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20 março, 2014

O Conselheiro do Crime (The Counselor, EUA/GBR, 2013).

"Um homem daria nações inteiras para tirar o pesar de seu coração, porém nada se compara com o pesar, porque o pesar não tem valor. [...] A vida não vai levá-lo de volta. Você é o mundo que criou e quando você deixar de existir esse mundo que você criou também deixará de existir" (Mensagem do personagem de Rubén Blades ao advogado interpretado por Michael Fassbender).
Nem sempre a união de um bom diretor com um escritor premiado e um elenco de estrelas hollywoodianas dão vazão a uma boa obra cinematográfica e é justamente como exceção que O Conselheiro do Crime se encaixa, visto que, apesar de todo o potencial material do filme seu resultado final beira ao nível do mediano, quando não abaixo do mesmo. Um dos maiores problemas do filme reside em sua estrutura narrativa que "joga" diversos personagens de uma só vez, cada um com sua "agenda", deixando o espectador desinformado durante toda a primeira hora de projeção, quando só então a obra começa a mostrar a que veio. Há frases interessantíssimas elaboradas por Cormac McCarthy (autor de obras como A Estrada e No Country for Old Men) e entoadas pelo elenco estelar, mas estas não sustentam a narrativa frágil e a coleção de erros orquestrada com mão frágil pelo veterano (e irregular) Ridley Scott (Prometheus).

Dentre o leque de grandes nomes que desfilam pelo filme temos Penélope Cruz (Volver), Cameron Diaz (Gangues de Nova York), Javier Bardem (Amor Pleno), Brad Pitt (Guerra Mundial Z) e Michael Fassbender (Um Método Perigoso), cujas composições surgem agradáveis, especialmente as de Fassbender e Bardem, porém não suficientes para que exista uma conexão (empatia) entre estas e o público espectador. O personagem de Bardem é histriônico e caricato (tanto devido a composição do ator, quanto pelo aparato de maquiagem e figurino que constroem um personagem ímpar), enquanto o de Fassbender é mais pé no chão, porém bobo, raso. Mesmo que este seja um personagem sem profundidade, Fassbender ainda consegue entregar algumas cenas de forte impacto emocional, enquanto Bardem aproveita o exagero do seu para dar um show de over-acting (que, apesar da distância das outras interpretações do filme, acaba funcionando). Quanto a Cruz, Diaz e Pitt, apesar de uma ou outra cena marcante, não chegam a sobressaírem à obra, sendo mais peça decorativa do que personagens-guia à trama.

Equivocadamente vendida como a primeira obra roteirizada por Cormac McCarthy - o escritor já havia adaptado uma obra sua para a tevê, The Sunset Limited, cuja direção coube a Tommy Lee Jones (Lincoln) -, O Conselheiro do Crime, assim como sua premissa, pode ser definido como um produto estranho. Se por um lado sua fotografia é atrativa (responsabilidade do competente Dariusz Wolski), a música incidental de Daniel Pemberton (O Despertar) funciona e o elenco de estrelas chama imediata atenção, o roteiro de McCarthy não sai do âmbito da promessa - há algumas boas sacadas, especialmente quanto aos diálogos, mas só -, a montagem do veterano Pietro Scalia (Até o Limite da Honra) não parece adequada - a montagem acabou por deixar o filme muito cansativo - e a direção de Scott mostra-se apenas correta, o que é muito pouco para um diretor com tamanha estirpe e experiência.

Logo, apesar da premissa interessante e da coleção de astros e estrelas envolvidos em sua produção, O Conselheiro do Crime acaba não saindo do lugar comum, alçando pouco voos e resultando numa obra no máximo mediana, cujos "comos e porquês" acabam não sendo resolvidos de maneira satisfatória. É certo que foi durante a produção do filme que Ridley Scott perdeu o irmão - o também cineasta Tony Scott (Inimigo do Estado), que cometeu suicídio em 2012 -, o que pode ter influenciado o primeiro na condução frágil do filme, porém também é certo que faz um bom tempo que ele não lança um filme realmente impactante - para mim seus últimos bons filmes foram O Gângster e Rede de Mentiras, de 2007 e 2008 respectivamente -. Seja por motivo A ou B, o certo é que não foi desta vez (novamente) que Scott nos presenteou com um grande evento cinematográfico.

