"... Você me levará dentro de si, por todos os dias de dua vida. Fará da minha força a sua e verá a minha vida através de seus olhos. Assim como a sua será vista através dos meus. O filho transforma-se em pai e o pai transforma-se em filho. Isso é tudo que dedico a você, Kal-El". (Dedicatória de Jor-El - Marlon Brando -, pai de Kal-El/Clark Kent/Superman).
Um dos grandes marcos do cinema, considerada a primeira grande tradução de um super-herói das histórias em quadrinhos ao cinema, Superman, o Filme, de 1978, continua um filme notável e deslumbrante. Narrando a história do ser de Krypton de sua concepção à estreia como herói, o filme de Richard Donner (Máquina Mortífera) permanece brilhante mesmo com as óbvias limitações técnicas - hoje ainda mais - para transpor o ícone Superman as telas, voando, usando sua super força, enfim, transportando todo o imaginário popular em realidade no âmbito fílmico. Passados quase 35 anos de seu lançamento, o filme mantém o charme, conquista por sua linguagem própria - o longa, apesar de rodado no final da década de 1970, é ambientado entre os anos 1930 e 1950 -, ao mesmo tempo em que presta uma grande homenagem ao período primeiro do herói nos quadrinhos, tanto através do tom de humor presente durante todo o filme, quanto na direção de arte e fotografia, que realmente resgatam os elementos visuais de tais épocas.
A concepção visual de Krypton também é algo digno de aplausos. O design de produção a cargo de John Barry (Star Wars: Uma Nova Esperança) e a equipe de direção de arte criaram um mundo a parte, com elementos próprias e de aparência orgânica, que funciona quase à perfeição como catalisador de poder e glória ao filme. Os efeitos especiais, se hoje não soam tão realistas, foram visionários à época, tanto que o slogan promocional do filme dizia "você irá acreditar que um homem pode voar", e acreditamos. Um outro aspecto indiscutivelmente marcante é a trilha sonora composta pelo gênio John Williams (Tubarão), parceiro habitual de Steven Spielberg, que aqui compôs talvez o tema-mor dos filmes de super-heróis. Impossível não saber cantarolá-lo ou ficar com ele grudado na cabeça.
Praticamente um desconhecido à época, o intérprete do personagem título, Christopher Reeve (Em Algum Lugar do Passado), concebeu o personagem definitivo, construindo duas personas distintas, com personalidades próprias e críveis (Clark Kent e Superman), sendo talvez a melhor coisa do filme. Gene Hackman (Operação França) cria sua própria versão do algoz de Superman, Lex Luthor e, se não é uma unanimidade, inquestionavelmente fez um bom trabalho e aparenta estar se divertindo à beça no papel. Temos também a presença do mestre Marlon Brando (O Poderoso Chefão), contratado à preço de ouro, interpretando aqui o pai do herói, Jor-El. Por fim, o elenco principal é fechado com Margot Kidder (Irmãs Diabólicas), como a intrépida e independente repórter Lois Lane. Kidder está bem no papel, realmente captou a essência da personagem, pena que fisicamente seja tão sem graça (não quis dizer feia).
O filme também marcou para sempre o nome do diretor Richard Donner, que tinha realizado o apreciado (pela crítica e pelo público) A Profecia dois anos antes, mas que a partir deste Superman entrou no hall dos grandes diretores da época, realizando outros sucessos como Os Goonies e a franquia Máquina Mortífera, além de futuramente torna-se também produtor, inclusive sendo um dos responsáveis pela franquia de filmes dos X-Men (juntamente com sua esposa, Lauren Shuler Donner).
Muitos criticam Superman, o Filme afirmando que ele é um filme com poucas cenas de ação, porém isso é mais do que justificável. Em primeiro lugar o filme acerta por focar na apresentação dos personagens e, a exemplo do recente Batman Begins, por exemplo, não tem medo de gastar cerca de 1/3 de sua metragem sem sequer apresentar o personagem título. Para mim, uma baita coragem e pulso autoral. Ou seja, privilegia o conteúdo da obra em detrimento da ação. Em segundo lugar, originalmente a história deste filme foi planejada para dois episódios, dando assim mais liberdade para a abordagem do universo dos personagens neste primeiro capítulo, enquanto o segundo filme poderia focar mais na ação. Dito e feito, foi o que acabou acontecendo (mesmo sem Donner no comando, visto que este foi demitido posteriormente por incompatibilidade autoral com os produtores Alexander e Ilya Salkind). No mais, ao meu ver, apesar de poucas, as sequências de ação contidas neste filme são deslumbrantes e mais do que suficientes.
Superman, o Filme poderia ser destacado como uma aventura grandiosa, de essência atemporal e bastante inspiradora. Um filme que passou pelas mãos de grandes roteiristas da época (Mario Puzo, Robert Benton, David Newman e Leslie Newman), que serviu de inspiração à quase todas as adaptações futuras de heróis de histórias em quadrinhos (um dos que mais prestam referência é o Homem-Aranha, de Sam Raimi) e que provou a viabilidade da transposição entre estas mídias (quadrinhos e cinema), realmente tem que ser visto como um clássico inesquecível e incomparável, à frente de seu tempo - sem esquecer de referenciar constantemente o passado -, leve, um tanto quanto despretensioso, mas cheio de magia e força, elementos estes que o tornaram tão querido e sedutor a tantas e tantas gerações. Um novo filme do homem-de-aço está prestes a sair (2013), torço para que o mesmo seja espetacular, mas creio que filme algum irá superar o nível de "realidade" transposta no filme de Donner, em especial pela icônica caracterização (será?) de Christopher Reeve, mas torço para que a nova versão consiga ao menos igualar o feito deste. Ao meu ver, uma missão quase impossível, que somente o filho de Krypton poderia cumprir.
AVALIAÇÃO:
TRAILER:
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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