Um Crime Americano, de Tommy O' Haver (Uma Garota Encantada) adapta um trágico evento real para o cinema, a história dos abusos sofridos pela personagem interpretada com propriedade por Ellen Page (Juno) quando estava sobre os cuidados da personagem de Catherine Keener (Capote), magistral em sua composição. O filme narra os eventos a partir do ponto de vista do julgamento do caso, tendo seu roteiro baseado-se nos autos do processo judicial. Este caso causou enorme furor na década de 1960, entretanto, devido a seu teor forte a transição para o escopo fílmico é difícil, tanto que, apesar das possíveis boas intenções dos roteiristas Haver e Irene Turner, acaba por não resistir as tentações de exagerar no tom de tortura psicológica ao espectador.
De certa forma, em alguns momentos do filme, apesar das grandes performances de Page e Keener - que transmitem tridimensionalidade em seus respectivos personagens, em especial esta última -, este acaba soando niilista demais, dando um maior destaque as cenas de tortura e tensões psicológicas do que à construção do ambiente e da psiquê das personagens, dificultando assim uma imersão mais aprofundada do espectador nas verdadeiras motivações dos demais personagens da tama - que não sejam os de Page e Keener - como cúmplices dos eventos mostrados. Soa frágil a repentina fúria da filha mais velha de Gertrude (Keener), Paula (Ari Graynor, de Sobre Meninos e Lobos), contra a pudica personagem de Ellen Page, Sylvia, visto que as duas possuíam até então uma relação de amizade e cumplicidade crescente. Também a vitimização em excesso das irmãs Sylvia (Page) e Jenny (Hayley McFarland, de O Efeito da Fúria) prejudica um pouco a "realidade" pretendida pelo filme, servindo mais como suporte para a tortura psicológica empregada pelo filme ao espectador.
Basicamente um filme de atuação - sua fotografia é bem convencional, a direção de arte, apesar de ter como ambientação a década de 1960, não tem tanto destaque, além de possuir uma montagem sonolenta -, Um Crime Americano é um registro deslocado e um tanto tendencioso - ponto crítico do filme -, contudo não deixa de ser corajoso - Hollywood levou mais de 40 anos para contar essa história - e importante, tanto pelo fato de apresentar essa tragédia humana as novas gerações, quanto por refrescar uma temática que infelizmente insiste em perdurar até hoje: os maus-tratos contra crianças e adolescentes. No mais, uma história que renderia mais como documentário, que não funciona tão bem como cinema, mas que possui seus méritos.
Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo
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