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06 junho, 2014

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past, EUA, 2014).


Marcando o retorno de Bryan Singer (Jack, o Caçador de Gigantes) ao comando da franquia X-Men e o encontro das duas gerações de filmes (apesar da geração mais recente possuir, por enquanto, apenas um título), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido mostra-se eficiente, dinâmico, interessante e divertido, sem esquecer de tocar em temas mais profundos (característica dos dois primeiros filmes da franquia, assinados por Singer), mesmo que de forma diluída. Mais dramático que X-Men: Primeira Classe, mas também menos divertido que aquele, esta sequência direta dos filmes de Matthew Vaughn (Kick-Ass - Quebrando Tudo) e de Brett Ratner (Dragão Vermelho) pode até soar apressada em alguns momentos, mas possui personagens tão bem trabalhados e um plot (apesar de complexo) construído de forma a manter o interesse sobre o espectador que a tal pressa acaba sendo um detalhe ínfimo em comparação ao espetáculo narrativo e visual proporcionado pela obra.

A sequência inicial do longa é fantástica, servindo tanto como introdução aos personagens e à trama (que lida com duas linhas temporais), quanto como trunfo narrativo, apresentando o dilema dos mutantes de forma impactante. É certo que a estética futurista desenvolvida por Singer e sua equipe de arte (o design de produção John Myhre, o diretor de arte Michèle Labierté e a figurinista Louise Mingenbach), assim como o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel (Drive) bebe muito de filmes como O Exterminador do Futuro e Matrix, mas tal inspiração sugere mais homenagem que falta de criatividade. Certo mesmo é que tanto o visual futurista quanto a estética setentista (o outro arco do filme se passa nos anos 1970) são muito bem trabalhados pelas equipes de arte e efeitos visuais. O importante mesmo é frisar que há um casamento entre a estética e a narrativa do filme, que traz um quê mais próximo à ficção-científica (logo, mais parecido com os primeiros filmes) do que a uma aventura "bondiana" (abordagem apresentada por Vaughn em Primeira Classe).

Uma das melhores coisas em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido se encontra na construção de seu roteiro - desenvolvido por Simon Kinberg (Sherlock Holmes) a partir de um argumento de sua autoria, juntamente a Jane Goldman e Matthew Vaughn -, que não apenas privilegia a ambientação (aspecto este, sem sombra de dúvidas, essencial a uma boa obra de ficção), mas também a construção de personagens e seus inter-relacionamentos. Certamente há um ou outro furo na orquestração de tantos nomes - incluindo duas versões de Magneto e professor Xavier, por exemplo -, mas é inegável que a amarração entre trama e personagens é feito de maneira orgânica e interessante. O fato desta ser uma adaptação livre de uma das histórias mais queridos dos fãs de quadrinhos não anula ou prejudica o resultado final, que sim difere bastante da fonte, mas resulta de forma tão bacana quanto.

O casting do filme é de encher os olhos, tanto pelo requinte dos nomes envolvidos, quanto (e principalmente) pelo envolvimento dos mesmos na construção de seus respectivos personagens. Tem-se em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido os retornos de Hugh Jackman (O Grande Truque), Ian McKellen (trilogia O Senhor dos Anéis), Patrick Stewart (Ted), Halle Berry (A Viagem), Ellen Page (Juno), Anna Paquin (O Piano), Shawn Ashmore (série The Following) e Daniel Cudmore (franquia Crepúsculo), respectivamente Wolverine, Magneto, professor Xavier, Tempestade, Lince Negra, Vampira, Homem de Gelo e Colossus (todos da dita "velha guarda) e a revisita de James McAvoy (Em Transe), Michael Fassbender (O Conselheiro do Crime), Nicholas Hoult (Um Grande Garoto), Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) e Lucas Till (Segredos de Sangue), além das ótimas estreias de Peter Dinklage (série Game of Thrones), Evan Peters (série American Horror Story) e Omar Sy (Intocáveis). É óbvio que nem todos possuem um tempo de tela longo, mas o filme de Singer dá oportunidade para que todos possam brilhar minimamente, como é o caso do personagem Peter Maximoff (vulgo Mercúrio), de Evan Peters, que rouba a acena ao apresentar um dos personagens mais bacanas do filme em uma das sequências mais fantásticas de toda a franquia. Logo, a equação roteiro bem amarrado mais elenco bem encaixado só poderia resultar positivamente.

