18 agosto, 2012

O Vingador do Futuro (Total Recall, EUA, 2012).

"O que é real?" (Citação contida no cartaz oficial do filme).
Antes de mais nada duas coisas devem ser ditas. Primeiro, esta versão de O Vingador do Futuro dirigida por Len Wiseman (Anjos da Noite - Underworld) não supera a de Paul Verhoeven (Tropas Estelares), lançada em 1990. Em segundo lugar, apesar de inferior, a nova versão não é um filme tão horrível como pontua a maior parte da crítica. Sendo assim, é válido afirmar que este longa funciona como entretenimento, tem bom ritmo e conta com um protagonista carismático e com potencial de convencer o espectador de suas habilidades. No entanto, no quesito conteúdo, realmente o filme deixa a desejar, tendo um pano de fundo crítico bem insosso e um tanto mal executado.

O visual futurista de O Vingador do Futuro 2012 é deslumbrante, tanto no que tange a sua execução quanto a sua concepção. Porém, é triste constatar que quanto a esta segunda característica Wiseman não conseguiu imprimir uma identidade distinta, mesmo que referenciando outras obras, visto que aqui ele e o design de produção Patrick Tatopoulos (Duro de Matar 4.0) praticamente chuparam e atualizaram o visual de Blade Runner, o Caçador de Androides somado a óbvias referências visuais a Minority Report, a Nova Lei e a Eu, Robô, este último que coincidentemente conta com Tatopoulos como design. É óbvio que a criação de um universo sem referência alguma é praticamente impossível, mas isso não justifica a "preguiça" dos realizadores em pelo menos tentar apresentar uma variação ou um olhar distinto do visual dos filmes a pouco citados. O design e os efeitos visuais são inquestionavelmente bons no âmbito técnico, mas como suporte narrativo acabam prejudicados por esta falta de criatividade citada. Outro aspecto que gera um misto de sentimentos está na trilha sonora composta por Harry Gregson-Williams (Número 23), que cumpre seu papel de alimentar sensações de tensão e suspense quando aparece com mais força durante determinadas sequências-chave, entretanto à similaridade dos temas para com trabalhos recentes de Hans Zimmer, em especial em trabalhos como A Origem e Batman, o Cavaleiro das Trevas, acaba incomodando um pouco, acabando por coroar este filme como uma colagem de referências a outras produções no limite do plágio descarado. 

No quesito elenco tem-se um misto de bons e maus momentos. Se por um lado Colin Farrell (Caminho da Liberdade) convence ao apresentar sua versão futurista de Jason Bourne, além de se afastar com competência da versão inesquecível de Arnold Schwarzenegger (O Sobrevivente) no filme original e Jessica Biel (O Massacre da Serra Elétrica) apresenta-se disposta e atlética como sempre, temos uma exagerada e caricatural performance de Kate Beckinsale (O Aviador) como a algoz de Douglas Quaid (personagem de Farrell), que chega a incomodar tamanhas suas caras e bocas, além de protagonizar as sequências mais absurdas(no mal sentido) de todo o filme, inclusive seu último ato no filme, pavoroso. Outro que infelizmente decepciona e parece não muito a vontade no papel é Bryan Cranston (Drive), ator conhecido por protagonizar a premiada série de TV Breaking Bad, que aqui encarna o grande vilão do filme, só que de maneira aborrecida e um tanto vazia. Ou seja, tanto a construção dos personagens do filme quanto a performance do elenco acaba dividida entre bom e ruim, o que acaba prejudicando o equilíbrio do filme como um todo.

Contudo, mesmo com a falta de identidade visual própria e dos problemas no que se refere a caracterização de alguns dos personagens principais, a maior decepção deste O Vingador do Futuro está na falta de ambição no sentido das ideias empregadas pelo roteiro. Adaptado do conto We Can Remember It For You Wholesale, do cultuado escritor Philip K. Dick (também autor dos contos que originaram os filmes Blade Runner e Minority Report, dentre outros), conhecido por pontuar temas regados de pessimismo e deslumbres visuais quanto ao futuro da humanidade, além do negativismo quanto à política (o ser humano, ator político como um todo), esta versão assinada por Kurt Wimmer (Salt) e Mark Bomback (Incontrolável) acaba por não respeitar este elemento essencial na obra do autor, não retirando por completo o contexto crítico e político da obra ao filme, mas o diluindo de forma a deixá-lo tolo e algumas vezes incoerente (a cobertura midiática nada crítica apresentada no filme - parece que não há apuração das notícias por parte dos jornalistas - e a motivação e o desfecho do arco do personagem de Bryan Cranston são as maiores provas disso).

Apesar das duras críticas estabelecidas ao filme nos parágrafos acima, volto ao ponto inicial onde destaco que O Vingador do Futuro 2012, mesmo com estas falhas conceituais, não é um filme ruim. Pelo contrário,  é divertido e energético do início ao fim, dono de um punhado de ótimas sequências de ação - mesmo que a abordagem visual do diretor Len Wiseman e do diretor de fotografia Paul Cameron (Colateral) não me agradem muito, em especial pela edição muito rápida dos ângulos mostrados, algo à lá Michael Bay - e de um protagonista que realmente desperta interesse e curiosidade ao espectador, visto que suas ações e reações criam conexões de empatia quase que imediata ao espectador. Em suma, apesar de, devidas proporções, não superar o longa original e não apresentar a acidez e profundidade da obra de Dick, O Vingador do Futuro é um passatempo eficiente, não muito distante de outros produtos bobinhos que surgem pontualmente nos cinemas, mas que entretêm no limite da razão, sem ofender demais as nossas mentes. Para mim, vale especialmente por ter um estilo - tanto de abordagem quanto de cenas de ação - da franquia de filmes do agente desmemoriado Jason Bourne, só que num ambiente parecido com o do filme Eu, Robô, estrelado por Will Smith. Um filme despretensioso e esquecível, mas divertido e nada mais.

AVALIAÇÃO:   
TRAILER:  


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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