Pra começo de conversa, John Carter é sim um filme de aventura competente, visualmente deslumbrante e possuidor de atributos com largo potencial para agradar crianças e adultos, ou seja, qualifica-se como um bom filme família, sendo assim estranho o fato do filme ter falhado em obter êxito no âmbito financeiro (foi um dos maiores fracassos do cinema em décadas) e de crítica, o que não faz jus ao conteúdo da obra. Obviamente alguns pontos devem ser ressaltados:
Em primeiro lugar, apesar da competência dos efeitos visuais e da grandiloquência de algumas sequências de ação, nada exposto em tela justificam o inchadíssimo orçamento de 250 milhões de dólares para a produção do filme, até por que nada de revolucionário ou distinto é apresentado no mesmo, muito pelo contrário, talvez filmes com um orçamento 50% menor do que o de John Carter tenham tido um resultado visual semelhante ao deste.
Em segundo lugar reside o não frescor da história - e de sua estrutura -, bastante explorada em diversos outros filmes nos últimos anos, como Avatar, O Último Samurai, etc. Obviamente que, por ser uma adaptação de um romance de Edgar Rice Burroughs, o filme traz consigo uma bagagem honesta e fiel, entretanto, por não mostrar nenhum tipo de ousadia durante a explanação da trama "arroz com feijão", acaba por não se diferenciar das outras obras com pegada similar, que por sinal, apesar de teoricamente também inspiradas na obra de Burroughs, traçam caminhos diversos justamente por não terem a necessidade de serem fieis a esta obra em si, até por que a essência é tocada, não o enredo e os personagens.
Voltando ao filme, destaco a presença forte de Taylor Kitsch (Repórteres de Guerra) como o personagem título, que se sai muito bem tanto nos momentos mais dramáticos quanto como herói de ação. Infelizmente, Kitsch é o único destaque do elenco de "carne e osso" (no filme há muitas criaturas digitais). Apesar de contar com artistas de certo destaque como Mark Strong (Caminho da Liberdade), James Purefoy (Sangue e Honra), Ciarán Hinds (O Espião Que Sabia Demais) e Dominic West (300), os personagens e suas caracterizações não ajudam, visto que estes parecem simplesmente reproduzir seus maneirismos mais conhecidos de suas carreiras em seus personagens, acabando por soarem forçados e excessivamente artificiais. Por exemplo, Purefoy constrói mais uma vez o personagem heroico e fanfarrão, Strong o vilão misterioso com epifanias constantes e West o pau de obra sem personalidade alguma. Hinds apenas não está bem. Entretanto, ainda pior que estes citados encontra-se Lynn Collins (X-Men Origens: Wolverine), que não convence em momento algum - nem mesmo fisicamente - como a deslumbrante, inteligente e lutadora princesa de marte. Sua performance é talvez a pior coisa do filme, visto que não traz emoção alguma quando contracena tanto com Hinds (que interpreta seu pai) quanto com Kitsch. O elenco principal ainda conta com nomes como Samantha Morton (Minority Report: A Nova Lei), Willem Dafoe (A Última Tentação de Cristo) e Thomas Haden Church (Sideways: Entre Umas e Outras), todos "dando vida" a personagens concebidos digitalmente.
Com um bom elenco, mas com uma condução irregular, dono de um ótimo visual, mas que não desperta tanta atenção, com uma história fechadinha e objetiva, mas que não apresenta grandes novidades e contando com um experiente (e premiado) diretor de animações que estreia em filmes live-action com este John Carter (Andrew Stanton, de Vida de Inseto, Procurando Nemo e Wall-E), o filme na verdade resulta num bom divertimento, mas nunca se destaca, não traz o espectador completamente para o universo proposto, acabando por tornar-se uma experiência bacana, mas que não desperta aquele desejo de revisitá-lo. É como uma viagem de um dia só, quando chega ao fim você fica satisfeito e só pensa em voltar para casa. Nunca justificando o inflado orçamento, John Carter não merece todo o discurso negativo que recebeu, entretanto está longe de alcançar o posto de referência no gênero aventura. É uma pena que tamanha escala de produção tenha se dado tão mal assim, principalmente pelo fato de no final das contas não ser um filme ruim, apenas não é grandioso como pretendido, mas vale sim a conferida, de preferência com amigos ou em família, pois acredito que garotada tem tudo para aproveitar esse mosaico visual que é John Carter, mesmo que seu ritmo guarde mais ecos com as produções de aventura dos anos 1980 do que com as da geração MMO atual - mais uma inconsistência da produção, não é mesmo?
AVALIAÇÃO:
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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