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26 fevereiro, 2013

Busca Frenética (Frantic, EUA/FRA, 1988).


"Perigo. Desejo. Desespero". (Livre tradução da chamada disposta no cartaz do filme).
Vindo de um dos maiores fracassos de sua carreira, o filme Piratas, o polêmico cineasta polonês Roman Polanski decidiu investir numa obra de menor orçamento, com uma pegada hitchcockiana, recheada de tensão e mistério, além de marcar a volta da parceria entre Polanski e um estúdio norte-americano - Warner Bros. - na produção de um filme. Busca Frenética representa, de certa forma, um condensamento de todos os maneirismos e particularidades apresentados pelo cineasta em seus trabalhos anteriores, contudo apresentados de forma um pouco mais digerível e objetiva. 

Em Busca Frenética são revisitados temas como paranoia e desprendimento da realidade, porém de forma mais "pé no chão" do que em títulos como Repulsa ao Sexo, mas nem por isso menos interessante. Contando com uma performance bastante emocional e um tanto ponto profunda - para filmes do gênero - de Harrison Ford (Blade Runner - O Caçador de Androides), Polanski e Gérard Brach, seu co-roteirista habitual, constroem aqui um thriller eficiente e instigante, mas que assim como as obras dos anos 1950 e 1960 (especialmente as dirigidas por Alfred Hitchcock), é construído de forma lenta e gradual, tendo a apresentação das personagens (especialmente a de Ford e Betty Buckley, que interpreta sua esposa) grande importância à narrativa. 

Tecnicamente o filme é irretocável. Polanski sabe utilizar a câmera como ninguém e aqui acaba investindo bastante em ângulos que provocam sensação de claustrofobia e aflição ao espectador, pois este se vê como parte do dilema vivenciado por Richard Walker (Ford). A música assinada pelo gênio Ennio Morricone, apesar de não ser dona de um grande tema, serve bem ao filme, ajudando a compor tanto o clima de descontração dos primeiros vinte minutos de projeção, quanto o clima de suspense crescente com o desenvolver da trama. A fotografia do veterano Witold Sobocinski também merece aplausos, pois vai mudando gradativamente conforme o desespero do filme vai aumentando, tendo o filme começado destacando cores mais vivas e se desenvolvido através de cores frias e acinzentadas.

É válido destacar que o filme conta com a participação da atriz francesa Emmanuelle Seigner (Lua de Fel), que viria se tornar a senhora Polanski. É certo que a moça encontrava-se belíssima, mas no quesito atuação deixa bastante a desejar, sendo até risível suas "técnicas" e expressões em alguns momentos. A coisa fica ainda mais crítica quando ela está ao lado de Ford, que mesmo não sendo um ator muito versátil, surpreende bastante e entrega uma atuação primorosa (ainda mais em comparação a da pobre Seigner). Sinceramente, não resta dúvida que a escalação da beldade francese deveu-se apenas ao nepotismo de seu futuro esposo.

Mesmo sendo uma obra de cunho comercial, Busca Frenética não foi bem em arrecadação, o que acabou mais uma vez por afastar Roman Polanski das produções hollywoodianas. Contudo, mesmo que seja um filme mais referencial que autoral, Busca Frenética é uma obra muito bem montada, que desperta o interesse num ritmo crescente, culminando num desfecho energético e tenso, mesmo que um tanto implausível. Certamente não é uma das obras-referência de Polanski, mas possui vida própria e diverte bastante, além de abrir um breve espaço para a discussão política no finalzinho da guerra fria. É certo que esta não é uma obra espetacular como Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock, mas segue bem a cartilha deixada pelo mestre britânico. 

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06 janeiro, 2013

Repulsa ao Sexo (Repulsion, ING, 1965).

"O mundo de pesadelo dos sonhos de uma virgem torna-se em tela uma realidade chocante!" (Livre tradução do texto disposto no cartaz promocional do filme).
Segundo longa-metragem da carreira de Roman Polanski (A Morte e a Donzela), Repulsa ao Sexo apresenta muito da técnica particular do cineasta como realizador, que viria a ser considerado como um dos mais talentosos de sua época. Recheado de rimas visuais - a exemplo da abertura e do desfecho do filme ter como foco os olhos da personagem Carol (Catherine Deneuve, de Indochina) - e de pequenas homenagens a Hitchcock e Bergman, Repulsa ao Sexo é um thriller psicológico interessante e intrinsecamente visual, bastante apoiado na capacidade de expressão facial de sua protagonista e na abordagem "voyeurística" de Polanski, que constrói de forma calculada o ambiente de paranoia e esquizofrenia crescente da personagem.

