Praticamente o fechamento de uma trilogia de causos de acasos (que seria composta também por Amores Brutos e 21 Gramas), Babel é o filme mais ambicioso do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu (Biutiful) e marca sua última parceria com o roteirista e compatriota do diretor, Guillermo Arriaga. Cruzando personagens de diversas etnias numa história com desdobramentos distintos que caminham lado a lado, formando um caleidoscópio de cores e raças, que transmitem uma única ideia central, Babel na verdade é um filme que discute o poder da comunicação na sociabilidade (quiçá existência) do homem e os males advindos dos ruídos provocados por uma comunicação mal feita ou mal acabada.
Misturando elementos de culturas do ocidente (Estados Unidos e México) com os do oriente (Marrocos e Japão), Inárritu e Arriaga constroem aqui um filme mais palatável e objetivo do que seus trabalhos anteriores, talvez até pela maior afinação entre os artistas, entretanto com o mesmo engajamento sócio-cultural, a mesma visão de mundo acinzentada, a mesma tendência ao pessimismo quanto a realidade humana, só que agora diluída em um contexto onde cabe a esperança, onde há chance de surgir luz, de raiar o sol, de abrir o dia. Talvez por isso este tenha sido o trabalho que arrecadou mais indicações e prêmios da carreira de ambos, tendo óbvio destaque a premiação de melhor filme no Globo de Ouro e o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, além de diversas indicações ao Oscar (tendo sido agraciado apenas com a estatueta de trilha sonora original, a cargo de Gustavo Santaolalla).
Manifestando interesse através da construção, em seus personagens, de sentimentos dúbios, onde num a mesma cena sentimos angústia e alívio, raiva e pena, medo e alegria, Babel faz jus ao nome e entrecorta este cabedal de elementos de forma igualitária, provocando interesse em todos os núcleos dramáticos apresentados e, mais do que isso, os apresentando de forma a terem sentido tanto como um produto só, quanto como realidades distintas e desligadas umas das outras.
Como destacar algum destes núcleos, visto que cada um apresenta dilemas e personagens que, por sua complexidade e dramaticidade, tendem a marcar de imediato? Missão dificílima, no entanto não há como não falar das atuações do casal estrangeiro em viagem de redescoberta no Marrocos, interpretado por Brad Pitt (Encontro Marcado) e Cate Blanchett (O Aviador), da inocente doméstica vivida por Adriana Barraza (Arrasta-me para o Inferno) e do personagem de Gael Garcia Bernal (O Passado) vivendo o displicente, mas de bom coração, sobrinho da personagem de Barraza. Também marca de imediato a complexa (talvez a personagem mais emblemática de todo o filme) garota japonesa concebida por Rinko Kikuchi (Vigaristas), que possui deficiência auditiva e um grande trauma. Por último, mas não menos importante, estão as crianças vividas (literalmente) por Boubker Ait El Caid (Yussef), Said Tarchini (Ahmed), Elle Fanning (Debbie) e Nathan Gamble (Mike), simplesmente inesquecíveis, como os demais outros personagens não citados aqui.
Tecnicamente brilhante, com uma trilha musical étnica e marcante do início ao fim e dono de personagens tão poderosos que transcendem seus intérpretes e nos fazem crer em sua existência no mundo extra-cinematográfico, Babel não é uma unanimidade entre os amantes da sétima arte - pra falar a verdade o cinema praticado por Inárritu nunca foi -, mas não estou sozinho ao considerá-lo um trabalho excepcional, tão bom quanto os filmes anteriores do cineasta, que ousa ao globalizar sua tese de "negativismo" analítico da condição humana, mas que confere um novo olhar acerca do tema, tratando agora das agruras do poder e da fragilidade da comunicação entre o homem, que ultrapassa as barreiras geográficas e, principalmente, linguísticas, atestando que muitas vezes não são assim tão fundamentais os elementos culturais ou a compreensão do mesmo idioma para a efetividade do ato de comunicação (como bem atesta os atos de diversos personagens deste filme) entre dois ou mais seres, mas simplesmente o fato de querer ser compreendido e, principalmente, querer-se entender o outro que acaba por ser a verdadeira solução para este caos existente entre nós, o da barreira do perfeito entendimento, já que nem mesmo quando possuímos todas as ferramentas, conseguimos compreender plenamente o outro, quiçá nós mesmos.
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Bilheteria: Box Office Mojo
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