07 dezembro, 2012

Selvagens (Savages, EUA, 2012).


Gosto muito de Oliver Stone (Platoon) como roteirista e diretor, especialmente devido a sua veia polêmica e ao tom de exagero e paranoia que a maioria de suas obras carregam (acredito que são ótimos exercícios mentais). É certo que na última década poucos foram os filmes de Stone que realmente marcaram e este Selvagens, apesar de interessante e acima da média do citado período, não tem força suficiente para desmistificar esse paradigma, mesmo sendo um bom filme.

É inegável que o elenco do filme é primoroso. Dos rostos "novos" (e em sua maioria promissores) de Taylor Kitsch (John Carter - Entre Dois Mundos), Aaron Johnson (Kick Ass - Quebrando Tudo) e Blake Lively (Atração Perigosa) até medalhões consagrados como Benício Del Toro (21 Gramas), Salma Hayek (Frida) e John Travolta (Pulp Fiction - Tempos de Violência), grande parte do interesse no filme se dá pelo elenco estelar, que ainda conta com nomes "menores" (tanto no que se refere a participação quanto em estatura de fama mesmo) como os de Emile Hirsch (Na Natureza Selvagem) e Demián Bichir (Uma Vida Melhor). Apesar de manter o foco nos três primeiros, há espaço suficiente para os demais citados - até por que o filme é um tanto longo -, mesmo que no final das contas quem roube a cena seja o alucinado Lado, interpretado por Del Toro.

Tratando de um tema pesado como o tráfico de drogas de forma um tanto estilizada e "aventuresca", esteticamente Oliver Stone se aproxima mais de trabalhos como Assassinos por Natureza e Reviravolta, do que títulos mais "sérios" como Salvador ou JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar. Mesmo possuindo uma abordagem menos "stoniana" do que o esperado (apesar das doses violência, libertinagem  e sexo serem compatíveis a filmografia do cineasta), particularmente não tenho nenhum problema sério com o filme, que possui uma abordagem compatível à história - a fotografia estourada lembra bastante os filmes mais recentes de Tony Scott, especialmente Chamas da Vingança e Domino - A Caçadora de Recompensas, enquanto a trilha sonora "eletrônica" de Adam Peters complementa a experiência semi-lisérgica, semi-surreal do filme. 

Selvagens causa impacto tanto pela violência quanto pelo trato irônico ao  binômio juventude/drogas, porém a falta de direcionamento da mensagem do filme (crítica ao establishment atual de amparo ao tráfico de drogas nos Estados Unidos? Crítica a bagunça quanto ao mesmo tema no México? Apoio ou critica velada ao consumo de drogas "terapêuticas" pelos jovens norte-americanos? Denúncia da falta de pragmatismo no combate ao tráfico?) gera certa confusão, deixando a obra um tanto quanto vazia, pois a angústia do sequestro de um dos protagonistas acaba sobressaindo a qualquer tipo de debate ou discussão por parte de Stone, Don Winslow e Shane Salerno (Motoqueiro Fantasma). Para ser sincero, em alguns momentos a trama do filme não convence (sério que dois rapazes construíram um império tão grande e decidiram jogar tudo no lixo numa disputa sem pé nem cabeça com um dos maiores cartéis de drogas do mundo?), mas a direção de Stone é tão segura e o ritmo do filme prende tanto a atenção que detalhes "pequenos" como estes são rapidamente "ignorados" (ou não).

Não acredito que Selvagens seja um vexame ou uma aposta errada de Oliver Stone, mesmo que grande parte da crítica especializada tenho torcido o nariz para ele e o mesmo não tenha sido um grande sucesso de bilheteria (especialmente com o pudico povo norte-americano), pois apesar do discurso soar vez ou outro frágil (característica esta bastante recorrente na filmografia do cineasta, que não tem papas na língua e muitas vezes acaba por atirar pedras sem necessidade, por não refletir antes) ou até mesmo não existir, o filme prende a atenção e não soa gratuito esteticamente. Não é um grande trabalho de Stone, mas "diverte", conta com um grande elenco com uma ótima disposição em atuar e pelo menos um personagem marcante, tanto visualmente quanto em termos de composição, o caricatural vilão de Benício Del Toro, com direito a um mustache e uma "peruca" ridiculamente assustadores.

AVALIAÇÃO
TRAILER

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