Optando pela fotografia em branco e preto, o que confere maior dramaticidade ao filme, além de refletir diretamente à visão de mundo de Carol, Polanski e o cinematógrafo Gilbert Taylor (Frenesi) constroem de forma pontual  o clima de tensão do filme, que tem início no gradual processo de enlouquecimento da personagem, culminando no aparecimento de visões de cunho esquizofrênico e em ações não louváveis por parte da mesma. Apesar dos parcos recursos da época, é indiscutível a qualidade estética da obra, seja no campo puramente visual, seja em sua construção narrativa.

É certo que, afora a abordagem psicológica inerente ao filme, pouca coisa acontece em se tratando de desenvolvimento narrativo, até por que a desconfiança quanto a instabilidade da personagem de Deneuve é despertada desde os primeiros minutos de projeção, tanto pelo jeito no mínimo estranho da personagem se comportar, quanto principalmente pela revelação da foto que a mostra completamente deslocada do restante de sua família. Com isso, apesar de ter elementos suficientes para manter o interesse do espectador, Repulsa ao Sexo torna-se um filme arrastado, linear e sem grandes viradas dramáticas, bastante focado no estudo da personagem e de sua condição psicológica, resultando assim em um filme bastante particular e que pede bastante boa vontade e disposição do espectador ao conferi-lo, mas nem de longe é uma obra difícil ou indigesta.

Apesar de não ser em essência um filme de horror ou um suspense convencional, o filme traz alguns bons sustos, em grande parte derivados das visões esquizofrênicas de Carol. Este clima de sustos e tensão é amplificado pela trilha sonora de Chico Hamilton, que surge pontual à trama, mas a complementa com competência. A construção dos pesadelos também converge num dos elementos de destaque da obra, tanto em sua conceitualização - especialmente para a época, os efeitos especiais das rachaduras das paredes e as truncagens de câmera - quanto em sua execução. Sendo assim, a tríade composta pela interpretação de Catherine Deneuve, a fotografia de inspiração expressionista a cargo de Gilbert Taylor e a direção técnica e criativa de Roman Polanski se consagram como o grande diferencial do filme, até mesmo superior ao conceito e aos eventos que pontuam a trama do filme.

Muito se discute acerca da relação entre as tragédias vividas por Polanski e as experimentações e certa "negritude" de suas obras, e este seu primeiro trabalho em língua inglesa já insinua isso. Visualmente acachapante e repleto de metáforas visuais - rachaduras, apodrecimento do coelho e das batatas, olhar difuso etc. -, Repulsa ao Sexo tem a sexualidade como ponto de partida para a construção de um festival de enganos e ilusões, que não necessariamente têm o sexo como finalidade, mas sim como fio como fio condutor da paranoia apresentada, que é tratada tanto como distúrbio mental quanto - como a própria chamada do poster adianta - como a materialização dos pesadelos da personagem em vida. Repulsa ao Sexo provavelmente não é o melhor trabalho de Polanski - muito menos dos mais dinâmicos -, mas sem sombra de dúvidas é um dos mais influentes, esteticamente e estilisticamente falando. 

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Filmes de ROMAN POLANSKI comentados no CineMografia.
  • Adoro Cinema
  • Filmow
  • IMDb
  • Metacritic
  • Rotten Tomatoes
  • Wikipedia

09 dezembro, 2012

Roman Polanski: Procurado e Desejado (Roman Polanski: Wanted and Desired (EUA/ING, 2008).


"A verdade não se adequaria as manchetes" (Livre tradução da frase disposta no cartaz do filme).
Roman Polanski (Deus da Carnificina), além de exímio cineasta, é um homem problemático. Vítima do nazismo alemão (Polanski é judeu), onde perdeu os pais num campo de concentração e de uma fatalidade incomensurável - sua esposa, a atriz Sharon Tate, foi assassinada pelo grupo de Charles Manson -, o cineasta polonês tem uma trajetória marcada por tragédias e decepções, porém o recorte feito neste documentário assinado por Marina Zenovich é o do envolvimento sexual (e possivelmente consensual) do diretor com uma jovem de 13 anos, anos após o assassinato de sua esposa. Como não poderia deixar de ser, todo o processo judicial envolvendo este caso virou um verdadeiro espetáculo, culminando com a "fuga" do cineasta á França e a irresolução do referido.

