11 agosto, 2012

Um Tira Acima da Lei (Rampart, EUA, 2011).


O grande mérito de Um Tira Acima da Lei (Rampart) é o de dissociar um pouco a corrupção como contexto inerente à instituição policial, apontando também um outro fenômeno que transcorre ao lado daquele aspecto clássico, quando um membro da instituição traça uma maneira particular de agir, sem amarras óbvias a palavra da lei e é de certa forma subsidiado pela falta de acompanhamento e identificação prévio por parte da administração pública, neste caso a instituição policial. O tira de escrúpulos distorcidos interpretado por Woody Harrelson (EdTv) pode ser metaforizado como uma espécie de célula cancerígena que começa a destruir um corpo (neste caso, a polícia) aos poucos, sendo que este câncer só é percebido pela defesa natural deste corpo quando uma ação mais destrutiva acaba por mobilizar os anticorpos, que na maioria das vezes atuam quando grande parte do estrago já está feito. Ou seja, às vezes o problema não está na instituição como um todo, entretanto esta acaba agindo como cúmplice por sua omissão, por agir apenas quando o circo já está pegando fogo.

Mais uma parceria entre Harrelson e o diretor e roteirista Oren Moverman (do ótimo O Mensageiro), Rampart é um filme que conta com um elenco primoroso, uma história de grande relevância social, um co-roteirista mais do que imerso no universo policial, o autor dos best-sellers Los Angeles: Cidade Proibida e A Dália Negra e uma grande performance do personagem protagonista, entretanto mesmo assim parece que faltam justamente alguns elementos que tornem a obra mais cinemática, não só rica em conteúdo. Talvez devido a preocupação primeira de Moverman e Ellroy em decupar com apuro o painel de possível degradação do microcosmo policial da cidade de Los Angeles (e que, com as devidas proporções, pode ser aplicado a qualquer polícia do mundo) através da análise de um tira, acabe por deixar a obra como uma cara excessiva de discurso de conscientização social e quase nada de cinema, em especial no ponto de despertar estímulos sensoriais ao espectador.

Rampart não é um filme ruim, entretanto carrega uma premissa e um conceito mais interessantes do que sua realização, causando choque e despertando possíveis debates, mas que à exceção da ótima caracterização de Woody Harrelson fica devendo como cinema. Enfim, talvez falte ao filme um tom de adrenalina e tensão de outras obras que discutem a corrupção dentro do seio da polícia norte-americana, como Dia de Treinamento, de Antoine Fuqua e Crash, No Limite, de Paul Haggis (filmes estes recentes na filmografia norte-americana que contam com temáticas semelhantes a de Rampart, porém com tons e focos diferentes).

AVALIAÇÃO:  
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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