não é lá grande coisa, ou seja, a ideia sai melhor do que a realização. Já Novo Pesadelo complementa com competência os eventos daquele filme, esbanjando criatividade e acrescentando novos paradigmas a franquia, quase que à parte do que ocorrera nas continuações anteriores, tanto que não funciona nem como um ponto final à franquia, nem como um recomeço, mas sim como um filme a parte, mas de extremo bom gosto.

O aspecto negativo do longa fica para as mudanças estéticas, que parecem terem sido criadas com o intuito de deixar o filme com um aspecto ainda mais tenebroso, entretanto, apesar de ter funcionado na época do seu lançamento - o já longínquo ano de 1994 -, hoje soa mais artificial e menos assustador do que o visual dos demais filmes da série. Quando destaco as mudanças estéticas me refiro principalmente a composição visual do personagem Freddy Krueger, que aqui ganha uma maquiagem diferente, além de um novo chapéu e o acréscimo de uma espécie de sobretudo. Quanto ao novo design das garras, confesso que ficaram interessantes, porém não acrescentam em nada no sentido narrativo e conceitual da história.

Contando com parte do elenco do filme original - além de Englund, participam Heather Langenkamp e John Saxon, além das presenças de Wes Craven e Robert Shaye (na época, CEO da New Line Cinema, produtora dos filmes da série A Hora do Pesadelo), vivendo respectivamente eles mesmos (metalinguagem, lembra?), um roteiro bem amarrado, que traz de volta parte do clima original de tensão constante e sustos inesperados, além de ter bastante coerência em sua proposta criativa, O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (precisava adaptar o título New Nightmare gigante desse jeito?) é, para mim, a melhor sequência ou nova versão (escolha uma opção) do primeiro A Hora do Pesadelo, não só pelo fato de ter seu criador de volta integralmente (Craven participou do terceiro filme da franquia apenas como roteirista), mas também pelo resgate da pegada do original, esquecendo os elementos de humor que tomaram a franquia nos capítulos posteriores e investindo novamente no clima de terror. Talvez o último grande filme do gênero de Craven (o primeiro Pânico é bacana, mas carrega mais cinismo e humor do que terror e os demais trabalhos do gênero do diretor infelizmente beiram a mediocridade), infelizmente Novo Pesadelo não foi bem visto na época de lançamento, talvez pelo enfraquecimento da franquia - foram seis filmes, um dia a fonte de sucesso teria que acabar - ou pela linguagem diferenciada, o que acarretou numa baixa bilheteria e em críticas mistas. Porém, como dito acima, considero este o melhor filme da série ao lado do original e creio que esta é mais uma daquelas boas obras que devem ser redescobertas pelos entusiastas do gênero.

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Bilheteria: Box Office Mojo