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28 agosto, 2012

O Vingador do Futuro (Total Recall, EUA, 1990).

"Se eu não sou eu, quem eu sou?" (Douglas Quaid, personagem de Arnold Schwarzenegger).
É certo que este O Vingador do Futuro é menos cerebral do que Blade Runner, o Caçador de Androides - também uma adaptação de uma obra do escritor Philip K. Dick -, mas é bem mais divertido e instigante que o filme estrelado por Harrison Ford. Dirigido por Paul Verhoeven (Tropas Estelares), que vinha do sucesso de Robocop, o Policial do Futuro e estrelado por Arnold Schwarzenegger (O Sobrevivente), no auge de sua carreira, esta primeira adaptação do conto Can Remember It For You Wholesale continua relevante e eficiente até hoje, vencendo - na medida do possível - a barreira do tempo, aspecto este raríssimo para filmes de ficção-científica, que tendem a ficar datados com o passar dos anos.

Feito em grande parte com efeitos práticos, o que confere uma credibilidade maior ao filme quando visto hoje - é mais do que claro que efeitos "reais" perduram por mais tempo do que os realizados por computação gráfica -, o filme apresenta uma história de paranoia e conflito social ambientada no futuro, onde acompanhamos a busca de identidade do personagem de Schwarzenegger, Douglas Quaid, enquanto nos é mostrado que a humanidade hoje também habita o planeta Marte e de lá extrai um minério importante para a economia terrestre, mas ao custo de muita miséria e "efeitos colaterais" àqueles que residem e trabalham no planeta vermelho. Geralmente qualificado como filme de ação, O Vingador do Futuro é muito mais que isso, pois a problemática apresentada é o fio de sustentação principal da trama recheada de espionagem e perseguições por que passa Quaid.

É notório que este é um filme de Paul Verhoeven desde a primeira cena, quando acompanhamos um pesadelo de Douglas Quaid, visto que todo o apelo visual do diretor nos é mostrado já ali. Verhoeven também se mostra bem a vontade com a exposição de cenas violentíssimas, mas que não deixam de mostrar-se coerentes com a proposta do filme. É interessante notar que enquanto nesta primeira versão de O Vingador do Futuro não há pudor em se mostrar cenas de alta violência ou estabelecer alusões a sexualidade, no remake lançado este ano há uma excessiva esterilização nesse sentido, o que acaba não deixa de ser contraditório, pois será que não progredimos no que se refere ao extinção do pudor e a maior abertura para a livre exploração artística durante estes 22 anos que separam uma produção da outra? Creio que não.

No âmbito técnico, apesar da tecnologia de alta definição não ter feito bem ao filme, o mesmo continua eficiente na medida do possível. Como dito, o filme foi feito ainda numa era pé-CGI (computação gráfica), sendo assim, apesar de grande parte dos efeitos especiais e de maquiagem serem tangíveis aos olhos (mérito dos envolvidas nestas áreas), a realidade proposta por alguns já apresentam certa fragilidade, contudo para o aficionado por cinema isso será irrelevante, pois os elementos do filme funcionam bem e ajudam a coerência narrativa deste. E, mais do que a realidade dos efeitos, o que mais se destaca é a composição das cenas em que eles aparecem, que tornaram-se antológicas, desde os efeitos de maquiagem e prostéticos das pessoas expostas ao ar rarefeito de Marte ao disfarce de Douglas Quaid em uma cena chave do filme. Enfim, a elaboração e execução das cenas transcendem a realidade - em comparação a tecnologia atual - sugerida pela mesma.

A trilha sonora composta pelo saudoso maestro Jerry Goldsmith (Jornada nas Estrelas, O Filme) pontua muito bem os climas do filme, mas em alguns momentos acaba lembrando demais a trilha original do filme Conan, o Bárbaro, que foi composta por Basil Poledouris. Por coincidência estes nomes não são estranhos a Scharzenegger  e Verhoeven, visto que enquanto este trabalhou com Poledouris na trilha do filme Robocop, aquele estrelou o filme Conan, o Bárbaro. Quanto ao elenco, além de Schwarzenegger, podemos destacar a participação do Jack Nicholson genérico e figura carimbada como vilão em filmes do final da década de 1980 e início de 1990,  Michael Ironside (O Exterminador do Futuro: A Salvação), a ótima presença da até então desconhecida Sharon Stone (que retomaria a parceria com Verhoeven estrelando o filme Instinto Selvagem) e o cantor e guitarrisra Ronny Cox (Um Tira da Pesada), como o poderoso Coohagen.

