02 maio, 2012

Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who's Afraid of Virginia Woolf, EUA, 1967).


Adaptação de uma aclamada peça de teatro e estrelada por um dos casais mais famosos da história do cinema, Elizabeth Taylor (Cleópatra) e Richard Burton (O Manto Sagrado), Quem Tem Medo de Virginia Woolf é uma obra acuradíssima acerca da complexidade e fragilidades advindas do matrimônio, das minúcias carregadas de subjetividade que dão vida a vida em casal. Esta estreia do diretor Mike Nichols (A Primeira Vez de um Homem) não poderia ter se dado de maneira mais eficaz, visto que o até então diretor de teatro conseguiu o roteiro certo, os protagonistas certos e, com muito talento e perspicácia, o estilo certo de filmagem, optando pela fotografia em preto-e-branco e pelo estilo de filmagem contínua, que simula a ideia de que todos os eventos ocorrem num curto intervalo de tempo (no caso do filme, numa madrugada).

Taylor (vencedora do Oscar pelo papel) e Burton (apenas indicado) brilham ao interpretar marido e mulher, projetando camadas tão complexas aos seus personagens que dão a impressão de que não estão atuando, mas sim realmente vivendo a experiência.  Também merece destaque a dupla composta por George Segal (O Grande Golpe) e Sandy Dennis (The Four Seasons), o contraponto ao casal principal que atuam como o ponto de vista do espectador a carga de estranhamento e tensão dos personagens de Taylor e Burton. O misto de fúria, paranoia, ternura e carinho destilado por esses são apenas alguns dos detalhes que consagram estas interpretações como inesquecíveis na história do cinema norte-americano. 

Apesar de não fugir muito da estrutura de uma peça de teatro, principalmente pelo elenco e ambiente reduzidos, Ernest Lehman (Sabrina) faz um excelente trabalho ao adaptar a peça original de Edward Albee, dando vida própria e, principalmente, tons de ironia e dúvida à pesada e complexa trama. Outro destaque pode ser dado ao compositor Alex North (Spartacus), que sustenta a alma do filme através de suas notas sutis e causadoras de tensão.

Apesar do grande elenco e da excelente concepção artística, o que sobressai no filme é o estilo de Mike Nichols, que conduz a trama com paciência, quase que como se estudasse o que os personagens têm a dizer, trabalhando o tempo certo de abordagem, ajudando assim a amplificar as já brilhantes atuações, tudo isso sem dar julgamento de valor ou apontar heróis e vilões. Longe disso, nesse caleidoscópios recheado de complexidades Nichols faz apenas acompanhar e, trabalhando o aspecto voyeurístico do espectador, conduz este filme que, a priori choca mais do que elucida, mas que pede para ser visto e revisto para que suas camadas (e aja camadas) possam ser descobertas uma a uma, numa verdadeira overdose de psicologia comportamental. Em resumo, um filme de digestão lenta, mas que com a paciência devida pode promover a sensação de saciedade por muito tempo.

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Com relação ao título do filme (e, consecutivamente, o da peça que o inspirou), aparentemente este não tem nada a ver com a escritora Virginia Woolf ou sua obra, sendo apenas um jogo de palavras/brincadeira para com a clássica canção do desenho Os Três Porquinhos, da Disney, Who's Afraid of the Big Bad Wolf? (na versão brasileria da animação saiu como "Quem tem medo do lobo mau?"), que por sinal tem relação direta com os eventos da trama do filme.

AVALIAÇÃO: 8 de 10.

Trailer:




Mais informações:

Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who's Afraid of Virginia Woolf).
Bilheteria: Box Office Mojo

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