03 maio, 2012

Spartacus (EUA, 1960).


"O (homem) livre perde o prazer da vida. O escravo perde a dor da vida. A morte é a única liberdade que o escravo conhece. Por isso não tem medo dela" (Spartacus, interpretado por Kirk Douglas).

Spartacus na verdade começou como um projeto pessoal do astro Kirk Douglas (Glória Feita de Sangue), devido a este ter sido preterido como protagonista de outro épico, Ben-Hur, dirigido William Wyler - o papel principal ficou com o veterano Charlton Heston (O Planeta dos Macacos). Decidido a produzir um filme tão grande quanto àquele, Douglas deu início ao projeto que culminou neste que é um dos maiores épicos já feitos, classudo quando a situação assim pede, mas também ousado e moderno quando preciso.

Talvez o grande diferencial de Spartacus para os outros épicos da época de ouro de Hollywood - como o citado Ben-Hur - seja o fato de que não há nenhum prisma ou pano de fundo cristão no filme, haja vista que a época abordada precede o nascimento de Jesus Cristo. Sendo assim, há mais espaço para desenvolver o caráter dos personagens e a caracterização histórica da época, além da maior liberdade nesta abordagem, visto que os registros da sociedade romana pré-cristã não são conhecidos em sua totalidade, gerando espaço aí para a criatividade dos envolvidos no filme.

Adaptado por Dalton Trumbo (Papillon) a partir do romance homônimo de Howad Fast, Spartacus conta a história do escravo tornado gladiador (Douglas) que vira líder de um grupo de insurgentes em busca de liberdade, mas que encontram pela frente toda a força e domínio do Império Romano, que luta para conter a revolta, ao mesmo tempo em que se encontra politicamente cada vez mais frágil. Este lado político é brilhantemente explanado por Trumbo, tornando o filme mais profundo e complexo do que o previamente imaginado.

Apesar de sua grandiloquência e da competência dos envolvidos, em especial o elenco estelar formado por Laurence Olivier (Hamlet), Peter Ustinov (Quo Vadis), Jean Simmons (Finais Felizes), Charles Laughton (A Vida Privada de Henrique VIII) e Tony Curtis (Quanto Mais Quente Melhor), a produção passou por diversos problemas, em especial quanto a direção, visto que o diretor original do longa tinha sido Anthony Mann (El Cid), mas este foi demitido logo no início das filmagens por problemas criativos com Douglas, sendo então convocado ao seu lugar Stanley Kubrick (2001, Uma Odisséia no Espaço), que ainda era um novato nesta época, mas que já havia trabalhado com Douglas no drama de guerra Glória Feita de Sangue. Contudo, apesar da ruptura no cargo de diretor, o filme aparentemente não sofreu com tal mudança, apresentando-se enxuto e bem-definido, além de mostrar-se um tanto quanto ambicioso em determinados momentos, em especial na épica batalha entre os exércitos dos escravos contra os romanos. Obviamente que a troca de diretores originou debates e causou polêmica, entretanto a qualidade do filme manteve-se nivelada durante as mais de 3 horas de projeção, tendo assim o filme, do ponto de vista de produto, sobrevivido sem nenhum tipo de perca de qualidade.

Grandioso, elegante, empolgante e envolvente, Spartacus é mais uma prova viva de que os filmes alcunhados como clássicos perduram para sempre, haja vista que, ao acompanhar toda a jornada do personagem título, não há como não lembrar de outro personagem também clássico do cinema, mas bem mais "jovem" do que o filme de Kubrick e Douglas: Coração Valente, de Mel Gibson, que, sinceramente, à exceção do cenário histórico diferente, na verdade é uma versão moderna de Spartacus, o que não é demérito algum para a obra, apenas corrobora a qualidade e supremacia narrativa do primeiro.

AVALIAÇÃO: 8 de 10.

Trailer:


Mais informações:

Spartacus
Bilheteria: Box Office Mojo

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