23 agosto, 2012

Os Bons Companheiros (Goodfellas, EUA, 1990).

"No tanto que posso me recordar, eu acho que sempre quis ser um gangster!" (Henry Hill, personagem de Ray Liotta).
Quando vi Os Bons Companheiros pela primeira vez o tinha achado um bom filme, mas não espetacular. É incrível como uma nova investida pode não só mudar um ponto de vista, mas principalmente acrescentar positivamente àquela primeira. Foi o que aconteceu ao conferir este que é considerado pela crítica (e grande parte dos cinéfilos) como um dos melhores trabalhos da carreira de Martin Scorsese (Taxi Driver), que agora "me ganhou" como um dos que compartilham da mesma opinião. Como se fosse uma jornada do herói as avessas, este filme é a antítese perfeita da trilogia O Poderoso Chefão, mas que ao mesmo tempo complementa as informações transmitidas na saga da família Corleone, só que com o apelo visual e a vivência de Scorsese e a camada de "realidade" disposta pelo filme, adaptado de um livro de Nicholas Pileggi (também co-autor do roteiro do filme, ao lado de Scorsese), que por sinal é baseado em fatos reais. Refletindo hoje é realmente inconcebível que Scorsese não tenha ganho o Oscar de filme e direção por este trabalho, que é tecnicamente brilhante e conceitualmente impecável.

Praticamente um levantamento do crime organizado norte-americano da década de 1970, Os Bons Companheiros é narrado através dos olhos do personagem de Ray Liotta (Hannibal), Henry, figura que cresceu dentro do cerne da máfia italiana - mesmo tendo sangue irlandês -, apresentando sua ascensão no mundo do crime juntamente a Jimmy Conway (Robert De Niro, de O Poderoso Chefão Parte II) e Tommy DeVito (Joe Pesci, de Máquia Mortífera 2), de longe as figuras mais interessantes e complexas do filme. Apesar de contar com as presenças de Lorraine Bracco (Diário de um Adolescente), que por sinal foi indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro por esta performance, e do veterano Paul Sorvino (Dick Tracy), os grandes destaques no quesito atuação se encontra mesmono trio Liotta, De Niro e Pesci. Este último sagrou-se vencedor do Oscar e do Globo de Ouro, criando um personagem icônico do cinema moderno. De Niro dosa perfeitamente carisma e imprevisibilidade ao seu personagem, fazendo com que o espectador tenha tanto interesse por ele quanto repulsa em determinados momentos. Já Liotta constrói aqui o personagem de sua carreira, sujeito aparentemente honrado da trupe, mas que na verdade se mostra tão sujo quanto os demais, em especial no desfecho do longa. É interessante como a construção dos três "companheiros" são complementares, cada um compensando tanto os defeitos quanto as qualidade dos outros, através de uma ótima construção de roteiro a cargo de Pileggi e Scorsese.

Tecnicamente falando o filme é um assombro de bom. Design de produção (Kristi Zea), direção de arte (Maher Ahmad), figurino (Richard Bruno, vencedor do Oscar) e fotografia (Michael Ballhaus) impecáveis, que climatizam a trama perfeitamente e ajudam a antecipar importantes elementos de cena que serão aprofundados adiante conforme o caminhar da trama. Entretanto, mesmo com o apuro de todos estes, o grande destaque talvez recaia na fotografia, que contrasta entre tons avermelhados e mais claros, a depender do ambiente apresentado.

O que dizer do trabalho de direção de Martin Scorsese? Bastante amadurecido após mais de duas décadas por trás das câmeras, o diretor coroa aqui seu segundo auge como realizador, o primeiro se contarmos o mérito dos cabelos brancos, visto que se apropria da história do filme de uma forma que não como separar fatos reais, livro e Scorsese. A unidade que Os Bons Companheiros transmite e a cara tão particular remete imediatamente ao diretor. Para completar o arrojo do diretor, ainda foi dele a brilhante seleção de músicas que pontuam o filme de maneira quase mágica, antecipando o que seria "marca registrada" de outro cineasta afeito a temas carregados de violência, Quentin Tarantino

Uniforme do início ao fim, dono de performances deslumbrantes de Ray Liotta, Robert De Niro, Joe Pesci e Lorraine Bracco, profundo e reflexivo na medida certa, resgate de um passado/herança cultural não tão distante da nação norte-americana e um show de técnica e competência cinematográfica, Os Bons Companheiros é com certeza um filme muito maior do que as premiações que recebeu, por sua ousadia e tom épico, por ser conciso e completo, encontrando-se ao lado de filmes como Apocalypse Now, 2001, Uma Odisseia no Espaço e Cidadão Kane, dentre alguns outros que não me recordo no momento, que podem não ter sido agraciados com grandes prêmios em seus lançamentos, mas que superaram essa barreira e residem num patamar superior ao alcance de qualquer premiação, pois ser clássico já é título suficiente.

AVALIAÇÃO: 
TRAILER:   


Mais Informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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