13 maio, 2012

A Perseguição (The Grey, EUA, 2012).


Me causou grande surpresa este thriller dirigido por Joe Carnahan (Esquadrão Classe A) e estrelado por Liam Neeson (Rastros de Justiça). Apesar de ser um filme de sobrevivência e do duelo homem x natureza, A Perseguição traz em seu íntimo uma discussão tão rica acerca da natureza humana que chega a espantar, principalmente por este se tratar de um filme de suspense/aventura, não de um drama elaborado acerca do ser-humano. Entretanto, Carnahan e o co-roteirista (autor do conto adaptado) Ian MacKenzie Jeffers,  apresentam inseridos na trama elementos de cunho filosófico e antropológicos, vistos nos desabafos e conversas dentre os sobreviventes de um desastre de avião na Antártida, enquanto são literalmente caçados por uma matilha de lobos. É óbvio que a tensão, o suspense e o medo causados por um evento deste porte tem grande destaque no filme, até por que este é o mote principal do mesmo, no entanto a relação entre bicho e homem e a profunda animalização deste último, através de sua luta pela sobrevivência, rende alguns dos melhores momentos do longa.

Liam Neeson, que recentemente perdeu a esposa, parece imprimir a dor de sua perda pessoal no personagem, que propositalmente ou não guarda ecos com a tragédia vivida pelo ator. Suas expressões e olhares mostram com delicadeza e profundidade toda a dor e luto carregados pelo personagem, construído aí seu personagem mais complexo, no que concerne a exploração de sentimentos, dos últimos dez anos (pelo menos). O restante do elenco, que completa o time de sobreviventes, apesar de não possuir o mesmo destaque dado ao protagonista, complementa bem as ações de Neeson, ajuda a construir uma trama mais rica e profunda.

Quanto à ameaça real, os lobos, presumo que estes foram concebidos digitalmente e, vez por outra, não tão "reais" de forma proposital, para realçar o impacto de ameaça e horror sentido pelos sobreviventes, que num ambiente tão hostil acabam tendo uma percepção diferenciada do perigo que os cerca, quase como um monstro de um filme de horror, representando assim, de certa forma, o medo do desconhecido. É válido ressaltar que o vilão da história não é representado apenas pelo animal lobo, mas sim também pela ambiente inóspito, gelado, com alimentação escassa, de difícil trânsito e acesso etc., além do próprio ser humano, que mesmo em perigo e em quantidade reduzida (foram sete os sobreviventes) conseguem tornar-se inimigos entre si, retratando literalmente a máxima de Thomas Hobbes que diz que o homem é o lobo do próprio homem.

Para mim, A Perseguição é uma ótima surpresa em termos de cinema de entretenimento, comprovando mais uma vez que é possível se produzir entretenimento de massa que cumpra sua função primeira, ou seja, divertir, mas sem se eximir de complexidade, de conteúdo, de uma mensagem que ultrapasse o efêmero, mas realmente diga algo válido, que cause momentos de reflexão, que desperte novas ideias e pensamentos no espectador. E, quanto a estes dois aspectos, digo aqui que tanto Carnahan quanto MacKenzie foram extremamente competentes, entregando um entretenimento de primeira, com uma (ou mais) mensagens de grande valia.

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Obs.: Há uma pequena cena pós-créditos.

AVALIAÇÃO: 


Trailer:


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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