29 dezembro, 2012

Jackie Brown (EUA, 1997).


Uma coisa é certa, esse até então único filme de Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios) a não contar com um roteiro de sua autoria é um dos trabalhos do cineasta que mais demora para engrenar, porém quando o faz ganha o espectador imediatamente, especialmente pela série de personagens peculiares que desfilam em tela, começando pelo traficante de armas de longa cabeleira escovada interpretada por Samuel L. Jackson (Os Vingadores), de longe o maior destaque do filme, mesmo que esteja apenas reciclando o manual jacksoniano de interpretação. Preterido por muitos dos entusiastas da filmografia de Tarantino, Jackie Brown realmente não é o mais empolgante de seus trabalhos, mas tem uma trama bacana que não tem a mínima pressa para se desenvolver e conta com um clímax de grande tensão, com toda a pegada do (talvez) mais querido cineasta surgido na década de 1990.

Adaptação do romance Rum Punch, do cultuado romancista Elmore Leonard, Jackie Brown, como todo filme de Tarantino, conta com um casting para lá de especial, formado por gente da monta de Robert De Niro (Touro Indomável), Bridget Fonda (O Poderoso Chefão Parte 3), Michael Keaton (Má Companhia), além da intérprete da personagem título e musa da blaxploitation Pam Grier (Foxy Brown) e  do indicado ao Oscar como ator coadjuvante por este filme, Robert Forster (Minhas Adoráveis Ex-Namoradas) e com uma trilha sonora inspirada, formada por uma seleção nostálgica de canções, característica marcante de Quentin Tarantino como diretor. De certa forma causa estranhamento acompanhar De Niro e Keaton em papeis menores tanto em importância à trama quanto em quantidade de falas, especialmente o primeiro, porém o veterano ator não deixa o carisma de lado e compensa a falta de texto com uma composição recheada de gestualidade e caras e bocas. Pode não ser um trabalho marcante do ator, mas acaba sendo uma composição de luxo ao filme.

Apesar de à época do lançamento do filme a crítica ter abraçado as interpretações de Pam Grier e principalmente de Robert Forster como destaques, reputo a de Samuel L. Jackson como a melhor coisa do filme, a começar pela sua inusitada caracterização visual e culminando nos seus mais do que conhecidos maneirismos de composição, mas que funcionam a perfeição no ambiente proposto pelo filme. Além do mais, seu carisma é imbatível e volta a funcionar como uma luva nesta sua segunda colaboração com Tarantino.

Mesmo que seja uma adaptação de um romance alheio e quase não conte com uma estrutura tarantinesca de montagem, Jackie Brown traz tanto no visual quanto na técnica fílmica as principais características do cineasta, desde os enquadramentos e a opção de esticar a trama através de grandes monólogos e diálogos, passando pela utilização da trilha sonora e da montagem para ressaltar a dramaticidade de alguns acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo, sobre diversos pontos de vista (especialmente no clímax final do filme), dentre outras sacadas visuais características do diretor. Sendo assim, apesar de não ser uma obra "pura" de Tarantino, há uma recomposição onde a mesma se encaixa ao estilo narrativo do cineasta.

É certo que Jackie Brown demora um pouco para engrenar, especialmente por não abordar prontamente  a miríade de personagens que terão destaque à trama central de golpe e suas funções a mesma, tornando assim sua primeira hora um tanto quanto arrastada, mas que ganha um fôlego a mais sempre que temos Samuel L. Jackson em cena. Finalmente completando a lista de filmes dirigidos por Quentin Tarantino já lançados no Brasil, arrisco dizer que dentre todos este é o que poderia ser classificado não como pior, mas sim como mais desinteressante entre seus trabalhos. Contudo, mesmo nesta condição, ainda é um filme interessante e que guarda o grande diferencial na sua última hora, quando finalmente atentamos a que o filme se propõe, além de enxergarmos com mais clareza a mão surtada de Tarantino na composição do filme. 

AVALIAÇÃO

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