Voltando ao conteúdo do filme, além dos temas que lidam com economia x sociedade e de uma certa demonização quanto ao futuro da humanidade, destaca-se também a discussão acerca de identidade, com elementos de significados e significantes, mas principalmente com a disposição de temas que refletem o trabalho Simulacros e Simulação, de Jean Baudrillard, antecipando alguns dos questionamentos que seriam futuramente explicitados em filmes como Matrix, por exemplo. Tá aí um dos por quês da versão 2012 de O Vingador do Futuro ser, no que se refere a sua mensagem e conteúdo, inferior a versão de Paul Verhoeven.

Dono de uma trama intricada, com um senso de humor negro e um tom de negativismo acerca da índole do ser-humano, além de ter um ótimo protagonista - apesar deste ser vivido por Arnold Schwarzenegger, que se sai "bem" simplesmente por seu grande carisma -, O Vingador do Futuro é um filme de ação eficiente, que provavelmente surpreenderá aqueles que nunca o assistiram e que traz elementos de saudosismo e adrenalina para os que já o viram que são raras de se encontrar nas produções pasteurizadas do gênero que aportam os cinemas hoje em dia. Na verdade O Vingador do Futuro é uma viagem inesperada por um universo distinto, recheada de capangas incompetentes, questionamentos sociais, procura por identidade e frases de efeito destiladas por Schwarza, e que provavelmente será muito apreciado por quem gosta do gênero. No final das contas, continua bem superior ao remake, mesmo que este tenha um aparato de efeitos visuais estupidamente melhores, mas como sabido por todos, o que importa mesmo é o conteúdo e neste sentido a versão de 1990 é inquestionavelmente melhor.

AVALIAÇÃO:
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

Filmes de PAUL VERHOEVEN já comentados:

18 agosto, 2012

O Vingador do Futuro (Total Recall, EUA, 2012).

"O que é real?" (Citação contida no cartaz oficial do filme).
Antes de mais nada duas coisas devem ser ditas. Primeiro, esta versão de O Vingador do Futuro dirigida por Len Wiseman (Anjos da Noite - Underworld) não supera a de Paul Verhoeven (Tropas Estelares), lançada em 1990. Em segundo lugar, apesar de inferior, a nova versão não é um filme tão horrível como pontua a maior parte da crítica. Sendo assim, é válido afirmar que este longa funciona como entretenimento, tem bom ritmo e conta com um protagonista carismático e com potencial de convencer o espectador de suas habilidades. No entanto, no quesito conteúdo, realmente o filme deixa a desejar, tendo um pano de fundo crítico bem insosso e um tanto mal executado.

O visual futurista de O Vingador do Futuro 2012 é deslumbrante, tanto no que tange a sua execução quanto a sua concepção. Porém, é triste constatar que quanto a esta segunda característica Wiseman não conseguiu imprimir uma identidade distinta, mesmo que referenciando outras obras, visto que aqui ele e o design de produção Patrick Tatopoulos (Duro de Matar 4.0) praticamente chuparam e atualizaram o visual de Blade Runner, o Caçador de Androides somado a óbvias referências visuais a Minority Report, a Nova Lei e a Eu, Robô, este último que coincidentemente conta com Tatopoulos como design. É óbvio que a criação de um universo sem referência alguma é praticamente impossível, mas isso não justifica a "preguiça" dos realizadores em pelo menos tentar apresentar uma variação ou um olhar distinto do visual dos filmes a pouco citados. O design e os efeitos visuais são inquestionavelmente bons no âmbito técnico, mas como suporte narrativo acabam prejudicados por esta falta de criatividade citada. Outro aspecto que gera um misto de sentimentos está na trilha sonora composta por Harry Gregson-Williams (Número 23), que cumpre seu papel de alimentar sensações de tensão e suspense quando aparece com mais força durante determinadas sequências-chave, entretanto à similaridade dos temas para com trabalhos recentes de Hans Zimmer, em especial em trabalhos como A Origem e Batman, o Cavaleiro das Trevas, acaba incomodando um pouco, acabando por coroar este filme como uma colagem de referências a outras produções no limite do plágio descarado. 

