11 maio, 2012

Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette, ITA, 1948).


É incrível como até hoje, mais de sessenta anos após seu lançamento, Ladrões de Bicicleta permaneça atual e impactante. Ambientado na Itália do pós-guerra, o filme concebido por Vittorio De Sica (Umberto D) trata de problemas sociais, como desemprego, mas sua essência reside na discussão do caráter humano e das incongruências advindas através da necessidade, em especial da aleatoriedade da vida.

Apresentando um fim de semana na cidade de Roma, acompanhamos uma espécie parábola de acontecimentos que representam a trajetória de Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) e Bruno (Enzo Staiola), pai e filho, em busca não apenas da bicleta roubada, mas de esperança. Como não se emocionar e posteriormente refletir após acompanhar a verdadeira saga que é a busca pelo instrumento do sustento de ambos, principalmente quando a solução fácil surge, mas a execução cansada e inconsequente acaba não saindo como o previsto, culminando num dos momentos mais tocantes do filme, onde um olhar de humilhação e dor é aplacado por um gesto tão simples quanto poderoso, metaforizado pelo aperto de mão de Bruno ao pai, registrando ali mais do que um gesto de cumplicidade, mas principalmente de entendimento, de apoio a uma realidade aparentemente imutável.

Vencedor do Oscar de filme estrangeiro de 1948, Ladrões de Bicicletas claramente inspirou outra obra italiana repleta de simbolismo e emoção em sua estrutura, o também premiado pelo Oscar A Vida é Bela, de Roberto Benigni. Entretanto, enquanto este aborda a tristeza de maneira relativamente mais leve e sob um viés de humor, o filme de De Sica é construído através da melancolia e de uma certa desesperança carregada de esperança, retratando uma tristeza inerente a constituição humana, àquela que surge repentinamente nos momentos onde a necessidade se mostra presente. Um filme belíssimo, de concepção simples, porém dono de uma profundidade subjetiva ímpar, que desde a apresentação dos primeiros quadros em branco e preto e dos primeiros acordes compostos por Alessandro Cicognini toca e guia o espectador para uma viagem cheia de esperança, mas sem livrar-se das altas doses de melancolia e sentimentos de arrependimento. Um filme que, apesar do final trágico, causa um sentimento de alívio e contemplação à alma humana que reside em todos nós.

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