Mesmo nos momentos de menor criatividade, Woody Allen (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) consegue trazer algo de interessante inserto em seus trabalhos. Simplesmente Alice discute bastante a questão da individualidade e da busca por achar a si mesmo. Estrelado mais uma vez por Mia Farrow (Hannah e suas Irmãs) - a atriz com maior número de participações como protagonista em filmes de Allen -, que vive a indecisa e sem graça Alice do título, o filme tem alguns elementos surreais, aspecto vez ou outra recorrente na filmografia de Allen, que ajudam a pontuar alguns dos questionamentos vividos pela personagem de Farrow, que como dito encontra-se em busca de uma razão de vida, já que encontra-se sufocada por uma vida até então sem tanto propósito, que não a satisfaz plenamente como ser-humano.
É interessante destacar que o filme, apesar do óbvio senso de humor, não pode ser encaixado como uma comédia, um drama, um romance ou uma fantasia, visto que carrega elementos de todos e às vezes soa distinto de qualquer outro filme, aspecto este comumente apresentado por Allen, até por que em seus filmes a trama e as situações promovidas por ela sempre se destacam em relação a qualquer outro aspecto cinematográfico. Simplesmente Alice já parece ensaiar a apresentação de um Woody Allen mais tranquilo, menos eufórico e visionário, ainda com ideias interessantes e relevantes, mas sim tanta magia, tanta surpresa e paixão. Talvez este filme possa ser classificado no rol dos filmes mais metódicos e objetivos do cineasta, em contrapartida aos seus trabalhos mais emotivos e verborrágicos (no bom sentido).
Apesar de não possuir um elenco de grandes estrelas como a maioria dos filmes de Allen, Simplesmente Alice conta ainda com as presenças de William Hurt (A Vila), Alec Baldwin (O Aviador), Judy Davis (Passagem para a Índia), Joe Mantegna (O Poderoso Chefão Parte III) e Bob Balaban (A Dama na Água), a maioria em papéis de grande relevância à trama, mas que não possuem grande tempo de tela, visto que a personagem de Farrow praticamente domina toda a metragem da obra. Falando nela, após mais de dez participações em trabalhos do então esposo (Allen), percebe-se que suas performances começam a soar repetitivas, em especial a caracterização da mulher inocente que precisa crescer durante o desenrolar do filme, muito embora isso não comprometa enormemente, mas vale como observação.
Divertido e em alguns momentos inusitado, Simplesmente Alice tem inspiração como grande inspiração o filme Julieta dos Espíritos, do italiano Federico Fellini e, apesar de não arrebatador, é um bom trabalho de Woody Allen, competente na emissão da mensagem, interessante na medida certa, além de ter um tom leve e um tanto quanto descompromissado. Indicado ao Oscar de melhor roteiro e ao Globo de Ouro de melhor atriz em filme de comédia ou musical, Simplesmente Alice é um filme bacana e interessante, à alguns passos de um clássico, mas que entra fácil na lista de grandes trabalhos do diretor.
AVALIAÇÃO:
TRAILER:
Bilheteria: Box Office Mojo
Filmes de WOODY ALLEN já comentados:
- Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo*(*Mas Tinha Medo de Perguntar)(1972)
- Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)
- Hannah e suas Irmãs (1986)
- A Era do Rádio (1987)
- Celebridades (1998)
- Melinda & Melinda (2005)
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