10 junho, 2012

Deus da Carnificina (Carnage, FRA/ALE/ESP/POL, 2011).


"Os sorrisos desaparecerão, os ânimos irão subir e a carnificina governará". (Adaptação da frase do poster).
Confine alguns indivíduos dentro de um mesmo ambiente e observe os conflitos que tomarão os mesmos. Partindo deste princípio, Deus da Carnificina, mais recente trabalho de Roman Polanski (A Morte e a Donzela) é um drama aprofundado acerca das idiossincrasias dos seres humanos, da complicação que é o convívio para com o outro, da contraditória pequenez-grandeza destes e da animalização e estupidez que os acomete instintivamente quando sentem-se em perigo. Reconstruindo banalidade como fato gravíssimo e o cotidiano como pressuposto para o caos, Polanski adapta a peça de Yasmina Reza, God of Carnage, de forma bastante similar ao teatro, fechando o filme com apenas quatro personagens centrais, inseridos em praticamente um único ambiente, o apartamento do casal interpretado por Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes) e John C. Reilly (Chicago), quando estes encontram-se com o casal vivido por Kate Winslet (Almas Gêmeas) e Christoph Waltz (Bastardos Inglórios), para discutirem sobre um evento ocorrido com seus respectivos filhos. Entretanto, a conversa sensata acerca de uma agressão cometida por um dos garotos ao filho do outro casal acaba por converge-se numa terapia intensiva de costumes, crenças, posicionamentos morais e muita estupidez. Em suma, um belo tratado comportamental, em forma de ficção.

Concebido como um enredo linear, os eventos de Deus da Carnificina englobam um período corrido de um dia em sua cerca de uma hora e vinte de metragem. Tal forma poderia resultar maçante ou sem ritmo, contudo sob o auspício do veterano Roman Polanski e com a magistral entrega do elenco o filme infla, sendo assim interessante do começo ao fim, com potencial para gerar risos e choros, concordâncias e discordâncias, identificação e desapego, ou seja, o teatro filmado da vida de Polanski e cia. é uma obra cinematográfica ímpar, tanto no sentido estético (correto, como toda a obra do diretor), quanto no que tange ao seu conteúdo, ácido e profundo, porém mais sugestionável do que explícito.

Apesar de poder ser classificado como equilibrado em todos os aspectos, o que chama mais a atenção em Deus da Carnificina é o quesito atuação. Todo o quarteto está brilhante em cena, dosando sublimemente tanto os momentos tensos e dramáticos quanto os tragicômicos, trabalhando assim quase que de forma compassada, como seu fosse uma única atuação promovida pelos quatro. Entretanto, como dito, este equilíbrio não é perfeito, visto que vez por outra Christoph Waltz acaba por se destacar dentro deste escopo, em parte pelo fato de seu personagem possuir uma aura mais acentuada de ironia, sarcasmo e desapego aos acontecimentos debatidos pelos personagens , mas também ao talento e aos maneirismos sutis aplicados pelo ator, fazendo com que tanto seu personagem quanto sua performance sejam talvez os maiores destaques deste excelente filme. 

Com muito a dizer e ao mesmo tempo sem dizer nada, Deus da Carnificina é daqueles filmes que despertam discussões, que te fazem perceber o grande trabalho que é atuar, que tem o potencial de afinar a mente e que, mesmo sob a forma do exagero e do estilismo, corrobora o conceito de que os seres humanos ainda têm muito o que aprender para sagrarem-se como os seres perfeitos e azeitados que tanto desejam. E todos nós, de forma mais próxima ou não, podemos nos encaixar nos perfis, ações, condutas e opiniões dos dois casais mostrados no filme. Infelizmente.

AVALIAÇÃO:   

Trailer:  

Mais informações:

Filmes de ROMAN POLANSKI comentados no CineMografia.

Bilheteria: Box Office Mojo

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