Dramático, mas sem deixar o bom humor de lado (este surge quando "necessário" à construção da trama), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido pode ser classificado como uma surpresa, pois nem o mais entusiasta dos fãs (ou acompanhantes da franquia X) esperavam uma obra tão redonda como a que foi apresentada por Bryan Singer e cia. (ainda mais após o ótimo X-Men: Primeira Classe). Rompendo e ao mesmo tempo seguindo de onde o filme anterior parou, o filme prepara terreno para uma realidade não tão boa para os nossos amigos mutantes, soltando algumas informações acerca dos futuros dilemas a ser enfrentados pelos pupilos de Charles Xavier. Não contando com um vilão definido como nos filmes anteriores (o personagem de Dinklage é o catalisador do perigo, não O vilão da obra), o grande desafio do filme se encontra no próprio homo sapiens sapiens (e sua contenda com o homo sapiens), já que, de certa forma, foi o primeiro quem "provocou" sua possível extinção. Certamente atraente para vários públicos, acredito que este seja não seja apenas o melhor filme da franquia mutante (apesar de reconhecer sua dependência para com os demais, não tendo, assim, construído seus próprios alicerces de maneira total), como também o melhor filme de "equipes de super-heróis" já feitos.


★★★★½


Obs.: Sim, após o incompreendido (ou não aceito) Superman: O Retorno, o pouco visto Operação Valquíria e o fraco Jack - O Caçador de Gigantes, Bryan Singer finalmente "voltou" à boa forma. E para isso "precisou" retornar à franquia que o "lançou" ao grande público. Interessante...

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30 maio, 2014

X-Men: Primeira Classe (X-Men First Class, AUS/GBR/EUA, 2011).

"Testemunhe o momento que transformará o nosso mundo" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Após uma bem sucedida trilogia lançada nos anos 2000, eis que surgiu a "necessidade" de se dar novo gás a franquia X-Men (especialmente após o fiasco artístico apresentado em X-Men Origens: Wolverine, de 2009) e, ao invés de apostar numa sequência direta ou até mesmo num remake/reboot, os envolvidos resolveram apostar numa prequel, cujo foco reside na juventude de dois dos personagens mais destacáveis dos filmes anteriores: professor Charles Xavier (aqui interpretado por James McAvoy, de Em Transe) e Erik Lensherr, vulgo Magneto (composto por Michael Fassbender, de O Conselheiro do Crime). Contando com a direção do britânico Matthew Vaughn (Kick-Ass - Quebrando Tudo) e produção de Bryan Singer (figura responsável pela direção dos dois primeiros X-Men), X-Men: Primeira Classe representa uma nova e bem-vinda abordagem da franquia, especialmente por recortar o contexto dos filmes anteriores (obviamente, com menos ênfase no preconceito sedimentado entre a humanidade e destacando mais a descoberta da mutação em si) e aplicá-lo em uma época (literalmente) distinta, a década de 1960, imprimindo uma cara própria a produção, que brinca com a história ao conjugar eventos reais (como o conflito advindo da "invasão" da Baia dos Porcos pelos soviéticos) ao universo cinematográfico dos X-Men.

Não apenas esteticamente, mas estilisticamente é perceptível neste filme uma ruptura para com a trilogia anterior, ruptura essa que perpassa tanto o visual do filme quanto a construção da trama, tendo esta contornos mais "leves" que os demais filmes, além de possuir um senso de humor particular. Tudo isto, obviamente, trazido com pulso firme por Matthew Vaughn, que soube imprimir sua personalidade ao universo mutante, criando um filme com uma cara própria, sem necessariamente "sabotar" os demais.

