David Cronenberg (Um Método Perigoso) sempre foi um adepto do grotesco e da exposição do corpo e não seria agora que sua temática mudaria, entretanto com eXistenZ o diretor e roteirista embarca numa viagem mais reflexiva, quase profética, sem deixar de combiná-la com sua verdadeira tara com elementos orgânicos. eXistenZ é uma ficção-científica que aposta na virtualização do cotidiano humano a ponto deste preferir passar mais tempo imerso na realidade virtual do que na própria realidade em si, só que tal processo de virtualização se dá através dos jogos e de um processo de interação máquina/homem orgânica, onde temos o console do game diretamente inseridos em nosso corpo, sendo aquele alimentado pela energia produzida por nós mesmos.
Curiosamente, como a trama levanta questionamentos acerca de alienação e fuga da realidade, acaba guardando alguns ecos com outros dois filmes também lançados em 1999, Matrix, dos irmãos Wachowski e Cidade das Sombras, de Alex Proyas. Certamente o menos conhecido dos três (por sinal foi um fracasso de bilheteria), eXistenZ também é o menos comercial e, se não é o mais carregado de conceitos filosóficos, é bem mais sugestivo e indigesto do que seus pares, graças a forte pegada autoral e ao discurso objetivo de Cronenberg, que com certeza percebe que a condição humana tende a compactar cada vez mais o universo inorgânico (máquina) com o orgânico (humano).
Por já começar de cara dentro deste universo fictício concebido por Cronenberg, o filme demora um pouco para ser absorvido, causando certo estranhamento em seu início, aspecto este que pode ter afastado o público na época de seu lançamento. Entretanto, apesar desta confusão, com o decorrer dos eventos e com a revelação de determinadas elementos da ambientação, a maior parte através do personagem interpretado por Jude Law (Contágio), que acaba por servir de olhos ao espectador, o grau de interesse vai crescendo e trama vai fazendo mais sentido.
Visualmente este filme não é tão marcante quanto outras produções de Cronenberg, transpondo uma realidade virtual bem "pé no chão", mas com alguns elementos de grande impacto visual, como a arma de ossos empunhada pelo personagem de Law e o conector orgânico dos personagens a realidade virtual (no filme, ao jogo eXistenZ), que como em outros filmes do cineasta, fazem referência óbvia aos órgãos genitais masculinos e femininos.
Contando com um bom elenco, onde temos como destaque a protagonista vivida por Jennifer Jason Leigh (Conquista Sangrenta), Willem Dafoe (John Carter), Ian Holm (O Aviador) e uma Sarah Polley (Madrugada dos Mortos) em início de carreira e um clima bacana (muito graças a trilha de Howard Shore, parceiro habitual de Cronenberg), eXistenZ é um filme bem-dirigido, com conceitos interessantes levantados e que tem força para serem discutidos posteriormente, além de contar uma premissa no mínimo interessante, contudo não se encontra entre os grandes destaques no que se refere a ideias visionárias e recheadas de criatividade (seria loucura?) de David Cronenberg, possuindo assim a cara do autor, mas aparentemente com um pouco menos de inspiração e transpiração deste.
AVALIAÇÃO:
TRAILER:
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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