Não sou conhecedor do movimento cultural intiluado beatnik da década de 1940, muito menos li a obra homônima escrita por Jack Kerouac, porém a julgar pelo apresentado nesta adaptação cinematográfica de uma de suas obras mais reverenciadas, Na Estrada, o conteúdo filosófico deste movimento é um tanto quanto frágil. É óbvio que a análise deve ser feita tendo como parâmetros a época abordada pelo filme, que abraça o período pós II Guerra Mundial. Contudo, mesmo que o sentimento questionador e de certa forma apoiado em uma libertinagem "verde" seja crível, algumas das passagens apresentadas pelo filme do brasileiro Walter Salles (Abril Despedaçado) carecem de um maior aprofundamento, já que surgem na maioria das vezes jogadas durante a projeção do filme sem causa ou motivação, simplesmente acontecem. Somando o fato do narrador/protagonista da história ser um jovem culto, tais pirações até certo ponto vazias apresentam-se em tela ainda mais fragilizadas.
É certo que o roteiro de José Rivera (Diários de Motocicleta), apesar de elemento mais frágil do todo, apresenta alguns elementos interessantes, especialmente quando foca o relacionamento entre Dean Moriarty (Garret Hedlund, de Tron: O Legado) e Sal Paradise (Sam Riley, de Control), que somado as ótimas performances dos atores, dão maior dimensão ao relacionamento de ambos. Mesmo que alguns signos desta amizade surjam de forma excessivamente sugestiva, a dinâmica entre os personagens de Hedlund e Riley salva o pescoço de Rivera. Talvez o filme tenha sido escrito de forma a agradar os amantes da literatura de Jack Kerouac ou Rivera tenha pretendido direcionar o filme para um espectro mais subjetivo, o certo é que a narrativa não funciona tão bem, especialmente pelas motivações - especialmente a do personagem de Riley, que é o narrador da trama - não serem postas de maneira profunda. O elenco principal é completado por Kristen Stewart (Branca de Neve e o Caçador), que se esforça bastante para se afastar do estigma de Bella da franquia Crepúsculo e acaba bem sucedida, pois encontra-se bem a vontade no papel e confirma que quando num bom projeto, tem tino para atuação. Arrisco dizer que Na Estrada não é um filme difícil de ser visto - apesar de tocar em temas complexos -, mas é um filme fácil de despertar desinteresse no espectador.
Um aspecto que agrega bastante ao filme é a escalação de grandes nomes do cinema atual em pequenas mas importantes pontas. Kirsten Dunst (Melancolia), Viggo Mortensen (Um Método Perigoso), Amy Adams (O Vencedor), Alice Braga (Ritual), Steve Buscemi (série Boardwalk Empire) e Terrence Howard (Homem de Ferro) são bem alocados por Walter Salles, que consegue extrair boas composições de todos, mesmo que alguns dos personagens não tenham grande importância à narrativa principal (pelo menos no âmbito do filme). Dentre estes destacaria as performances de Kirsten Dunst (talvez por ter maior tempo em cena em comparação aos demais) e Steve Buscemi, pelo inusitado personagem.
Na Estrada é bastante caprichado tecnicamente, tendo como grande chamariz a deslumbrante fotografia que registra com beleza e equilíbrio as belas paisagens norte-americanas, que são tão protagonistas quanto a dupla Riley/Hedlund. O fotógrafo Éric Gautier (Na Natureza Selvagem) merece aplausos pela competência e sensibilidade. O som do filme também chama atenção - tanto nos sons diegéticos e efeitos sonoros, quanto na trilha sonora assinada por Gustavo Santaolalla -, especialmente quando utilizado para representar as viagens alucinógenas dos protagonistas. Porém, apesar do brilhantismo destes, o grande destaque vai mesmo para o diretor Walter Salles, que trabalha muito bem a estética do filme, alternando grandes tomadas panorâmicas com handycam, conferindo tanto uma aura etérea a algumas passagens do filme, quanto um quê de aventura, realçado pela proximidade da lente e pela tremedeira da câmera.
Talvez por eu não ter um background acurado acerca das pretensões filosóficas da obra Jack Kerouac esta adaptação cinematográfica não tenha me fisgado, apesar de que a recepção da maior parte da crítica especializada também não foi das melhores. Meu problema com o filme não é o fato do mesmo apregoar conceitos de libertação despropositada ou desprendimento material como forma de reencontro do homem com seu eu (será mesmo essa a mensagem transmitida?), até por que tenho como um de filmes prediletos o também "porra-louca" Na Natureza Selvagem, de Sean Penn, mas sim a forma com o qual o filme foi construído, sem grande aprofundamento no que tange a motivação do personagem de Sam Riley à adotar esse estilo libertário de vida. Pode ser que os inúmeros fãs da obra original tenham enxergado alguns ecos de genialidade em Na Estrada, mas para mim afora a estética apurada, a direção segura e os grandes nomes envolvidos no elenco, pouco sobra de marcante ao filme.
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