5x Favela - Agora Por Nós Mesmos é o resultado em filme de um projeto muito bacana, a reunião de cinco jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro, cada um entregando um curta metragem concebido e produzido em suas comunidades. Contando causos inspirados em eventos locais, como quase toda reunião de curtas-metragens alguns se sobressaem sobre os outros, no entanto o resultado final é bastante satisfatório, tendo as cinco histórias do projeto tanto pontos positivos quanto negativos, mas que funcionam perfeitamente neste formato.
O filme começa bem com o curta Fonte de Renda, dirigido por Manaíra Carneiro e Wagner Novais, que narra as desventuras de um jovem universitário de Direito e morador da favela (Silvio Guindane, de Sonhos Roubados) e sua luta diária para conseguir estudar, em meio ao trabalho e problemas financeiros, além da óbvia tentação das drogas, ponto este que fragiliza um pouco a trama, até por que é desenvolvida apoiada excessivamente em clichês, mas a ideia geral e a competência dos atores é tão clara - há a participação do veterano Hugo Carvana neste curta - que tal elemento acaba não pesando tão negativamente no escopo geral do filme. Em suma, uma boa introdução ao projeto, realizada com aparente carinho e determinação.
O próximo curta se chama Arroz com Feijão e é de longe um dos mais emocionantes do projeto, visto que trabalha com a relação pai e filho, dando destaque a figura deste, visto que o filmete é conduzido sobre o seu olhar. Contando com performances divertidas dos garotos Juan Paiva e Pablo Vinícius, que vivem os amigos Wesley e Orelha. Pontuada por elementos cômicos, essa dramédia tem profundidade e apresenta conceitos interessantes de moral e conduta, além de ter uma abordagem bastante sensível, pena que sua condução peque pelo excesso de obviedades, em especial seu desfecho, que é bem previsível, mas graças aos atores e a direção precisa de Rodrigo Felha e Cacau Amaral consegue soar tocante.
Concerto para Violino, terceiro curta da coleção, é talvez o mais problemático de todos, em compensação é o mais ambicioso, tanto no que se refere ao seu conceito e ideias empregadas, quanto no âmbito técnico, visto que este lida diretamente com a temática da violência, apresentando traficantes e policiais, numa trama que tem como foca a amizade entre três crianças e seu afastamento na idade adulta, quando um deles forma-se policial (Samuel de Assis), enquanto o outro entra para o mundo do crime (Thiago Martins, de Era uma Vez...). A terceira criança (vivida na idade adulta por Cíntia Rosa) é a musicista que toca violino, de certa forma o elo de ligação entre aqueles dois. Luciano Vidigal - diretor do curta - consegue despertar interesse à trama e trata com pulso as ideias propostas, entretanto o tempo do curta parece não ser suficiente para o aprofundamento da história e o desenvolvimento ideal das personagens, fazendo com que o conceito da obra soe mais interessante do que sua realização. Como os demais curtas, este também conta com um elenco bem encaixado e dono de boas performances.
O quarto curta metragem, Deixa Voar, é talvez o mais original - no âmbito temático - de 5x Favela, mostrando o espectro "separatista" entre favelas - o pessoal de uma favela não vai a favela vizinha, devido à violência desta - e descoberta por parte de um garoto (Vítor Carvalho) que, apesar desta violência existir, não há barreiras de convivência entre elas. O diretor Cadu Barcelos conduz bem o filmete, apresentando temas como amizade, medo e, principalmente, o preconceito - em seu sentido original - social. Apesar de não ser um dos mais interessantes do projeto, o curta não faz feia e pontua bem aquilo a que se propõe.
Por fim, temos Acende a Luz, de longe o mais divertido desta seleção de curtas-metragem. Com toques óbvios de humor, o trabalho da diretora Luciana Bezerra apresenta os apuros de algumas pessoas que estão energia em plena véspera de natal e a boa vontade (para alguns devido a um sequestro "involuntário") de um funcionário da companhia de energia local, interpretado com grande carisma por Márcio Vito (que lembra uma versão tupiniquim do ator norte-americano Paul Giamatti). O misto de tensão - mesmo que no âmbito cômico - e compreensão passado pelos personagens do curta é o que se destaca, juntamente a aflição e alívio passada pelo personagem de Vito, em interpretação marcante.
No todo o projeto 5x Favela é bem interessante e traz boas promessas ao nosso cinema. Suas histórias, mesmo que não espetaculares, mostram-se tocantes e profundas a sua maneira, lembrando um pouco o tom da série de TV Cidade dos Homens, produzida por Fernando Meirelles (Cidade de Deus), que debatia temas atuais e próximos aos moradores das comunidades do Rio, mas de maneira simples e por ventura divertida. Produzida pelo veterano cineasta Carlos Diegues e Renata Almeida Magalhães, além de contar com o apoio de diversas entidades das comunidades apresentadas no longa - inclusive a CUFA, que tem como um dos apoiadores o rapper MV Bill -, 5x Favela - Agora é Por Nós Mesmos é um projeto interessante, que pode vir a dar frutos cada vez melhores. Desde já espero pelas possíveis sequências deste projeto.
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