Um dos elementos mais acertados do filme está na sua montagem (os responsáveis foram Eddie Hamilton e Lee Smith), que, ao lado de Vaughn, conseguiram condensar uma trama um tanto extensa - tanto devido ao grande número de personagens, quanto a sua própria ambição histórico-narrativa - sem negligenciar em excesso alguns de seus personagens e sem deixar o ritmo enfadonho, combinando bem sequências de ação a outras cujo foco reside com mais força no cômico ou no drama. Duas figuras são destaque em cada um destes segmentos: James McAvoy possui um ótimo timming cômico, enquanto Michael Fassbender (O Conselheiro do Crime) confirma mais uma vez sua magnetismo (desculpem o trocadilho) como ator, especialmente nas cenas de cunho dramático. A música de Henry Jackman (Capitão Phillips) servem bem a narrativa, escancarando as influências "bondianas" apresentadas por Vaughn durante a construção de várias sequências de ação e em especial a personalidade do personagem Sebastian Shaw, o grande vilão do filme, interpretado com propriedade por Kevin Bacon (O Homem Sem Sombra).

Visualmente o filme também mostra-se acertado, já que conta com um desenho de produção bastante interessante, que flerta com o "fantástico", mas sem deixar de referenciar as peças e obras dos anos 1960 - mérito do design de produção Chris Seagers, de Dèjá Vu) e encaixando-se muito bem ao estilo visual de Vaughn e do diretor de fotografia John Mathieson (Os Vigaristas). O desenho de som também se apresenta competente, porém os efeitos especiais já encontram-se "cansados", indicando até mesmo certo despreparo da equipe (apesar desta ter sido liderada pelo competente John Dykstra (vencedor do Oscar por Homem-Aranha 2) e confirmando a teoria de que o rateio de empresas de efeitos especiais digitais (pelo menos seis trabalharam no filme) acabam por contribuir sobremaneira para a irregularidade visual do filme. A falta de "realismo" de muitos dos efeitos não chegam a prejudicar o andamento e o gosto pelo filme, mas não deixa de ser um ponto baixo a ser destacado.

"Original" à sua maneira, X-Men: Primeira Classe representa um respiro mais que bem vindo a franquia mutante, especialmente após os dois últimos títulos pertencentes a esta, o irregular X-Men: O Confronto Final e o risível X-Men Origens: Wolverine. Construído com um clima mais próximo a uma matinê - não apenas pelo estilo 007 clássico empregado, mas pela época retratada em si (apesar do estado de periculosidade iminente -, mas sem deixar de debater assuntos sérios (o contorno aqui certamente é o mais político de todos os filmes da franquia), este reboot-sequência se enquadra, ao lado dos dois primeiros títulos, X-Men - O Filme e X-Men 2, como o melhor exemplar da série (quiçá o melhor dentre os melhores). Certamente alguns pequenos detalhes poderiam ter sido desenvolvidos de maneira ainda melhor (o filme sempre dá um salto de qualidade quando foca os personagens Xavier e Magneto, estejam estes juntos em cena ou não), mas talvez o fato de ter remexido tanto seu roteiro (o primeiro tratamento foi dado por Ashley Miller e Zack Stentz, baseado em um argumento proposto por Bryan Singer e Sheldon Turner e revisto por Jane Goldman em conjunto com Vaughn) tenha deixado algumas pequenas incongruências na ligação do enredo. Todavia, independentemente de um ou outro "vacilo", o produto final X-Men: Primeira Classe sagra-se como muito bom.


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02 maio, 2014

Loucamente Apaixonados (Like Crazy, EUA, 2011).

"Eu quero você. Eu preciso de você. Eu te amo. Eu sinto a sua falta. Como louco(a)" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
 Grande vencedor do Festival de Cinema de Sundance - o filme levou o prêmio do júri -, Loucamente Apaixonados é um romance que segue a escola intimista e documental estabelecida por Antes do Amanhecer (e suas continuações), de Richard Linklater, com um toque de pessimismo do cineasta Derek Ciafrance, especialmente no seu trabalho mais conhecido, Namorados para Sempre. Dirigido e co-escrito por Drake Doremus (Douchebag) - o outro roteirista é o também ator Ben York Jones -, a obra faz um apanhado direto de um relacionamento à distância. Problemática que ganhou novas cores na contemporaneidade - hoje, além das várias possibilidades de deslocamento, temos a Internet e as inúmeras ferramentas de telecomunicação como instrumentos indispensáveis para a consecução de tal sonho -, a análise realizada por Doremus e York Jones mostra-se acertada e acaba sendo coroada pelas performances convincentes da dupla de atores principal, Anton Yelchin (Star Trek) e Felicity Jones (Histeria).

