15 julho, 2012

Batman, o Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008).

"As pessoas são tão boas quanto o mundo as deixa ser".
"Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!".
"Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão".
(Três das diversas frases icônicas presentes em Batman, o Cavaleiro das Trevas). 
Surpreendente, requintado e reflexivo, Batman, o Cavaleiro das Trevas talvez seja o primeiro filme baseado em um personagem popular das histórias em quadrinhos que quebrou a barreira do convencional e mostrou uma nova abordagem a um gênero (filmes de heróis, de quadrinhos ou não, já é um gênero próprio) até então eficiente e divertido, mas formulaico e, digamos assim, não levado a "sério". Entretanto, ao filmar um filme policial com profundas camadas de elementos de ordem sociológica e psicológica, que "por acaso" traz um herói (Batman) como protagonista, o diretor e co-roteirista Christopher Nolan (Batman Begins) dá prosseguimento a vencedora interpretação do universo disposto no filme anterior e conduz o espectador a uma história repleta de elementos de interrogação acerca de moralidade, justiça, honra, ideais, loucura, medo, perda e dor, tudo isso por dois pontos de vista distintos (ordem e caos) que se confrontam o tempo todo, até serem amalgamados primorosamente num dos grandes momentos do filme, o diálogo "final" entre Batman (Christian Bale, de Os Indomáveis) e Coringa (o saudoso Heath Ledger, de O Segredo de Brokeback Mountain), este "indiretamente" o grande nome do longa.

Continuando a apostar no terrorismo como ameaça cabal à cidade de Gotham (cenário onde se passa a história), a discussão da segunda parte desta operística trilogia (a ser concluída) inclui o elemento do caos e do desapego com o personagem Coringa, que surge como um furacão rompendo paradigmas e brincando com a fragilidade dos principais elementos que perpassam pela cidade, dentre eles o promotor de justiça Harvey Dent (Aaron Eckhart, de Possessão), o agora tenente Gordon (Gary Oldman, de O Espião Que Sabia Demais), o prefeito (Nestor Carbonell, da série Lost), a promotora assistente Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal, de Donnie Darko - substituindo Katie Holmes, que não retornou ao papel) e até mesmo Bruce Wayne/Batman (Bale), construindo assim um elaborado e aparentemente desconexo plano caótico e destrutivo com o intuito de despertar a fúria deste e, principalmente, atestar "sua" teoria de que todo homem, por mais honrado e moral que seja, pode e deve ser corrompido.

Amplificando substancialmente a carga dramática já apresentada em Batman Begins, Christopher e seu irmão Jonathan Nolan (O Grande Truque) escrevem aqui um enredo muito mais apoiado em elementos de ordem subjetiva do que no filme predecessor, apresentando em sua versão do personagem Coringa o epicentro de todos os pontos de questionamentos que provocam reações distintas nos demais personagens do filme. Sendo assim, mesmo que não tenha tanto tempo de tela ou tenha um filme objetivamente direcionado a seu personagem, o grande destaque dessa máquina de ideais que é Batman, o Cavaleiro das Trevas é inquestionavelmente o Coringa de Heath Ledger, vencedor do Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante pelo papel (outro paradigma quebrado pelo filme), que recria um novo ícone para um personagem já icônico dos nossos dias, entregando um misto de loucura, ódio, desapego e interesse pouquíssimo visto em longas de quaisquer gêneros, ao mesmo tempo causando atração e repulsa, interesse e cansaço, inteligência e estupidez, tornando assim este personagem no alicerce de toda a trama do filme e sedimentando de vez a necessidade e a inevitabilidade da existência de um herói como Batman neste universo então caótico e paranoico em construção pelo imprevisível vilão.

Há espaço para questionamentos éticos e morais, para a promoção do medo, para a discussão da instabilidade humana e até mesmo para a mais do que óbvia constatação da pequenez do homem perante a aleatoriedade dos eventos que nos cercam, entretanto o que melhor resume esta obra sublime e divisora de águas do cinema moderno é a citada acima, onde acompanhamos a conversa final entre dois lados de uma mesma moeda, dois homens no limite de suas forças (físicas e mentais), mas que possuem plena convicção de seus atos e, com um simples jogo de câmera, onde acompanhamos um Coringa dependurado de um arranha-céus de cabeça para baixo pelo Batman, sendo pouco a pouco enquadrado de forma a ficar face a face com o herói - numa óbvia sacada de igualar os personagens, psicologicamente falando - é genial e espertíssima, resultando num desfecho exemplar a toda a destruição e desencontro provocados pelos embates entre o caos (Coringa) e a ordem (Batman).

É óbvio que existem diversos outros elementos que recheiam e dão sustentação a esta segunda parte da trilogia do Cavaleiro das Trevas, em especial o processo de transformação (física e, principalmente, mental) de Harvey Dent (numa excelente caracterização de Eckhart, pouco citado quando se fala do filme justamente pelo ofuscamento causado pela perfeita composição de Ledger) é crucial à trama, além da morte de um personagem importantíssimo ao núcleo do filme, contudo creio que seja melhor vivenciá-los pessoalmente ao assistir ao filme, até por que alguns são extremamente reveladores, enquanto outros pedem por uma interpretação pessoal, pela camada de subjetividade que carregam. 

Tecnicamente perfeito - o filme parece ter o tempo certo de ação, drama, tensão e medo -, de conteúdo forte e relevante, sem nunca deixar de prestar honra ao seu universo de origem ao apresentar elementos fantásticos (como os gadgets e, por que não, as ações do personagem título) apoiados ao máximo no senso de realidade possível e possuidor de uma trilha sonora musical espetacularmente carregada e única, funcionando quase como que um personagem a parte na trama (composta pelos mesmos responsáveis pela trilha do filme anterior, Hans Zimmer e James Newton Howard), Batman, o Cavaleiro das Trevas é um filme único e arrebatador, que encontra-se a parte tanto do gênero "filme de herói" quanto do drama policial comum, tendo caracterização e abordagem única, sendo considerado por muitos (inclusive este que vos escreve) incomparável, quiçá insuperável. Quanto a esta, Nolan e cia. terão a chance de bater ainda este mês, com a estreia do fechamento da franquia com a terceira parte Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Já quanto a categoria de incomparabilidade, não ponho a mão no fogo para a perda desta.

Um filme que consegue unir dois espectros aparentemente distintos que são ação pulsante e entretenimento  pop junto à doses cavalares de reflexão existencial e análise psicossociológica e, por que não, psicopatia e sociopatia a pulsar na tela, Batman, o Cavaleiro das Trevas sagra-se como mais do que uma boa adaptação de um personagem de histórias em quadrinhos, mais do que um entretenimento de verão e mais até do que um filme de excelência comprovada, alça o invejável posto de experiência cinematográfica, onde a cada viagem a este mundo podemos nos envolver novamente e descobrir e redescobrir elementos e conexões distintas àquelas percebidas e sentidas anteriormente. Um clássico imediato, como poucos conseguiram ser.

AVALIAÇÃO:
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Um filme completo com ação, medo, suspense, aventura e humor!!! Tão bom quanto o primeiro, segue, apesar da evolução da história, num mesmo patamar de qualidade e diversão!!

    Ansioso pelo retorno do Bat Man hahahaha!

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