A abordagem de Roman Polanski: Procurado e Desejado é bastante convencional, alternando entrevistas e depoimentos da época com comentários recentes de amigos, produtores, do advogado de defesa e do promotor a época, além da suposta vítima, hoje casada e mãe de três crianças. Independentemente da motivação e consecução do crime, é notório que (a depender da análise das personagens apresentadas neste documentário) que a bola de neve formada pela falta de compromisso do processo judicial quanto ao caso de abuso sexual é opinião comum aos depoentes, até mesmo da vítima e de seu advogado de defesa. Bastante informativo, é certo que a visão de Zenovich privilegia o cineasta - que em nenhum momento é ouvido, tendo sua imagem e voz apenas em registros de outras fontes -, mesmo que abra espaço para a exposição da outra parte.

É difícil não fazer juízo de valor quanto ao ato cometido por Roman Polanski, mas é inegável que o mesmo   carrega o álibi vitalício da tragédia em sua pele e que, à época, acabou por ser vítima da própria aura trágica, sendo transformado em pária pela mídia e pela sempre tão correta sociedade norte-americana, num processo judicial torpe e direcionado, a analisar pelo apresentado no filme, pela sede de justiça (e dólares) da imprensa e pela falta de tino (não comercial) de justiça do juiz escolhido para o caso. Caso tivesse sido realmente comprovado, o crime praticado pelo cineasta seria inegável, todavia a justiça requer proporcionalidade a sanção ou pena, característica esta que pesou bastante a decisão de fuga tomada pelo diretor polonês.

Desde então impedido de pisar em solo americano, pois corre o risco de prisão imediata, Roman Polanski partiu para a França, onde reside até hoje. De promessa a celebridade, de celebridade a pária e de pária a cineasta conceituado e referência, é fato que a vida do baixinho polonês daria um grande filme hollywoodiano, já que reviravoltas e tragédias não faltariam ao enredo. Mesmo que destacando apenas parte da trajetória do diretor - a mais polêmica -, Roman Polanski: Procurado e Desejado cumpre bem o seu papel, entrelaçando com cuidado os depoimentos das principais partes envolvidas no episódio e apostando no caráter informativo, soando bastante didático, o que é interessante principalmente àqueles que não conhecem a fundo o caso.

...

Obs.: Assistir a este documentário serviu de incentivo à leitura do livro Polanski, Uma Vida, biografia do cineasta assinada por Christopher Sandford, disponível no Brasil em edição da editora Nova Fronteira. Ainda não comecei a lê-lo, mas já recomendo.

AVALIAÇÃO

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10 junho, 2012

Deus da Carnificina (Carnage, FRA/ALE/ESP/POL, 2011).


"Os sorrisos desaparecerão, os ânimos irão subir e a carnificina governará". (Adaptação da frase do poster).
Confine alguns indivíduos dentro de um mesmo ambiente e observe os conflitos que tomarão os mesmos. Partindo deste princípio, Deus da Carnificina, mais recente trabalho de Roman Polanski (A Morte e a Donzela) é um drama aprofundado acerca das idiossincrasias dos seres humanos, da complicação que é o convívio para com o outro, da contraditória pequenez-grandeza destes e da animalização e estupidez que os acomete instintivamente quando sentem-se em perigo. Reconstruindo banalidade como fato gravíssimo e o cotidiano como pressuposto para o caos, Polanski adapta a peça de Yasmina Reza, God of Carnage, de forma bastante similar ao teatro, fechando o filme com apenas quatro personagens centrais, inseridos em praticamente um único ambiente, o apartamento do casal interpretado por Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes) e John C. Reilly (Chicago), quando estes encontram-se com o casal vivido por Kate Winslet (Almas Gêmeas) e Christoph Waltz (Bastardos Inglórios), para discutirem sobre um evento ocorrido com seus respectivos filhos. Entretanto, a conversa sensata acerca de uma agressão cometida por um dos garotos ao filho do outro casal acaba por converge-se numa terapia intensiva de costumes, crenças, posicionamentos morais e muita estupidez. Em suma, um belo tratado comportamental, em forma de ficção.

Concebido como um enredo linear, os eventos de Deus da Carnificina englobam um período corrido de um dia em sua cerca de uma hora e vinte de metragem. Tal forma poderia resultar maçante ou sem ritmo, contudo sob o auspício do veterano Roman Polanski e com a magistral entrega do elenco o filme infla, sendo assim interessante do começo ao fim, com potencial para gerar risos e choros, concordâncias e discordâncias, identificação e desapego, ou seja, o teatro filmado da vida de Polanski e cia. é uma obra cinematográfica ímpar, tanto no sentido estético (correto, como toda a obra do diretor), quanto no que tange ao seu conteúdo, ácido e profundo, porém mais sugestionável do que explícito.