Apesar de não apresentar grandes mudanças em sua trama e apostar numa narrativa cronológica e direta, o filme consegue manter o espectador interessado aos desencontros provocados ou não pelos personagens principais. É perceptível que houve muito improviso por parte de Yelchin e Jones na construção dos diálogos, o que deu um maior toque de naturalidade ao relacionamento entre seus personagens. A direção de Doremus parece optar por intervir o mínimo possível na dinâmica dos atores, investindo sua energia na composição de cena - este, ao lado do diretor de fotografia John Guleserian (Questão de Tempo), enquadram algumas cenas belíssimas - e na ambientação. Loucamente Apaixonados pode ter um ritmo lento e não ousar na construção da trama e em seu desenvolvimento, mas o assunto (e a forma) abordado e o carisma de seus personagens (especialmente a dupla principal) são mais do que suficientes para manter a atenção do espectador, que certamente acabará "conectado" com o casal protagonista. É válido destacar a presença discreta - mas acertada - de Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida), aqui pré-Oscar e Jogos Vorazes, que confirma seu talento mesmo com pouquíssimo tempo de tela.

Custando a bagatela de 250 mil dólares - e faturando pouco mais de três milhões mundialmente -, Loucamente Apaixonados é um drama romântico antenado aos anseios de parte da geração atual que não se furta em entregar um trabalho coeso, sem necessariamente entregar um ponto final a trajetória de seus personagens. Há muito choque de egos e vontades entre estes e alguns caminhos tomados parecem tanto caminhar para a congruência entre eles, como também provocar uma cisão. O final aberto dá um toque especial ao longa e, mesmo que tal decisão não seja hoje mais novidade, acaba dando ao filme um tempero a mais, pois convida o espectador à reflexão acerca não apenas do romance entre os personagens de Yelchin e Jones, mas principalmente da estrutura montada para se viver um relacionamento à distância.

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06 março, 2014

Trapaça (American Hustle, EUA, 2013).

"Todo mundo vai ao limite para sobreviver" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Uma coisa é certa, Trapaça é um filme muito divertido. Novo trabalho do queridinho David O. Russell (O Lado Bom da Vida), o longa é levemente inspirado em fatos reais, mas ganha força pelos caminhos inusitados dispostos à trama pelo diretor e roteirista, como também pelo elenco, que teve bastante liberdade para improvisar diálogos e ajudar O. Russell a reconstruir o conceito original que abordaria uma dupla de trapaceiros (vividos por Christian Bale e Amy Adams) cuja missão seria prestar consultoria a um agente da CIA (personagem de Bradley Cooper) a pegar gente graúda da política norte-americana com a boca na botija. Ambientada nos anos 1970, a trama tem tudo para pegar o espectador de imediato, seja pela série de eventos rocambolescos que surgem a rodo, seja pelo leque de personagens esquisitos, mas carismáticos, que desfilam pelo filme. Entretenimento de qualidade realizado com precisão, Trapaça é um filme redondo e bem feitinho, mas não o bastante para justificar toda a comoção pública (está longe de ser uma obra-prima), muito menos as trocentas indicações ao último Oscar.

Uma série de fatores fazem de Trapaça um filme interessante, tanto esteticamente quanto narrativamente. As equipes de maquiagem e figurino (liderada por Michael Wilkinson, de O Homem de Aço) realizam um grande trabalho ao lado da designer de produção Judy Becker (Hitchcock), conferindo um visual chamativo mas reverente à década de 1970, enquanto o fotógrafo Linus Sandgren (Terra Prometida), apesar de não brilhar, ajuda O. Russell a captar as imagens mais adequadas as pretensões da história, enquanto este último orquestra com competência o visual carregado, além das falas e das performances do elenco, de longe o maior destaque da fita.