Quer saber quantas estrelas dei para o filme? Acesse minha conta no Filmow.

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07 janeiro, 2014

Até o Limite da Honra (G.I. Jane, EUA, 1997).


Os anos 1990 não foram lá muito bons para os grandes cineastas surgidos entre as décadas de 1970 e 1980. Nomes como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola lançaram trabalhos interessantes como A Época da Inocência, Kundum, Vivendo no Limite (todos assinados por Scorsese), Jack, O Homem Que Fazia Chover (filmes de Coppola), mas que não chegavam (pelo menos à época) aos pés de seus trabalhos primeiros, como Taxi Driver, Touro Indomável, O Poderoso Chefão e Apocalypse Now. Assim como estes citados, o inglês Ridley Scott também atingiu seu auge criativo no mesmo período, quando apresentou ao mundo obras como Alien, o Oitavo Passageiro e Blade Runner - O Caçador de Androides. Entretanto, após voltar a obter evidência com o querido roadie movie Thelma & Louise, Scott meio que perdeu a mão, lançando títulos "esquecíveis" por toda a década de 1990, até voltar novamente aos holofotes com o lançamento de Gladiador.  

Até o Limite da Honra encontra-se no rol de produções duvidosas assinadas pelo cineasta, mas revisitando a obra após mais de quinze anos de seu lançamento é fácil notar que esta não é a bomba que se acreditava anteriormente, pois mesmo possuindo alguns problemas esta mostra-se eficiente no que se propõe: denunciar (mesmo que de forma exageradamente didática) a prevalência do machismo em todos os espectros da sociedade, mas principalmente nas forças armadas e no militarismo. Escrito pela dupla Danielle Alexandra e David Twohy (Eclipse Mortal), o filme narra a saga da primeira mulher (Demi Moore, de Instinto Secreto) a ser aceita na academia de formação dos Navy Seals, grupo de elite da Marinha norte-americana, após a indicação política de uma senadora (Anne Bancroft, de A Primeira Noite de um Homem). Contando com uma estrutura um tanto previsível, como não poderia deixar de ser, o filme se apoia quase que totalmente na atuação de Moore, que apesar da pressão negativa sofrida (a atriz acabou ganhando o Framboesa de Ouro de pior atriz pelo papel), consegue realizar um bom trabalho, mesmo este exigindo mais do que o alcance dramático da atriz alcança. É certo que a atriz surpreende mesmo na entrega às cenas de grande demanda física, o que é algo a ser aplaudido.

Como dito no início Até o Limite da Honra é um filme problemático, mas não tanto pela escolha de Moore como protagonista, mas sim em alguns pontos do roteiro e em algumas decisões tomadas por Ridley Scott na condução do filme. Quanto ao roteiro, é óbvio que por se tratar de um filme que procura enaltecer a capacidade da mulher norte-americana a conexão para com a pátria não deixaria de ser um elemento constante à trama, porém a forma com que este é explorado não é agradável, beirando, inclusive, ao exibicionismo. É bandeira para cá, câmera posicionada a elevar ainda mais o "heroísmo" de determinados personagens em determinadas cenas, exploração de tipos arquetípicos pouco profundos (há o comandante malvado que realiza maldades com o intuito de "fortalecer" seus discípulos, o político à frente de seu tempo que se revela como um ser desprezível, o soldado cujo cérebro é do tamanho de um grão de feijão etc.) e o tom exagerado de filme-superação. Com isso, apesar do plot interessante, a execução patina um pouco, talvez por não confiar plenamente na força do produto que tem em mãos. A bem verdade a melhor palavra a definir o filme seria piegas, pois é justamente assim que algumas cenas podem ser definidas, o que é uma pena.

Apesar de possuir uma estrutura um tanto ultrapassada e ser entrecortado por clichês mais do que batidos (a diferença é quem sofre aqui não é um jovem recruta, mas sim uma jovem recruta), Até o Limite da Honra funciona, especialmente se o vermos como um retrato da época, produto de uma década ainda me busca de identidade. Não é um grande trabalho de Ridley Scott (a bem verdade não consigo enxergar qual foi a contribuição positiva deste no comando da produção, já que, no meu ponto de vista, esta poderia ter sido dirigida - nos moldes que acabou sendo lançado - por qualquer outro cineasta com um mínimo de conhecimento cinematográfico), mas guarda alguns bons momentos. Poderia ser mais profundo, poderia ser mais pesado na crítica à estrutura política, poderia ser menos dotado de "testosterona", mas só o fato de Demi Moore se entregar ao papel e se esforçar para entregar uma personagem minimamente convincente e de encontramos um caricato (mas também eficiente) Viggo Mortensen (Um Método Perigoso) ainda em início de carreira mas já "chutando bundas" já vale a conferida.

