24 janeiro, 2014

Capitão Phillips (Captain Phillips, EUA, 2013).

"Fora daqui a sobrevivência é tudo" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
O cineasta Paul Greengrass (A Supremacia Bourne) é um sujeito chegado a histórias que tragam certo grau de verossimilhança ou cuja fonte de origem sejam eventos reais, sempre transportando-as ao escopo cinematográfico numa estrutura que privilegia a urgência, a tensão e crueza, não a toa este adota como elemento de suma importância em seus filmes a câmera na mão, atributo este advindo de sua predileção pela estética documental (e do documentário). Aliado ao astro Tom Hanks (Filadélfia), Greengrass optou por filmar um filme cujo tema - norte-americano que supera obstáculos impensáveis em nome da sobrevivência - poderia desbancar facilmente para o patriotismo barato (além do maniqueísmo tipicamente hollywoodiano/ocidental), mas devido a sua experiência e direcionamento definido como realizador e sujeito homem acabou por tornar este Capitão Phillips uma obra de entretenimento relativamente profunda, inteligente e essencialmente emotiva, que conquista especialmente por se apresentar como um filme que destaca as vítimas (até os "malvados" são vítimas aqui) e não em enaltecer quem seriam os "bonzinhos" e os "mauzinhos. 

O roteiro de Billy Ray (Jogos Vorazes), baseado no livro escrito por Richard Phillips e Stephan Talty, mostra-se eficiente tanto no desenvolvimento dos personagens - característica esta sempre marcante nos filmes de Greengrass, portanto casou feito luva a dobradinha Ray/Greengrass - quanto na construção da tensão que move a trama, aspecto este reforçado pela ótima montagem/edição Christopher Rouse (O Pagamento), que estrutura o filme num crescendo contínuo, indo da calmaria do início da viagem do capitão (Hanks), passando pela ameaça dos piratas somalianos liderados pelo ótimo Barkhad Abdi e culminando no clímax "inacabável" de mais de uma hora, onde a angústia provocada pela coerência da união entre texto, montagem, atuações e música (Henry Jackman, de É o Fim) torna praticamente impossível adivinhar - lógico, para quem desconhece o desfecho da história real - se o filme acabará ou não em tragédia. Como diz meu amigo Bruno Costa d'Os Cinéfilos Genial (com G maiúsculo mesmo)!

O corre corre do filme serve ao estilo Greengrassiano de filmar da mesma forma que o estilo do diretor casa com o que o filme pede, sendo o resultado final dessa equação mais do que distinto. A estética do diretor - aliada a fotografia de Barry Ackroyd, vencedor do BAFTA por Guerra ao Terror - casa muito bem à estrutura "baseada em fatos reais" do filme, seja nos momentos de cunho mais intimista, seja na captação das emoções das personagens envolvidas diretamente no conflito (especialmente o personagem de Hanks e de Abdi), como também na exploração sistemática da operação de resgate (e contenção) dos agentes da marinha norte-americana. Capitão Phillips pode ser um filme menos político que os demais trabalhos de Greengrass, mas nem por isso mostra-se tolo, pois o caráter humano e social da obra é pesadíssimo, soando como uma espécie de híbrido entre o também excelente Voo United 93 (cuja direção é sua) e o bacana Náufrago, coincidentemente estrelado por Tom Hanks

Falando em Hanks, o que comentar acerca de sua composição? Verdade seja dita, é mais do que merecida a comoção em torno de sua atuação neste filme, pois é notório a entrega e a força externada pelo ator, que merecia sim uma indicação ao Oscar pelo papel, até por que acaba fazendo algo semelhante ao mostrado por Denzel Washington ano passado, quando este acabou ganhando uma indicação por sua atuação em O Voo. Com Oscar ou sem Oscar, o fato é que Hanks mata a pau e entrega uma das melhores interpretações de sua carreira. Quem também brilha no filme é Barkhad Abdi, estreando como ator de forma eletrizante ao compor um personagem que transparece perigo e medo, mas também muita dúvida e arrependimento. Tudo isso através de olhares, de postura, não de diálogo. Tal composição acabou por chamar a atenção da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, que apesar de ignorar Hanks acabou por dar a Abdi uma merecida indicação ao categoria de ator coadjuvante.

Eficiente como filme de ação, mas sem deixar de ir além do entretenimento médio, Capitão Phillips não tem como foco a crítica geopolítica, mas tanto pelo estilo de Paul Greengrass quanto pelo contexto do filme em si acaba por pincelar alguns assuntos relacionados, mas sempre de forma minimamente contaminada, procurando assim não apontar vilões e heróis, mas sim abraçando o caráter humano inserido no caos que um "simples" assalto acaba por revelar. Greengrass ficou alguns anos de molho após o fracasso de público do filme Zona Verde (outro grande título seu), mas acabou escolhendo o projeto certo para sua "volta", já que acabou encontrando tanto respaldo da crítica quanto do público, sendo este último essencial para a permanência do cineasta no jogo dos produtores hollywoodianos. Talvez este não seja o melhor filme dirigido por Greengrass, nem guarde o melhor papel da carreira de Hanks, mas certamente não deve nada a nenhum outro grande filme de ambos. Em resumo, uma experiência cinematográfica de sequestrar o fôlego.

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