O que dizer a respeito de um filme encabeçado por um elenco de primeira qualidade que está se divertindo a beça? Apesar de nem todos terem sido lembrados pelos festivais e premiações afora, o quinteto principal entrega performances bem niveladas, sendo necessário destacar não apenas as composições indicadas ao Oscar de Bale, Adams, Cooper e Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes, Jogos Vorazes: Em Chamas), mas também a de Jeremy Renner (João e Maria: Caçadores de Bruxas), cuja participação é tão ou mais impactante que a de Lawrence, por exemplo. Como tudo relacionado ao filme, as interpretações brincam bastante com a questão do real e do falso, seguindo a onda da carga de absurdo pedida pelo roteiro de O. Russell e Eric Warren Singer (Trama Internacional), mas assim como todo o pacote estas não mostram nada de excepcional, que ultrapasse o limite da pura diversão. Há outras camadas de discussão no filme? Há sim, mas estas são tão diluídas e pouco exploradas que o senso de diversão acaba por engolir tudo mais.

Gosto do trabalho desenvolvido por David O. Russell e o considero um cineasta interessante, além de bastante esforçado. Todavia, não acho que seus trabalhos sejam assim tão excepcionais a ponto de conquistarem tanta comoção, especialmente da crítica. Seus últimos dois trabalhos, O Vencedor e O Lado Bom da Vida, foram indicados a vários prêmios Oscar e Globo de Ouro, por exemplo, mas, apesar destes serem filmes muito bons, não acredito que sejam tão bons assim. É certo que neles e em Trapaça o diretor consegue extrair desempenhos marcantes de seu elenco, mas o roteiro destes filmes são um tanto quanto quadradinhos demais, seguindo uma pseudo-fórmula para agradar tanto os críticos de plantão quanto o grande público, tornando suas obras pouco corajosas e até mesmo engessadas. No caso de Trapaça o problema maior reside no alargamento exacerbado da trama - são mais de duas horas de projeção para pouco assunto -, que só consegue manter-se interessante pelo bom desempenho dos atores e pela cosmética do filme em si. Muitos descreveram o filme de O. Russell como um genérico de Martin Scorsese e tal pensamento não está muito longe da verdade. Bacana que temos aqui um baita cineasta como referência, não?

Indicado a dez prêmios Oscar, Trapaça acabou não levando nenhuma das estatuetas para casa. Isto não faz dele um mau filme, muito pelo contrário, mas de certa forma confirma a impressão que tive após vê-lo pela primeira vez: taí um filme bacana e redondinho, mas que não tem cara (nem merece) prêmio algum. Indo na escola de títulos como Prenda-me Se For Capaz, de Steven Spielberg e da franquia iniciada por Onze Homens e um Segredo, conduzida por Steven Soderbergh, Trapaça é uma peça de entretenimento vistosa, bem feita e muito divertida, mas não muito além disso. Certamente será muito bem aceita no mercado de home-vídeo, mas não duvido que torne-se esquecida com o passar dos anos.

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25 janeiro, 2014

Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire, EUA, 2013).

"O sol persiste em nascer, então me faço permanecer" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Eis que a saída de Gary Ross (Seabiscuit - Alma de Herói) não prejudicou de forma alguma a sequência do sucesso Jogos Vorazes, Em Chamas, muito pelo contrário, pois a chegada de Francis Lawrence (Constatine) deu a este segundo filme da série um admirável salto de qualidade, tanto no âmbito estético - afinal de contas a produção consumiu mais dólares que o filme anterior - quanto no quesito direção, entregando Lawrence um filme mais completo (e complexo) e empolgante que o primeiro. Jogos Vorazes: Em Chamas consegue sair do espectro juvenil bobinho e acerta em cheio ao assumir-se como uma obra de entretenimento simples, mas recheada de simbolismos e afim de discutir temas mais politizados, mesmo que de forma genérica. O certo é que a trama deste episódio miolo soa mais interessante que a do original, o que somado a uma melhor direção e a um orçamento mais polpuda e melhor gasto dá vazão a um filme levemente superior.

