27 abril, 2012

O Preço do Amanhã (In Time, EUA, 2011).


"Ninguém é culpado pelas condições em que nasce". (Will Salas, personagem de Justin Timberlake).
O maior problema de O Preço do Amanhã é sua ambição, já que ela nunca é justificada durante toda a projeção do filme. Dono de um tema interessante e de um início promissor, pouco a pouco a trama do filme vai se perdendo, principalmente pela inconsistência em termos de credibilidade dos eventos e pela falta de foco do filme em si: seria um thriller, um drama, um romance ou uma aventura? Este carrossel de gêneros acabam por diminuir a obra, que de aparentemente complexa torna-se não mais do que uma aventura divertida e bem filmada, mas com um senso de discussão vazio. Enfim, o que provavelmente fica na cabeça ao término do filme é: mas do que se trata mesmo filme?

Admiro muito o trabalho de Andrew Niccol, tanto apenas como roteirista (O Show de Truman) quanto como roteirista e diretor (Gattaca, O Senhor das Armas), pelo fato deste ser criativo e contundente em suas histórias, quase todas construídas com um realismo palpável, não em busca de passar mensagens negativas, mas simplesmente construir e apresentar histórias mais próximas a vida comum, mesmo que através do método metafórico, visto que Niccol "sempre" se sai melhor quando "cria" possíveis realidades futurísticas. Entretanto, este sempre realmente realmente é frágil, já que o cineasta errou bastante em O Preço do Amanhã.

Com um currículo tão bacana e ideias interessantes, é uma pena constatar o fiasco que este filmou acabou se tornando. De uma premissa inteligente acabou por se tornar num filme bobo, com cara de inteligente mas que na realidade não quer dizer nada. A estética dos relógios que marcam quanto tempo de vida os homens possuem é bacana, a química entre os protagonistas Justin Timberlake (A Rede Social) e Amanda Seyfried (Mamma Mia!) funciona - apesar do desenvolvimento tolo que os une e, principalmente, os mantém unidos -, mesmo que particularmente não goste do trabalho desta como atriz. Entretanto, no que se refere ao elenco, quem realmente ganha destaque é Cilliam Murphy (Extermínio), que mesmo conduzindo um personagem menor - e sem tanta profundidade -, entrega uma performance forte e viril, dando uma segunda dimensão ao vilão que interpreta.

Como ponto positivo, devo destacar o quesito estético. Apesar de nada inventivo, a opção por deixar a concepção visual do futuro apresentado pelo filme mais próxima a dos nossos dias faz contribui para que o espectador compre mais fácil a realidade do futuro apresentado. Sendo assim, nada de carros voadores ou armas lasers na concepção de Niccol. De certa maneira, o design de produção lembra bastante o de Gattaca, primeiro filme deste como diretor (talvez o trabalho mais interessante de sua carreira) e o recente Os Agentes do Destino, de George Nolfi (filme baseado num conto de Philip K. Dick). Afora a ambientação, destacaria também a trilha sonora assinada por Craig Armstrong (Ray), que pontua bem o clima de urgência da trama. 

Como afirmado, O Preço do Amanhã torna-se pior pelo fato de conhecer quem está por trás do seu desenvolvimento. O filme não foi concebido para ter como foco um romance entre classes sociais distintas, muito menos para discutir as injustiças obtidas pelo sistema que segrega os homens e apresenta oportunidades distintas aos mesmos (ora bolas, o sistema econômico capitalista), mas sim para apresentar qual seria o próximo passo deste mesmo sistema quando a tecnologia evoluir ao ponto de, ao invés de papel representar os recursos e patrimônios de cada um, o tempo seria a única moeda capaz de mover a economia (leia-se: sociedade). Infelizmente, esta premissa foi engolida por Niccol pouco tempo após o início do filme, de uma forma que poderia ser definida como suicídio conceitual.

AVALIAÇÃO
TRAILER


Mais informações:

O Preço do Amanhã (In Time)
Bilheteria: Box Office Mojo

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