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14 novembro, 2012

Alien, o 8º Passageiro (Alien, EUA, 1979).

"No espaço, ninguém ouvirá você gritar". (Frase disposta no poster oficial do filme).
Sem sombra de dúvidas Alien, o 8º Passageiro continua sendo o melhor filme da carreira de Ridley Scott (Blade Runner, o Caçador de Androides), além de um dos filmes mais assustadores de todos os tempos. Não há como não imergir em tensão e horror ao acompanhar a jornada tenebrosa passada pelos tripulantes da nave Nostromo, que recebe a "visita" de um ser tão incaracterizável quanto as piores crias de H. P. Lovecraft. Estrelado por uma jovem Sigourney Weaver (A Vila, A Morte e a Donzela), Alien, o 8º Passageiro é um terror claustrofóbico de primeira qualidade, dono de um visual inspirado e responsável pela apresentação da talvez mais conhecida criatura alienígena do universo das ficções-científicas.

Vindo do drama de época Os Duelistas, o inglês Ridley Scott chocou a audiência com esta obra violenta, mas de grande teor psicológico, principalmente pelo clima de tensão e mistério, além dos elementos narrativo-visuais da obra, recheados de signos que geram discussões até hoje (tanto é verdade que acabou gerando um filme derivado lançado este ano, Prometheus). Com um roteiro assinado por Dan O' Bannon e Ronald Shusett (O Vingador do Futuro) - que aplicam o beabá das obras de horror de forma a formar um marco da ficção-científica -, Alien, o 8º Passageiro é em essência um filme de linhas simples, mas com um forte poder de imersão e interesse, muito devido ao clima de urgência e mistério empregado por Scott, Jerry Goldsmith (compositor), Derek Vanlint (cinematógrafo) e H. R. Giger (design das criaturas), que juntamente aos roteiristas compõem o que viria a se tornar a mitologia Alien.

Do início climático, passando pela apresentação da tripulação - que inclui nomes como os de Tom Skerritt (Poltergeist III), John Hurt (V de Vingança), Harry Dean Stanton (A Última Tentação de Cristo) e Ian Holm (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel) -, pela visita ao misterioso planeta de onde fora captado um possível sinal de vida e culminando com a descoberta de uma presença alienígena aterrorizante após o ataque sofrido por um dos tripulantes, o crescendo do filme não para um segundo sequer, tendo o espectador a sensação de perigo iminente a todo instante. Entra aí os trabalhos impecáveis de Goldsmith na mediação do clima através das notas de sua trilha sonora, o cuidado e arrojo de Derek Vanlint (Dragonslayer), que escolheu planos, ângulos e iluminações quase perfeitos, construindo assim a identidade visual particular do filme, além da deslumbrante e assustadora concepção visual de Giger, recheada de elementos distorcidos e sexuais, tido por muitos como um dos grandes responsáveis pelo universo alienígena do filme ser lembrado ainda hoje.

É incrível destacar que, mesmo com a óbvia precariedade da tecnologia disponível à época, o Alien deste filme - realizado utilizando tanto técnicas de maquiagem quanto animatrônicos - continua crível e assustador, inclusive (afora os momentos onda nota-se o desgaste do efeito visual, como não poderia deixar de ser após mais de três décadas) saindo-se muito mais orgânico e aceitável do que a mesma criatura em formato digital de Alien³ e mais assustador do que qualquer uma das feras derivadas do recente Prometheus, apesar deste  possuir também um visual arrebatador. Nota-se assim que, apesar dos avanços tecnológicos que vieram a servir as futuras produções cinematográficas, a estrutura narrativa e o aspecto visual deste "analógico" Alien, o 8º Passageiro continua praticamente irretocável.