Desta vez coube a dupla Simon Beaufoy (Quem Quer Ser um Milionário?) e Michael deBruyn (na verdade Michael Arndt, de Pequena Miss Sunshine) a tarefa de adaptar o texto original de Suzanne Collins e estes não fazem feio, conduzindo a trama do segundo livro da trilogia Jogos Vorazes de forma equilibrada e envolvente, seguindo de certa forma a estrutura posta por Billy Ray (Capitão Phillips) no longa anterior, mas com a vantagem de possuir uma trama mais interessante a ser desenvolvida e apresentada. Não li as obras de Collins, mas tendo por base os enredos dos dois filmes, apostaria com segurança que o segundo livro deve ser considerado pela grande maioria como superior ao primeiro. O filme possui três grandes atos bastante definidos, sendo sua primeira hora de projeção dedicada ao desenvolvimento dramático dos personagens principais, Katniss (Jennifer Lawrence, de O Lado Bom da Vida) e Peeta (Josh Hutcherson, de Ponte para Terabítia), juntamente as consequências dos atos tomados no longa anterior, enquanto a segunda metade se subdivide entre os "novos" jogos - portanto, em cenas de ação e conflitos entre os personagens - e o gancho dramático da resolução, que tem o poder de deixar aqueles desavisados (como eu) impressionados com o rumo que a história tomou.

Mais uma vez um dos grandes destaques da obra encontra-se na seleção do elenco, que além de trazer de volta a grande maioria dos presentes em Jogos Vorazes - com destaque para Donald Sutherland (Cowboys do Espaço), Woody Harrelson (Um Tira Acima da Lei) e Stanley Tucci (Capitão América: O Primeiro Vingador) - apresenta-nos um carismático (e ameaçador) Philip Seymour Hoffman (O Mestre) e o competente Jeffrey Wright (007 - Cassino Royale), além dos jovens e promissores Sam Claflin (Branca de Neve e o Caçador) e Jena Malone (Donnie Darko). Lawrence, Beaufoy e deBruyn (Arndt) conseguem destacar de forma uniforme cada um dos personagens coadjuvantes, dando-os espaço suficiente para que conheçamos minimamente seus objetivos e personalidades.

No âmbito técnico, além da óbvia evolução no quesito efeitos visuais, é notória a expansão do universo do primeiro filme em áreas como figurino (aqui a cargo de Trish Summerville, de Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres), direção de arte (John Collins) e design de produção (Philip Messina), ambos egressos do primeiro filme. Em termos de composição o trabalho fotográfico de Jo Willems (Sem Limites) soa mais interessante que o mostrado por Tom Stern no filme anterior, especialmente nas sequências captadas com câmera Imax. A trilha sonora composta por James Newton Howard (A Vila) também surge bem, apesar de não carregar um tema que grude aos ouvidos, enquanto a montagem de Alan Edward Bell (O Espetacular Homem-Aranha) organiza o filme de maneira mais equilibrada do que o de 2012).

Provando que uma peça de entretenimento cujo foco resida no público adolescente pode apresentar conceitos e discussões um tanto mais elevadas, sem que a mesma deixe a diversão e o caráter lúdico de lado, Jogos Vorazes: Em Chamas dá um passo a frente em relação ao filme original sem enfraquecê-lo, mas sim comprovando que já espaço para evolução estética e narrativa dentro de um mesmo universo de ficção. Talvez alguns minutos a menos (especialmente no longo primeiro ato) fortalecesse ainda mais a obra, mais seu ritmo é tão orgânico e seus personagens principais tão envolventes que acaba não sendo assim tão desgastante acompanhá-los por alguns minutos a mais. Não sei se o desfecho da série cabe em dois filmes - seguindo a onda iniciada em Harry Potter e elevada ao limite do aceitável em Crepúsculo, Jogos Vorazes terá seu capítulo final dividido em dois longas -, mas após conferir o encerramento deste Em Chamas a curiosidade quanto ao porvir supera em muito a sentida ao final do filme de 2012.

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04 novembro, 2013

O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, EUA, 2012).


Não sei se daria o Oscar de melhor filme a O Lado Bom da Vida, mas é inquestionável que este é um excelente feel good movie, repleto de boas atuações, dono de um roteiro inspirador e bem amarrado, além de contar com a direção (e roteiro) de um dos queridinhos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o competente David O. Russell (Três Reis). Filme de "virada" - daqueles em que os personagens saem de um ponto ruim, aprendem (e compreendem a vida) e acabam em um ponto bom -, esta dramédia romântica acerta no tom e na mensagem apresentada, pois tem o poder de conquistar tanto o menos exigente dos espectadores, quanto aqueles que procuram algo mais. Longe de ser profunda, o filme de O. Russell trabalha temas complexos de forma simples, quase que caricatural, mas estes possuem tanta identificação para com o público que acabam funcionando sublimemente.

O foco do filme encontra-se na relação - e possível atração - entre dois underdogs, duas pessoas bastante problemáticas e desencontradas, que enxergam nos dilemas um do outro uma forma de superarem seus problemas. Tanto Bradley Cooper (Se Beber, Não Case) quanto Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes) encontram-se excelentes em seus respectivos papéis, mas é Cooper quem mais surpreende - talvez pelo fato do ator nunca ter apostado em personagens mais complexos -, apesar de Lawrence ter recebido o Oscar por este trabalho (prêmio este que achei um tanto forçado, pois acredito que a atriz ainda vai entregar o papel - ou os papéis - de sua carreira, mas isto é outra discussão). Outro que aparece bem é Robert De Niro (Os Bons Companheiros), mostrando que, quando quer, ainda tem a capacidade de criar personagens interessantes. Não valia uma indicação ao Oscar - creio que o ator a recebeu mais pelo simbolismo do que realmente pela potência do seu trabalho -, mas é um bom papel/composição/personagem.

David O. Russell, tendo como base o best-seller escrito por Matthew Quick - até hoje líder de vendas no Brasil -, constrói uma interessante história sobre segundas chances e auto-descobrimento/conhecimento , além de passear pelo universo - bastante idealizado, obviamente -  dos deslocados da sociedade, visto que não apenas os protagonistas do filme (ambos com transtorno de personalidade, sendo um deles inclusive recém saído de uma instituição de saúde mental) estão contidos nesta classificação, como também parte de suas famílias parecem ter um "parafuso" a menos (De Niro incluso). Ou seja, O. Russell entrega um olhar bastante sincero, mas contundente, acerca das paranoias e particularidades de cada um de nós, seres humanos, como indivíduos únicos e muitíssimo complicados. De certa forma o filme lembra outro título lembrado pelo Oscar há alguns anos: Jerry Maguire - A Grande Virada, dirigido por Cameron Crowe e estrelado por Tom Cruise, Renée Zellwegger e Cuba Gooding Jr.

Contagiante do início ao fim, O Lado Bom da Vida não se destaca apenas pela mensagem inspiradora que carrega, mas principalmente por sua construção apoiada ao máximo em verossimilhança, apesar de sua trama um tanto "conto de fadas". Certamente, nas mãos de um cineasta menos competente, o filme não passaria de um romance "água com açúcar" encabeçado por um bom elenco - aos moldes dos filmes de Garry Marshall -, mas devido ao refinamento de David O. Russell temos aqui uma obra simples, didática e emotiva mas que carrega junto pontos de debate e reflexão, interpretações fascinantes e uma construção narrativa no mínimo empolgante. Repito que não daria o Oscar a ele - como também não daria a Lincoln, Os Miseráveis, A Hora Mais Escura e Indomável Sonhadora -, mas é impossível não confirmar que este é um ótimo filme.

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18 agosto, 2012

Jogos Vorazes (The Hunger Games, EUA, 2012).


"As probabilidades podem ser sempre em seu favor". (Texto que estampa o poster de Jogos Vorazes).
Dono de uma das maiores arrecadações da temporada 2012, Jogos Vorazes é um raro filme para o público jovem que apresenta lampejos de discussão e análise acerca de elementos presentes na vida moderna, como política, veículos midiáticos, psicologia e até mesmo filosofia. É claro que, como tem por base um livro (uma serie de livros, a bem verdade) escrito para o público infanto-juvenil nesses tempos de corretismo político, tais questionamentos são explorados no filme de maneira bastante diluída, não tendo tanto destaque em comparação ao escopo do filme, mas não deixa de representar uma luz em comparação aos demais filmes teen sem tanta substância que surgem ano após ano.