No quesito elenco tem-se um misto de bons e maus momentos. Se por um lado Colin Farrell (Caminho da Liberdade) convence ao apresentar sua versão futurista de Jason Bourne, além de se afastar com competência da versão inesquecível de Arnold Schwarzenegger (O Sobrevivente) no filme original e Jessica Biel (O Massacre da Serra Elétrica) apresenta-se disposta e atlética como sempre, temos uma exagerada e caricatural performance de Kate Beckinsale (O Aviador) como a algoz de Douglas Quaid (personagem de Farrell), que chega a incomodar tamanhas suas caras e bocas, além de protagonizar as sequências mais absurdas(no mal sentido) de todo o filme, inclusive seu último ato no filme, pavoroso. Outro que infelizmente decepciona e parece não muito a vontade no papel é Bryan Cranston (Drive), ator conhecido por protagonizar a premiada série de TV Breaking Bad, que aqui encarna o grande vilão do filme, só que de maneira aborrecida e um tanto vazia. Ou seja, tanto a construção dos personagens do filme quanto a performance do elenco acaba dividida entre bom e ruim, o que acaba prejudicando o equilíbrio do filme como um todo.

Contudo, mesmo com a falta de identidade visual própria e dos problemas no que se refere a caracterização de alguns dos personagens principais, a maior decepção deste O Vingador do Futuro está na falta de ambição no sentido das ideias empregadas pelo roteiro. Adaptado do conto We Can Remember It For You Wholesale, do cultuado escritor Philip K. Dick (também autor dos contos que originaram os filmes Blade Runner e Minority Report, dentre outros), conhecido por pontuar temas regados de pessimismo e deslumbres visuais quanto ao futuro da humanidade, além do negativismo quanto à política (o ser humano, ator político como um todo), esta versão assinada por Kurt Wimmer (Salt) e Mark Bomback (Incontrolável) acaba por não respeitar este elemento essencial na obra do autor, não retirando por completo o contexto crítico e político da obra ao filme, mas o diluindo de forma a deixá-lo tolo e algumas vezes incoerente (a cobertura midiática nada crítica apresentada no filme - parece que não há apuração das notícias por parte dos jornalistas - e a motivação e o desfecho do arco do personagem de Bryan Cranston são as maiores provas disso).

Apesar das duras críticas estabelecidas ao filme nos parágrafos acima, volto ao ponto inicial onde destaco que O Vingador do Futuro 2012, mesmo com estas falhas conceituais, não é um filme ruim. Pelo contrário,  é divertido e energético do início ao fim, dono de um punhado de ótimas sequências de ação - mesmo que a abordagem visual do diretor Len Wiseman e do diretor de fotografia Paul Cameron (Colateral) não me agradem muito, em especial pela edição muito rápida dos ângulos mostrados, algo à lá Michael Bay - e de um protagonista que realmente desperta interesse e curiosidade ao espectador, visto que suas ações e reações criam conexões de empatia quase que imediata ao espectador. Em suma, apesar de, devidas proporções, não superar o longa original e não apresentar a acidez e profundidade da obra de Dick, O Vingador do Futuro é um passatempo eficiente, não muito distante de outros produtos bobinhos que surgem pontualmente nos cinemas, mas que entretêm no limite da razão, sem ofender demais as nossas mentes. Para mim, vale especialmente por ter um estilo - tanto de abordagem quanto de cenas de ação - da franquia de filmes do agente desmemoriado Jason Bourne, só que num ambiente parecido com o do filme Eu, Robô, estrelado por Will Smith. Um filme despretensioso e esquecível, mas divertido e nada mais.

AVALIAÇÃO:   
TRAILER:  


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

29 junho, 2012

Blade Runner, o Caçador de Andróides (Blade Runner, EUA, 1982).

