05 dezembro, 2012

O Legado Bourne (The Bourne Legacy, EUA, 2012).


"Nunca foi apenas um" (Chamada do cartaz oficial do filme).
Como Matt Damon (Compramos um Zoológico) e Paul Greengrass (Zona Verde) não quiseram retomar para um quarto capítulo da franquia Bourne, os produtores espertalhões decidiram promover o até então roteirista da série Tony Gilroy (Conduta de Risco) ao posto de diretor para contar uma história paralela ao do desmemoriado agente, expandindo assim os meandros relacionados aos programas blackbrier e treadstone, com direito ao extermínio em massa dos agentes envolvidos nestes projetos. Contudo, obviamente um teria que escapar, ser identificado e posteriormente caçado incansavelmente. Apesar de em essência ser mais do mesmo, O Legado Bourne diverte e pode ser tido como um filme competente, contudo as comparações com os filmes anteriores é inevitável e, infelizmente, esta espécie de suplemento alternativo é inferior em todos os quesitos, mesmo com o óbvio esforço os envolvidos em honrar o espírito da franquia.

A escalação de Jeremy Renner (Os Vingadores) como intérprete do protagonista Aaron Cross não poderia ser mais acertada, pois o mesmo se entrega ao personagem e surpreendentemente o dá carisma, quesito praticamente inutilizável pelo ator em seus outros trabalhos até então. Todavia, mesmo com este esforço, é fato que seu personagem não desperta tanto interesse, até por que o roteirista e diretor Tony Gilroy não desenvolve com consistência as motivações do mesmo, principalmente se levarmos em conta que ele não sofre de amnésia. Os demais membros do elenco de apoio também aparecem bem, com óbvio destaque para as performances corretas de Rachel Weisz (360), Edward Norton (O Despertar de uma Paixão) e Stacy Keach (série Prison Break), que entram no clima dos veteranos à série Joan Allen, Albert Finney, Scott Glenn e David Strathairn (que retornam em pequenas pontas), apesar da falta de aprofundamento na construção de seus personagens. Eis então um dos sérios problemas do filme: apesar de ser o mais longo da franquia (cerca de 135 minutos), é o mais pobre no desenvolvimento das personagens.

O fato de carregar a marca Bourne pesa bastante ao filme. Acredito que, caso tivesse feito como Prometheus (que obviamente é um filme ambientado no universo de Alien, mas não intrinsecamente ligado ao mesmo) e optasse por trazer a trama deste filme como parte da mesma realidade dos filmes de Jason Bourne, porém sem necessariamente ter de utilizar os eventos do agente como muleta, talvez a fluência da narrativa melhorasse e o próprio objeto de ser da obra adquirisse mais coerência. Como foi feito, a impressão que fica é a de um bom filme, mas não é despertada a vontade de acompanhar o que acontece posteriormente com o agente Aaron Crosss.

Outro aspecto que incomoda bastante em O Legado Bourne é a falta de sequências de ação numa obra que em essência é de ação. Tudo bem que o recheio de conspirações e jogos de gato e rato também é força motriz da franquia, porém nada justifica o início anti-climático onde somos a apresentação de Aaron Cross como uma espécie de Liam Neeson no filme A Perseguição enquanto uma espécie de "resumo de onde se passa essa história" vai condensando as informações tidas como "relevantes" nos filmes anteriores ao bom entendimento para este novo filme. Por incrível que parece o excesso de ligação entre os filmes é o que acaba prejudicando O Legado Bourne, visto que a cada cena é esfregado na cara do espectador alguma informação referente aos filmes anteriores (especialmente ao último), o que só desperta saudades daqueles e não interesse neste.

Se conceitualmente o filme funciona, mas a trancos e barrancos, como filme de ação a coisa piora ainda mais. Mesmo sendo bastante longo, o filme praticamente só possui duas grandes cenas de ação, que s]ao apresentadas apenas após a primeira hora de projeção e, como esperado, não possuem impacto pelo menos igual as dos filmes anteriores. É fato que Tony Gilroy não possui o talento e a pegada para direção de filmes de ação como Doug Liman e Paul Greengrass (Duplicidade, de Gilroy, já servia como aviso), porém nada justifica a falta de imaginação e o requentar das sequências de ação do filme, especialmente a pouco inventiva sequência final de ação ambientada nas Filipinas. Mesmo com o retorno do competente diretor de segunda unidade Dan Bradley, o filme ficou bem abaixo das expectativas no quesito ação.

Há bons momentos neste quarto filme da franquia Bourne (mesmo sendo o primeiro sem o Bourne), especialmente quando acompanhamos a jornada conjunta dos personagens de Jeremy Renner e Rachel Weisz, além de algumas (poucas) informações relevantes acerca da máquina por trás dos experimentos para a criação de super-soldados, no entanto isto acaba sendo muito pouco em comparação ao ótimo background dos filmes anteriores. Some-se a isso o fator expectativa quanto ao retorno a este universo após cinco anos e a avaliação final de O Legado Bourne como filme cai bastante. É certo que o filme mostra-se interessante e possui alguns momentos bem orquestrados, mas é fato que já encontra-se bem abaixo dos demais nos quesitos qualidade, dinâmica, interesse e originalidade, resultando num bom entretenimento, contudo muito provavelmente esquecível em um futuro próximo.

AVALIAÇÃO
TRAILER

Mais Informações:

Texto sobre A Identidade Bourne (2002)
Texto sobre A Supremacia Bourne (2004)
Texto sobre O Ultimato Bourne (2007)
Bilheteria:

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