"O sol persiste em nascer, então me faço permanecer" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Eis que a saída de Gary Ross (Seabiscuit - Alma de Herói) não prejudicou de forma alguma a sequência do sucesso Jogos Vorazes, Em Chamas, muito pelo contrário, pois a chegada de Francis Lawrence (Constatine) deu a este segundo filme da série um admirável salto de qualidade, tanto no âmbito estético - afinal de contas a produção consumiu mais dólares que o filme anterior - quanto no quesito direção, entregando Lawrence um filme mais completo (e complexo) e empolgante que o primeiro. Jogos Vorazes: Em Chamas consegue sair do espectro juvenil bobinho e acerta em cheio ao assumir-se como uma obra de entretenimento simples, mas recheada de simbolismos e afim de discutir temas mais politizados, mesmo que de forma genérica. O certo é que a trama deste episódio miolo soa mais interessante que a do original, o que somado a uma melhor direção e a um orçamento mais polpuda e melhor gasto dá vazão a um filme levemente superior.
Desta vez coube a dupla Simon Beaufoy (Quem Quer Ser um Milionário?) e Michael deBruyn (na verdade Michael Arndt, de Pequena Miss Sunshine) a tarefa de adaptar o texto original de Suzanne Collins e estes não fazem feio, conduzindo a trama do segundo livro da trilogia Jogos Vorazes de forma equilibrada e envolvente, seguindo de certa forma a estrutura posta por Billy Ray (Capitão Phillips) no longa anterior, mas com a vantagem de possuir uma trama mais interessante a ser desenvolvida e apresentada. Não li as obras de Collins, mas tendo por base os enredos dos dois filmes, apostaria com segurança que o segundo livro deve ser considerado pela grande maioria como superior ao primeiro. O filme possui três grandes atos bastante definidos, sendo sua primeira hora de projeção dedicada ao desenvolvimento dramático dos personagens principais, Katniss (Jennifer Lawrence, de O Lado Bom da Vida) e Peeta (Josh Hutcherson, de Ponte para Terabítia), juntamente as consequências dos atos tomados no longa anterior, enquanto a segunda metade se subdivide entre os "novos" jogos - portanto, em cenas de ação e conflitos entre os personagens - e o gancho dramático da resolução, que tem o poder de deixar aqueles desavisados (como eu) impressionados com o rumo que a história tomou.
Mais uma vez um dos grandes destaques da obra encontra-se na seleção do elenco, que além de trazer de volta a grande maioria dos presentes em Jogos Vorazes - com destaque para Donald Sutherland (Cowboys do Espaço), Woody Harrelson (Um Tira Acima da Lei) e Stanley Tucci (Capitão América: O Primeiro Vingador) - apresenta-nos um carismático (e ameaçador) Philip Seymour Hoffman (O Mestre) e o competente Jeffrey Wright (007 - Cassino Royale), além dos jovens e promissores Sam Claflin (Branca de Neve e o Caçador) e Jena Malone (Donnie Darko). Lawrence, Beaufoy e deBruyn (Arndt) conseguem destacar de forma uniforme cada um dos personagens coadjuvantes, dando-os espaço suficiente para que conheçamos minimamente seus objetivos e personalidades.
No âmbito técnico, além da óbvia evolução no quesito efeitos visuais, é notória a expansão do universo do primeiro filme em áreas como figurino (aqui a cargo de Trish Summerville, de Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres), direção de arte (John Collins) e design de produção (Philip Messina), ambos egressos do primeiro filme. Em termos de composição o trabalho fotográfico de Jo Willems (Sem Limites) soa mais interessante que o mostrado por Tom Stern no filme anterior, especialmente nas sequências captadas com câmera Imax. A trilha sonora composta por James Newton Howard (A Vila) também surge bem, apesar de não carregar um tema que grude aos ouvidos, enquanto a montagem de Alan Edward Bell (O Espetacular Homem-Aranha) organiza o filme de maneira mais equilibrada do que o de 2012).
Provando que uma peça de entretenimento cujo foco resida no público adolescente pode apresentar conceitos e discussões um tanto mais elevadas, sem que a mesma deixe a diversão e o caráter lúdico de lado, Jogos Vorazes: Em Chamas dá um passo a frente em relação ao filme original sem enfraquecê-lo, mas sim comprovando que já espaço para evolução estética e narrativa dentro de um mesmo universo de ficção. Talvez alguns minutos a menos (especialmente no longo primeiro ato) fortalecesse ainda mais a obra, mais seu ritmo é tão orgânico e seus personagens principais tão envolventes que acaba não sendo assim tão desgastante acompanhá-los por alguns minutos a mais. Não sei se o desfecho da série cabe em dois filmes - seguindo a onda iniciada em Harry Potter e elevada ao limite do aceitável em Crepúsculo, Jogos Vorazes terá seu capítulo final dividido em dois longas -, mas após conferir o encerramento deste Em Chamas a curiosidade quanto ao porvir supera em muito a sentida ao final do filme de 2012.
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