09 dezembro, 2012

Roman Polanski: Procurado e Desejado (Roman Polanski: Wanted and Desired (EUA/ING, 2008).


"A verdade não se adequaria as manchetes" (Livre tradução da frase disposta no cartaz do filme).
Roman Polanski (Deus da Carnificina), além de exímio cineasta, é um homem problemático. Vítima do nazismo alemão (Polanski é judeu), onde perdeu os pais num campo de concentração e de uma fatalidade incomensurável - sua esposa, a atriz Sharon Tate, foi assassinada pelo grupo de Charles Manson -, o cineasta polonês tem uma trajetória marcada por tragédias e decepções, porém o recorte feito neste documentário assinado por Marina Zenovich é o do envolvimento sexual (e possivelmente consensual) do diretor com uma jovem de 13 anos, anos após o assassinato de sua esposa. Como não poderia deixar de ser, todo o processo judicial envolvendo este caso virou um verdadeiro espetáculo, culminando com a "fuga" do cineasta á França e a irresolução do referido.

A abordagem de Roman Polanski: Procurado e Desejado é bastante convencional, alternando entrevistas e depoimentos da época com comentários recentes de amigos, produtores, do advogado de defesa e do promotor a época, além da suposta vítima, hoje casada e mãe de três crianças. Independentemente da motivação e consecução do crime, é notório que (a depender da análise das personagens apresentadas neste documentário) que a bola de neve formada pela falta de compromisso do processo judicial quanto ao caso de abuso sexual é opinião comum aos depoentes, até mesmo da vítima e de seu advogado de defesa. Bastante informativo, é certo que a visão de Zenovich privilegia o cineasta - que em nenhum momento é ouvido, tendo sua imagem e voz apenas em registros de outras fontes -, mesmo que abra espaço para a exposição da outra parte.

É difícil não fazer juízo de valor quanto ao ato cometido por Roman Polanski, mas é inegável que o mesmo   carrega o álibi vitalício da tragédia em sua pele e que, à época, acabou por ser vítima da própria aura trágica, sendo transformado em pária pela mídia e pela sempre tão correta sociedade norte-americana, num processo judicial torpe e direcionado, a analisar pelo apresentado no filme, pela sede de justiça (e dólares) da imprensa e pela falta de tino (não comercial) de justiça do juiz escolhido para o caso. Caso tivesse sido realmente comprovado, o crime praticado pelo cineasta seria inegável, todavia a justiça requer proporcionalidade a sanção ou pena, característica esta que pesou bastante a decisão de fuga tomada pelo diretor polonês.

Desde então impedido de pisar em solo americano, pois corre o risco de prisão imediata, Roman Polanski partiu para a França, onde reside até hoje. De promessa a celebridade, de celebridade a pária e de pária a cineasta conceituado e referência, é fato que a vida do baixinho polonês daria um grande filme hollywoodiano, já que reviravoltas e tragédias não faltariam ao enredo. Mesmo que destacando apenas parte da trajetória do diretor - a mais polêmica -, Roman Polanski: Procurado e Desejado cumpre bem o seu papel, entrelaçando com cuidado os depoimentos das principais partes envolvidas no episódio e apostando no caráter informativo, soando bastante didático, o que é interessante principalmente àqueles que não conhecem a fundo o caso.

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Obs.: Assistir a este documentário serviu de incentivo à leitura do livro Polanski, Uma Vida, biografia do cineasta assinada por Christopher Sandford, disponível no Brasil em edição da editora Nova Fronteira. Ainda não comecei a lê-lo, mas já recomendo.

AVALIAÇÃO

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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Olá Téo.
    Recomendo a leitura do livro A menina - Uma vida à sombra de Roman Polanski, escrito por Samantha Geimer a menina de 13 anos estuprada pelo cineasta.
    Maria José

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    1. Obrigado pela dica, Maria José. Procurarei o livro para ler. Abraços.

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