15 agosto, 2012

Número 23 (The Number 23, EUA, 2007).


Filmes que lidam com paranoia e simbolismos não precisam necessariamente serem apoiados em verdades absolutas, até por que o grande barato deles é o fato de mexerem com a imaginação dos espectadores, entretanto a sensação de realidade deve ser eficaz do início ao fim, eis então o ponto que fragiliza Número 23, pois a irregularidade desta ilusão de realidade da fantasiosa trama acana por auto-sabotar os méritos do filme.

Em resumo a trama recheada de coincidências, caos e numerologia do filme é interessante, em especial por ser complementada pelo ótimo trabalho de fotografia de Matthew Libatique (Fonte da Vida), que compõe os momentos da história dentro da história do filme com identidade própria, utilizando muito o contraste entre luz e escuridão, a depender do clima da cena. Libatique, juntamente ao figurinista Daniel Orlandi (O Código Da Vinci), compõem um clima noir muito bacana nestes momentos, principalmente ao apresentar os personagens Fingerling (Jim Carrey, de O Show de Truman) e Fabrizia (Virginia Madsen, de Sideways, Entre umas e Outras). A direção de arte - por Jon Billington e David Sandefur - também surge interessante, mesmo que fortemente apoiada nos efeitos visuais, no sentido de climatizar o suspense do filme.

No entanto, apesar do cuidado técnico dado a produção, o filme dirigido pelo veterano Joel Schumacher (Um Dia de Fúria) acaba fragilizado pelo festival de revelações apresentadas em sua meia-hora final, que surge tão desapegado ao aspecto psicológico - mesmo que sem muito sentido lógico - crescente do filme que acaba por estragar o clima de tensão proposta até então e, por conseguinte, clarear as fragilidades da trama acerca do tal número 23 não sacadas anteriormente. Talvez o maior culpado dessa auto-sabotagem conceitual seja o próprio autor da história, Fernley Phillips, que ao resolver os problemas expostos pela paranoia (e traumas) do personagem de Carrey pelo número de maneira a deixar em segundo plano as conotações psicológicas inseridas nele, resolvendo tudo através do simples ato de boa vontade do personagem é risível, visto que isto acaba por desmerecer tudo aquilo que vinha sido construído desde então. Enfim, mistério por mistério, sem sustentação e, principalmente, sem fundamento lógico - não realidade, veja bem - é como uma construção sem bom alicerce, não se sustenta por muito tempo.

Dono de uma boa premissa, de um clima interessante, um visual imersivo e uma direção competente, Número 23 é fragilizado pela ambição e pela fragilidade de seu desfecho, incoerente com o apresentado durante o filme até então e aparentemente ainda muito influenciado pela onda pós O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan, onde todo filme de mistério e suspense deveria ter um final inusitado e arrebatador, entretanto faltou coerência e, principalmente, sapiência ao criativo mas ainda verde roteirista Fernley Phillps, que escorrega feio e conclui sua obra com muito desleixo. Na época muito criticado, não vejo o elenco do filme, em especial Jim Carrey e Virginia Madsen, como desperdiçados no filme, obviamente o primeiro não parece o nome ideal para interpretar um personagem deste tipo de filme, mas o mesmo não faz feio, apesar de um ou outro momento "engraçadinho" demais. 

Costumo dizer que não dá para taxar um filme de ruim apenas por que o final não foi aquilo que o espectador esperava, entretanto obviamente se este final, agradável ou não, tiver lógica em relação ao apresentado anteriormente pela trama do filme. No caso de Número 23, as "revelações" e o desfecho realmente apareceram para arruinar o filme, justamente por que forçaram em demasia o aspecto lógico imposto anteriormente pela trama. Uma lástima com uma ideia tão bacana.

AVALIAÇÃO:  
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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