28 setembro, 2014

O Doador de Memórias (The Giver, EUA, 2014).

"Não aceite algo como verdadeiro só porque vem de alguém que você respeita" (Doador, personagem de Jeff Bridges).
Boas ideias - apenas - necessariamente não dão um bom filme. Bons livros idem. O Doador de Memórias, projeto abraçado por Jeff Bridges (Tron, o Legado) e dirigido pelo competente Phillip Noyce (Perigo Real e Imediato) tem seus atrativos, especialmente como instrumento reflexivo, mas a falta de uma maior profundidade no desenvolvimento da trama torna seu discurso interessante, mas sem muita substância, quase esquecível. É fato que a fotografia do filme (a cargo de Ross Emery, de Wolverine: Imortal) é interessantíssima, pois é um elemento essencial à narrativa da obra, através da alternância da paleta de cores que caminha entre o branco e preto e o colorido, perpassando pelas tonalidades intermediárias, que significa (e resignifica) o cabedal de sentimentos adquiridos (sim, o termo é esse) pelo personagem principal, Jonas, bem composto pelo jovem Brenton Thwaites (O Espelho). Nos últimos anos estrearam uma série de filmes que apresentam a humanidade num futuro distópico, muitos desses baseados em obras literárias juvenis, contudo, apesar de mínimo, existem diferenças destas para O Doador de Memórias, sendo a mais óbvia o fato da matéria prima do filme, o livro escrito por Lois Lowry, ter sido lançado no já longínquo ano de 1993 (a grande maioria dos outros filmes são adaptações de obras recentes) e o ponto de discussão ter como cerne a descaracterização do ser humano através da ausência de sentimentos de cunho abstrato (redundância? Veja o filme!), ao invés de dilemas exclusivos da adolescência ou amor (im)possível, por exemplo. Há romance nesta adaptação de Michael Mitnick e Robert B. Weide (Woody Allen: A Documentary), como também um par de sequências de ação, mas é na jornada de (re)descobrimento da humanidade, através dos olhos, mente e coração de Jonas, que reside o coração da obra. Tendo isso em mente e vislumbrando todo o potencial que a obra tinha, especialmente do ponto de vista filosófico-existencial, seu desenrolar e desenlace acabam por deixar um gosto levemente amargo à boca, visto que alguns pontos essenciais não são aprofundados, enquanto a urgência em "terminar" a história parece prioritária (o filme soma pouco mais de 90 minutos de projeção). Em suma, apesar do envolvimento de Noyce, Bridges e Meryl Streep (Álbum de Família), dentre outros, o resultado final de O Doador de Memórias é irregular, tendo toda a sua potencialidade se esvaído por um roteiro mal arquitetado. O desfecho da obra deixa claro a intenção de ser realizada uma sequência, mas os eventos apresentados neste filme, independentemente da qualidade final, não deixam elementos (ou perguntas "válidas") suficientes que justificassem uma continuação. Mais um tiro no pé de um filme bastante promissor.

 ½

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