"Eu vi coisas que vocês nunca entenderiam. Naves de ataques em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro, na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva. Hora de morrer". (Frase emblemática de Roy Batty, personagem interpretado por Rutger Hauer).
Filme policial de clima noir futurista, Blade Runner é uma das ficções-científicas mais adoradas do cinema. Adaptado do romance Do the Androids Dream of Eletric Sheep, de Philip K. Dick, por Hampton Fancher (O Mistério das Caraíbas) e David Peoples (Os Imperdoáveis), este filme foi marcado por diversos insucessos (fracasso nas bilheterias e má recepção da crítica na época de lançamento, alterações na montagem final pelos produtores - de 1982 até hoje, o filme passou por pelo menos três montagens distintas -, brigas entre elenco e diretor), mas pouco a pouco foi obtendo destaque, até alcançar o patamar de cult movie, sendo hoje considerado por muitos como umas das maiores obras de ficção-científica da história do cinema e talvez o melhor trabalho do inglês Ridley Scott (Prometheus) como diretor.

Apesar do início anti-climático, que lembra bastante o clima do filme neo-noir Chinatown, de Roman Polanski, Blade Runner vai ganhando ritmo compassadamente, até entrar em aceleramento lá pela primeira hora de projeção, quando o filme avança carregado de tensão e medo, em especial graças a excelente atuação do holandês Rutger Hauer (A Morte Pede Carona), que entrega aqui sua interpretação mais icônica e a trilha-sonora assinada pelo compositor grego Vangelis (Carruagens de Fogo), que cria o clima perfeito para a ação em desenvolvimento com seus sons sintetizados e inorgânicos.

Estrelado pelo recém-lançado a fama Harrison Ford (Os Caçadores da Arca Perdida) e contando também com performances emblemáticas de até então novos rostos (que posteriormente ficariam apenas nisso) como Daryl Hannah (Kill Bill Vol. 1) e Sean Young (Sem Saída), o filme dirigido por Ridley Scott arrisca e entrega um enredo carregado de elementos filosóficos existencialistas, através do subterfúgio de um androide em busca de sobrevivência, num futuro recente (2019, coincidentemente o mesmo ano de outro filme comentado neste blog, O Sobrevivente, que infelizmente é infinitamente - tanto esteticamente, quanto em conteúdo - inferior ao filme aqui destacado) onde tais "seres" tem prazo de validade curtíssimo, com a única serventia de realizar trabalhos de curta duração aos seres humanos. Repleto de mensagens complexas, que aparecem mais como sugestões que que explicitamente, Blade Runner continua impecável até hoje, apesar do futuro exposto provavelmente não ter relação alguma com nossa realidade daqui há cerca de 7 anos.

Se no campo das ideias o filme permanece fresco e interessante, com muitas possibilidades de debates e, principalmente, de interpretações, no campo estético o filme perde um pouco, até por que muitas das previsões visuais pregadas pelo filme não se concretizaram, trazendo este uma carga mais próxima à época de seu lançamento, ou seja, o estilo visual carregado e "sintetizado" da década de 1980, do que da vigente. No entanto, observando um escopo maior, este não desagrada o olhar ou atrapalha a narrativa do filme, na verdade este certo afastamento para com nossos dias acabam fortalecendo-o, dando a este um caráter mais misterioso e idílico, que casa perfeitamente aos temas de Vangelis, outro aspecto fortemente relacionado a década de 1980 arraigado ao filme.

Lançado numa época de criatividade ímpar para o cinema de ficção-científica, onde tivemos o nascimento ou fortalecimento do cinema promovido por caras como Steven Spielberg, George Lucas, James CameronRobert Zemeckis e do próprio Ridley Scott, Blade Runner talvez seja a maior referência da época, com seu estilo temático e visual próprio, sua abordagem distinta e seu clima particular, permanecendo estudado e reverenciado pelos entusiastas da sétima arte e descoberto pelas novas gerações, fato mais do que comprovado com o recente interesse de produzir uma sequência para o filme, como pelas grandes produções do gênero que galgaram também um status de cult nos últimos anos, como Matrix, claramente influenciado - propositalmente ou não - pelo filme de Scott, Ford, Hauer, Vangelis, Hampton, Peoples e cia. 

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Obs.: A versão conferida para avaliação foi a definitiva de 25 anos, lançada em DVD em 2007. Por enquanto, esta é a atestada como mais próxima ao que Ridley Scott pretendia quando filmava a produção, de acordo com as palavras do próprio, em depoimento exibido antes do início da projeção do filme.

AVALIAÇÃO:
Trailer: 


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo