Muita correria, elaboradíssimas cenas de ação, bom-humor (entre o galhofa e o inglês clássico), trama hiperbólica sem grande sentido lógico. Tais características resumem Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras, sequência do também bom filme de 2009. Contando com o acréscimo do (bom) vilão Moriarty, aqui interpretado por Jared Harris (John Carpenter's The Ward) - com um timbre e entonação de voz idêntico ao do seu pai, o saudoso Richard Harris -, tido como o grande arqui-inimigo de Holmes na literatura de Arthur Conan Doyle, o filme é um entretenimento bem acabado e eficiente, visualmente deslumbrante - é difícil identificar o que é locação, cenografia ou efeito visual na concepção da Londres do século XIX - e divertido do início ao fim, contudo talvez peque justamente pelo exagero, ultrapassando o nível do equilíbrio e soando forçado demais em alguns momentos.
O diretor Guy Ritchie (RocknRolla) consegue mais uma vez imprimir sua marca estilística, recriando o momento de antecipação de Sherlock Holmes de maneira brilhante, através do efeito de super câmera lenta. Entretanto, apesar do esmero e do significado desta técnica fílmica como forma de representar a visão ímpar de Holmes, Ritchie acaba por utilizar tal estratégia de maneira descartável e despropositada - narrativamente falando - na sequência de perseguição na floresta, por exemplo, resultando numa cena espetacular, de deixar o espectador de olho vidrado perante tão belo mosaico de elementos em câmera lenta, no entanto tal esforço acana soando como uma alegoria vazia, sem propósito além de despertar sentimentos de euforia no espectador.
O elenco continua brilhante como no primeiro filme. Robert Downey Jr. (Os Vingadores) deposita todo seu carisma em seu Sherlock Holmes, tratando apenas de caprichar no sotaque, pois sua atuação vem automaticamente - no caso deste filme, um aspecto positivo -, numa composição bastante parecida com seus últimos papéis no cinema, uma espécie de mistura de seu Homem de Ferro e o personagem de Um Parto de Viagem. Jude Law (A Invenção de Hugo Cabret) apresenta um Watson com mais serenidade e experiência, dando mais força a um dos sidekicks mais famosos da ficção. O elenco principal é fechado com as participações de Noomi Rapace (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, versão sueca) e Stephen Fry (V de Vingança), que interpretam seus personagens, respectivamente a cigana Simza e o irmão de Sherlock, Mycroft Holmes, de maneira correta.
Amparado por uma trilha sonora adequada ao vai e vem da trama, que tanto em estilo quanto em conteúdo parece com um cruzamento entre os filmes da franquia 007 com os da série Piratas do Caribe, em especial pela correria frenética e constante, pelo humor escrachado (já citado acima) e pelo barulho contínuo das cenas de ação, Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras é um filme divertido e ambicioso, que não consegue suprir tudo a que se propõe, mas colhe mais louros do que derrotas. Para aqueles que curtiram o primeiro longa, um prato cheio. Para os que não, provavelmente este terá um gosto ainda pior. Já para aqueles como eu, que consideram o filme de 2009 como uma boa peça de entretenimento, mas sem muito a acrescentar, certamente acharão este segundo episódio tão interessante quanto, mesmo com sofrendo com os pecados de quase todas as sequências de filmes de aventura após o sucesso do anterior (ex.: Piratas do Caribe, Transformers, Homem de Ferro etc.), a tendência ao exagero. Algumas vezes dá certo, noutras não. Cabe a você decidir se com Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras esta estratégia funcionou.
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Obs.: Particularmente prefiro a versão de Sherlock Holmes da série de televisão Sherlock, produzida pela BBC e estrelada por Benedict Cumberbatch (O Espião Que Sabia Demais) e Martin Freeman (Simplesmente Amor).
AVALIAÇÃO:
Trailer:
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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