Desacreditado antes de sua estreia, o filme de Ridley Scott acabou se tornando um enorme sucesso de crítica e de bilheteria, abrindo margem não só para sequências à obra, como também influenciando uma nova onda de filmes de ficção-científica com foco maior no suspense e menos na aventura, além de comprovar que ainda havia público interessado em obras mais "intimistas" e com violência mais presente. Um dos meus filmes preferidos, Alien, o 8º Passageiro é daqueles raros filmes que te assustam e ao mesmo tempo não te deixam desviar o olhar, constrói um universo inteiro sem revelar absolutamente nada e provoca sensações que raramente são sentidas com as produções atuais, visto que há uma força orgânica e uma conformidade de talentos neste filme - elenco, equipe técnica, roteiristas e diretor - que o sedimentaram como uma das grandes obras do cinema norte-americano, mesmo que grande parte desta equipe não seja formado por americanos. Em seguida a essência da obra de Scott e cia. seria  "delicadamente" alterada, mas este ponto de formação continua exemplar e está, pelo menos para mim, na categoria dos filmes que deveriam ser revistos anualmente. 

AVALIAÇÃO
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29 junho, 2012

Blade Runner, o Caçador de Andróides (Blade Runner, EUA, 1982).

"Eu vi coisas que vocês nunca entenderiam. Naves de ataques em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro, na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva. Hora de morrer". (Frase emblemática de Roy Batty, personagem interpretado por Rutger Hauer).
Filme policial de clima noir futurista, Blade Runner é uma das ficções-científicas mais adoradas do cinema. Adaptado do romance Do the Androids Dream of Eletric Sheep, de Philip K. Dick, por Hampton Fancher (O Mistério das Caraíbas) e David Peoples (Os Imperdoáveis), este filme foi marcado por diversos insucessos (fracasso nas bilheterias e má recepção da crítica na época de lançamento, alterações na montagem final pelos produtores - de 1982 até hoje, o filme passou por pelo menos três montagens distintas -, brigas entre elenco e diretor), mas pouco a pouco foi obtendo destaque, até alcançar o patamar de cult movie, sendo hoje considerado por muitos como umas das maiores obras de ficção-científica da história do cinema e talvez o melhor trabalho do inglês Ridley Scott (Prometheus) como diretor.

Apesar do início anti-climático, que lembra bastante o clima do filme neo-noir Chinatown, de Roman Polanski, Blade Runner vai ganhando ritmo compassadamente, até entrar em aceleramento lá pela primeira hora de projeção, quando o filme avança carregado de tensão e medo, em especial graças a excelente atuação do holandês Rutger Hauer (A Morte Pede Carona), que entrega aqui sua interpretação mais icônica e a trilha-sonora assinada pelo compositor grego Vangelis (Carruagens de Fogo), que cria o clima perfeito para a ação em desenvolvimento com seus sons sintetizados e inorgânicos.

Estrelado pelo recém-lançado a fama Harrison Ford (Os Caçadores da Arca Perdida) e contando também com performances emblemáticas de até então novos rostos (que posteriormente ficariam apenas nisso) como Daryl Hannah (Kill Bill Vol. 1) e Sean Young (Sem Saída), o filme dirigido por Ridley Scott arrisca e entrega um enredo carregado de elementos filosóficos existencialistas, através do subterfúgio de um androide em busca de sobrevivência, num futuro recente (2019, coincidentemente o mesmo ano de outro filme comentado neste blog, O Sobrevivente, que infelizmente é infinitamente - tanto esteticamente, quanto em conteúdo - inferior ao filme aqui destacado) onde tais "seres" tem prazo de validade curtíssimo, com a única serventia de realizar trabalhos de curta duração aos seres humanos. Repleto de mensagens complexas, que aparecem mais como sugestões que que explicitamente, Blade Runner continua impecável até hoje, apesar do futuro exposto provavelmente não ter relação alguma com nossa realidade daqui há cerca de 7 anos.

Se no campo das ideias o filme permanece fresco e interessante, com muitas possibilidades de debates e, principalmente, de interpretações, no campo estético o filme perde um pouco, até por que muitas das previsões visuais pregadas pelo filme não se concretizaram, trazendo este uma carga mais próxima à época de seu lançamento, ou seja, o estilo visual carregado e "sintetizado" da década de 1980, do que da vigente. No entanto, observando um escopo maior, este não desagrada o olhar ou atrapalha a narrativa do filme, na verdade este certo afastamento para com nossos dias acabam fortalecendo-o, dando a este um caráter mais misterioso e idílico, que casa perfeitamente aos temas de Vangelis, outro aspecto fortemente relacionado a década de 1980 arraigado ao filme.

Lançado numa época de criatividade ímpar para o cinema de ficção-científica, onde tivemos o nascimento ou fortalecimento do cinema promovido por caras como Steven Spielberg, George Lucas, James CameronRobert Zemeckis e do próprio Ridley Scott, Blade Runner talvez seja a maior referência da época, com seu estilo temático e visual próprio, sua abordagem distinta e seu clima particular, permanecendo estudado e reverenciado pelos entusiastas da sétima arte e descoberto pelas novas gerações, fato mais do que comprovado com o recente interesse de produzir uma sequência para o filme, como pelas grandes produções do gênero que galgaram também um status de cult nos últimos anos, como Matrix, claramente influenciado - propositalmente ou não - pelo filme de Scott, Ford, Hauer, Vangelis, Hampton, Peoples e cia. 

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Obs.: A versão conferida para avaliação foi a definitiva de 25 anos, lançada em DVD em 2007. Por enquanto, esta é a atestada como mais próxima ao que Ridley Scott pretendia quando filmava a produção, de acordo com as palavras do próprio, em depoimento exibido antes do início da projeção do filme.

AVALIAÇÃO:
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Bilheteria: Box Office Mojo

25 junho, 2012

Prometheus (EUA, 2012).


Nós viemos deles. Eles virão para nós. (Chamada do cartaz promocional do filme).
Muitas vezes a alta expectativa acaba por sabotar o bom aproveitamento de uma obra e de certa forma foi isto que aconteceu comigo ao conferir este retorno do diretor Ridley Scott (Alien, o 8º Passageiro, Os Vigaristas) ao mundo do horror e da ficção científica. Em parte, esta expectativa é responsabilidade minha, entretanto também é dos envolvidos na produção de Prometheus - como a própria chamada do poster de divulgação atesta -, visto que "atiçaram" diversos elementos que infelizmente são apenas sugestionados ao longo do filme, sendo muito pouco para uma obra que fora vendida como "entretenimento cabeça".

É importante afirmar que Prometheus não é um filme ruim, até posso longe de ser categorizado como tal, entretanto a sugerida viagem acerca da criação do ser-humano - e da vida no planeta Terra - e as respostas para as perguntas mais buscadas por este (De onde viemos? Para onde vamos? Qual é a nossa missão? Por que fomos criados? Etc.) não são respondidas, muito menos debatidas a contento. São na verdade jogadas para uma possível sequência após "descobrimos" que na verdade os seres criadores estavam tentando nos destruir e que, ao invés da expedição científica ter pousado no planeta de origem da vida, pousou numa espécie de depósito de armas biológicas alienígenas. Confuso? Nem tanto, mas talvez seja necessário conferir ao filme para compreender melhor minha explanação.

Sendo assim, já que o filme se afasta bastante da proposta de discussão filosófico-científica esperada, o que sobra são momentos de muita tensão, choque de egos, sustos e desbravamento do desconhecido, algumas desses beirando a perfeição, outros no limite entre o aceitável e o clichêzão de mau gosto. No entanto, ao perceber que a proposta cerebral não é assim o ponto forte do filme - com isso não quero dizer que este é um filme estúpido ou vazio, nada mais longe da verdade, contudo o contexto apresentado pelo mesmo é muito mais de entretenimento do que de formação intelectual -, a experiência para com o mesmo volta a soar positiva, até por que como um filme de suspense este funciona primorosamente, resultando sim num bom retorno de Scott ao gênero que o destacou como cineasta há mais de 30 anos.

Tecnicamente arrebatador, Prometheus convence visualmente, possui um desenho de produção (tanto no que concerne ao maquinário e a tecnologia do fictício ano de 2093, quanto o visual das diversas criaturas alienígenas, humanoides ou não, presentes no filme) fantástico e crível, mixagem e som perfeitos, uma trilha sonora pontual e impactante, que realmente leva ao espectador a tensão e a angústia sofrida pelos personagens - quem assina a trilha é Marc Streitenfeld (A Perseguição), compositor alemão relativamente novo no universo cinematográfico, mas que vem colaborando recorrentemente com Ridley Scott desde o filme Um Bom Ano, de 2005 - e um elenco de nomes não tão conhecidos, mas bem escalado, destacando a protagonista interpretada pela sueca Noomi Rapace (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), que é a personagem guia de todo o enredo de Prometheus, e a magistral performance de Michael Fassbender (Um Método Perigoso, Jane Eyre), que compõe aqui um personagem enigmático, charmoso e de personalidade dúbia que chama a atenção do espectador do início ao fim, até mesmo quando não abre a boca. Complementando o elenco temos as presenças de Charlize Theron (Jovens Adultos) - com certeza o nome mais conhecido de todo o elenco -, Idris Elba (Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança), Logan Marshall-Green (Demônio) e um dispensável Guy Pearce (A Proposta), visto que o mesmo aparece apenas como um homem idoso, para isso usando uma pesada maquiagem, o que ao meu ver não justifica sua presença, ficando a dúvida quanto ao por que não contrataram um ator com idade próxima ao do personagem, já que este não aparece, em momento algum do filme, com a aparência jovem. Porém, fora isso, sua atuação não compromete, apesar da pesada maquiagem não ajudá-lo.

Quanto ao 3D, apesar do incômodo habitual pela utilização dos óculos (outra discussão), encontra-se excelente, realmente dando profundidade ao longa e tratando de imergir o espectador nos mistérios desbravados pelos passageiros da nava Prometheus, fazendo com que nós passeemos com eles por aquele universo curioso.

Voltando ao âmbito conceitual do filme, fica óbvia a referência do título - acerca do mito do titã Prometeu - com o desenrolar dos acontecimentos, valendo a máxima de que o ser-humano não deveria mexer naquilo que não lhe cabe. E, apesar do debate metafísico existencial do filme ficar um pouco a dever, esse paralelo com o mito grego é bem colocado e dá um gás de profundidade ao filme, que cismava em não querer aparecer (pelo fato da discussão acerca da origem da vida ter sido posta de lado). Porém, admito que Scott e os roteiristas Jon Spaihts (A Hora da Escuridão) e Damon Lindelof (série Lost) me decepcionaram bastante, principalmente por admitir no encerramento do longa que as respostas buscadas (e que aparentemente seriam pelo menos parcialmente respondidas aqui) pelos cientistas seriam o mote de uma possível sequência, o que para mim soou enganador. Me incomodou bastante, me fazendo até mesmo recordar de ecos da série Lost, com suas muitas perguntas, alguma enrolação e poucas respostas realmente úteis).

Problemas de abordagem a parte, apesar das mais do que óbvias concessões cometidas pelo filme com a finalidade de agradar a gregos e troianos (não esqueçamos que, apesar de tudo, este ainda é um filme de verão - nos Estados Unidos - para a "meninada"), Prometheus é um filme competente, muito bem-acabado, criativo e com uma boa abordagem, que tinha tudo para ser um novo A Origem (dono de um conceito interessante, vendido como um filme para as massas, mas que não faz grande concessões no âmbito das ideias, provando seu público  ao não entregar respostas fáceis, mas ao mesmo tempo sem esconder do que trata. Ou seja, todas as respostas estão presentes da obra, mesmo que muitas abram margem para interpretação), mas que acaba sendo auto-sabotado pela constante indecisão  - não sai de cima do muro em alguns momentos - do seu enredo. Porém, independentemente dos possíveis erros destacados, Prometheus mereceria destaque mesmo que tivesse apenas a excelente sequência de parto envolvendo a personagem de Rapace, que culmina num dos momentos mais tensos e assustadores dos últimos anos - fazendo-nos até mesmo não ligar para o fato de uma pessoa recém saída de uma cirurgia abdominal sair correndo para cima e para baixo sem manifestar dor ou incômodo. Mas enfim, viva a magia do cinema, não é mesmo?

AVALIAÇÃO (Assim que assisti ao filme):
AVALIAÇÃO (Algum tempo depois, após a digestão dos eventos mostrados no filme):
Quer saber qual foi minha avaliação após a revisita ao filme, em 10 de abril de 2014? Acesse minha conta no Filmow.

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26 março, 2012

Os Vigaristas (Matchstick Men, EUA, 2003).


Muitos afirmam que nas últimas duas décadas Ridley Scott (Gladiador) perdeu a mão e não tem realizado obras de nível tais quais Alien - O Oitavo Passageiro e Blade Runner - O Caçador de Andróides, por exemplo. Entretanto, apesar do mesmo realmente ter deixado um pouco de lado os filmes com temáticas "questionadoras", sua filmografia sempre oscilou entre gêneros e ultimamente, talvez pelo seu amadurecimento como cineasta, Scott tem alternado grandes produções com projetos mais intimistas e, por que não dizer, simples. Contudo, não é por que tais filmes possuem uma aura simplicidade que serão produtos ruins ou de baixo nível. Longe disso, são títulos bacanas que, talvez por possuírem a assinatura desse conceituado e cultuado cineasta, acabam sendo considerados obras menores (quando não totalmente ignoradas), porém caso fossem filmes de qualquer outro diretor de menor expressão com toda certeza seriam bem mais respeitadas, apreciadas e aplaudidas. Vai entender o ser humano, não é mesmo?

Felizmente (ou não, caso você não concorde com meu texto introdutório) Os Vigaristas encontam-se nessa categoria de "bons filmes despretenciosos". Divertido, ágil, recheado de boas sacadas, possuidor de um bom elenco e, apesar de não ser seu principal objetivo, com uma mensagem positiva (por trás das falcatruas mostradas, óbvio) sobre paternidade e segundas chances. Estrelado por Nicolas Cage (Motoqueiro Fantasma 2: Espírito da Vingança) - surtado e carismático como sempre -, Sam Rockwell (Homem de Ferro 2) e Alison Lohman (Arraste-me Para o Inferno) - em seu primeiro grande papel no cinema -, o enredo de golpes nada mais é do que uma desculpa para um show (isso mesmo) de interpretações hiperbólicas e caricaturais, só que com a competência que apenas um elenco de primeiro poderia entregar, visto que apesar dos exageros, estas nunca chegam a ofender ou a causar repulsa. Muito pelo contrário, é justamente esse clima carregado e nonsense que dá alma ao filme.

Cage e Rockwell, em particular, mais uma vez repetem os estereótipos pelos quais são mais conhecidos no cinema, visto que ambos já interpretaram personagens com características semelhantes diversas vezes anteriormente, só que o fazem de maneira tão orgânica e divertida que provocam certa surpresa no espectador. Ou seja, aquele mais do mesmo que funciona sem esforço algum, graças ao grande talento destes atores. Em resumo, Cage interpreta mais uma vez o cara cheio de tiques, com tendências entre a loucura e a esquizofrenia - com muito brilho e presença de espírito, como já frisado acima -, enquanto Rockwell nos mostra mais uma vez aquele tipo divertido, malandrão e com jeito de cafajeste, que sempre nos deixa em dúvida acerca de sua índole. Em suma estereótipos recorrentes nas carreiras destes astros, mas que mais uma vez estes os reciclam de maneira divertida. Encontra-se aí o grande diferencial de um grande diretor por trás de toda essa zona, visto que talvez se fosse outro que não Ridley Scott a dirigí-los, apesar dos talentos já destacados dos atores, seria fácil tais interpretações caírem nas mesmice e ao invés de serem grandes destaques do filme, viraram pastiche de grandes papéis passados. 

Os Vigaristas não é uma obra ambiciosa ou épica como Gladiador, Cruzada e outros citados de Ridley Scott, entretanto é super competente em seu gênero e, apesar da falta de grandiosidade, supera em muito tanto produções mais recentes (Falcão Negro em Perigo, Robin Hood) quanto antigas (1942 - A Conquista do Paraíso) do cinesta que tinham como grande chamariz a super-produção e o clima épico. Sendo assim, apesar de não ser um grande clássico do cinema, Os Vigaristas é um filme bacana e competente, que cumpre com sobras todos os seus objetivos, dentre eles o de divertir sem nenhum tipo de restrição e de desafogar um pouco a pretensão de filmes cada vez "maiores" (traduza como bem entender) de um cineasta que já não tm mais nada a provar.

AVALIAÇÃO: 8 de 10.

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Os Vigaristas

Bilheteria: Box Office Mojo

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