É inegável o excelente trabalho de composição feito por Rodrigo Santoro (Bicho de Sete Cabeças) ao interpretar o primeiro craque problema do futebol brasileiro, Heleno de Freitas. Seja em sua fase boêmia, seja no auge de sua doença, Santoro constrói um personagem intrigante, profundo e humano, conduzindo o espectador neste filme de vem e vai no tempo intitulado apenas Heleno.
Dirigido por José Henrique Fonseca (O Homem do Ano), Heleno tem importância ímpar, visto que promove o resgate de uma figura deliberadamente esquecida da história do nosso futebol, que endeusou (com mérito, obviamente) figuras como Pelé e Garrincha, mas vez ou outra acabou por esquecer outros nomes de grande importância não só para o esporte, mas também para a cultura geral do país. Dito isto, devo destacar que o filme é no geral bem acabado, magistralmente fotografado por Walter Carvalho (Abril Despedaçado) - que optou por filmar todo o filme em branco e preto, conseguindo estabelecer uma unidade, coerência e deslumbre visual magníficos, para mim até mesmo superior a outra recente composição em branco e preto, a do Oscarizado filme francês O Artista - e conta com uma direção inspirada de Fonseca, que aplica aqui uma técnica bastante similar ao das cinebiografias norte-americanas. Em suma, Heleno é visualmente deslumbrante.
Contudo, nem tudo são flores ao filme. A opção dos roteiristas (Felipe Bragança, Fernando Castets e o próprio Fonseca) de intercalar tempos narrativos distintos não soa tão orgânica, pois às vezes soa demasiadamente expositiva antes do tempo, noutras acaba por privilegiar mais a enfermidade do protagonista do que seu desenvolvimento como personagem. Este ponto nos leva a outra fragilidade do roteiro, que reside no corte feito pelo mesmo. Ao meu ver faltou um pouco mais de informação (em forma de cenas) acerca da figura Heleno de Freitas caminhando rumo ao sucesso como futebolista e interagindo com a alta sociedade carioca, não só metido em "baladas" e tendo "piti" nos treinos e na concentração do Botafogo. Obviamente que em cenas como estas citadas Rodrigo Santoro realiza um trabalho magnífico, convencendo tanto como um sujeito arrogante e charmoso, quanto como um homem frágil, diminuído moralmente e com semblantes de óbvia loucura. Entretanto, faltou esse recheio para o melhor encaixe do roteiro, em especial para alcançar a finalidade do filme - a "vida" do jogador - a contento.
Apesar de ser quase totalmente centrado na interpretação de Santoro, o filme traz a presença de bons nomes da dramaturgia nacional, como Alinne Moraes (O Homem do Futuro), que interpreta a mulher de Heleno, Erom Cordeiro (O Palhaço), vivendo o melhor amor amigo (e também jogador) do protagonista, a colombiana Angie Cepeda, o veterano Othon Bastos (Central do Brasil), como o presidente do Botafogo, dentre outros. Apesar de um ou outro momento de brilho próprio, este elenco acaba funcionando muito bem como escada para a performance de Santoro, o que em não é necessariamente uma crítica, visto que o foco da história é o personagem interpretado pelo ator.
Apesar do vácuo causado pela falta de certas informações e da tentativa (em exagero) de conquistar primeiramente o espectador pela doença do jogador, Heleno é um bom filme, que acerta ao não cometer juízo de valor acerca das "escolhas" do ídolo botafoguense, constrói bem o ambiente da época retratada (dos anos 1940 aos anos 1960), com um ótimo trabalho de direção de arte, figurino e trilha sonora e que funciona como filme, mesmo que talvez acabe sendo lembrado mais como um grande trabalho de Rodrigo Santoro do que como uma grande obra de José Henrique Fonseca, o que na minha opinião é um pouco injusto com o diretor, mas como o próprio filme trata de injustiça - como dito acima, Heleno quem, cara pálida? - tal martírio indiretamente pode vir a calhar. Mais um bom título nacional pouco visto, o que é uma pena.
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