25 dezembro, 2012

Forrest Gump - O Contador de Histórias (Forrest Gump, EUA, 1994).


"A vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar" (Uma das filosofias de vida de Forrest Gump, personagem de Tom Hanks).
Um dos filmes mais queridos da história do cinema, Forrest Gump - O Contador de Histórias é mais do que uma fábula sobre as pequenas coisas da vida (amor, amizade, conquistas, existência, lugar no mundo etc.), é uma bela história sobre encontrar seu lugar no mundo, sem fazer disso uma obsessão, mas sim uma jornada de aprendizado. O tom fabulístico empregado por Robert Zemeckis (trilogia De Volta para o Futuro) faz com que o enredo fantástico do filme torne-se mais crível para as plateias, contudo o conteúdo existencial mostra-se presente, mesmo que adaptado para compor a visão de Forrest a alguns dos principais eventos históricos dos Estados Unidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Realizado com apuro para conquistar as plateias de todas as idades - não à toa o filme se sagrou como um estrondoso sucesso de bilheteria -, Forrest Gump é um dos filmes que reverenciava quando criança que continua a exercer magia similar à época da primeira conferida, devido a uma conjunção de elementos que fazem deste o feel good movie da década de 1990.

Baseado num romance escrito por Winstom GroomForrest Gump - O Contador de Histórias é um filme bastante simples, visto que tem como premissa a distinta vida do próprio Forrest, narrada pelo mesmo, tendo como diferencial narrativo o fato da personagem cruzar com diversas personalidades históricas do período abraçado pelo filme, como Elvis Presley, John Lennon e Richard Nixon, por exemplo. Tudo isso de forma bastante divertida, vez ou outro abraçando o sentimental, mas sem soar choroso ou superficial. Equilíbrio é a palavra-chave para o grande vencedor do Oscar referente ao ano de 1994 - o filme acabou derrubando pesos-pesados como Pulp Fiction - Tempos de Violência, de Quentin Tarantino, Quatro Casamentos e um Funeral, de Mike Newell, Quiz Show - A Verdade dos Bastidores, de Robert Redford e Um Sonho de Liberdade, de Frank Darabont -, pois seu clima de nostalgia, poder de empatia e direção segura tornaram-no uma obra lembrada até hoje, quase vinte anos após seu lançamento original. É certo que há controvérsias quanto a sua escolha como melhor filme do ano (hoje, se estivesse em meu poder a escolha, daria o prêmio ao filme de Tarantino, porém não desmereço a escolha feita pela Academia de Artes Cinematográficas), mas o fato é que o filme conquistou a estatueta e continua relevante até hoje.

Geralmente alguns quesitos se destacam mais do que outros quando se analisa um filme, contudo acredito que isto não ocorre em Forrest Gump - O Contador de Histórias. Dono de um raro equilíbrio de competências, a unidade do produto como um todo é o grande chamariz, pois desde a concepção da cena de abertura, que estabelece a belíssima metáfora sobre o fascínio do aleatório ao nos apresentar primeiramente a uma pena que flutua livre pelas correntes de ar, passando pela inspirada trilha-sonora composta por Alan Silvestri (Os Vingadores- o tema melancólico do filme é lindo -, pela fotografia primorosa de Don Burgess (Contra o Tempo), pela inspirada escalação do elenco (Tom Hanks, Robin Wright, Sally Field e Gary Sinise, principalmente), pela qualidade das linhas escritas por Eric Roth (O Curioso Caso de Benjamin Button) e, como não podia deixar de ser, pela direção acurada de Robert Zemeckis, um diretor ao meu ver exemplar, mas pouco lembrado pelo público e pela crítica. Destaco também o emprego dos efeitos visuais do filme - à época foi um estouro a manipulação de imagens que colocou o personagem Forrest junto de algumas personalidades das épocas retratadas pelo filme -, que apesar de envelhecido em alguns momentos, continua funcionando. Enfim, é certo que alguns podem atribuir o sucesso do filme há uma ou outra característica, contudo o categorizo como um filme de história, independentemente de quem contribui mais ou menos para a consecução dela.

O carisma de Tom Hanks (Filadélfia) é fator crucial para que a personagem Forrest Gump funcione como guia dentro desta trama recheada de momentos tidos como fantásticos e é inegável que o ator se sai muitíssimo bem, conduzindo o espectador na trama e costurando os momentos de humor e dramaticidade com bastante naturalidade (não à tôa Hanks abocanou o Oscar de ator por esta composição). As presenças de Wright, Field e Sinise ajudam especialmente a sustentação dramática do filme, visto que representam o contraponto à visão "inocente" do mundo do personagem de Hanks. O fato dos tipos que passam pela vida de Forrest Gump serem bastante peculiares ajuda a alimentar ainda mais a organicidade do universo concebido por Roth e Zemeckis, o que resulta em mais fortaleza ao produto final que é Forrest Gump - O Contador de Histórias.

Não sei se o apresentado na versão cinematográfica de Forrest Gump é fiel a obra original, mas é certo que é o filme é bastante rico, especialmente por ser repleto de mensagens (codificadas e não-codificadas) e funcionar tanto como uma obra de entretenimento, quanto de cunho filosófico, sendo este um dos grandes trunfos do diretor Robert Zemeckis, a construção de um filme rico, porém essencialmente simples. Um filme que marcou gerações, Forrest Gump - O Contador de Histórias pode não ser surpreendente quanto Pulp Fiction, politizado quanto Quiz Show ou existencialista quanto Um Sonho de Liberdade, mas continua a conquistar plateias até hoje, seja pela facilidade de se apaixonar pelo mesmo, seja pela simplicidade dos valores defendidos. Talvez Forrest Gump - O Contador de Histórias seja o último filme de alma intrinsecamente inocente (no bom sentido) da história do cinema moderno. Estou enganado?

AVALIAÇÃO
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