27 abril, 2012

Tropas Estelares (Starship Troopers, EUA, 1997).


Já se passaram  duas décadas e meia desde que o visionário cineasta holandês Paul Verhoeven (Robocop, o Policial do Futuro, Instinto Selvagem) entregou seu último filme evento, um blockbuster de raiz – O Homem Sem Sombra, de 2000, apesar de comercial está longe de apresentar a grandiosidade até então recorrente nas produções do holandês – , dono de quase todos os elementos que marcaram seus filmes hollywoodianos. Tropas Estelares tem a cara do seu realizador. Está nele a ironia, o pessimismo, o sarcasmo, o futuro recente distópico, a crítica midiática, o exagero artístico e, principalmente, as altas doses de violência estilizadas que são marcas de Verhoeven. Entretanto, apesar dos elementos estarem dispostos, isso não faz de Tropas Estelares um grande filme. Pelo contrário, talvez a reunião da marca do cineasta com um orçamento gigantesco tenha feito mal a produção, que tem poucas cenas realmente marcantes e, mais do que isso, pouco carisma. Ou seja, apesar de hiperbólico e visualmente estupendo – principalmente para a época -, o filme resulta num produto apático e sem grandes atrativos, além de pouca ou nenhuma inovação (ou evolução) na estética do diretor.

Na verdade, o filme só engata mesmo após a primeira hora de projeção, quando as tropas do título finalmente entram em combate com os insetos alienígenas, visto que sobra pouco espaço para o texto em si e sobra para as cenas de ação, que apesar de não serem espetaculares, são o que dão refresco e interesse ao filme. Utilizando uma óbvia metáfora ao pensamento militarista do homem, onde a invasão e a antecipação de conflitos (te ataco antes que você decida me atacar) é razão de ser, além da manipulação midiática com relação a patriotismo e engajamento nacionalista, e a própria inexperiência da juventude, com sua sede muitas vezes irracionais como tentativa de provar sua capacidade perante os “adultos”, o filme tenta correlacionar tais aspectos num caótico futuro alternativo, onde o planeta Terra encontra-se em constante conflito com um planeta alienígena.

No entanto, apesar das qualidades poéticas, o desenvolvimento por parte de Verhoeven e, principalmente, pelo roteirista Edward Neumeier (que trabalhou com holandês anteriormente no primeiro Robocop) beira ao banal. Muitas vezes tola, a linguagem optada por este exagera no tom cartunesco e sarcástico, transformando algo que deveria e tinha o potencial de ser irônico numa galhofada sem limites. O elenco também não ajuda, visto que talvez este seja o pior de toda a carreira de Verhoeven – onde nomes como Casper Van Dien (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) e Denise Richards (Garotas Selvagens) atuam? – porém, como não acredito que o cineasta tenha acreditado na qualidade deste, creio que a escolha tenha sido proposital, na tentativa de ambientar melhor a trama no intuito de estabelecer um misto de filme de ficção-científica B (como as dos anos 1950) com a já conhecida mensagem crítica antibelicista e violentíssima do holandês. Infelizmente, não deu certo, causando ao filme mais mal do que o previsto.

Por outro lado, apesar de no geral ser um desastre na pretensão de tornar-se um grande filme do gênero, Tropas Estelares galgou o status de obra cult, muito pela pegada visceral de Paul Verhoeven como realizador, tanto que além de gerar algumas seqüências lançadas diretamente em home-video, o original é bastante cultuado pelo público nerd, além de muitos o considerarem um dos melhores filmes do cineasta, opinião esta que com certeza discordo.

Enfim, Tropas Estelares não é um filme ruim, contudo também não é uma grande obra. Sua pretensão de entretenimento inteligente acabou dando errado e, por diversos motivos (alguns já apresentados aqui) acaba soando mais como um entretenimento bem intencionado mais muito tolo do que como uma grande referência de uma geração. Para finzalizar, devo fazer um recorte que envolve uma questão distante do conteúdo e que também não fez bem ao filme, principalmente com o passar dos anos, que é o quesito estético. Não só os efeitos visuais envelheceram (apesar de uma outra produção lançada no mesmo ano, Titanic, continuar praticamente “perfeito” até hoje), como a concepção visual, no que se refere aos figurinos e ao design do filme em geral, soam muito ultrapassados - mais até do que o de outro filme do cineasta, O Vingador do Futuro (Total Recall), de 1990 -, mais um ponto negativo para a imersão do espectador no mundo apresentado pelo filme. A título de comparação, sem avaliar a questão técnica e orçamentária (até por que a mesma não cabe), o design futurista dos militares e dos veículos de Avatar, de James Cameron (também diretor de Titanic), soam muito mais críveis e apoiados numa lógica funcional do que os de Tropas Estelares, que além de parecerem extremamente artificiais e não operacionais como instrumentos de guerra, após estes 15 anos desde seu lançamento, estão cada vez mais longe do que imaginamos existirá num futuro próximo.

* Texto originalmente publicado no blog Teia Pop.

AVALIAÇÃO:
Trailer:


Mais informações:

Tropas Estelares (Starship Troopers)
Bilheteria: Box Office Mojo

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