O homem é, por essência, um ser frágil e complexo e O Mestre, mais recente obra-prima do cineasta norte-americano Paul Thomas Anderson (Sangue Negro), faz questão de atestar isso ao nos apresentar a relação entre um indivíduo "porra-louca" e deslocado do status quo vigente, interpretado com riqueza de detalhes através de uma composição pungente por Joaquin Phoenix (Gladiador) e um ás da manipulação, vivido pelo não menos impecável Philip Seymour Hoffman (Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto), mas sob uma redoma mas contida cujo cerne bebe bastante da introspecção. Entre estes dois homens há, é claro, uma mulher que, apesar de possuir um tempo reduzido de tela (e de falas), conquista pela frieza e pelo olhar oblíquo, destilado pela cada vez melhor Amy Adams (O Homem de Aço). Ignorado pelo Oscar último, este é daqueles filmes que, a cada nova visita, mais camadas são percebidas e o fascínio pelas personagens é renovado. Complexo e complexado, a obra de Anderson critica a prevalência do irracional através do ser racional, além de falar também de identidade, manipulação das massas, alienação etc.
Seguindo a linha "épica" apresentada em seu trabalho anterior, Paul Thomas Anderson apresenta em O Mestre uma comunhão de elementos estéticos que o tornam único, desde a fotografia invasiva a cargo de Mihai Malaimare (Tetro) até a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista da banda britânica Radiohead, que surge como um providencial parceiro de Anderson no espectro cinematográfico. Os sons criados por Greenwood, aliado a estética apurada de Malaimare, aos diálogos poderosos escritos por Anderson e a atuação forte do elenco - em especial, do trio protagonista - tornam esta uma obra poderosa e rica, que trata não apenas da dominação do outro pela exploração da fé relacionada à ignorância (no sentido mais puro) e ao deslumbramento, mas também da relação entre o que é projetado pelo filme e o que é absorvido pelo espectador, sob o viés de um requintado jogo de exploração/manipulação estético-sensorial.
A composição magnética e o vigor da interpretação de Joaquin Phoenix é tão irrepreensível que faz uma outra interpretação fascinante de 2012 tornar-se pequena. Me refiro a composição de Lincoln dada pelo formidável Daniel Day-Lewis no filme homônimo dirigido por Steven Spielberg. Sem desmerecer a entrega de Day-Lewis, mas dessa vez a academia errou feio ao premiá-lo como melhor ator quando este tinha como concorrente o surtado Phoenix, cuja interpretação em O Mestre pode ser considerada como a referência de sua já excepcional carreira como ator. Ao lado da não nomeação de Paul Thomas Anderson as categorias de roteiro original e direção, a não concretização de Phoenix como melhor ator talvez sejam as maiores barbaridades cometidas pela Academia de Artes Cinematográficas norte-americana naquela premiação.
Se tivesse que apontar uma parte mais frágil à estrutura narrativa do filme destacaria o desfecho do filme, não pelo mesmo não estar de acordo a narrativa empregada até então, mas sim pelo corte temporal feito pela montagem, que parece deixar algumas pontas soltas - volto a dizer, no sentido temporal, não narrativo -. O entendimento do encerramento da obra é adequado, mas dá para sentir falta de um encaixe mais firme. Afora isso, não há o que pôr nem retirar desta obra ímpar de Paul Thomas Anderson, que pode não superar o impecável (conceitualmente e esteticamente) Sangue Negro, mas segue rumo a uma filmografia praticamente irrepreensível. O Mestre é cinema maduro para crianças adultas (em processo de amadurecimento perpétuo) como nós.
Seguindo a linha "épica" apresentada em seu trabalho anterior, Paul Thomas Anderson apresenta em O Mestre uma comunhão de elementos estéticos que o tornam único, desde a fotografia invasiva a cargo de Mihai Malaimare (Tetro) até a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista da banda britânica Radiohead, que surge como um providencial parceiro de Anderson no espectro cinematográfico. Os sons criados por Greenwood, aliado a estética apurada de Malaimare, aos diálogos poderosos escritos por Anderson e a atuação forte do elenco - em especial, do trio protagonista - tornam esta uma obra poderosa e rica, que trata não apenas da dominação do outro pela exploração da fé relacionada à ignorância (no sentido mais puro) e ao deslumbramento, mas também da relação entre o que é projetado pelo filme e o que é absorvido pelo espectador, sob o viés de um requintado jogo de exploração/manipulação estético-sensorial.
A composição magnética e o vigor da interpretação de Joaquin Phoenix é tão irrepreensível que faz uma outra interpretação fascinante de 2012 tornar-se pequena. Me refiro a composição de Lincoln dada pelo formidável Daniel Day-Lewis no filme homônimo dirigido por Steven Spielberg. Sem desmerecer a entrega de Day-Lewis, mas dessa vez a academia errou feio ao premiá-lo como melhor ator quando este tinha como concorrente o surtado Phoenix, cuja interpretação em O Mestre pode ser considerada como a referência de sua já excepcional carreira como ator. Ao lado da não nomeação de Paul Thomas Anderson as categorias de roteiro original e direção, a não concretização de Phoenix como melhor ator talvez sejam as maiores barbaridades cometidas pela Academia de Artes Cinematográficas norte-americana naquela premiação.
Se tivesse que apontar uma parte mais frágil à estrutura narrativa do filme destacaria o desfecho do filme, não pelo mesmo não estar de acordo a narrativa empregada até então, mas sim pelo corte temporal feito pela montagem, que parece deixar algumas pontas soltas - volto a dizer, no sentido temporal, não narrativo -. O entendimento do encerramento da obra é adequado, mas dá para sentir falta de um encaixe mais firme. Afora isso, não há o que pôr nem retirar desta obra ímpar de Paul Thomas Anderson, que pode não superar o impecável (conceitualmente e esteticamente) Sangue Negro, mas segue rumo a uma filmografia praticamente irrepreensível. O Mestre é cinema maduro para crianças adultas (em processo de amadurecimento perpétuo) como nós.
TRAILER
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