16 maio, 2012

Veronika Decide Morrer (Veronika Decides to Die, EUA, 2009).


Confesso que sempre tive um sentimento dúbio quanto a literatura de Paulo Coelho. Hora batia o interesse em conhecer sua prosa, hora me via com prévia repulsa por seu trabalho. Infelizmente, após conferir esta adaptação cinematográfica de um de seus best-sellers, Veronika Decide Morrer, acabei pendendo para o lado do desprezo, não que este filme seja uma obra horrível, bem longe disso, mas infelizmente a temática e, em maior grau, a falta de profundidade da trama fizeram com que eu não me conectasse a contento ao universo Paulo Coelhiano.

Arrastado e sem chegar a lugar algum, esta versão norte-americana da obra do brasileiro peca principalmente por buscar respostas das quais não mostra as perguntas, aparentando mais ser um recorte de pensamentos desconexos e pinturas sem grande correlação narrativa, do que um história com início, meio e fim. Dentre estes três períodos, o que mais complica a absorção pelo longa é o seu meio, visto que é a partir da metade do filme que dá para perceber que este não sabe para onde vai, contentando-se em mostrar parte do funcionamento de uma clínica psiquiátrica e de alguns estereótipos de "doentes mentais". Há desde o homem que acredita que há uma grande conspiração em andamento e que existem seres em Marte, ao homem traumatizado (Jonathan Tucker, de Refém) após a perda da mulher num acidente de carro que, sabe-se lá por que, deixou de falar. Este, por sinal, é um personagem-chave para a trama, mas que infelizmente não tem uma razão de ser, desenvolvimento ou causa interesse. Este é simplesmente vazio.

Eis então o ponto chave para o fracasso do filme, a personagem central da trama, Veronika (Sarah Michelle Gellar, de Segundas Intenções) também é vazia, assim como o filme de maneira geral. Não conhecemos o motivo da tentativa de suicídio desta, muito menos o que a perturba tanto na instituição psiquiátrica e o que diabos a faz ser curada - o tratamento de Veronika é limitado a alguns medicamentos e conversas com o médico responsável pela instituição (David Thewlis, de Cavalo de Guerra) onde esta simplesmente não diz nada de si. Como se pode discutir solidão, suicídio, distúrbios mentais e individualidade - tópicos que o filme sugere, mas nunca aprofunda - sem coerência, sem apresentar as causas e efeitos no indivíduo afetado, neste caso a personagem de Gellar? 

Infelizmente, apesar da premissa "interessante", Veronika Decide Morrer é como um produto com uma excelente embalagem, cheio de boas intenções (faço isso, sou feito daquilo), mas que na verdade é oco, vazio, causa uma boa primeira impressão mas ao ser provado perde todo o encanto. Em resumo, tanto a diretora inglesa Emily Young (Kiss of Life) e o roteirista Larry Gross (Ruas de Fogo) erraram na realização do longa, que tem como destaque as boas atuações de Gellar, Thewlis (este incorpora um psiquiatra) e Melissa Leo (O Vencedor), em pequena participação. Não culpo Paulo Coelho pela má realização deste filme, até por que não li a obra original, mas a contar a falta de profundidade apresentada neste - ora bolas, é praticamente obrigatório apresentar profundidade numa obra que discuta um tema tão delicado quanto o suicídio -, mais uma vez meu interesse por acompanhar suas obras literárias se esvai. Em resumo, Veronika Decide Morrer não é um filme ruim, pois cumpre com certa competência sua função como entretenimento, entretanto no quesito profundidade e relevância, deixa muito a desejar.

AVALIAÇÃO:  


Trailer:





Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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