29 abril, 2012

Trono Manchado de Sangue (Kumonosu-jō, JAP, 1957).


"Olhe este lugar desolado
Onde existiu um castelo majestoso
Cujo destino caiu na rede da luxúria e do poder
Onde vivia um guerreiro forte na luta
Mas fraco diante de sua mulher
Que o induziu a chegar ao trono
Com traição e derramamento de sangue
O caminho do mal é o caminho da perdição
E seu rumo nunca muda"
(Canção que introduz e fecha o filme).

Apesar da péssima qualidade de imagem e som da edição do filme que conferi (versão em DVD da Continental Filmes), Trono Manchado de Sangue (a tradução literal do título original Kumonosu-jô, seria Castelo Teia de Aranha, referência crucial para o objetivo do filme), uma obra-prima de Akira Kurosawa (Rashomon), pôde ser apreciada e absorvida com plenitude. Adaptação livre de Macbeth, de William Shakespeare, para o Japão feudal, este filme é um verdadeiro tratado acerca da ambição e ganancia humana, da capacidade do ser-humano de partir ao encontro do mal, de sua fragilidade ao ser manipulado principalmente por aqueles a que mais confia.

Mais uma vez trabalhando com o carismático Toshirô Mifune (Os Sete Samurais), Kurosawa desconstrói a poética de Shakespeare em um filme de ação dramático, repleto de simbolismos presentes na cultura japonesa, mesclando o lúdico com o real, no intuito de contar a trajetória de um homem que, sob a influência do sentimento de ambição da esposa, comete atos de desespero e violência até chegar ao trono, mas  não o sustenta por muito tempo, sucumbindo à loucura antes do seu destino trágico. Quando destaco que o cineasta desconstrói Macbeth, não quero dizer que a obra é transformada, mas sim que toda a complexidade daquele é totalmente captada nesta versão de Kurosawa, ou seja, o cineasta desconstrói visando reconstruir, e consegue este feito com primor.

Indicado ao Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza, Trono Manchado de Sangue não arrematou nenhuma grande premiação, mas pode ser considerado como um dos mais complexos e elaborados filmes de Kurosawa, além de ser tido pelo crítico literário Harald Bloom como a melhor adaptação cinematográfica de Macbeth até hoje. Eis aí mais um marco na carreira do até hoje considerado mais importante cineasta japonês. E este ainda é o terceiro filme de sua vasta filmografia que tive o prazer de conferir.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais informações:

Trono Manchado de Sangue (Kumonosu-jô)
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