"E se alguém que você ama... simplesmente desaparecesse?" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).Logo após ser aclamado pelo filme Infância Roubada (Tsotsi) e coroado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, o sul-africano Gavin Hood decidiu enfrentar o cinema "hollywoodiano" ao escolher uma produção semi independente que enfrenta de frente a política de contenção terrorista norte-americana, especialmente nos primeiros anos pós atentado as torres gêmeas. Eis que somos apresentados a O Suspeito (mais uma das péssimas traduções nacionais), thriller político que discute a questão da rendição - detenção e envio de possíveis suspeitos de terrorismo a outros Estados com o intuito de "interrogá-los", sem prévia comunicação a familiares ou autoridades públicas -, prática esta bastante "popular" desde meados dos anos 1990, mas que teve seu auge após o fatídico 11 de setembro.
Tecnicamente, apesar de possuir um orçamento bem enxuto, O Suspeito é uma produção arrojada, cujo destaque pode ser dado a sua fotografia (que ficou a cargo de Dion Beebe, de Colateral), ao desenho de produção de Barry Robinson (As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada), especialmente seu trabalho na fictícia república muçulmana, a qualidade do elenco - Jake Gyllenhaal (Os Suspeitos), Reese Witherspoon (Amor Bandido), Peter Sarsgaard (A Chave Mestra), Alan Arkin (Argo), Omar Metwally (Munique) e Meryl Streep (A Dama de Ferro) marcam presença - e a direção segura de Hood, que equilibra bem a tensão, o suspense e o drama com a discussão política pretendida pelo roteiro de Kelley Sane, além de extrair o melhor de sua equipe no intuito de contar a melhor história possível.
Streep e Arkin tem pouquíssimo tempo em cena, mas seus personagens são essenciais à trama e ambos, experientes como são, conseguem expor muito em pouco tempo. Sarsgaard utiliza bem sua imagem de canastrão para compor um personagem cujo comportamento pende da liderança à dúvida, Witherspoon surpreende ao entregar uma interpretação contida, porém bastante emotiva, enquanto Gyllhenhaal mostra lapsos de genialidade, comprovando que é sim um bom ator. Porém, dentre todos estes o maior destaque cai para o desconhecido Metwally, cujo papel é o mais desafiador e cuja composição do ator é tão complexa que, apesar da impressão ser sempre a de que o mesmo é inocente, mesmo assim ainda compramos a possibilidade do mesmo ser cúmplice do atentado do qual é "acusado".
Kelley Sane e Gavin Hood acabam pesando um pouco a mão no fechamento do filme - apesar do mesmo funcionar muito bem nos quesitos suspense e tensão - , que acaba perdendo um pouco do caráter denúncia e aposta numa resolução excessivamente heroica, o que não chega a estragar todo o caminho percorrido pelo filme até então, mas passa a impressão de que algo foi atropelado no meio do caminho. São muitos os personagens cujo desenvolvimento acrescentariam a história e o "principal" deles, o agente da CIA interpretado por Jake Gyllenhaal, acaba tomando uma decisão importantíssima, mas de forma pouco crível.
Detalhes a parte, continuo a indicar a O Suspeito como um filme a ser visto, pois apesar deste seguir a temática revisionista de guerra ao terror tomada pelos Estados Unidos e por grande parte dos grandes países europeus como tantos outros títulos lançados desde setembro de 2001, parece trazer um pequeno diferencial por conta de sua "pegada" independente. Pouco visto à época de seu lançamento e um tanto mal recebido pela crítica, acredito que o filme merece ser visto (ou revisto) por quem não viu o torceu o nariz, já que este pode ser considerado como o melhor trabalho de Hood (que dois anos depois viria a cometer o horrível X-Men Origens: Wolverine).
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TRAILER
Obs.: Dentre o material extra contido no DVD de O Suspeito destaco o documentário intitulado Fora da Lei (Outlawed), que narra a história de duas vítimas da discutível rendição. Imperdível! Um trecho do documentário poder ser visto abaixo (sem legendas em português):
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