02 agosto, 2012

Dublê de Corpo (Body Double, EUA, 1984).

"Você não pode acreditar em tudo que vê". (Chamada do cartaz oficial do filme).
Apesar de não ter repetido o mesmo sucesso de suas outras produções até então, Brian De Palma (Carrie, a Estranha) constrói aqui mais um filme de suspense no mínimo interessante, recheado de referências hitchcockianas (como já é de praxe na filmografia do mesmo), em especial as óbvias citações a Janela Indiscreta, de 1954 e Um Corpo Que Cai, de 1958, ambos estrelados por James Stewart (A Felicidade Não Se Compra). Dublê de Corpo apresenta-se como um filme misto entre o thriller voyeurístico/sensual e o suspense irônico, representando hoje um olhar bem interessante acerca do comportamento da sociedade norte-americano em meados da década de 1980. Não muito bem recebido durante seu lançamento, hoje o filme é considerado um título cult, além de se destacar pelo primor técnico de seu realizador.

Apesar de não ter como destaque primeiro seu roteiro (assinado por De Palma e Robert J. Avrech, com argumento do primeiro), as soluções narrativas do mesmo - recheadas de surpresas e momentos de muita tensão - acabam por sobressair, contribuindo assim para que o expectador fique com os olhos vidrados na tela, acompanhando o desenrolar dos eventos deste enredo de aparências, que inicia-se de uma forma, quando parte para um caminho completamente diferente e é finalizado numa situação ainda mais "inusitada", isto sem contar as referências pontuais - e metalinguísticas - a própria arte cinematográfica, em especial ao set de gravação e aos filmes B. 

O termo inusitada entre aspas é necessário, visto que para um bom observador - como também pelo hoje já envelhecido recurso de maquiagem utilizado neste filme - fica fácil identificar que há algo de reconhecível em um determinado personagem de importância à trama, contudo, devido ao estilo apurado de condução e narrativa de Brian De Palma, que opta por destacar não a importância da identidade do possível criminoso  em ação, mas sim gera interesse pelos por quês deste agir da forma que age.

A exemplo dos melhores filmes do cineasta, Dublê de Corpo não deixa de apresentar com bastante ênfase a mulher como uma criatura composta principalmente de sedução e ambiguidade, de destacar o sexo como uma espécie de arma e ópio da sociedade, como também expõe com plasticidade e pouco - quiçá nenhum - pudor o corpo - de preferência nu - feminino. Quanto a esta última característica, é certo que, em comparação a outros de seus filmes, em especial a Vestida para Matar, este é composto neste aspecto de maneira bem mais "casta", entretanto com a mesmo estilo-voyeur do autor.

Apesar do ritmo dinâmico e das cenas que, se as vezes soam um tanto quanto "fantásticas", nunca deixam de despertar curiosidade ao espectador a respeito do que acontecerá a seguir, Dublê de Corpo sofre um pouco devido a qualidade duvidosa da atuação de seu elenco, em especial a do protagonista interpretado por Craig Wasson (A Hora do Pesadelo 3: Guerreiros dos Sonhos) e da enigmática femme-fatale vivida pela atriz Deborah Shelton, onde esta realmente parece não saber atuar e o primeiro possui carisma zero, complicando um pouco o interesse do espectador em relação as angústias destes personagens. Em suma, passamos a não nos importarmos com estes, mas sim com os eventos que os envolvem. Uma pena, pois a experiência sagra-se interessante, só que incompleta.

Outro ponto que acaba por diminuir um pouco o filme como um todo reside na temática do filme como um todo, que acaba por reciclar outros filmes de De Palma, principalmente seus trabalhos como autor, que geralmente primam pela tríade mistério + sedução + sexo, e este filme (infelizmente) não foge a esta regra. Friso que tal abordagem não atrapalha em momento algum a condução do longa, mas para aqueles mais inteirados a cerca da filmografia do cineasta, em especial seus últimos dois ou três filmes (final da década de 1970, início da década de 1980), deve despertar um certo questionamento acerca da amplitude de De Palma como criador de histórias.

Afora alguns exageros - já citados -, Dublê de Corpo é mais um bom trabalho de Brian De Palma, que se acaba por não contra com personagens e atores tão interessantes e competentes como os presentes em filmes anteriores do cineasta, acaba por descontar na narrativa, na imprevisibilidade dos acontecimentos que movem a história e na mais que destacada aqui (e em outros textos acerca dos filmes do diretor) técnica fílmica daquele, resultando assim num entretenimento interessante e consumível até hoje, além de marcar também a despedida do autor dos thrillers de conotação sexual, já que o mesmo só retomaria o tema quase 20 anos depois, com o lançamento de Femme Fatale, em 2002. Dublê de Corpo não é brilhante, mas chega perto e, sendo homenagem ou não aos títulos de Alferd Hitchcock, possui de certa forma identidade própria, mesmo que derivada das obras deste cineasta.

AVALIAÇÃO: 
TRAILER:


Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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