Apesar de poder ser classificado como equilibrado em todos os aspectos, o que chama mais a atenção em Deus da Carnificina é o quesito atuação. Todo o quarteto está brilhante em cena, dosando sublimemente tanto os momentos tensos e dramáticos quanto os tragicômicos, trabalhando assim quase que de forma compassada, como seu fosse uma única atuação promovida pelos quatro. Entretanto, como dito, este equilíbrio não é perfeito, visto que vez por outra Christoph Waltz acaba por se destacar dentro deste escopo, em parte pelo fato de seu personagem possuir uma aura mais acentuada de ironia, sarcasmo e desapego aos acontecimentos debatidos pelos personagens , mas também ao talento e aos maneirismos sutis aplicados pelo ator, fazendo com que tanto seu personagem quanto sua performance sejam talvez os maiores destaques deste excelente filme. 

Com muito a dizer e ao mesmo tempo sem dizer nada, Deus da Carnificina é daqueles filmes que despertam discussões, que te fazem perceber o grande trabalho que é atuar, que tem o potencial de afinar a mente e que, mesmo sob a forma do exagero e do estilismo, corrobora o conceito de que os seres humanos ainda têm muito o que aprender para sagrarem-se como os seres perfeitos e azeitados que tanto desejam. E todos nós, de forma mais próxima ou não, podemos nos encaixar nos perfis, ações, condutas e opiniões dos dois casais mostrados no filme. Infelizmente.

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Filmes de ROMAN POLANSKI comentados no CineMografia.

Bilheteria: Box Office Mojo

29 março, 2012

A Morte e a Donzela (Death and the Maiden, EUA/ING/FRA, 1994).

 "Jamais possuímos totalmente a alma feminina" (Dr. Miranda, personagem de sir Ben Kingsley, parafraseando Friedrich Nietzsche).

Misto de thriller e drama, A Morte e a Donzela foi baseado numa peça homônima de Ariel Dorfman, chileno que foi exilado do Chile durante do regime do ditador Augusto Pinochet e trata de traumas, conflitos ideológicos, crítica político-social (ditadura), isolamento, enfim, decupa e expõe mazelas diversas inerentes ao ser-humano, sejam estas de ordem física ou psicológica. Dirigido por um dos maiores especialistas em realizar filmes que tratam da relação causa e consequência do ser-humano, o polonês Roman Polanski (vencedor do Oscar de melhor direção por O Pianista) e estrelado por Sigourney Weaver (Alien, o 8º Passageiro), Sir Ben Kingsley (A Invenção de Hugo Cabret) e Stuart Wilson (A Máscara do Zorro), este filme é um primor tanto no que tange a atuação quanto no quesito técnico. 

Envolvente, questionador, intimista (o filme inteiro praticamente se resume à interação do trio acima) e tenso, A Morte e a Donzela é um belo tratado acerca do potencial do homem para o bem e o mal, e além do mesmo, tornando-se assim um filme com fortes contornos filosóficos, sociológicos, antropológicos e psicológicos (a obra faz questão de referenciar gênios como Nietzsche, Freud e Schubert, por exemplo), apresentando a imprevisibilidade humana concomitantemente a seus altos e baixos no que se refere ao certo e ao errado. Um filme que trata das consequências (físicas e, principalmente, psicológicas) das pessoas perseguidas e torturadas por regimes ditatoriais, entretanto sem nunca definir o "vilão" como totalmente mau, nem a "vítima" como totalmente boa, construindo assim uma realidade constante de dúvidas e paranóia, onde o que prevalece é o cinza em detrimento do preto e branco.

Por fim, A Morte e a Donzela é um filme profundo ao tocar em um tema sempre delicado e, mesmo que mantenha a estrutura dramatúrgica original (a concepção de isolacionismo lembra demais a forma em que deve ter sido praticado nos palcos), traz características cinematográficas apuradas, em parte devido ao talento do elenco, mas principalmente pela genialidade do condutor da obra, o mestre Polanski. Este não é um dos mais cultudados trabalhos do polonês, entretanto, mesmo sendo uma "obra menor", não deixa de ser espetacularmente construída. Seja um drama ou um thriller, seja uma metáfora, uma peça ou um pseudo-documentário, o que importa é que o filme carrega consigo, do começo ao fim, questionamentos e perguntas, deixando as respostas e possível conclusão apenas ao espectador, que com toda certeza gerará infinitos debates mentais, em especial devido ao clímax final e, também, ao desfecho enigmático, onde apenas através de música (Schubert) e expressões conhecemos a angústia e medo passados pelos personagens principais.

AVALIAÇÃO
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Mais informações:

Filmes de ROMAN POLANSKI comentados no CineMografia.

A Morte e a Donzela

Bilheteria: Box Office Mojo

IMDb - Internet Movie Database: