09 dezembro, 2012

Paraísos Artificiais (BRA, 2012).


É certo que Paraísos Artificiais foi uma das grandes surpresas do ano no que se refere a filmes nacionais. Conciso em termos narrativos e tecnicamente primoroso, este primeiro filme de ficção dirigido por Marcos Prado (Estamira) comprova que o país possui recursos e técnica suficiente para produzir obras tão interessantes e requintadas tecnicamente quanto as estrangeiras, bastando apenas o devido investimento financeiro por parte dos produtores. Como este filme conta com a produção da Zazen Filmes, capitaneada pelo consagrado cineasta José Padilha (Tropa de Elite), o diferencial é notável. 

Um dos diferenciais de Paraísos Artificiais é que o binômio juventude/drogas tema do filme não é apresentado de maneira forçada ou carola, muito pelo contrário, o mesmo surge contextualizado e orgânico, tendo função narrativa complementar à jornada passada pelos personagens do filme, especialmente as de Erika (Nathalia Dill, de Feliz Natal) e Nando (Luca Bianchi, de Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro), os protagonistas da obra. Apesar de dividida em três linhas temporais, a trama do longa é simples, focando no relacionamento interpessoal entre Erika e Nando e entre estes com amigos e familiares, estabelecendo não só um link com a abertura da juventude ao consumo de álcool e substâncias entorpecentes como válvula de escape, mas também os dissabores e confusões pautados a esta época transicional.

O filme é formado quase que totalmente por um elenco jovem (além de Dill e Bianchi, ganham destaque em cena Lívia de Bueno, César Cardadeiro e Bernardo Melo Barreto), tanto em idade quanto em experiência cinematográfica, porém alguns "veteranos" fazem pontas narrativamente marcantes, como Roney Villela (Meu Nome Não é Johnny) e Emilio Orciollo Netto (Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro). Destaco também a presença do ator alagoano Erom Cordeiro (O Palhaço), em curta mas eficiente participação. O trabalho de atuação apresentado pelo elenco do filme é muito bom, tendo Marcos Prado se saído muito bem nesta transição entre direção de documentários para longas de ficção. Contudo, é inegável que o grande destaque está na entrega da atriz Nathalia Dill, que em seu primeiro papel como protagonista de um longa não se esmorece e mostra uma performance de fazer inveja a muitas atrizes veteranas.

Paraísos Artificiais tem uma premissa bacana, no entanto é inegável que o grande destaque do filme não reside nela ou em uma outra interpretação. A peça motriz do longa encontra-se no cinematógrafo Lula Carvalho (À Beira do Caminho), que compõe aqui uma das mais belas fotografias já vistas este ano, com composições e enquadramentos que vão além da narrativa, entregando um personagem novo, verdadeiro e importante à premissa do filme. Seja nas cenas praianas, na batida das rave, na representação de viagens alucinógenas ou na apresentação do dia a dia das personagens, a câmera de Carvalho capta imagens tão belas que é impossível não fixar o olhar no quadro destacado por inteiro. Mesmo que todo o filme seja belissimamente captado, é impossível não destacar a sequência da chegada das personagens Erika e Lara a uma praia pernambucana, antes e durante as visões repletas de alucinações vividas especialmente pela primeira.

Mesmo com uma produção caprichada, Paraísos Artificiais acabou não despertando muito a atenção do público, já que teve uma rápida passagem quando em cartaz nos cinemas. A crítica em geral também não destacou tanto o filme, o que considero injusto, pois é óbvio que mesmo tratando de um tema "batido" e não possuindo um enredo de grande complexidade narrativa, são poucos os filmes nacionais que focam o ambiente jovem de forma tão séria - palavra-chave - quanto este. É certo que o filme não desperta grande atenção ou entrega questionamentos de outro mundo, porém a trama "pé no chão" mostra-se interessante e entretém, sem em momento algum soar pedante ou apelativo em demasia, mas sim possuindo um raro equilíbrio no que se refere a filmes da pegada semelhante.

O ritmo do filme não é dos melhores, assim como há um certo excesso de coincidências na conexão de alguns personagens à trama, mas isto não é demérito exclusivo de Paraísos Artificiais (a bem verdade, são raros os filmes que unem personagens a tramas paralelas que não possuam furos ou apelem para "coincidências forçadas" em algum momento) e não chega a estragar a experiência cinematográfica que é assisti-lo. Sem direcionar tanto a narrativa com a finalidade de criticar a conduta da juventude hoje, o filme se interessa mais em contar uma história de amor e perda e, por que não, de segunda chance. E nesse sentido, é certo que o mesmo é bem sucedido. Porém, se o tema ou a abordagem do longa acabem por não te interessar, ainda assim recomendo conferi-lo, nem que seja apenas para se maravilhar com a primorosa fotografia do filme, que para mim - sem desmerecer o todo e a parte da obra - é o que há de melhor nele.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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