Contendo ecos de obras distintas como o filme oitentista O Sobrevivente e do mangá Battle Royale, esta adaptação da obra de Suzanne Collins é divertida e bem executada, aposta na simplicidade da trama, no desenvolvimento dos personagens centrais - é passado mais de uma hora de projeção antes que o jogos do título realmente iniciem - e no carisma do elenco, recheado de bons nomes em pequenos e grandes papéis.

O primeiro destaque obviamente recai na intérprete de Katniss, Jennifer Lawrence (Inverno da Alma), que através de pequenos detalhes em sua expressão e gestos consegue dar uma profundidade interessante a sua personagem, além do seu carisma natural. Josh Hutcherson (Abc do Amor) também aparece bem no filme, sendo Peeta, companheiro de Distrito (nomenclatura que referencia as regiões desta realidade futurista) de Katniss, mas este não se mostra tão a vontade e dedicado quanto Lawrence. Donald Sutherland (Cold Mountain) pouco aparece, mas não faz feio, entretanto o grande destaque dos personagens coadjuvantes reside no sempre simpático e carismático Woody Harrelson (Um Tira Acima da Lei), que vive Haymitch, o instrutor de Katniss. Completam ainda o elenco principal nomes como Elizabeth Banks (Três Vezes Amor) - sem sal -, Stanley Tucci (Capitão América: o Primeiro Vingador) - também hilariante -, Liam Hemsworth (A Última Música) - conhecido como o irmão do Thor -, Wes Bentley (Beleza Americana) e o cantor Lenny Kravitz (Preciosa, uma História de Esperança).

Quanto ao aspecto técnico, o filme tem suas falhas. Os efeitos visuais não são espetaculares, mas não chegam a comprometer, apesar de entregar o "médio" orçamento do filme (cerca de 78 milhões de dólares),  que por sinal foi uma bagatela, em comparação a outras grandes produções do estilo. A direção de arte e o figurino do filme também se destacam, em especial este último, que apresenta uma curiosa conceitualização visual para distinguir a classe abastada da inferior. Quanto à trilha sonora, James Newton-Howard (Batman Begins) constrói temas interessantes, que pontuam bem o filme, em especial por equilibrar os momentos de sua presença com os momentos de silêncio, no entanto nenhum tema fica gruda na mente após o encerramento do filme. Por fim, mas não menos importante, o diretor e co-roteirista Gary Ross (Seabiscuit, Alma de Herói) mostra-se eficiente ao apresentar este novo mundo e conduzir a aventura com cara de distopia de forma eficiente, tendo apenas algumas dificuldades na condução das sequências de ação, que soam truncadas, mas juntamente a Billy Ray (Intrigas de Estado) e a autora da obra original aborda de maneira orgânica e crível o clima de romance entre os personagens de Lawrence e Hutcherson.

Raro produto que consegue equilibrar interesse e deslumbre visual da mesma forma, Jogos Vorazes pode ser apenas o primeiro capítulo de uma trilogia, mas funciona sozinho e funciona como entretenimento de verão. É certo que sua abordagem distópica simplificada e a apresentação de alguns temas mais complexos de maneira muito rápida acaba prejudicando o potencial do filme, mas o mesmo não perde em interesse e competência, até por que, apesar de ser dono de um certo diferencial em comparação a outras produções de público similar, não deve ser avaliada fora de sua alçada. Em suma, Jogos Vorazes é um filme com a finalidade-mor de entreter feito para o público jovem e neste aspecto cumpre bem sua função. É certo que ao término do filme não me foi despertado desejo de ler a obra literária na qual o filme se baseia, mas posso dizer que senti vontade de acompanhar o desenrolar desse mundo nas telas de cinema. Sendo assim, que venha Em Chamas.

AVALIAÇÃO:  
TRAILER:  

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo