Mostrando postagens com marcador othon bastos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador othon bastos. Mostrar todas as postagens

14 janeiro, 2013

Mauá - O Imperador e o Rei (BRA, 1999).


O bacana dos bons filmes históricos é que, independentemente da realidade ser mostrada ou não, eles nos convencem de sua veracidade e nos desperta a vontade de conhecer mais acerca da personalidade ou evento abordado, buscando por informações em livros, ou seja, pesquisando, conhecendo. Contando com a direção de Sérgio Rezende (O Homem da Capa Preta), Mauá - O Imperador e o Rei é interessante do ponto de vista de resgate histórico, por discorrer acerca de uma personalidade importantíssima da história nacional, mas acima de tudo como metáfora aos nossos dias, pois os avanços técnico-científico chegaram, mas os paradigmas econômicos permanecem de forma basilar os mesmos.

Apesar de uma ou outra ressalva, gosto bastante do estilo de filmar de Sérgio Rezende, especialmente por este procurar sempre mostrar mais do que simplesmente personagens e eventos em tela, mas também criar significantes visuais, seja através de uma angulação diferenciada, seja pela presença de algum objeto que terá papel fundamental na cena em si ou em algum momento futuro. Porém, apesar da elegância de sua direção, o diretor é afeito a algumas composições de cena que lembram os recursos de tevê, o que acabam por tirar um pouco do brilho cinematográfico da obra. De resto, a condução de Rezende é de extremo bom gosto, no meio termo entre o olhar autoral e a tecnicidade convencional.

Apesar de não comprometerem, creio que os grandes nomes do elenco não são Paulo Betti (Lamarca) e de Malu Mader (Sexo, Amor e Traição), que interpretam Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá e sua esposa May, respectivamente, mas sim Antonio Pitanga (Barravento), Hugo Carvana (10x Favela - Agora por Nós Mesmos), Othon Bastos (Bicho de Sete Cabeças) e o escocês Michael Byrne (Indiana Jones e a Última Cruzada), que mesmo em papeis menores entregam atuações bastante fortes e mostram-se essenciais à narrativa do filme, pois apesar do pouco tempo de cena são norteadores das ações do Barão de Mauá.

Exceptuando a direção, talvez os maiores destaques do filme se encontrem em sua cenografia e direção de arte, a cargo de Bia Junqueira, Henrique Murthe, Tom Pye, José Joaquim Salles, Ana Anet e Emily Pirmez e no figurino (Kika Lopes, de O Palhaço), pois é graças a essas equipes de  profissionais que a imersão ao século XIX torna-se viável. Um trabalho de recriação de época e ambientação histórica que beira à perfeição. Já a trilha sonora assinada por Cristóvão Barros (Zuzu Angel) apresenta-se irregular, talvez com a síndrome de John Williams (em seus momentos de menor inspiração), visto que mostra-se exagerada em alguns momentos ou as vezes é "cortada" abruptamente entre uma cena e outra, faltando organicidade a esta junto as imagens. Nada que chegue a atrapalhar a narrativa do filme, mas certamente há algo estranho na estruturação da mesma.

Um filme no mínimo interessante, que presta tributo a uma figura importantíssima no cenário político e econômico do Brasil em formação, possivelmente um dos cânones do empreendedorismo mundial, infelizmente Mauá - O Imperador e o Rei não é um filme tão lembrado no cenário de produções de cunho biográfico nacional, mas merece a visita (ou revisita) pois mostra-se tanto como um ótimo produto cinematográfico - a bem verdade é uma superprodução para os padrões nacionais à época - quanto como veículo de resgate histórico, apresentando a história de glórias e percalços de uma importantíssima (e não tão destacada) figura histórica nacional. Bastante atual, os ideais, pensamentos e realizações apresentados no filme, mesmo que assumidamente "picado" pelo mosquito liberal (à época em seu auge), apresentam um painel curioso de como o ciclo político e os habitantes do poder impedem o progresso e a inovação por motivos escusos e mesquinhos, característica esta que, alterações à parte, mantêm-se viva e presente até hoje.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

31 agosto, 2012

Heleno (BRA, 2012).


É inegável o excelente trabalho de composição feito por Rodrigo Santoro (Bicho de Sete Cabeças) ao interpretar o primeiro craque problema do futebol brasileiro, Heleno de Freitas. Seja em sua fase boêmia, seja no auge de sua doença, Santoro constrói um personagem intrigante, profundo e humano, conduzindo o espectador neste filme de vem e vai no tempo intitulado apenas Heleno.

Dirigido por José Henrique Fonseca (O Homem do Ano), Heleno tem importância ímpar, visto que promove o resgate de uma figura deliberadamente esquecida da história do nosso futebol, que endeusou (com mérito, obviamente) figuras como Pelé e Garrincha, mas vez ou outra acabou por esquecer outros nomes de grande importância não só para o esporte, mas também para a cultura geral do país. Dito isto, devo destacar que o filme é no geral bem acabado, magistralmente fotografado por Walter Carvalho (Abril Despedaçado) - que optou por filmar todo o filme em branco e preto, conseguindo estabelecer uma unidade, coerência e deslumbre visual magníficos, para mim até mesmo superior a outra recente composição em branco e preto, a do Oscarizado filme francês O Artista - e conta com uma direção inspirada de Fonseca, que aplica aqui uma técnica bastante similar ao das cinebiografias norte-americanas. Em suma, Heleno é visualmente deslumbrante.

Contudo, nem tudo são flores ao filme. A opção dos roteiristas (Felipe Bragança, Fernando Castets e o próprio Fonseca) de intercalar tempos narrativos distintos não soa tão orgânica, pois às vezes soa demasiadamente expositiva antes do tempo, noutras acaba por privilegiar mais a enfermidade do protagonista do que seu desenvolvimento como personagem. Este ponto nos leva a outra fragilidade do roteiro, que reside no corte feito pelo mesmo. Ao meu ver faltou um pouco mais de informação (em forma de cenas) acerca da figura Heleno de Freitas caminhando rumo ao sucesso como futebolista e interagindo com a alta sociedade carioca, não só metido em "baladas" e tendo "piti" nos treinos e na concentração do Botafogo. Obviamente que em cenas como estas citadas Rodrigo Santoro realiza um trabalho magnífico, convencendo tanto como um sujeito arrogante e charmoso, quanto como um homem frágil, diminuído moralmente e com semblantes de óbvia loucura. Entretanto, faltou esse recheio para o melhor encaixe do roteiro, em especial para alcançar a finalidade do filme - a "vida" do jogador - a contento.

Apesar de ser quase totalmente centrado na interpretação de Santoro, o filme traz a presença de bons nomes da dramaturgia nacional, como Alinne Moraes (O Homem do Futuro), que interpreta a mulher de Heleno, Erom Cordeiro (O Palhaço), vivendo o melhor amor amigo (e também jogador) do protagonista, a colombiana Angie Cepeda, o veterano Othon Bastos (Central do Brasil), como o presidente do Botafogo, dentre outros. Apesar de um ou outro momento de brilho próprio, este elenco acaba funcionando muito bem como escada para a performance de Santoro, o que em não é necessariamente uma crítica, visto que o foco da história é o personagem interpretado pelo ator.

Apesar do vácuo causado pela falta de certas informações e da tentativa (em exagero) de conquistar primeiramente o espectador pela doença do jogador, Heleno é um bom filme, que acerta ao não cometer juízo de valor acerca das "escolhas" do ídolo botafoguense, constrói bem o ambiente da época retratada (dos anos 1940 aos anos 1960), com um ótimo trabalho de direção de arte, figurino e trilha sonora e que funciona como filme, mesmo que talvez acabe sendo lembrado mais como um grande trabalho de Rodrigo Santoro do que como uma grande obra de José Henrique Fonseca, o que na minha opinião é um pouco injusto com o diretor, mas como o próprio filme trata de injustiça - como dito acima, Heleno quem, cara pálida? - tal martírio indiretamente pode vir a calhar. Mais um bom título nacional pouco visto, o que é uma pena.

AVALIAÇÃO:
TRAILER:


Mais Informações:

23 março, 2012

Bicho de Sete Cabeças (BRA, 2001).


 "Netú, Netú, vem cá, Netú, Netú, Netú, olha eu, Netú, Netú, ..." (interno Ceará, personagem de Gero Camilo).
Com uma aparente influência Kafkaniana em sua abordagem e de importância ímpar quanto ao seu embasamento contextual, Bicho de Sete Cabeças pode ser considerado o equivalente brasileiro ao cult Réquiem para um Sonho, de Darren Aronofsky (Cisne Negro), um filme que visualiza aspectos do que chamamos de loucura através da abordagem de temas que nos são bastante conhecidos, como conflitos familiares, adolescencia problemática, omissão do Poder Público e, como não poderia deixar de estar presente, a falida instituição e cultura dos manicômios.

Rodrigo Santoro (Abril Despedaçado) já chega arrasando em seu primeiro trabalho para cinema, apresentando com muita propriedade e detalhamento todas as fases passadas por seu personagem Neto, de sua aparente desconexão com o mundo antes da internação quanto sua posterior depressão e incidência em atos de loucura após a mesma e a condução da diretora Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo) é de grande valor, visto que esta é a principal responsável pela entrega do ator. Além disso, Bodanzky deixa sua marca no quesito estético durante todo o longa, com passagens que brincam com cores na tentativa de representar a forma atrapalhada com que os pensamentos de Neto estão durante sua permanência no manicômio.

Um filme importante, contundente, complexo e moderno, Bicho de Sete Cabeças levanta questionamentos vários e apresenta fatos, visto que seu enredo, apesar da opção estética de em alguns momentos desenvolvê-lo através de contornos surrealistas  (acredito que este tenha tal estilo por apresentar a visão do protagonista com relação ao acontecido), foi baseado em um livro que retratava fatos verídicos, tornando assim o filme mais um manifesto de denúncia do que um produto cinematográfico, o que com toda a certeza não o diminui de forma alguma, pelo contrário, o faz adquirir identidade e estilo próprios, tornando-o assim um filme essêncial tanto para quem curte cinema nacional, quanto para quem gosta de filmes que tratem de assuntos de grande relevância e que merecem discussão.

AVALIAÇÃO: 7 de 10.

Trailer:



Mais informações:

Bicho de Sete Cabeças

IMDb - Internet Movie Database: