26 abril, 2012

Rashomon (JAP, 1950).


"É por serem fracos que os homens mentem até mesmo para eles". (personagem de Machiko Kiô).

Dá até tristeza pensar que este é apenas o segundo filme que confiro de Akira Kurosawa (o outro foi Os Sete Samurais), visto a qualidade visual, narrativa e de conteúdo destas duas obras do cineasta japonês. Referência no quesito de mostrar uma mesma história sobre mais de um ponto de vista (no caso deste filme, pelo menos três), Rashomon é na verdade mais um trabalho do cineasta que discute a essência do ser-humano, suas particularidades, suas incompletudes e subjetividades, tudo isso elencado sob o ponto de vista da moralidade, reunindo aqui personagens aparentemente sem conflitos, espectadores de um enredo alheio, mas que na verdade acabam se mostrando mais mais conflituosos do que o próprio conflito proposto pela trama. Realmente o trabalho de Kurosawa é complexo, entretanto, quase tudo é mostrado através de signos, de mensagens subliminares, sub-textos numa trama que em essência é simples, sem grande arroubo ou complexidade narrativa, até por que o que se destaca neste filme pela complexidade é o quesito técnico, de montagem dos diversos pontos de vista e do posicionamento de câmera, um tanto quanto "voyeurístico", que guia o espectador aos diversos olhares apresentados pelo longa.

Relativamente curto (cerca de 90 minutos) e com um sentimento de tensão crescente, Rashomon tem a qualidade de passar num piscar de olhos, tanto pelo interesse despertado ao espectador (qualidade narrativa), quanto ao vai e vem da história, que de certa forma auxilia na manutenção deste interesse. Distante do cinema feito hoje, mas ainda referência à diversos novos e velhos cineastas, este grande vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza é óbvio pré-requisito para qualquer um que admira cinema - como talvez todos os filmes de Kurosawa -, pois apesar do pouco orçamento (aparentemente) do filme e do enredo composto mais por metáforas do que por trama em si, Rashomon é um filmaço em todos os sentidos, daqueles que em cada nova visita mais elementos são descobertos, além de ser um filme único, daqueles que inspiram e inspirarão diversos outros, mas que certamente nunca serão superados.

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Destaque especial para a interpretação do ator Toshirô Mifune, como o bandido Tajômaru, que o compõe com camadas de exagero e comicidade, mas também com humanidade e medo. Um grande trabalho do companheiro quase que constante de Akira Kurosawa.

AVALIAÇÃO
TRAILER


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Rashomon
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